sábado, 4 de dezembro de 2010

EU QUERO OUVIR AS LUZES BRILHANTES ESTA NOITE!

Cliquem nesta imagem aqui e depois voltem ao 'blog'. Clicaram? Voltaram? Agora olhem para a capa de CD e comparem-na com a fotografia listada. Não são similares? Pois então, por ser fã do filme “Colheita Maldita” (1984, de Fritz Kiersch) desde a infância, sempre fui violentamente atraído pela capa deste disco, pela mensagem implícita em seu apelo titular sangüíneos, pelas canções aparentemente tristes, mas... Até que ponto minha curiosidade informativa acerca do disco corresponderia à minha satisfação auditiva? Só saberia ao ouvi-lo. E, neste exato momento, eu o reouço. Parece ‘country music’ estadunidense, mas é música de lamento britânico: “I Want to See the Bright Lights Tonights” (1974), de Richard and Linda Thompson, agora está num panteão especial de canções dolorosas de consolo. Querem um exemplo? Faixa 4, “Withered and Died” (literalmente, “murchou e morreu”):

“If I was a butterfly live for a day
And I could be free just blowing away
This cruel country has driven me down
Teased me and lied, teased me and lied
I've only sad stories to tell to this town
My dreams are withered and died
My dreams are withered and died


Numa tradução livre (e sem aspas, de propósito): se eu fosse uma borboleta e vivesse por um dia, eu poderei ser livre apenas explodindo [é isso mesmo?!]. Este país cruel me deprimiu, me provocou e me mentiu... Eu só tenho estórias tristes para legar a esta cidade. Meus sonhos estão murchos e mortos, meus sonhos murcharam e morreram... E, com estas palavras em mente, sairei para ver “A Rede Social” (2010, de David Fincher) no cinema, cercado de amigos, em algumas horas. Temo chorar na sessão, mas... Faz parte do processo. E eu preciso ver e ouvir e sentir e cheirar e lamber as luzes brilhantes esta noite!

Wesley PC>

QUANDO EU SAÍ DE CASA, INTUÍA ALGO!

Esta “imagem social do tempo” foi registrada às 8h17’ da manhã de sexta-feira, dia 03 de dezembro de 2010. Saía de minha casa em direção ao trabalho, ouvindo uma pertinente canção d’O Teatro Mágico, chamado “O Mérito e o Monstro”, cuja letra dizia: “Minha condição, minha condução/ Meu minuto de silêncio/ Os meus minutos mal somados/ Sadomasoquismo são/ Meu trabalho mais que forçado/ Morrendo comigo na mão”. Era um sinal?

Chegando ao setor de atendimento que me consumiria pelos próximos 680 minutos, brinquei com meus colegas: “caso não sobrevivamos ao dia de hoje, saibam que amei cada um de vocês (risos). Espero nos encontrarmos novamente do ‘outro lado’”. Eles entenderam a piada e riram comigo, minha chefa incluída. Calhou de o sobejo de trabalho ser suportável até as 16h45’, mais ou menos, quando fechamos a porta e atendemos às penúltimas pessoas do turno vespertino. Até que me entra um casal de psicóticos formados em Ciências Sociais por uma porta alternativa e não permitida para eles. Como eles já estavam dentro do setor, obrigávamo-nos a realizar o cadastro deles no certame que os interessava. Seguiu-se o diálogo:

- Eu tenho que dar entrada em meu Diploma, é?
- Sim, precisa. Senão tu não podes se inscrever neste concurso para Portadores de Diploma.
- Mas eu tenho um Atestado de Conclusão de Curso aqui comigo.
- É um concurso para Portadores de Diploma, não para Portadores de Atestados de Conclusão de Curso!


