domingo, 6 de março de 2011

MEU ESTEREÓTIPO DESPORTIVO FAVORITO:

Em várias oportunidades praianas, deparei-me com surfistas que nadavam completamente nus em áreas que eles consideravam inóspitas no que tange à apreciação dos banhistas. Geralmente, eu estava nestes locais por acaso e, depois que os via se despindo, não conseguia sair de lá, ficava admirando-os à distância, usando seus corpos como ferramentas de comunhão com a água e não como receptáculos de sensualidade comercializada. Em outras palavras: impressiona-me o modo como a maioria dos surfistas com que me deparei até então não faz exibição gratuita de seus corpos sarados. Sabem que são bonitos, sabem que chamam a atenção, mas não se rendem à competitividade sobressalente de outros esportes. Surfe é uma atividade que tem muito a ver com a entrega do surfista ao mar, com uma relação espiritual com o ato de cavalgar as ondas. Se eu ainda tivesse tempo de aprender um esporte, este, definitivamente, estaria entre minhas opções mais consideráveis. Estaria não. Está ainda!

Pois bem, por gostar tanto deste estereótipo desportivo, gosto de assistir a filmes sobre surfistas, desde clássicos recentes como “Caçadores de Emoção” (1991, de Kathryn Bigelow) até produções independentes que mereciam melhor sucesso de público como o documentário brasileiro “Fábio Fabuloso” (2004, de Pedro Cezar, Ricardo Bocão & Antonio Ricardo). Foi neste embalo, inclusive, que assisti, há pouco, a “Nas Mãos de Deus” (1998), filme que tinha tudo para dar errado, visto que é dirigido por um cineasta com pecha de publicitário chamado Zalman King, responsável por filmes insossos de erotismo ‘softcore’. A trama do filme, por sua vez, também era pouco interessante (“três amigos viajam pelas praias de Madagascar, Bali, Havaí e Cidade do México, em busca da onda perfeita”), mas o diretor conduz suas imagens com tamanha erotização que foi difícil eu não me sentir atraído pelo filme, em mais de um sentido.

Não obstante ter desgostado das composições personalísticas – os três protagonistas são ruins: um é arrogante demais, o outro é expressivamente nulo, e o terceiro, Matty Liu (mostrado em esplendor fotográfico) força a imaturidade etária de seu personagem – a direção de fotografia aquática é tão caprichada, a montagem é tão esquisita, a diluição narrativa é tão contemporânea, que resolvi enfrentar as críticas negativas comumente destinadas ao filme e dizer que, não somente gostei muito dele, como este seria um dos filmes ideais para se assistir em 3D. Por mais que, ao assumir isto, eu incorra numa contradição discursiva com o aspecto do roteiro que mais me chateou: uma subtrama envolvendo a defesa dos incrementos tecnológicos em algumas modalidades do esporte. Mas, deixa quieto: é um mau menor. Ver Matty Liu correndo pelas praias africanas, asiáticas e da Oceania ou ser criticamente concessivo em relação às cenas em que seu personagem delira em razão de um ataque de malária são compensações que fazem o filme valer muito a pena. Deu até vontade de ir numa praia agora mesmo!

Wesley PC>

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