sábado, 16 de abril de 2011

AS BARBARIDADES QUE COMETEMOS EM NOME DO CIÚME E DO CABOTINISMO, MAS QUE DIZEMOS QUE É EM NOME DA PAIXÃO...

De início, uma frase de efeito: acabo de ver o melhor filme búlgaro de minha vida! Levando-se em consideração que só me lembro de ter visto dois filmes búlgaros, sendo os dois do mesmo diretor, a frase de efeito acima talvez não seja tão publicitariamente favorável ao filme “Ivan e Alexandra” (1989, de Ivan Nichev), recém-visto no Eurochannel. Ainda assim, o filme me espantou deveras: e se fosse eu? E se fosse comigo?

No filme, um garotinho de nome Ivan (Kliment Corbadziev) tenta, em vão, conquistar o afeto de sua colega Aleksandra (Monika Budjonova). Estamos em 1952, véspera da morte do ditador Josef Stalin e ápice da paranóia socialista na Bulgária. As crianças são doutrinadas dia após dia para vigiarem a todos ao seu redor. Ivan é elogiado por seu poder de imaginação e ganha dinheiro para escrever peças elogiosas aos heróicos feitos dos cidadãos de Sofia. Um dia, no afã para atingir sua amada e esnobe Aleksandra, Ivan imagina-se desfilando num tanque de guerra pelas ruas de sua cidade e inventa uma estória sobre artigos bélicos encontrados numa caverna. O pai de Aleksandra é acusado de ser traidor da nação, de querer macular as glórias nacionais com a venalidade ao imperialismo internacional. Ele é, então, enviado a campos de trabalho forçado e Aleksandra é considerada pária por seus professores e colegas. Somente Ivan terá oportunidade e disposição para ficar ao lado dela e defendê-la de uma situação de vergonha que ele mesmo construiu e que, pela imagem final do filme, jamais irá reparar... E eu fiquei com um nó na garganta: e se fosse eu? E se fosse comigo?

Por mais resistente que eu me imagine, em momentos de bazófia, ao tal do ciúme, sei que minha resistência é equivocada: diz respeito unicamente à acepção fisiológica do ciúme, ao seu aspecto carnal mais externo, mas não me exime da acepção mais essencialista do ciúme, enquanto um sentimento malévolo, que confunde os demais sentimentos, que nos faz perpetrar atos injustos em prol da necessidade de saciação de um desejo prepotente... E, como tal, infelizmente, eu sou obrigado a confessar que sou ciumento sim. E não gosto disso! E, como tal, identifiquei-me e entristeci-me diante deste belo filme, não só porque poderia ser eu ou porque poderia ser comigo, mas porque poderia... E este verbo condicional é o que me apavora!

Wesley PC>

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