segunda-feira, 4 de julho de 2011

“CORTA!” OU QUAL FOI A DAQUELE EPÍLOGO?!

“Um Filme Para Nick” (1980, de Nicholas Ray & Wim Wenders) é o tipo de filme que ficaria cravado em minha alma em qualquer circunstância, mas, do modo como foi visto, ao lado de uma pletora de amigos emocionais, o processo foi ainda mais intenso: Nicholas Ray morria e ressuscitava, diante de nós, a cada segundo. E ele sofria, ele sentia dor, ele ansiava por ficar consciente, e, numa das punhaladas mais ferozes que já me foram destinadas a partir de um filme, Nicholas Ray, quase totalmente devorado pelo câncer, às vésperas de completar 68 anos de idade, comenta que falar a verdade pode ser tão entediante quanto excitante e, olhando-nos nos olhos, através da lente complacente e atormentada de Wim Wenders, pergunta o que deve fazer em seguida. O cineasta alemão diz que o filme é dele, que ele faz o que quiser, que ele pode cortar, não cortar, o que quiser... Aí, Nicholas Ray corta, depois não corta e, por último corta, definitivamente: ele próprio fora cortado da vivência terrena naquele instante, mas não de nossas sensibilidades, onde quedará eterno! O relâmpago sobre a água de que fala o título original do filme desconcertou quem esteve ao meu lado na sessão!

Pena que, no filme, há um epílogo absolutamente supérfluo após a estupefaciente cena metonimizada nesta postagem, que, mesmo fora de contexto, nos fere, nos atinge diretamente no cérebro e no coração: Nicholas Ray (07/08/1911 – 16/06/1979) foi um gênio marginal e sabia direitinho o que cada um de nós, presentes à sessão, poderia extrair de seus ótimos e ainda muito incompreendidos filmes. E, parafraseando em sentido dignamente inverso um famoso dizer do teórico Roland Barthes, acerca da derradeira fotografia de um belo condenado à morte que “morreu e, ao mesmo tempo, ainda vai morrer” (mostrada aqui), neste filme, Nicholas Ray está vivo e para sempre vai estar! E, se “Um Filme Para Nick” não é a obra-prima insuperável que ele poderia ser, é por causa do mencionado epílogo descartável. Mas, deixa quieto: Wim Wenders tinha os seus motivos para se auto-afirmar, ao lado de sua equipe técnica, na despedida do amigo, daquele jeito...

Wesley PC>

2 comentários:

iaeeee disse...

No epílogo salvou o momento em que a Susan, praticante de yoga, passa olhando o mar... Também gostei do fósforo...

Mas dá raiva do carina que não fala que nem gostou do Nick... putz


Américo

Pseudokane3 disse...

O fósforo é foda!
Ponto.
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