sábado, 12 de março de 2011

EU JÁ TIVE OPORTUNIDADE DE VIR AQUI DIZER O QUANTO GUY DE MAUPASSANT (1850-1893) É GENIAL?!

Pelo sim, pelo não, digo-o agora: li finalmente “O Horla” (1887) nesta última semana e ainda estou impressionado com o brilhantismo deste conto, tanto no que diz respeito ao conteúdo da escrita (o progressivo estado persecutório de loucura de um homem que se sente perseguido por uma entidade invisível e que se alimenta de leite) quanto na forma (crítica e minuciosa em cada palavra inserida no diário do protagonista). Mas nada se compara ao trecho abaixo:

14 de Julho: Festa da República. Passeei pelas ruas, entusiasmado com os fogos e as bandeiras, como uma criança. Ainda assim, é tolice ficar alegre em data marcada, obedecendo a um decreto do governo. O populacho é um imbecil rebanho de carneiros, de uma paciência estúpida ou com uma revolta feroz. Digam-lhe: ‘divirtam-se’, e o povo se diverte. Digam-lhe: ‘vão lutar com o vizinho’, e o povo vai e luta. Digam-lhe: ‘votem pelo imperador’, e o povo vota pelo imperador. Então digam-lhe: ‘votem pela República’, e o povo vota pela República. Os que dirigem o povo também são estúpidos, só que, ao invés de obedecer aos homens, obedecem aos princípios, que só podem ser estúpidos, estéreis e falsos, pela simples razão de serem princípios, isto é, idéias consideradas como certas e imutáveis, neste mundo, onde não se tem certeza de nada, já que a luz é uma ilusão, já que o barulho é uma ilusão.”

Salvo pelo comentário opositivo aos princípios enquanto princípios (algo que sou voluntariamente obrigado a discordar por ser religioso, logo seguidor de princípios por excelência!), fui pessoalmente tocado por cada linha deste conto magnífico e fantástico como se estivesse a ler meu próprio diário de angústias e inadequação mundana. Quando comecei a lê-lo, era carnaval. Nada mais conveniente. Entretanto, já conhecia a essência sinóptica deste conto desde bem antes, visto que ele foi a base enredística para o excelente curta-metragem sergipano “Diário de um Território Ocupado” (1993), do meu querido Caio Amado, que sucumbiu a um estado de desordem psicológica mui similar à do personagem principal do conto. Pena.

Um parêntese interpretativo adicional: antes, durante e depois de ler este conto, fui afligido por uma violenta vontade de ir à praia, mas especificamente, à Atalaia Nova, na zona fronteiriça com o município de Barra dos Coqueiros, uma vontade tão intensa que até parece regida por forças sobrenaturais. Tão intensa, aliás, que, apesar de me assustar, não mais resistirei: acordarei cedo amanhã, com gana de realizar esta vontade e, quem sabe, encontrar ‘in loco’ as belezas naturais vislumbradas nesta fotografia tão simples e bonita, que corresponde nada mais, nada menos a um teste de câmera de uma colega de trabalho, que estava a inaugurar o aparelho recém-comprado. Ela estava prestes a descartar esta imagem praiana randômica, quando eu a resgatei da lixeira do seu computador e a tomei como pessoal, como minha, como metonímia de um anseio a ser prontamente realizado. E, como diria o atormentado personagem-narrador do genial Guy de Maupassant, no dia 12 de julho de seu diário, “a solidão é perigosa para as mentes ativas. Precisamos de homens que saibam pensar e conversar. Quando ficamos sozinhos por muito tempo, povoamos o espaço com fantasmas. (...) Como nosso cérebro é fraco, como se assusta à toa e é induzido a erro por um pequeno fato incompreensível! Em vez de dizer apenas: ‘não entendo porque não conheço a causa’, imaginamos imediatamente mistérios terríveis e forças sobrenaturais”. E continuo a imaginar, mesmo assim...

Wesley PC>

Um comentário:

Figueiredo Neto disse...

AMO GUY DE MAUPASSANT, TIVE A OPORTUNIDADE DE LER BEL AMI, OUVI DIZER QUE ESTÃO ADAPTANDO P O CINEMA...