terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

A MELANCOLIA E A INQUIETUDE, SIM, SR. WIM WENDERS, EU AS MANTEREI COMIGO!

Wim Wenders usa óculos com aros muito grossos desde a infância – e é um homem triste e agoniado. Ou, ao menos, deixa isso transparecer em seus filmes. Nos antigos, nos ótimos, principalmente. Acabo de ver “Movimento em Falso” (1975), na TV, e a trilha sonora pausada e dilacerante do Jürgen Knieper não me sai da cabeça: que filme triste! Triste mesmo, a tristeza pela tristeza, no mais apreciável sentido da expressão...

Aliás, tendo visto este filme agora, pergunto: como enfrentar um árduo expediente de trabalho depois disso? Fico cá a imaginar como se dá a organização das programações televisivas: seria realmente adequado exibir um filme destes pela manhã?! Se, por um lado, calhou de eu estar de folga na manhã em que ele foi exibido, por outro, que langor extremo me toma agora. Como erguer a cabeça depois de tanta melancolia e de tanta inquietude, ambos os sentimentos aconselhados como sendo ideais para quem deseja ser escritor, para quem deseja travar contato com as pessoas ao redor...

No filme, o protagonista (Rüdigler Vogler) vaga por cidades-dormitório germânicas depois que sua mãe, preocupada com toda a sua amargura, lhe compra uma passagem. No caminho, ele se depara com um ex-corredor nazista, com uma trapezista muda (vivida pela jovem e linda Nastassja Kinski), com uma atriz com perene expressão de sofredora (Hanna Schygulla, igualmente linda), com um poeta afetado e com um industrial solitário, que se enforca na escadaria de sua própria residência. Em mais de uma seqüência longa, os personagens caminham e conversam sobre as dores do mundo. Um louco abre a janela e pergunta aos transeuntes se eles sabem o que é a dor. Não há resposta. Ao invés disso, o velho maratonista sangra pelo nariz. “É a lembrança”, diz ele, que complementa mais tarde. “O paradoxo da solidão: ela nos preenche com a sensação da segurança”. Glupt!

Infelizmente, os filmes mais recentes do Wim Wenders não são mais exitosos em sua tristeza triste, muito triste, não obstante eu crer que seu novo “Pina” (2011) deva ser um excelente filme. Vi trechos da obra num programa de variedades espanhol anteontem. Enquanto não tenho a oportunidade de assisti-lo, lamento sozinho ao lembrar desta bela e amarga peça de cinema que me desceu (in)esperadamente pelas entranhas na manhã de hoje...

Wesley PC>

Um comentário:

Boca da Noite disse...

Nunca fui cinéfilo nato, embora goste e embora depois que conheci você saia por ai procurando raridades como a que você viu e agora demostrou por palavras o quanto mexeu contigo.

No meu poste de um há uma fotografia feita de madrugada. Imediatamente lembrei de você.