Para quê eu disse isso?! O guri berrou, chiou, gritou, esperneou, deu ‘show’:

- Onde é que está escrito que eu sou obrigado a dar entrada em meu Diploma?
- Se tu quiseres recebê-lo um dia, tu és?
- Onde está dizendo isso?
- Não sai, mas tu és obrigado!
- Tu és obrigado a saber: onde é que diz isso?
- Nos documentos que tu assinaste quando te comprometeste a ser aluno desta universidade.
- Mas onde é que tem escrito isso?
- Eu já disse.
- Tu não sabes.
- Sei sim, mas não quero dizer agora, pronto!


Perdi a razão neste ponto, sendo infantil na minha argumentação, mas tentei retomá-la:

- Se tu quiseres saber onde estão escritas as tuas obrigações universitárias, procure o diretor deste setor.
- Vá lá chamar ele!
- Eu não. Tu te levantes e vá na sala dele, tu nem deverias estar aqui. O setor está fechado!


Ele gritou mais, esperneou, me chamou de cínico, mal-educado e funcionárias mais antigas me acudiram na situação. Eu segui firme em minha argumentação. Ele gritou:

- Tu fiques aí, onde tu estás.
- Eu estou aqui, Sempre estive aqui. Tu me viste levantando, por acaso?
- Tu estás agindo com ironia.
- De forma alguma, estou sendo verdadeiro. Estou dizendo que estou aqui e, de fato, estou aqui.


Ele bufou, gritou mais e me denunciou à Ouvidoria da UFS, enquanto eu voltei a fazer o meu trabalho, atendendo outras pessoas, mais sãs, que entraram no setor com ele. Tremia de raiva, mas trabalhar com atendimento tem destes problemas. Queria conversar com alguém, mas o tempo era exíguo. Derramei café sobre uma caixa de processos e tentei limpar o estrago, antes que a porta se abrisse novamente. E voltei à canção d’O Teatro Mágico: “prá nos tornarmos imortais, a gente tem que aprender a morrer”. E agora eu estou viúvo...

Wesley PC>

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

“EU SEI POR QUE TU VÊS TANTOS FILMES: POR QUE TU ÉS UM ESPECTADOR DA VIDA! EU NÃO QUERO ISSO PARA MIM... QUERO VIVER, QUERO SORRIR!”

Impossível não começar uma pseudo-resenha do filme “Sonhos de um Sedutor” (1972, de Herbert Ross) com uma interjeição entalada na garganta: ‘glupt’! Comecei a ver este filme na madrugada de hoje, mas tive sono e dormi. Vi apenas os 25 minutos iniciais, mas já tive certeza, plena certeza de que ele me dará uma verdadeira rasteira emocional. O amigo que me passou o filme, aliás, descreveu-o sucintamente como quiçá o melhor interpretado e roteirizado (mas não dirigido) por Woody Allen, que vive, mais ou menos nas palavras dele, “um crítico de cinema que é abandonado por quem ama aos 29 anos de idade e começa a questionar o sentido da vida”. Eu não acreditei nesta antonomásia roubada, tamanha a identificação potencialmente desejada, e logo no primeiro ‘flashback’ do filme, acompanhamos a briga definitiva entre o protagonista e a mulher que ama, que pede divórcio depois de proferir o julgamento contido no título desta postagem, algo que, confesso, já foi usado contra mim. “Motivo justificado para divórcio: riso insuficiente” (risos).

No filme, o protagonista é obcecado pelo filme “Casablanca” (1942, de Michael Curtiz) e recebe as visitas terapêuticas do fantasma de Humphrey Bogart, que o aconselha em seus fracassos amorosos. Na estupefaciente cena de abertura, aliás, acompanhamos as reações de espanto e prazer extremo que o personagem manifesta diante do antológico final do filme citado, conforme podemos perceber na imagem acostada, cuja qualidade é propositalmente defasada: achei tão interessante o personalismo desta fotografia de tela de TV (em que podemos ver refletida a mobília na tela), encontrada aleatoriamente na Internet, que ponho esta mesmo, visto que, enquanto o protagonista escancara a sua boca em demonstração de estupor em face da genialidade fílmica, eu tendia a fazer o mesmo diante do que se descortinava gradualmente diante de mim: este filme vai mexer comigo, tenho certeza!

