segunda-feira, 7 de março de 2011

MACHISMO ME AZORETA!

Por causa de seu valor clássico, por causa da presença fugaz da bela Leila Diniz, por causa dos talentos direta ou indiretamente envolvidos nessa estréia do galã Reginaldo Farias na direção, fiquei ansioso para ver “Os Paqueras” (1969), exibido na manhã de hoje. Acordei cedo para assisti-lo e gostei de imediato do bom uso de canções de Roberto Carlos e Os Mutantes na trilha sonora, mas peguei um entojo tão grande pelo protagonista que foi difícil suportar o filme até o final.

O roteiro é o mais básico possível: Nonô (o próprio Reginaldo Farias) e Toledo (Walter Forster) são dois garanhões que passam o dia inteiro à procura de mulher. Fodem o dia todo e nunca estão satisfeito. Preferem mulheres casadas, pois estas são mais fáceis de serem descartadas e, para o meu choque, 100% das mulheres casadas que cruzam com os protagonistas no filme rendem-se ao adultério. Mas isso eu até tentei relevar. O que me incomodou mesmo foi a péssima defesa enredística do mau-caráter Nonô, filho de pai aquisitivamente remediado, excedente no vestibular para Medicina, irresponsável e metido a besta, atolado nas praias da hora que acorda até a hora em que chega em casa para dormir e se irrita quando o seu pai ralha com ele.

Tudo bem que, numa ou duas cenas (a imagem mostrada em foto entre elas, ainda nos créditos iniciais), eu até que esbocei um sorrisinho amarelado em relação ao filme, mas, levando-se em consideração que ele foi realizado num momento histórico do Brasil em que a política urgia nas ruas, senti-me traído por um roteiro tão escapista e promíscuo. Tudo bem que o diretor até tenta fingir consciência da conscientização alheia quando a personagem juvenil de Irene Stefânia pergunta por que ele não reivindica os seus diretos de estudante, mas o final conciliador e chauvinista enervou-me deveras. Definitivamente, eu não consigo imaginar o que as mulheres de 1969 experimentaram durante as exibições cinematográficas deste filme. Um retrocesso consciencioso, em muitos aspectos, apesar de ser um filme relevante de nossa filmografia nacional. Dolorosa necessidade de capitulação artística esta: se me perguntarem, terei que fingir que gostei do filme? Pelo menos “Fuga nº II”, na voz doce da Rita Lee, é executada mais de uma vez!

Wesley PC>

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