sábado, 9 de outubro de 2010

MAIS UM A COMENTAR COM ENTUSIASMO CRÍTICO “MÚSICA DE BRINQUEDO” (2010), NOVO DISCO DO PATO FU:

Acho difícil ouvir este disco e não ficar entupido de vontade de escrever páginas e páginas sobre ele. Não é só música, é um projeto bem mais estruturado que o “Adriana Partimpim” (2004), da Adriana Calcanhotto, por exemplo, mas com um ponto de partidas semelhante: regravações de músicas consagradas pelo público, em versões adaptadas à leveza do público infantil. As diferenças positivas em relação ao Pato Fu – que não implicam, necessariamente, numa crítica negativa à Adriana Calcanhotto, também muito conceituada: a escolha das canções a serem regravadas pelos mineiros segue uma coesão roqueira pontual e o modo como eles fazem isso, idem. Apenas brinquedos infantis são utilizados pela banda e a voz absolutamente doce de Fernanda Takai é acompanhada por crianças hiperativas. Uma fofura!

Sou fã da banda e tenho todos os seus discos, mas estava deveras relutante em baixar este novo disco. Motivo: fiquei com medo de que fosse muito mais “projeto” do que efetivamente “música”. Até que li um textinho dum amigo que se sentira pessoalmente tocado pelo “tchu-tchu-tchu-tchu” do coral infantil na regravação de “Ovelha Negra”, da Rita Lee. Confiei na sensibilidade dele e, não deu outra: de imediato, fui e baixei o disco. Senti a mesma emoção que ele sentiu, mas uma impressão interrogativa diferente me tomou: será que aquelas crianças estavam realmente cantando porque queriam? Elas realmente gostam daquelas canções? Pode ser psicose minha, mas não consegui deixar de pensar nisso sempre que algum gritinho pueril invadia alguma das canções...

Logo no começo, “Primavera (Vai Chuva)” numa versão engraçada; “Sonífera Ilha”, do Titãs, pareceu mais difícil de ser levada a cabo, mas também está muito engraçada; “Rock and Roll Lullaby” inovou pouco em relação ao original; e “Frevo Mulher”, do Zé Ramalho, genial, demonstra que devemos prestar atenção a este disco para além de sua excentricidade: ele é bom enquanto disco mesmo. Muito bom, aliás! Posso não ter gostado tanto da atualização de “Todos Estão Surdos”, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos, mas o que aqueles gurizinhos fazem com o refrão composto por Paul McCartney para um filme de 007 em “Live and Let Die” me fez sentir bem, muito bem. Disco muito fofo. Recomendo de coração! E olha que ainda não cheguei ao final do disco (risos)...

Wesley PC>

SAIA DE CASA E SEJA LIVRE!– VERSÕES 1998 E 2010 (E CONTANDO):

Eu não sei se acontece com todos, mas, quando eu marco antecipadamente de ir a dado lugar e fico muito tempo confinado em casa, tendo a ficar hipnotizado pelo confinamento voluntário e receoso de “encontrar o mundo lá fora”. Acontece-me isto neste exato momento, quando hesito em tomar banho e sair de casa, não obstante estar contente em ter um luau agendado desde bem antes da semana passada. O interesse é meu, portanto, creio que enfrentarei o receio e sairei de casa, sim. Preciso ver meus amigos e ser arrebatado pela brisa marítima da madrugada...

O curioso neste processo de enfrentamento de confinamento voluntário, porém, é que, dentre os 14.000 filmes que eu poderia escolher para ver hoje, deparei-me justamente com “A Maçã” (1998), de Samira Makhmalbaf, então com 18 anos, sobre o caso real de duas garotinhas gêmeas iranianas que ficaram 11 anos sem sair de casa em razão do temor de seu pai muito velho e de sua mãe cega de que elas fossem desonradas ao serem tocados por meninos. Com base no fato real em si, mostrado em imagens televisivas no início do filme, a diretora utilizou os personagens reais do evento para reconstruí-los, imbuindo-os de uma sensibilidade crítica e observacional que, caralho, só mesmo sendo iraniano para possuir: genial!

Não sei nem por onde começar a detalhar o meu estupor, mas as diversas interpretações para o sugestivo título servem como guia: depois que os vizinhos das meninas gêmeas presas em casa denunciam os pais das mesmas à Secretaria do Bem-Estar Público, uma agente social aparece na casa deles e obriga as meninas a saírem de casa. Põe-nas para fora dos portões da residência, presenteia-as com espelhos e pentes, tranca o portão da frente, aprisiona o pai e a mãe no interior da residência, com a desculpa de que assim eles sentirão o que as meninas enfrentaram ao longo de suas vidas e diz que os dois só poderão sair novamente de casa se serrarem as grades do portão. Glupt!