Infelizmente, porém, nem todo trabalhador braçal (que é mais ou menos a atividade empregatícia que vem me cabendo nos três ocupadíssimos últimos dias) dispõe de força física e mental suficiente para manter-se firme diante da tela. O cansaço venceu, no meu caso, aliado a alguns outros sentimentos ainda decepcionantes que me circundam, mas tenho certeza de que, quando conseguir chegar até o final do filme, gozarei de um riso deveras terapêutico, enquanto o neurastênico protagonista gasta embalagens e mais embalagens de analgésicos para ver se atenua a sua depressão reativa de caráter hipocondríaco. Por sorte, eu sigo uma linha inversa de profilaxia, quase homeopática no uso da própria dor enquanto recurso de cura e aprendizagem. Mas este filme vai mexer comigo. A definição do personagem que meu amigo sintetizou não nega: espectador da vida(mas não só), eis o que sou!

Wesley PC>

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

“SEM A TUA ASSINATURA, NINGUÉM SE CASA”!

Eventos do dia: 1 – minha chefa hoje foi testemunha de casamento; 2 – ixória é o nome de uma flor corriqueira, que não é conhecida por este nome, não obstante eventualmente ser utilizado para batizar prédios no bairro Jardins; 3 – uma graduada loira de um curso qualquer perguntou-nos, coletivamente, se portando apenas uma declaração de conclusão de curso, ela já teria direito a uma cela de prisão especial; 4 – eu preciso de um DVD-RW; 5 – eu não paro de pensar nele, e não só!; 6 – eu não paro de pensar nele; 7 – eu não paro de pensar; 8 – eu não paro; 9 – eu; 10- eu agora sei o que são ixórias e acho-as bonitas!

Wesley PC>

ANTES EU DORMIA, SONHAVA OU. NO MÍNIMO, TINHA UM PESADELO PROVIDENCIAL. HOJE EU DORMI E APENAS ACORDEI!

E, mesmo que armado por Robert Bresson e sua versão etérea do livro de Georges Bernanos, não sei o que dizer agora. Na dúvida, recorro ao pároco de Ambricourt, que diz que “o único fundamento do poder é a ilusão dos miseráveis”. E eu devo ser um miserável. Iludo-me. Eu só quero que o Deus venha - só que meu deus tem a letra inicial maiúscula, ao contrário do que deveria pressupor minha citação à fonte literária. No mínimo, um pesadelo: “O inferno é não se amar mais. Enquanto estamos vivos, podemos nos iludir, acreditar que amamos por nossas próprias forças, que amamos sem Deus. Mas nos assemelhamos aos loucos, que estendem os braços para o reflexo da lua na água..." (Pág. 176, Ed.Paulus, 2000). Afinal de contas, como bem inspirou o pensamento pascaliano de que o autor se serviu para redigir sua obra-prima, não há acaso. Há lógica imperscrutável de Deus!

Wesley PC>

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

“O CARRAPATO É O SER SUPREMO DA FAMÍLIA DOS IXODÍDEOS” OU MAIS UMA TENTATIVA DE RESSURREIÇÃO

Tentando organizar as idéias: são agora 17h44’ e, neste exato momento, comemoro quase 10 horas ininterruptas de trabalho árduo. Blocos e mais blocos de pessoas enfileirando-se à minha frente, gastando toneladas e dinheiro no afã de regressarem à universidade para o ingresso em uma nova graduação enquanto eu pensava comigo mesmo se gostava ou não gostava do alagoano Djavan. Adquiri dois de seus discos na madrugada de ontem para hoje: “Djavan – A Voz, O Violão” (1976) e “Alumbramento” (1980), sendo que, deste segundo, consta uma faixa egrégia, chamada “Meu Bem Querer”. E, segundo uma amiga minha, no calor, os carrapatos são mais freqüentes, se reproduzem com mais facilidade. “Gosto se discute sim”: dizia um artigo crítico que li em 2000, destacando negativamente a noção de “mal menor” na escolha de que tipo de música se ouve. A dita critica especializada, aliás, gosta muito do Djavan, pelo que eu pude perceber até então. Ouso dizer que sei algumas de suas canções de cor, mas... Não sei se gosto, juro que não sei. Este é o meu dilema vicário de hoje, portanto: “Meu bem querer, meu encanto, estou sofrendo tanto/ Amor, e o que é o sofrer para mim que estou jurado pra morrer de amor?”. Repetindo, sem aspas: jurado para morrer de amor!

