quinta-feira, 30 de junho de 2011

DESCOBERTA DE MAIS UM GRANDE VANGUARDISTA BRASILEIRO (OU: ANTES TARDE DO QUE NUNCA!):

Rogério Sganzerla é positivamente inclassificável no Cinema Brasileiro. Ao contrário de outros cineastas, em que podemos identificar fases ou estágios de genialidade, em sua obra tudo já vem misturado desde o começo. Ou seja, em três de seus filmes iniciais [“Documentário” (1966), “O Bandido da Luz Vermelha” (1968) e “A Mulher de Todos” (1969)], encontramos as três linhas-mestras taxonômicas que regressariam, desordenadamente e de propósito, nos filmes seguintes. A saber: a reflexão crítica para-documental, a panóplia sensacionalista e polifônica de esquerda, e a bandalheira com nuanças eróticas, que são revisitadas – respectiva, mas não exclusivamente – em “Linguagem de Orson Welles” (1990), “Nem Tudo é Verdade” (1986) e "Copacabana, Mon Amour” (1970), para ficar apenas em mais alguns exemplos de extrema genialidade. E, num desses filmes, Arrigo Barnabé interpreta Orson Welles!

Impressionado que fiquei com a ótima interpretação do cantor (e também com sua beleza física exótica), não sosseguei enquanto não ouvi um disco do artista, de maneira que, na manhã de hoje, eu e minha mãe escandalizamos diante do impressionante “Tubarões Voadores” (1984). É óbvia a conexão estilística com o estilo sganzerlaniano no disco, que parece uma conjunção de várias radionovelas, tão interessantes que eu não consegui ouvir o disco até o final. Em sua metade exata, rebobinei e ouvi tudo de novo: genial, genial!

A primeira das cinco faixas que ouvi duas vezes é aquela que batiza o disco, e homenageia (na linha política da “Estetyka da Fome”) os ‘trailers’ de horror do cinema B norte-americano. Na segunda faixa, “Crotalus terrificus”, Tetê Espíndola vivifica uma cascavel bastante sensual. A terceira, “Neide Manicure, Pedicure”, termina com uma espécie de locutor de rádio interpelando diretamente o ouvinte acerca das condições de suas unhas. A quarta, hilária, “Kid Supérfluo, o Consumidor Implacável” parece uma letra melhorada da Blitz, e narra o romance intermitente entre o personagem-título e uma estrela da TV. A quinta, “Papai Não Gostou” descreve a infância e a adolescência de um travesti perigoso que fora expulso de casa por causa de suas preferências sexuais inesperadas por seus pais. Tem como avançar dessa faixa em diante sem querer ouvir esta metade do disco de novo e de novo? Foi o que fiz: comecei tudo de novo e me rendi frente às experimentações cômicas e mui sarcásticas do genial Arrigo Barnabé: “Tubarões Voadores” é uma verdadeira jóia desconhecida no cancioneiro tupiniquim!

Wesley PC>

2 comentários:

Debs Cruz disse...

Você sabe que ele era amigo e parceiro de Itamar?
Gente boa anda junto...? rs

Me amarro em Itamar e Arrigo! rs

Gomorra disse...

Não tinha como não estarem irmanados mesmo! (risos)

E sim, concordo com tua tese: por isso, a gente tem mais é que se grudar, visse?

WPC>