As meninas, entretanto, insistem em voltar para casa, mas a assistente social as empurra para fora: saiam daqui. Vão brincar na rua e façam amigos!”. As meninas tentam, mas todas as crianças (e adultos) que encontram estão com suas vidas minimamente regidas pelos ditames do capitalismo: um garotinho que vende picolés e ameaça uma das meninas porque esta não tem dinheiro para pagar o que consumiu; um garotinho que amarra uma maçã na ponta de uma vareta e fica incitando as garotinhas a pularem, em vão, para alcançá-la; um quitandeiro e um relojoeiro ambulante que as convence a convencer o pai delas a entregar dinheiro para que elas possam adquirir os produtos que eles vendem... Na maioria das situações, enxergamos estes contatos através dos espelhos redondos que as meninas ganharam. Em dado momento, uma delas divide um picolé com uma cabrita. Por detrás de todo, o discurso da assistente social (e da comunidade em geral): “estas meninas não podem ficar presas em casa o dia inteiro. Elas têm que desempenhar um papel na sociedade: elas devem se casar”. E é por isso que o pai delas tenta ensiná-las a varrer a casa, a lavar roupa, a cozinhar arroz... Mas elas não querem sair de casa. Estão acostumadas, que seja. E a assistente social reclama que elas foram domesticadas. E eu quero ver este filme de novo, acompanhado. Pungente demais!

Como é que uma rapariga de 18 anos consegue ser tão inventiva numa sociedade que tolhe tão veementemente os direitos femininos? Não consigo responder com palavras, somente divulgando o filme para quem estiver disposto a vê-lo. Ele dura apenas 86 minutos, mas deixa marcas perenes em nossos cérebros e sensibilidades. E juro que a minha sinopse não revela sequer um terço de seu poderio crítico. Vejam-no, eu suplico. E só saiam de casa se realmente tiverem vontade. É o que eu tenho agora. Ou acho...

Wesley PC>

UMA TV A MAIS NA CASA ÀS VEZES FAZ MUITA DIFERENÇA...

Ontem pela manhã, eu, minha mãe e um vizinho fomos buscar a TV de 29 polegadas que pifou em junho. Agora, portanto, estamos com dois aparelhos de TV na casa da família Castro, num suposto passo aquisitivo em direção à classe média (risos). Brincadeiras classistas à parte, isto possibilitou que eu e meu irmão pudéssemos assistir a programas diferentes no mesmo horário, sem que ele ou eu ficássemos entediados com as preferências televisivas alheias.

Sendo assim, enquanto ele ficava vendo programas infantis ou esportivos em seu quarto, eu quedava-me na sala, escandalizando-me diante do estranho filme português “Ossos” (1997, de Pedro Costa), em que um pai desnaturado e alcoólatra tentava vender seu bebê a uma enfermeira e a suposta mãe da criança (o enredo jamais explica!) trabalha como lavadeira e enfrentava os ressentimentos de seu marido imigrante. Ou algo parecido: é incrível como a cinematografia portuguesa contemporânea é original! Neste filme, á medida que o tempo passado, íamos sabendo cada vez menos sobre os personagens. Cada vez que uma nova experiência cotidiana era reproduzida pelos artistas, entendíamos ainda menos o roteiro. E isto foi proposital e genial. Conclusão: o filme está ainda latejando em minha mente!

Quando eu desliguei a TV e preparava-me para ouvir rádio, porém, meu irmão veio correndo para a sala e ligou a TV. “Agüentar a Xuxa velha ou os programas de crentes numa manhã de sábado é um castigo”, disse-me ele, mencionando o fato de que a TV de seu quarto não tem ponto de TV por assinatura. Sorri com ele, concordando com o que foi dito. Tadinho...

Wesley PC>

“THERE THERE”, DO RADIOHEAD!