Wesley PC>

“MAS EU NÃO ACREDITO QUE HAJA NADA DEPOIS DA MORTE”, DISSE A CIGANA LUCÍA.

Carmelo amava Candela desde criança, mas ela fora prometida em casamento a José, ainda na infância. Conformada às tradições de seu povo, ela calha de se apaixonar pelo marido, que, afinal é infiel, apesar de amável, e, dentre outras, tem um caso perene com Lucía, que, por sua vez, nutre afeto por Carmelo, que ama Candela desde criança. Numa festa, José entra numa briga ao defender a honra amante de Lucía e é esfaqueado. Os policiais chegam, Carmelo e candela chegam. Ele é injustamente preso por assassinato. Ela crê que, se invocar seu marido morto todas as noites, ela aparecerá para ela e lhe será fiel após a morte. E este é apenas o ponto de partida para “Amor Bruxo” (1986, de Carlos Saura), belíssimo filme profilático sobre dança flamenca que vi na noite de hoje.

Neste belíssimo filme profilático sobre dança flamenca, uma cigana mais velha diz a Candela que somente o fogo afasta os mortos e, aos poucos, o destino ajuda o recém-libertado Carmelo a conquistar sua amada, ainda devota à memória fantasmática de seu falecido marido. É uma pena que, apesar da beleza esplendorosa do filme e do ótimo ponto de partida de seu roteiro, “Amor Bruxo” não é muito bem-sucedido na coesão de suas seqüências de dança, não obstante me deslumbrar em quase todas elas, principalmente no diálogo rítmico das ciganas que estendem roupa e comparam o desejo instintivo que um homem sente por uma mulher a um passarinho que procura um ninho. E elas acrescentam: “meu ninho está tão quente e não tem nenhum passarinho para me confortar. Vem, pega a minha gaiola, que se tu entrares aqui, não te deixo mais sair”. E isto era renascimento. E, estranhamente, fiquei com vontade de baixar algum disco do Djavan...

Wesley PC>

terça-feira, 30 de novembro de 2010

“VIADO DOS INFERNOS”!

A tendência patológica ao exibicionismo sentimental é algo que não somente me caracteriza como, de alguma forma, me torna minimamente célebre. A intensidade espetaculosa com que eu extravaso em larga escala o que sinto (mesmo em situações de completo esmigalhamento emocional), por sua vez, é tão literariamente interessante quando é efeito de uma derruição progressiva dos valores interativos que circundam-nos, no grande processo entendido como globalização. É tanto que, quando deparei-me com meu amado cachorro Almodóvar de Castro falecido no chão, o primeiro impulso que tive foi de arrancar as pilhas do controle remoto da TV de minha casa, enfiá-las na câmera fotográfica e fotografá-lo no momento derradeiro, ainda que, por fora, eu sequer conseguisse controlar a tremedeira advinda de meu pranto altissonante. Hoje me vejo diante de uma nova situação como esta e, como tal, talvez precise moderar aqui o que posso confessar (ou não) sobre o assunto:

Às 19h30’ de ontem, recebi uma visita amistosa no trabalho: era um colega de classe pedindo de volta um DVD que ele cria ter perdido, mas que estava comigo, visto que, coincidentemente, tirei aquele dia para reproduzi-lo para mim. Ele, brincando, confessou-me que havia respondido a um teste chistoso no Facebook, perguntando que tipo de bicha ele era. A resposta: “eu sou uma bicha intelectual, Wesley”! Não era mérito meu contrariá-lo ou legitimá-lo. Devolvi seu DVD, agradeci e, na manhã de hoje, assisti a um filme de nome “Johan” (1976, de Philippe Vallois), sobre um diretor de cinema que quer realizar um filme sobre o homem que ama. Ponto.

