quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

QUANDO A GENTE PENSA QUE JÁ VIU DE TUDO, HOLLYWOOD NOS OBRIGA A REVER A DETURPAÇÃO DO JÁ VISTO COMO SE FOSSE NOVIDADE!

Em “O Rei dos Zumbis” (1941), filme B do cineasta medíocre Jean Yarbrough, um negro tagarela e auto-ridicularizado destaca-se em meio a outros congêneres raciais mortificados e descerebrados por ser demasiado loquaz diante de um prato de comida. Com certeza, a cena visava fazer com que o espectador caísse na gargalhada, mas eu fiquei perplexo diante do papel de palhaço (no mau sentido do termo) a que o ator Mantan Moreland se submete neste filme ruim – não somente porque deprecia todo um séquito racial de seres humanos, mas porque possui um roteiro ridículo, em que as ambições controladoras mal-explicadas do personagem-título e a estereotipização dos rituais de vodu perpetrados pelos personagens enfadam ao demonstrarem-se como afiliadas ao que de mais cruel Hollywood pôde realizar em matéria de humor demeritório, num filme que, por ser catalogado como produção barata de horror, engabela muito bem os seus intuitos ideológicos. De fato, eis um filme que me deu medo, involuntariamente!

Sendo assim, senhoras e senhores, advirto-lhes que, em meio à pletora de novidades hollywoodianas (em que os atributos técnicos visam obliterar as lacunas enredísticas) e à saturação velada de regravações desnecessárias de roteiros já filmados, existem ainda muitas preciosidades analíticas aguardando para serem desvendadas por olhos ansiosos e temerosos do mal que um homem em posição de comando midiático pode causar a centenas de outros homens que consomem os produtos midiáticos produzidos pelo primeiro, sem conscientizarem-se adequadamente dos ingredientes malévolos por detrás da mistura. E eu peço desculpas se estou sendo demasiado óbvio nesta crítica, mas, antes de ver por acaso o filme ora comentado, li mais um excerto do famoso livro de Henry Jenkins [“Cultura da Convergência” (2006)] que me exaspera a passos largos. Enquanto elogiava a abundância de jogos eletrônicos que “continuavam” a saga de uma famosa trilogia fílmica dirigida pelos irmãos Andy & Larry Wachowski, o autor acrescenta: “essa abordagem funciona melhor com consumidores mais jovens (...) porque os jovens têm mais tempo livre. Essa abordagem exige muito esforço do ‘Zé Pipoca’, da mãe aflita, do trabalhador que acabou de se aconchegar no sofá, após um dia difícil no escritório. (...) Os conglomerados das mídias fornecem um incentivo econômico para uma mudança nessa direção, mas Hollywood não pode ir muito longe nessa direção se o público não estiver pronto para mudar seu modo de consumo”. Grrrrrrr! Quanto mais o tempo passa, mais subestimam – sob nosso consentimento – a nossa inteligência!

Wesley PC>

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