sábado, 15 de janeiro de 2011

PICALOMICINA NA VEIA NÃO SE CONSEGUE NO HOSPITAL OU MINHA EXPERIÊNCIA PESSOAL ENQUANTO PACIENTE DO SISTEMA PÚBLICO DE SAÚDE

Não é à toa que, diante de ameaças mortíferas, o desejo sexual é acentuado. É como se a natureza se antecipasse em garantir a reprodução do individuo moribundo, em face da morte iminente. Mas, no caso de um homossexual, onde é que a natureza entra no processo de formulação de desejos instintivos sexuais primários? Que contribuição mais geral para minha espécie dá-se quando eu assisto a um programa de TV em que 10 modelos bonitos posam em roupas íntimas e tenho sonhos eróticos depois disso? A natureza é sábia, não cabe a mim responder...

Doído feito a zorra que eu ainda estava, resolvi me submeter a uma consulta médica local. Tomei banho e desci a rua, em direção ao pronto-socorro do conjunto residencial em que habito. A primeira recepcionista foi demasiado grossa, mas a segunda, sua substituta definitiva, foi simpática e se espantou quando eu disse que tinha 30 anos de idade. Senti-me positivamente envaidecido. O médico, por outro lado, era recém-formado. Hoje era seu primeiro dia de trabalho e, não por coincidência, ele foi o primeiro a receber o Diploma na manhã de terça-feira, quando eu justamente passei mal no DAA. Em outras palavras: ele percebeu o início de minha crise dolorosa quando a mesma chegou ao seu píncaro e sorriu ao me reconhecer em seu consultório. Tocou em minha testa, perguntou o que eu sentia e me aplicou um remédio diluído em soro fisiológico: 100ml de Profenid (ou seja, cetoprofeno).

Enquanto eu estava deitado na maca, recebendo o tal remédio diretamente na veia, uma enfermeira comentava com as acompanhantes de outros pacientes acerca de minha idade: “devem ter trocado os seus documentos, menino, Tu não tens 30 anos não” (risos). Senti-me ainda mais envaidecido e feliz por esta recepção mais amistosa, visto que, logo que cheguei ao hospital, espantei-me com uma placa na parede: TODOS OS PACIENTES DEVEM PREENCHER FICHAS, SEM EXCESSÃO! (escrito assim mesmo, cruzes!). A mãe de uma paciente sentada ao meu lado brincava com o filho: ei, o que é que está mole, o pinto?”. Ele: “não, o dente”. Ela: “tu só tens 5 anos de idade, teu dente só irá cair aos 7, daqui a dois anos”. E eu fiquei pensando no que aconteceria com o pinto do coitado do menino...

Enquanto aguardava a minha vez de ser atendido – que, afinal, foi bem rápida, não durou nem meia-hora – lia os dois primeiros capítulos de um romance de Yukio Mishima que me emprestaram: “O Marinheiro que Perdeu as Graças do Mar” (1963), sobre um menino de 13 anos que observa sua jovem mãe fodendo com um belo marinheiro. Logo no primeiro capítulo, uma citação que me encantou; “se eu fosse uma ameba, pensava ele, com um corpo infinitesimal, poderia derrotar a feiúra. O homem não é bastante pequeno, nem bastante grande, para derrotar coisa alguma”. Concordo. Sobrevivi!

Wesley PC>

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