Antes de ver este filme, porém – filme que é um verdadeiro clássico ‘gay’, apesar de eu sequer conhecê-lo até a noite de ontem! – recebi uma mensagem de celular que muito me constrangeu. Um rapaz que trabalha comigo fora quase reprovado numa disciplina e disse que “o viado dos infernos” que lhe aplicou uma nota baixa o fez “porque não havia sido comido ou fodido direito”. Argumentos homofóbicos e precipitados para externalizar uma raiva que, se é de todo compreensiva, não justifica os adjetivos ora citados. Mais uma vez, pensei que não era mérito meu (imediato, pelo menos, neste caso) contrariar ou legitimar o que quer que eu tivesse lido. Vi o tal filme um tanto mecanicamente, chateado por não coadunar com as mesmas idéias de satisfação sumamente sexual defendidas pelo protagonista-narrador (o próprio cineasta) e fiquei um tanto admirado com a coincidência da realização, muito similar a um projeto para-jornalístico que eu planejava empreender para a semana que vem, até que uma nova mensagem de celular acabou com todo e qualquer plano que eu possa ter sobre o assunto.

Num ‘e-mail’ que enviei na noite de domingo, destinei a seguinte mensagem ao emissor das mensagens de celular destacadas nesta postagem: “Ao estar apaixonado por ti, não venero apenas o seu corpo físico, mas tudo o que te rodeia. Por isso, ao inquirir acerca do que tu fazes, do que te cerca, sinto-me apto a respeitar positivamente todo um contexto egrégio que permite que tu sobrevivas, que tu sejas feliz, que tu te irrites, que tu reapareças no dia seguinte às tuas partidas com estórias para contar. E, como tal, amo tudo o que diz respeito a ti!”. Como se não fosse suficiente, eu continuei: “Mas tu insistes em te manter silencioso (por precaução?) em várias oportunidades. Não é a primeira vez que lido com isso: Deus, o “Deus invisível” a que fui apresentado por Blaise Pascal já agia assim milênios antes de teu nascimento e eu sempre O amei e sempre O amarei. Assim sendo, estás condenado ao meu fanatismo por toda a eternidade (risos). Tomara que eu disponha de forças para não te machucar ou te incomodar mais do que já faço. Te quero bem, pura e simplesmente. E não só a ti!”.

Tínhamos um compromisso trivial, no plano das relações interpessoais amistosas, agendado para o sábado, cuja resposta negativa chega-me hoje de manhã: “Esqueça o filme. Depois daquele ‘e-mail’ tosco que recebi, percebi que você está mesmo ‘surtando por mim”. Essa é minha trágica vida: meninas não se apaixonam por mim, mas homens aparecem às rumas (kkkk). Se você soubesse guardar os seus sentimentos, a gente iria tranqüilo, mas isso não acontece e não quero quebrar a cabeça com ninguém não. Principalmente com um homem apaixonado por mim... Deus me abençoe”. E, conforme se pode perceber nitidamente enquanto escrevo, definitivamente não sei guardar os meus sentimentos. Não vejo nada de errado neles para o fazê-lo, aliás!

Por este motivo, talvez por outros, talvez por nenhum, tudo o que eu planejava escrever (no plano objetivo) sobre o filme citado no segundo parágrafo foi por água abaixo. Tenho que estudar muito hoje, estou de folga, e sinto um aperto, um soco violento nalguma parte indefinível do meu corpo que me impede de sequer querer parecer objetivo. Não o sou e nem quero sê-lo. Minha mãe pediu que eu verificasse algo para meu irmão caçula na Internet e eu terminei sendo um tanto bruto com ela, receoso que a mesma percebesse minhas lágrimas irrefreáveis e perguntasse do que se tratava. E para ela, justamente para ela, eu não poderia dizer nada. Escrevo esta confissão ridícula para o mundo inteiro ler e não posso transmitir este básico sentimento à minha mãe, que tanto me ama e é amada num sentimento mútuo que, infelizmente, nem sempre acomete às pessoas.

