sábado, 4 de junho de 2011

"QUEM ME DERA AGORA, EU TIVESSE A VIOLA PRÁ CANTAR"...

Antes de iniciar a sessão de "Uma Noite em 67" (2010, de Renato Terra & Ricardo Calil), no Canal Brasil, o crítico e apresentador Amir Labaki comentou que "o riquíssimo material de arquivo e os depoimentos coletados são os tijolos audiovisuais do filme". Eu digo mais: são também a argamassa, os alicerces e o telhado do filme! Se não fosse a recuperação daquele lendário programa da TV Record, o que seria deste filme? Sei que parece um paradoxo nulo, mas a distinção faz muitíssimo sentido: enquanto filme, "Uma Noite em 67" é apenas mediano, mas, no que tange à empolgação documental, ele nos faz pular da cadeira! Eu e minha mãe estivemos juntos na sala, enquanto o filme estava sendo exibido, e, puxa: muito bom!

A maioria das estórias e polêmicas que cercaram o evento/festival já eram conhecidas, mas o modo (linear) como foram alinhavadas no filme é digno de nota: puxa, como o Gilberto Gil parece cada vez mais digno nos documentários! Caramba, como os repórteres de antigamente eram simplistas! Nossa, como o Chico Buarque envelheceu (em mais de um sentido)! Impossível ficar calado ou livre das exclamações diante do filme: pode não ser tão bom enquanto tal, mas que é inevitável sair da sessão querendo baixar "Ponteio", do Edu Lobo e Capinan, para ver se o prêmio realmente foi merecido, ah, isso é!

Por falar em prêmio, cabe destacar aqui o meu espanto e desamparo competitivo diante de uma amostra musical em que Caetano Veloso, Gilberto Gil, Roberto Carlos, Chico Buarque, Sérgio Ricardo e muitos outros eram concorrentes! Repito: concorrentes! Como é que pode?! Hoje, o mais parecido que se vê na televisão são as atrocidades de programas como "Ídolos". Difícil não sentir uma invejinha sessentista neste instante... E, se fosse para eu escolher apenas uma daquelas canções, de fato, "Domingo no Parque" levava meu voto: aquela apresentação multi-rítmica é soberba! Dá-lhe Os Mutantes!

Mas, como não poderia deixar de ser, tenho que falar de minha adesão de carne e osso ao gesto de indignação do genial Sérgio Ricardo, que atirou sua viola contra o público, quando este impede que ele interprete sua canção, destroçada em meio a uma cruel saraivada de vaias: "vocês são inteligentes, eu presumo. Quando estão vaiando a mim, estão vaiando também a si mesmos!", diz o compositor, antes de seu ato impetuoso de cólera reativa, do qual, felizmente, ele não se arrepende hoje em dia... Ah, se fosse eu, quem me dera ter coragem de fazer o mesmo!

Frisando a distinção inicial, portanto: o filme pode não ser lá essas coisas todas, mas o material de arquivo ali apresentado é um verdadeiro tesouro histórico nacional. E, nesse sentido, quero aproveitar a deixa para agradecer a uma passional indicação do referido filme no Twitter: Thiago Deus, esta postagem laudatória e imediatista é para ti, visse?

Wesley PC>

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