domingo, 23 de janeiro de 2011

“EU FAÇO A LINHA SM ‘LIGHT’, SM ‘CORE’, SM ‘HARD’”!

Impossível não deixar de pensar em “Obráite”, faixa derradeira do disco “Cheque Girls” (2002), do grupo pernambucano Textículos de Mary, durante a audiência ao elogiado filme pornográfico francês “Erotismo à Flor da Pele” (1991, de François Leroi). Conheci este filme graças a duas longas exegeses: o circunlóquio do jornalista Eugenio Bucci intitulado “A Arte de Algumas Partes” e uma resenha numa edição especial da revista Cahiers Du Cinema sobre “Os 100 Filmes Ideais para uma Videoteca”. Os dois artigos, cada qual a seu modo, elogiavam o filme, ao qual só consegui ver, finalmente, na noite de ontem e, para além das limitações pessoais com o cinema pornográfico, admito que gostei bastante de algumas partes.

Cabe um parágrafo explicativo aqui: não gosto de filmes pornográficos. Não somente porque sou um paspalho conservador, nem porque os roteiros deste tipo de filme costumam ser inócuos, vazios ou inexistentes, mas porque não sou habilitado em sexo penetrativo e, como tal, não me identifico eroticamente com o que se passa na tela, o que já interrompe uma premissa genérica básica, no que tange à instauração programada de reações eréteis sobre mim: aquilo não me excita, aquele tipo de conjunção carnal forçada, pelo menos. Conclusão inicial: suspeitava que não fosse achar o filme tão excepcional quanto pintam, mas... Tinha que testar, tinha que dar a cara (e a genitália) à prova!

Se eu alimentava uma curiosidade temática pessoal pela audiência a este filme, esta tem muito a ver com a imagem acostada a esta postagem: claramente inspirada por “Videodrome, a Síndrome do Vídeo” (1982, de David Cronenberg), a trama deste filme é centrada numa fita de vídeo sadomasoquista, que aprisiona na tela quem o assiste. Na cena em pauta, Zara Whites tencionava masturbar-se em frente à tela, quando percebe que a fita foi misteriosamente apagada. Quando aproxima-se do videocassete para retirar a fita, percebe o espectro de um imenso pênis no interior da televisão. Depois de beijar este espectro, três pênis saem da tela e ela reveza-se chupando um, ora outro, ora um terceiro – cena esta que, ouso confessar, excitou-me porque trouxe à tona um desejo erótico que me acompanha desde a infância: sempre tive a curiosidade de comparar os sabores e odores de várias genitálias diferentes ao mesmo tempo. Não foi à toa que nasci no mesmo ano que a AIDS (risos).

Um detalhe que me incomodou definitivamente no artigo de Eugenio Bucci sobre o filme é que ele define a pornografia como sendo “a arte de negar a arte”, definição equívoca esta que o próprio diretor Francis Leroi, licenciado em Filosofia, nega num filme posterior, mais qualitativo, “Regarde-Moi” (2001), seu último, visto que ele faleceu em 2002. Entretanto, gostei muito de cenas como aquela em que a empregada da protagonista faz sexo com o namorado dela, enquanto a mesma está aprisionada na TV, olhando-os com um olhar melancólico e do fato de o filme ser não-dialogístico, sem aqueles incômodos gemidos dos filmes típicos do gênero. Além disso, a trilha sonora jazzística de David Cap é bastante inventiva, o que obviamente não (in)justifica a cena em que uma freqüentadora assídua de bar introduza o saxofone do músico em sua vagina. Porém, gostei bastante de uma cena subseqüente, em que a ejaculação do músico é comparada a um disparo de champanha. No geral, porém, não gostei plenamente do filme, mas uma vigorosa nota 6,0 ele leva. E ergo a voz para gritar: a cena da foto excitou-me mais do que oniricamente!

Wesley PC>

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