Poderia, num golpe profissional de controle espúrio do assunto e da emoção, elogiar o uso pertinente da cena de sexo entre um rapaz branco e outro rapaz negro na fotografia em branco-e-preto do filme, mas isto cai por terra agora. Devo ser mesmo um viado dos infernos mal-fodido...

Que seja declarado luto neste ‘blog’, ao menos por hoje.
Preciso estudar...

Wesley PC>

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

“NÃO FIQUES COM ELE SÓ POR PENA. DEPOIS ELE NÃO VAI QUERER SABER DE TI”...

Assim me confidenciou uma grande amiga de infância, na noite de hoje, acerca de uma conhecida sua, que, pelo visto, está embarcando num relacionamento namoratório onde não há amor mútuo, única e exclusivamente porque ela tem pena de seu pretendente, depressivo, que não quer tê-la como amigo, "apenas como namorado”. No caminho para casa, pensei ter ouvido um marginal de beira-de-esquina me perguntar as horas. “Nove e quinze”, respondi, por via das dúvidas. Minha mãe havia sido mordida pela cachorra da família, de novo. “Cadê não-sei-quem?”, perguntei na casa da vizinha. “Saiu”. Faz um bom tempo que não revejo o primeiro longa-metragem do Gus Van Sant. Sobrevivi à insanidade da manhã de hoje. “Eu sempre sobrevivo”, diria num momento de modéstia conscienciosa, e minha mãe grita para que eu raspe a minha barba. “barba crescendo, né?”, perguntei eu a ele. “É que meu irmão levou o barbeador”. Sei, sei... Tristeza da zôrra, vontade de estar perto manhã, tarde e noite, de telefonar de hora e hora, para ouvir a sua voz bonita, que me faz tão feliz. Cortei meu dedo com a faca quando estava cortando a manga. “Quer um pedaço?”. “Isso é chocolate ou ração de cachorro?”. “Posso testar meu aparelho contigo?”. (risos) Ortodôntico ou digestório? Reprodutivo (risos). “Vai sair ainda?”. Quase 22h30’ já. Tem dias que eu acordo com vontade. Tem dias que a vontade acorda comigo. Acho que hoje foi um dia do segundo tipo. Uma angustia tão forte logo cedo... Tu és lindo, tão lindo... “Deus te abençoe, meu filho”: era uma piada, mas uma piada bem-vinda. Deus ama que O ama e quem O desama. Deus ama! E eu não sei desamar. Mas não sou Deus. Mas devo ter sido criado à sua imagem e semelhança. E, olha só, está passando um desenho animado do Picolino no Cartoon Network. Sinal, meu Deus?

Wesley PC>

SUB-HERMENÊUTICA HIPONGA BÁSICA

O carrasco é a morte e a filha bonita é o que vem depois. Ou tu podes dizer que o carrasco são os últimos vinte anos de nossa vida e a filha bonita é o agora, o que nós estamos aptos a fazer todos esses anos. Ou tu podes aplicar o teu próprio significado – tua interpretação é tão boa quanto a nossa: este foi mais ou menos o parecer semântico do músico Mike Heron sobre “The Hangman’s Beautiful Daughter”, obra-prima de seu grupo hiponga The Incredble String Band.

Ouvi este disco na manhã de hoje, no caminho para o trabalho, mas não cheguei ainda a uma conclusão sobre ele. Gostei, é lógico, mas tenho um problema pessoal com discos muito conceituais. Nunca aceito suficientemente que as minhas possibilidades interpretativas estão tão abertas e aceitas quanto declarou o depoente acima. Ou talvez eu esteja apenas mais louco que o habitual hoje! Quem sabe?