Em mais de uma situação, perguntaram-me na sexta-feira se eu tinha namorado. Ou melhor, se uma dada pessoa citada numa de minhas conversas, namorava comigo. Respondendo enfática e sinceramente que “não” a todas as oportunidades, percebi que algo me fez sentir ofendido neste questionamento. Não sei bem o quê, mas algo recorrente, que me perturbou mesmo. Não sei se é este meu pavor eterno ao termo “namorado”, que é algo que eu desejo veementemente desde que nasci, mas que não chego sequer perto de efetivar, não sei se foi esta obrigatoriedade do gênero masculino na indicação... Não sei! Sei que “There There” nunca foi uma das minhas canções ou um dos meus videoclipes preferidos do Radiohead, mas que basta um elogio pessoal e assaz nostálgico de alguém que muito prezo para que ela “suba de posto” na empresa entupida de currículos que atende pelo nome de Meu Coração...

“Why so Green & lonely?
Heaven sent you to me
We are accidents
Waiting, waiting to happen
We are accidents
Waiting, waiting to happen”


Coincidências, nada mais. Paixão, nada menos.

Wesley PC>

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

A BRECHA INFELIZ (LOGO, REALISTA) DE QUE EU PRECISAVA:

“Swim with me my mama when I dive in the ocean of death
I will cry if I am not with my family
You could be my friend eternally

Swim with me my sister when I dive in the great white ocean
We must try, try to find a way that we can see
See each others faces in the sea”



Nalgum outro lugar, eu reclamei que pessoas felizes não são tão criativas quanto as tristes, em menção ao novo álbum do meu grupo consolador favorito Antony and the Johnsons, “Swanlights” (2010), a ser oficialmente lançado na semana que vem. A faixa 2, “The Great White Ocean” provou-me que eu fora por demais precipitado. Obra-prima!

Wesley PC>

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

I SWEAR: I WILL NEVER TO WATCH ANOTHER DUBBED MOVIE IN THEATERS AGAIN!

Hoje à tarde eu fui ao cinema e comprei o ingresso para o filme que queria ver sem perceber uma especificidade cabal da exibição: o filme estava dublado! Não somente dublado, mas pessimamente dublado! Conclusão: acho que perdi muitas das boas piadas e detalhes musicais do filme. Pena... O filme em pauta chamava-se “Gente Grande” (2010, de Dennis Dugan). Um filme bobo, é verdade, mas que me cativou sobremaneira a ponto de, juro, arrancar-me uma lágrima ao final da sessão. Havia identificado-me com aqueles personagens bem-sucedidos profissionalmente mas extremamente imaturos no plano pessoal. E, cada qual a seu modo, felizes e correspondidos em suas paixões. Recomendo!

Mas, antes de elogiar demoradamente o filme (isto eu deixo para fazer aqui), retomo a promessa do título: conscientemente, eu jamais verei novamente um filme dublado nos cinemas. É horrível! E, a fim de manter esta promessa, creio que terei que enfrentar tido um sistema constitucional defasado, visto que parece que agora é lei uma quota mínima de filmes estrangeiros dublados em língua pátria. Por isso, cada vez mais filmes são lançados deste jeito. Por isso, canais fechados como a Warner, a Fox, a TNT, o Discovery, a Nickelodeon, e, principalmente, a HBO2, investem numa programação predominantemente dublada, sendo que este último canal ainda comete o despautério de defender um jargão que diz: “HBO2. Agora, tudo em português”. É para sentir orgulho disto? Minha mãe e meu irmão gostam. Eu fico calado porque só tem uma televisão em minha casa e nem sempre o direto de escolha da programação é meu, mas, eu juro: jamais verei um filme dublado nos cinemas novamente!

Wesley PC>

VALE TUDO POR UMA BOA FODA?

Antes de responder, um preâmbulo: neste ano de 2010, estreou uma série a-histórica na TV a cabo, chamada “Spartacus: Blood and Sand”, em que o famoso escravo-gladiador é mostrado como bibelô erótico-sanguinolento, fazendo com que o seriado tornasse-se famoso menos por seus dotes narrativos do que pela pletora de sexo e violência espalhafatosa, no pior sentido dos três termos. Ainda, assim, fiquei com vontade de vê-lo, o que se tornou patente depois que um vizinho conseguiu quatro dos treze episódios da primeira – e, até então, única – temporada. Só agüentei assistir a 1,5! Muito ruim! Não somente no que tange aos abusos a-históricos supracitados mas na própria estrutura enfadonha e pornográfica da ação, entupida de sangue e bundas besuntadas de óleo. Muito ruim mesmo!

Apesar de desgostar veementemente deste seriado, precisarei assistir a mais alguns episódios se quiser me arriscar a engolir gotas preciosas de sêmen humano. Meu principal fornecedor deste produto é afeiçoado ao tal seriado e pediu-me que baixasse os episódios restantes. Estou a fazê-lo neste exato momento, financiando a decadência estético-televisiva contemporânea. Vale tudo por uma boa foda? Resposta: não!

