quinta-feira, 28 de julho de 2011

DA ARTE (PRETENSAMENTE RECORRENTE) DE “FAZER O BEM SEM OLHAR A QUEM”...

Não é nenhuma novidade que, no tipo de trabalho que exerço, deparo-me com pessoas bonitas. Não raro estas pessoas bonitas são mimadas e/ou desagradáveis, mas algumas delas ainda conservam um tanto de modéstia, aquele apelo involuntário para que eu me debruce com muito mais cautela na resolução dos problemas burocráticos que se expõem diante de mim. Ontem eu ajudei um desses menininhos bonitos a resolver um problema de formatura. Por voltas das 17h, ele telefona para o meu setor de trabalho e diz algo como “eu nem sei como te agradecer”. Eu pensei: tenho várias idéias em mente...”, mas disse apenas: “o que é isso?! relaxe e se forme com gosto, visse?”. Não posso distinguir pessoas em meu trabalho nem esperar agradecimentos direcionados: faço o que faço porque tenho que fazê-lo. Ponto!

Apesar de ter certeza do que expus sobre mim mesmo no parágrafo anterior e de acreditar que é possível manter-se profissionalmente ético diante das tentações da beleza alheia, fiquei fantasiando um pouco no que eu diria àquele menino se o encontrasse noutro contexto, se, ainda agradecido, ele me puxasse para conversar sobre algo e eu o desapontasse dando em cima dele. Aí eu dormi, despertei e vi um filme bobo chamado “O Solteirão” [péssima tradução nacional para “Solitary Man” (2009, de Brian Koppelman & David Levien)], em que Michael Douglas interpreta um homem de 60 anos que, depois que quase se descobre portador de uma doença cardíaca terminal, torna-se um traidor compulsivo de sua esposa, fode com garotinhas de 18 anos a torto e a direito. Apesar de ter desgostado do tom condescendente do filme, algo me forçava a uma identificação com aquele personagem, nem que fosse de forma inversa: ele teve tudo (dinheiro, poder, mulheres) e terminou sozinho; eu tenho algumas coisinhas e, eventualmente, me sinto sozinho. Acho que o filme tentou ser alternativo ou pró-depressivo, mas transformou-se num mero clichê pré-geriátrico com finalidades sexualmente terapêuticas. Me decepcionou deveras, apesar da promissora presença do Jesse Eisenberg!

Na foto, uma imagem simbolicamente efetiva acerca do que sinto agora e do que tentei explicar acima: trata-se da contracapa de “II” (2010), disco da banda espanhola de ‘post-metal’ Toundra, o qual já havia comentado de relance aqui e ouvi com fervor na noite de ontem e na manhã de hoje, período temporal em que aconteceram os eventos descritos acima. É um disco fofinho, recomendo deveras, ajudou-me a sentir melhor. Trabalho e faço o bem a outrem (quando posso) porque gosto. Ponto.

Wesley PC>

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