Wesley PC>

domingo, 28 de novembro de 2010

EU SOU (OU BEM QUE PODERIA SER) IGUAL A QUALQUER UM NOS FINAIS DE SEMANA!

Quase qualquer um tem atividades burocrático-acadêmicas para resolver durante os finais de semana. Em finais de período, principalmente. E, tal qual muitos outros, eu programei algumas leituras mais convencionais para o dia de sábado, que foram se atropelando e adentraram pelo domingo. Somente por volta das 22h, li o capítulo do livro do Dominique Wolton indicado por uma professora deveras exigente. E lá, na página 106, encontrei algo que me pungiu: “quanto mais há transparência, mais há rumores e segredos. Tão simplesmente porque nunca há relações sociais transparentes. A esta burocracia humana e social se junta a burocracia técnica, porque as ferramentas são menos performáticas do que parecem, as sucessivas gerações tecnológicas deixam zonas de sombras e de ineficácias porque, esquece-se freqüentemente, os engenheiros e os inventores não são mais racionais do que os usuários” (WOLTON, Dominique. Internet, e depois? Uma teoria crítica das novas mídias. Porto Alegre: Sulina, 2003). Por que eu não li isto antes?!

Satisfeito que fiquei por perceber que a leitura que me parecia obrigatória era também muito prazerosa, preparo-me agora para reler o capítulo, voluntariamente, buscando sentir a mesma sensação de prazer gnosiológico que ele me causou da primeira vez. Tentarei dar um tempo na perseguição romântica que empreendendo contra um jovem de pele, cabelos e olhos claros, desligarei a TV na qual acabo de assistir a um episódio de seriado televisivo norte-americano em que a culpa extrema é indicada como sintoma de narcisismo e consolar-me-ei com a esperança que o rapaz citado há alguns segundos tenha visto o programa que lhe indiquei, um debate com o crítico de cinema Sergio Rizzo sobre “a representação familiar no cinema industrial”, exibido no “Café Filosófico” deste domingo, de qualidade generalista sobressalente. E que venha a semana que vem... Novos textos, novos programas, novos livros, a mesma perseguição romântica (por enquanto, enquanto me há vida)...

Wesley PC>

DISCO DO DIA: “SHE WHO DWELLS IN THE SECRET PLACE OF THE MOST HIGH SHALL ABIDE UNDER THE SHADOW OF THE ALMIGHTY” (2003), DA IRLANDESA SINÉAD O’CONNOR

Empolgado que fiquei, na noite de ontem, com o doloroso filme de protesto “Fome” (2008, de Steve McQueen), não tinha como não dedicar o dia de hoje à audição continuada de canções da irlandesa mais célebre e polêmica da música ‘pop’, Sinead O’Connor. Ao contrário da maioria de seus fãs, não a conheci através de sua famosa e emocionada regravação para “Nothing Compares 2U”, do Prince, mas sim através de sua participação na trilha sonora do ótimo filme “Em Nome do Pai” (1993, de Jim Sheridan), com a faixa “You Made Me Thief of Your Heart”, que estou a baixar isoladamente agora, mas acho uma faixa mediana. Apaixonei-me por ela, entretanto, quando vi o clipe de “1.000 Mirrors”, parceria com os imigrantes paquistaneses do Asian Dub Foundation, na TV. Tanto que, somente hoje, escutei esta mesma faixa (que dura exatamente 4 minutos e 53 segundos de intenso prazer) seis vezes seguidas! E, quando ofereci esta audição a um rapazola gracioso, este respondeu: “hoje não dá, deixe para amanhã”. Minha resposta imediata e sincera; “não acredito em amanhãs!”. E é mais ou menos sobre isto que esta excelente canção fala:

A silent siege behind politeness
Domestic harmony for show
Lost in the mirage of a marriage
Outside a world she'll never know

And as I see through the real you
I'm falling straight into
A 1000 broken mirrors
I can't hide