Por mais que eu concorde com os junguianos e com os biólogos que sexo e morte são os dois grandes arquétipos universais, recuso a admitir que a subsunção repetida a orgasmos resolva problemas. Protela-os, pura e simplesmente, por mais que estes problemas tenham a ver, indiretamente, com as necessidades instintivas de sexo e morte. Conversei sobre o assunto com um colega de trabalho na manhã de hoje e equivoquei-me deveras nalguns julgamentos generalistas sobre o saciamento de necessidades individuais básicas, que são diferentes para cada um dos habitantes deste mundo. Sexo e morte não se impõem!

Tudo bem, tenho convicção e força para defender isto agora, mas, na noite de ontem, com a respiração ofegante e ansiosa, talvez eu não tivesse tempo de pensar no assunto. Minhas forças estavam concentradas em driblar a resistência daquela mão masculina que permitia que eu futucasse toda a extensão de seu corpo, mas impedia que eu desabotoasse o zíper de sua calça. Eu, por minha vez, não conseguia me controlar. Deitava-me no chão, gemia, lambia o ‘jeans’, até que, meia-hora depois, conseguir tocar com o dedo mindinho em 1/10 do pênis ereto do rapaz. Aos poucos, fui conseguindo afastar sua mão do zíper com a minha língua. O pênis já estava enormemente teso e já se podia perceber o início da glande próximo ao cinto negro. A mesma língua ávida que afastou a mão dele penetrou em sua uretra. O resto é História!

Wesley PC>

terça-feira, 5 de outubro de 2010

AS COISAS QUE EU NÃO SUPORTO, AQUILO QUE EU NÃO AGÜENTO...

Às 2h da madrugada de hoje, eu estava atônito. Tinha acabado de rever “As Horas” (2002, de Stephen Daldry) e é como se ele sempre estivesse lá, como se eu sempre tivesse vivido aquilo. E me deu tanta raiva. Porque é um filme lindo, mas me dá tanta raiva. Porque é um estranho elogio à tristeza, à melancolia, à depressão, como senão houvesse outro caminho... Mas é tão lindo! Talvez eu devesse entrar em um contato mais íntimo com Virginia Woolf... Talvez eu devesse ter mais cuidado com ela. Eu e meu amigo Américo planejamos ler “Sra. Dalloway” (1923), em inglês, a partir de sexta-feira. Eu e ele marcamos de ver o mesmo filme na noite de hoje. Eu e ele percebemos aspectos bem diferentes sobre o mesmo filme, mas eu e ele emocionaremo-nos sobremaneira. Este filme consegue!

O que mais me surpreende é justamente isto: este filme consegue! Ainda que ele seja disrítmico, ainda que eu ache o personagem de Ed Harris supérfluo, ainda que eu considere a diva Meryl Streep fora de tom aqui, ainda que padeça de uma depressão incomodamente esquemática, ele consegue! O ótimo argumento literário de Michael Cunningham, a trilha sonora deslumbrante de Phillip Glass, o olhar de perpétua amargura de Julianne Moore, os beijos lésbicos cheios de culpa e pecado, o tédio e o fastio esmagador, a vontade de se matar que não abandona o palco da vida... Que filme esmagador é este?!

Como é que eu posso dormir tranqüilo depois de ver uma coisa destas? Tem uma judia cantando algo em meu aparelho de som, mas a amargura ‘in crescendo’ daquelas mulheres e homens que protagonizaram este quase excelente filme, repleto de defeitos até a tampa, não me sai da cabeça... “Sempre encarar a vida de frente... E saber... e amar… Sempre os anos entre nós… Sempre o amor… Sempre, as horas”… Lindo! E terrível!

“Tenho que dormir!”: assim eu tinha pensado e escrito às 2h30’, enquanto aguardava o sinal de Internet voltar a funcionar e poder publicar este texto desconexo e clemente. Não deu certo. Tentei novamente às 7h da manhã de hoje, mas não deu certo. Aí eu emprestei o DVD para um menino bruto e bonito e este deu um parecer completamente diverso sobre o filme deste que eu tento agora explicar...

