segunda-feira, 7 de março de 2011

“...E É TUDO POR CAUSA DOS HOMENS”!

Se o machismo proveniente dos homens me azoreta em excesso, o que dizer do machismo que vem das mulheres? Pois, definitivamente, ele existe – e um dos cineastas mais afetados de Hollywood fez questão de demonstrar isso muito bem no filme “As Mulheres” (1939), cujo jargão publicitário é justamente a frase que intitula esta postagem. Trata-se do homossexual George Cukor que, com este filme, parece pôr em prática um plano secreto de fazer com que os possíveis espectadores masculinos convertam-se à misoginia de tão irritantes que as mesmas são. Acabo de assistir ao filme e, por mais que eventualmente eu concordasse com alguma frase comprobatória do aforismo de que “no amor, não se deve ter vergonha de nada”, não pude conter meu entojo diante daquelas mulheres fúteis e divorciadas, que se amontoam como um bando de gralhas chocas.

Definitivamente, eu não sei se, quando foi vendido em sua época, este filme era recebido com simpatia pelas espectadoras femininas, mas, visto hoje, 72 anos após a sua realização, o mesmo parece um retrocesso em relação aos direitos femininos, ostensivamente renegados pela mãe da protagonista, que lamenta que a sua filha não disponha da capacidade de auto-humilhação cara às mulheres que sacrificam seu próprio bem-estar em prol de um casamento falido, cujas aparências devem ser mantidas nas mais altas rodas sociais. No filme, diversas divas hollywoodianas da época digladiam-se e/ou cooperam entre si na trama de uma jovem mãe de família que descobre que seu marido está lhe traindo com uma vendedora de perfumes. Num hotel para divorciadas, ela conhece outras mulheres recém-desiludidas com o casamento e, aos poucos, estas a convencem de que ela ainda ama o seu (ex-)marido e, como tal, deve lutar por ele. Numa cena decisiva, quando ela corre para os braços dele, alguém lhe pergunta: “tu não tens amor próprio?!”, ao que ela responde: amor próprio? Este é um luxo ao qual uma mulher apaixonada não pode se permitir!”. OK, a ideologia machista venceu mais uma vez! Detalhe positivo: não aparece sequer um homem em toda a extensão de 133 minutos do filme! (risos) Pós-detalhe negativo (o qual acabo de descobrir): o filme foi regravado recentemente sob o título “Mulheres – O Sexo Forte” (2008, de Diane English). Definitivamente, o que sobra ali é a defesa de um sexismo socialmente conveniente, em que a “força” das mulheres está justamente em fingirem ser fracas quando melhor lhes convêm. Definitivamente, isto não me convence. Humpf!

Na verdade, o filme não é de todo malfazejo: é bem-humorado, aparentemente é financiado por mulheres que realmente financiam o estereotipo de fuxiqueiras dependentes de salões de beleza (uma das coadjuvantes é a famosa colunista Hedda Hopper) e aborda o tema do divórcio com uma desenvoltura elogiável para a época, mas a impressão que dominante é que o filme é mesmo uma versão trintista para o seriado de TV “Sex and the City”. Tudo bem que minha irritação com o filme deve-se ao fato de eu não ser fã do melindroso George Cukor, mas a vilania defensável de Joan Crawford e a beleza e o talento de Paulette Goddard, Joan Fontaine e Rosalind Russell, para ficar em apenas três nomes, equilibram bem a reputação clássica do filme, que, definitivamente, não está entre os meus favoritos. E a imagem que encerra o ‘trailer’ do filme (esta mostrada na fotografia) só corrobora a minha insatisfação. Ou alguma mulher ousaria me dizer o contrário?

Wesley PC>

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