Passei vários anos procurando o disco da Sinead O’Connor que continha esta faixa e só depois de muito tempo descobri que ela constava de “Enemy of the Enemy” (2003), do Asian Dub Foundation, até ser resgatada na extraordinária compilação de título quilométrico que intitula esta postagem, onde também encontramos obras-primas regravadas na voz suave e ao mesmo tempo agressiva da cantora, como “Love Hurts” (eternizada previamente por Roy Orbinson e Nazareth), “Chiquitita” (do ABBA) e vários cânticos tradicionais e/ou religiosos resgatados pela intérprete. Recomendo-o hoje, deveras. Afinal de contas, amanhã, definitivamente, não é comigo!

Wesley PC>

POR FAVOR, ME TIREM DESTA CORRENTE DE ÓDIO, JÁ!

Na tarde de hoje, recebi uma daquelas correntes cibernéticas de ‘e-mails’ que, tendo por finalidade original cadastrar o maior número possível de endereços eletrônicos, disfarça este intento através da transmissão espúria de uma mensagem, que, neste caso em particular, me chateou: pediam que eu assinasse um abaixo-assinado contra futura exibição no Brasil do filme “Corpus Christi: Playing With Redemption” (2011, de Nic Arnzen & James Brandon), sequer finalizado ainda, só porque este filme documenta uma famosa peça de teatro, dirigida por Terrence McNally, em que Jesus Cristo faria sexo com pelo menos 11 de seus apóstolos. É uma peça antiga, mas somente agora parece ter reunido forças para ser convertida em cinema – e eu pessoalmente acho que vá ser um mau filme – adiamento explicável pela polêmica superficial e veemente que provoca onde quer que esta controversa versão da Bíblia seja exibida. Que irritação: em pleno século XXI, ainda há quem se submeta a proibir em princípio este direito básico de liberdade de expressão? E ainda me incluem neste rol de desalmados e dementes?!

Lembro que, em 1999, uma situação vergonhosamente parecida aconteceu próximo de onde eu vivia: na secretaria do colégio em que eu estudei da 5ª até a 8ª série do 1º grau (Colégio Glorita Portugal – São Cristóvão – SE), chegou um abaixo-assinado chancelado pela Igreja Católica, no qual se tentava proibir o lançamento do Brasil da ótima comédia cinematográfica “Dogma” (1999, de Kevin Smith), em que, entre outras supostas heresias, a cantora canadense Alanis Morrissette interpretava Deus. Quase todas as professoras do colégio assinaram o tal documento e, de fato, o filme foi proibido em cinemas do Brasil, só sendo exibido, ainda assim, com muita polemica e frustração, na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e nos Festival de Cinema do Rio. Quando o filme chegou ao videocassete, vi-o três vezes seguidas, de tanto que eu gostei dele. Adiantou tentar proibir? Perguntaram a um padre que tentava angariar assinaturas contrárias à exibição do filme se não era melhor ele assistir ao mesmo para depois emitir um parecer e a resposta foi taxativa (e idiota): “eu não preciso enfiar a minha cabeça num esgoto para saber que fede”. Mal sabia ele que o filme era, de fato, até simpático ao Catolicismo, visto que o enredo garante a redenção para quem acredita nos fiéis disseminadores desta religião. Burrice é algo que me assombra sempre. Quando relacionada à tentativa de proibição das liberdades religiosas, este assombro supera a irracionalidade. Que abominação, meu Deus!

Por isso, insisto: se este ‘e-mail’ pré-proibitivo e ridículo chegar a qualquer um de vocês, emitam uma opinião sobre ele, não o assinem ou o repudiem mecanicamente, protestem, seja a favor, seja contra! O engraçado é que, repito, tendo a crer que desgostarei sobremaneira deste filme, visto que seu enredo privilegia um tipo de polemicismo tipicamente associado aos guetos ‘gays’, mas... Quem sou eu para julgar sem ver (ou cheirar)? Vai que este esgoto seja atolado de perfume...

Wesley PC>