Wesley PC>

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

ÓTIMO DISCO DO DIA (E A DESNECESSIDADE DE DIZER O PORQUÊ):

“Once in a house on a hill
A boy got angry
He broke into my heart
For a day and a night
I stayed beside him
Until I had no hope”


Uma das ex-moradoras de Gomorra já havia me recomendado demoradamente as canções da islandesa Emilíana Torrini, de quem eu só conhecia “The Gollum’s Song”, belíssimo lamento sonoro que encerra o ótimo filme “O Senhor dos Anéis: As Duas Torres” (2002, de Peter Jackson). Não lembro agora porque encasquetei de baixar o disco “Love in Time of Science” (1999) ontem, mas a letra de “To Be Free”, acima acostada, o videoclipe de “Baby Blue” e a pujança dolorosa que atende pelo nome de “Dead Things” tornaram-se referências cabais para o dia de hoje, em que acordei sob o signo de um problema financeiro familiar que me impedirá de viajar para um congresso universitário sobre diversidade sexual que me seria muito relevante. “Bad things, dead things, sad things have to happen sometimes”, diria a cantora, em meio aos barulhinhos que caracterizam suas baladas tristes. Tenho mais é que concordar com ela neste aspecto.

Ouvi compulsivamente este disco repetidas vezes na tarde de ontem, depois que recebi uma carona automobilística enquanto aguardava um ônibus para voltar para casa, depois de ter votado, e adentrei a madrugada de domingo para segunda-feira ouvindo novamente este disco balsâmico, que agora me será eternamente companheiro de lembranças conformadas acerca do papel que desempenho enquanto membro apaixonado de uma família ostensivamente disfuncional. A cada dia que passa, gosto mais e mais daquelas pessoas, por mais que seus próprios problemas eventualmente me arrastem num rol de dependência resolutiva de conflitos. Tenho uma mãe perdulária, um irmão viciado em ‘crack’, outro irmão aidético, uma irmã adventista com 7 filhos, uma marreca com as duas pernas quebradas, uma cachorra recém-parida com diarréia, uma cabrita imperiosa e muito amor para dar. Talvez isso me baste por ora...

“It shouldn't hurt me to be free
It's what I really need
To pull myself together
But if it's so good being free
Would you mind telling me
Why I don't know what to do with myself”


Wesley PC>

domingo, 3 de outubro de 2010

"Eu estou muito cansado
Do peso da minha cabeça
(...)
Eu estou muito cansado
De não poder falar palavra
Sobre essas coisas sem jeito
Que eu trago no peito
E que eu acho tão bom

Quero uma balada nova
Falando de brotos, de coisas assim
De money, de lua, de ti e de mim
Um cara tão sentimental

Quero a sessão de cinema das cinco
Pra beijar a menina e levar a saudade
Na camisa, toda suja de batom"







"POIS ESTE AMOR PODERÁ TRAZER MAIS PESARES PERMANECENDO OCULTO, DO QUE RANCORES, SE FOR REVELADO”.

Assim diz Polônio à sua filha Ofélia, depois que seu criado Reinaldo sai da sala, na primeira cena do segundo ato de “Hamlet” (1602), peça absolutamente magistral de William Shakespeare que, por mais que sejamos voluntariados a achá-la ótima em razão de seus antecedentes históricos, desdenhamos destes e achamo-la excepcional e mui divertida em razão de toda melancolia e ironia que perpassa cada página de sua curta extensão. Juro, o texto do bardo é simplesmente fenomenal! Como é que eu não li isto antes?

Digo mais, enquanto consumia aquelas palavras escritas para serem recitadas, revia em minha mente a extraordinária versão cinematográfica de Kenneth Branagh (1996), que, em seu fulgor e agilidade, dota de ainda mais ciclotimia o protagonista, que ri e chora em igual medida, que se angustia, se atormenta e exulta em igual medida, nos eu afã por pôr fim às desgraças que, de súbito, o flagram quando ele se vê apaixonado por uma vassala ou quando descobre que sua mãe entregara-se traiçoeiramente ao homem que assassinara seu pai. “Por que o Todo-Poderoso fixou suas leis contra o suicídio? Meu Deus! Meu Deus! Como me parecem abjetas, antiquadas, e vãs todas as práticas deste mundo! Opróbrio para o mundo! Ah! Abjeção! É um jardim que não foi limpo, onde tudo cresce à vontade; produtos de natureza grosseira e amarga unicamente o ocupam! Que tenhamos chegado a isto!”. Deus do céu, obra-prima!

Wesley PC>

A MALDADE E A BONDADE SUPRA-GENÉTICAS!

