segunda-feira, 21 de março de 2011

DE VEZ EM QUANDO, É COMO SE EU FOSSE INVISÍVEL (POR MAIS PRESENTE E ATIVO QUE EU ESTEJA)!

Ainda sobre “As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant” (1972, de Rainer Werner Fassbinder): neste maravilhoso filme, Irm Hermann interpreta uma secretária que está onipresente em toda a duração do mesmo. Quando não é vista paralisada diante de alguma atitude injusta proclamada por sua amada chefa Petra Von Kant (Margit Carstensen) ou diretamente relacionada a ela, ouvimo-la digitando algo, correndo para atender algo que lhe foi solicitado. Mesmo quando não está em cena, portanto, é ela quem comanda os títeres dramatúrgicos do roteiro, conforme se demonstra na exuberante seqüência final, ao som de “The Great Pretender”, na conhecida interpretação de The Platters. Mas, com Hanna Schygulla brilhando em cena, quem olha para ela? De minha parte, confesso que não consegui despregar os olhos e ouvidos de sua magnífica interpretação. Ela é como se fosse eu...

“Como se fosse eu”: mais de meio-dia e eu ainda me esforço para comer em meu setor de trabalho. Perguntas, pedidos e solicitações não param de chegar aos meus ouvidos, adiando minhas necessidades pessoais para segundo plano. Daí, um colega de trabalho abre a boca para me tachar de “altruísta”. Oportunista, em minha opinião, é um termo mais conveniente... Estou com fome, tenho que recarregar a carteira de passe para que meu irmão possa usar, tenho que despertar às 4h da madrugada para assistir a um filme de terror que anseio, tenho que ler os primeiros capítulos de um livro sobre Teoria do Jornalismo que utilizarei em aula ainda esta semana, tenho que aguardar que alguém volte, tenho que sorrir e amar os meus próximos e semelhantes... E, enquanto eu escrevo isto, uma grande fila se forma diante do setor em que trabalho: gente, meu Deus, muita gente! Mesmo sabendo que eu sou eu e que estou aqui agora, é como se eu fosse invisível...

Wesley PC>

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