sexta-feira, 22 de abril de 2011

SOB A ÉGIDE DO FILME-EVENTO:

“Quo Vadis?” (1951, de Mervyn LeRoy & Anthony Mann) pode não parecer hoje tão genial quanto me pareceu das primeiras vezes em que o assisti, mas vê-lo pela terceira vez nesta tarde de feriado sacro me pareceu algo tão solene quanto assistir a uma missa. Para além de alguns trechos lenitivos, do sobejo de confiança na ótima interpretação de Peter Ustinov como o afetado imperador romano Nero e da direção frouxa em seqüências importantes (que dotaram o clima de um aspecto doutrinário não sei até que ponto pretendido por seus produtores), este espetacular épico hollywoodiano é um dos responsáveis diretos pela conversão religiosa que hoje frutifica em mim: lembro que, ao revê-lo, há alguns anos, eu encontrava-me numa crise religiosa contumaz. Apesar de sentir que eu era inevitavelmente teísta, não me sentia devidamente cristão e, curiosamente, o filme me alertou para tal fato ao defender justamente um ponto de vista judaico sobre o assunto, visto que não é segredo para ninguém que os mais poderosos produtores da era de ouro hollywoodiana eram judeus. Por que eles se metiam a realizar tantas superproduções sobre a vida de Cristo? Por mero interesse monetifágico? Recuso a banalizar a grandiosidade do filme com qualquer resposta realista a este questionamento.

Não obstante seu brilhantismo épico, “Quo Vadis?” foi realizado numa era em que o cinema norte-americano enfrentava um dilema: como atrair a atenção de um público pagante que virava suas atenções para outros focos de interesse, como a televisão que gradualmente se instalava nos lares familiares. Somente em 1953, o Cinemascope, invenção tecnológica que potencializaria ainda mais o impacto grandioso das imagens cinematográficas, seria lançado ao público, de maneira que os méritos próprios deste filme recém-assistido soam-me ainda mais ínclitos quando levo em consideração os seus caracteres contextuais-históricos: é um filme sobre a gênese do Cristianismo que respeita a devoção que o tema pede. Não por acaso, em mais de uma seqüência, eu era tocado pessoalmente pelos sermões que personagens famosos como Sêneca, Petrônio, Saulo de Tarso e o apóstolo Simão chamado Pedro legavam aos seus co-partícipes fílmicos e ao público em geral. Fui tão atingido pela mensagem cristã do filme que, enquanto o via, enviei mensagens de celular prenhes de encantamento sagrado. E, digo mais: não me arrependo de tê-lo feito!

Ao meu lado, durante a sessão, estava minha mãe, que exultava diante daquele resquício de cristandade em meio ao desrespeito religioso comumente demonstrado pelos produtos culturais de massa que estão sendo exibidos durante este feriado prolongado. Meu irmão caçula assistiu a um terço do filme, mas, pelo visto, enfadou-se pela longa reverência que os produtores dedicaram aos feitos ensandecidos do imperador Nero. Entretanto, fiquei contente por nós três – eu, minha mãe e meu irmão – estarmos juntos, realizando uma mesma atividade espectatorial, ao menos por meia-hora. Foi o tipo de situação que me faz perceber que, no âmago de meu ser, tudo o que eu desejo tem a ver com os clichês mais descarados do melodrama telenovelesco: uma família unida e alguém para amar. Para que mais, Senhor?

Malgrado eu ter me decepcionado um tantinho com o filme ao ser penetrado por suas imagens, sons e discursos pela terceira vez (achei-o muito longo e espalhafatoso nesta oportunidade!), agradeço a saciação de minhas ambições melodramáticas nesta Sexta-feira da Paixão. E acharia muito injusto não agradecer ao filho crucificado de Deus por este gozo: obrigado, Jesus Cristo!

Wesley PC>

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