Quando eu gravei o filme “Pura Liberdade” (1999, de Sergei Bodrov), minha intenção era puramente conferir mais um exemplar mediano da cinematografia destinada ao público infantil. Não conhecia nada sobre o filme, salvo que a capa nacional do mesmo mostrava um garotinho abraçado a um cavalo (mais um!) e que o diretor é um dos rebentos ‘pop’ do cinema cazaque. E só! Vendo-o na manhã de hoje, porém, por mero acidente, surpreendi-me desde a cena inicial: apesar de a perspectiva narrativa ser deambulatória (ora subjetiva, ora oniscientemente objetiva), a narração eqüina do mesmo fisgou-me de imediato. Repito: o filme é supostamente narrado por um cavalo, um potro recém-nascido, que vem ao mundo num navio de tráfico, quando sua mãe estava sendo carregada para a Namíbia, em 1914, quando seria obrigada a trabalhar sem parar numa mina recém-descoberta de cobre. Seu parto dá-se em plena viagem e isto permite uma deliciosa observação política do narrador: “ali naquele barco, onde eu dei meus primeiros passos, logo percebi que estava sobre um mundo instável e tremente”. Eis o Capitalismo!

Pensei comigo mesmo que este era um filme supostamente zoofílico em que eu deveria prestar atenção e estive certo: à medida que a trama evolui, o potro até que conhece um menininho bem-intencionado, mas este é secundarizado em função das descobertas sobrevivenciais a que tem acesso, ainda numa fase mui tenra de sua vida animal: sua mãe morre espancada por outro cavalo, considerado “malvado” em razão de sua linhagem superior (para quem?); ele é picado por uma cobra no deserto; encontra um oásis e lamenta não ter com quem compartilhá-lo; apaixona-se e é repreendido por isto (“é um mundo injusto, mas não só para mim!”, pensa ele); e interage de formas diferenciadas com filhotes de leões, com antílopes, com girafas, com povos humanos do deserto e etc.. Juro que fiquei impressionado com o filme, emocionalmente afetado até. Quase lacrimejei de emoção!

Não é um filme perfeito, lógico – as ambições estéticas ‘for export’ de seu diretor não permitiram isto – mas possui lindos momentos, grande partes deles advindos da colaboração no enredo do para-ambientalista cinematográfico Jean-Jacques Annaud e da inebriante trilha sonora de Nicola Piovani. Recomendo-o, portanto, visto que é raro um filme infantil conservar-se tão nobre em seus intentos. Com tudo o de “suspeito” que esteja contido nas cenas de domesticação eqüina (aquilo é amizade?) que acompanham os créditos finais...

Wesley PC>

A FORMIDÁVEL MORAL SECUNDÁRIA:

Apesar de já ter sido apresentado a “O Caderno Rosa de Lori Lamby” há muito tempo, graças a um ótimo curta-metragem dirigido por Sung Sfai em 2005, somente na última quinta-feira tive a oportunidade de ler o clássico livro de Hilda Hist na íntegra, em um ônibus! Para quem ainda não conhece, “O Caderno Rosa de Lori Lamby” narra as descobertas sexuais surpreendentes de uma garotinha de 8 anos que se submete desde cedo – e voluntariamente – às agruras e prazeres da prostituição. Narrado com inocência e sensualidade altissonantes, este livro foi obviamente censurado por muito tempo como “obra pornográfica e apologeticamete pedofílica”, mas foi redescoberto e cultuado por amantes legítimos da Literatura. Sinto orgulho de incluir-me em pelo menos uma das categorias definidas por esta expressão composta por três palavras tão fortes (amante, legítimo, Literatura). Entretanto, para além da óbvia identificação pessoal e do deslumbramento demorado que o rigor metalingüístico-citacional da autora me causou, foram as ilustrações ternas e igualmente sensuais de Millôr Fernandes que me fisgaram à parte. E, no posfácio da edição que possuo, há uma pequena fábula de autoria do ilustrador que precisa ser aqui reproduzida:

“Um cara tá perdido no deserto, acompanhado apenas por seu cãozinho de estimação. Há horas, dias e tal sem comer nem beber, está próximo do desespero. Até que, olhando bem seu cão, no auge de seu delírio famélico, mata-o e o devora. Quando, enfim, já está a roer os ossos, começa a chorar comovido: ‘ah, tadinho do Lulu, ele iria gostar tanto de roer estes ossinhos...’ E o Millôr é demais, a história tem moral: ‘o despertar dos belos sentimentos uma vez satisfeitas as necessidades básicas’”. Glupt!

Acho que deixarei minha intenção com esta postagem em aberto: (...)
Wesley PC>