quarta-feira, 25 de maio de 2011

SER HUMANO É PRODUZIR IMUNDÍCIE?

Há pouco, uma amiga de trabalho escandalizou-se ao perceber que quase se engasgava enquanto tentava eliminar um jato de catarro preso em sua garganta. O jato fora tão forte que ela quase vomitou. Na volta do banheiro, ainda assustada, ela comentou comigo que não há motivo para ser esnobe quando se é portador de um corpo que emite flatos, fezes, urina, infecções sanguíneas, seborréia e suor diariamente. Eu concordei com sua reclamação extensiva...

Pensava que me molharia no caminho para o trabalho, mas cheguei enxuto, pensando ainda no belo filme que vi antes de dormir – e, no qual, como de regra em dias de cansaço, dormi na cena final, nos últimos cinco minutos de projeção... O filme em pauta chama-se “Palermo Shooting” (2008) e é o que se convencionou de “filme menor de Wim Wenders”, algo cada vez mais comum na obra hodierna do outrora genial diretor alemão. Ou, quem sabe, um diretor que ainda é genial em proposta, mas que não consegui articular esta genialidade potencial em suas atuais incursões cinematográficas. E, não por coincidência, o filme é justamente sobre esta tensão: um ótimo fotógrafo tem pesadelos contínuos com a morte, até que migra espontaneamente para uma cidade italiana, onde se apaixona por uma rapariga que o desenha enquanto dorme. A Morte surge-lhe, definitivamente, e diz categoricamente que ele desperdiçara sua vida. O desfecho desta reflexão eu não sei, visto que, infelizmente, dormi no finalzinho do filme, logo no finalzinho...

Articulando a imundície natural, constitutiva e justificada do ser humano com minha determinação futura de realizar uma exegese comparativa entre as diversas fases da carreira irregular, mas muitíssimo digna de observação, do Wim Wenders, assumo que, além de ter gostado muito do filme em pauta, ostensivamente rejeitado pela dita critica especializada de Cinema, identifiquei-me deveras com seu conteúdo reflexivo, penso que, algum dia, farei a mim mesmo as mesmas perguntas que o protagonista se faz. Afinal de contas, ouvimos as mesmas canções e não sabemos nadar...

Wesley PC>

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