domingo, 10 de julho de 2011

“O CINEMA EXPERIMENTAL BRASILEIRO PEDE ANISTIA”...

Graças ao Canal Brasil, pude assistir ao aguardado documentário em longa-metragem “Belair” (2011, de Bruno Safadi & Noa Bressane), na tarde de hoje. Trata-se, conforme deixam bem claro o título e a imagem do cartaz, da produtora homônima de Julio Bressane, Rogério Sganzerla e Helena Ignez que, no início da década de 1970, realizou sete produções inovadoras, dirigidas ora por um ora pelo outro gênio e protagonizados pela diva tresloucada que compunha seus personagens a partir do próprio corpo, conforme explica a própria numa entrevista em ‘off’. Entretanto, enquanto filme independente, “Belair” acrescenta pouco a quem já conhecia os meandros e empecilhos da trajetória da produtora. E isso me decepcionou um pouco...

Grosso modo, “Belair” assemelha-se a uma daquelas faixas especiais de DVD, em que diretores comentam os filmes enquanto imagens dos mesmos são projetadas na tela. Ou seja: além de cenas dos setes filmes produzidos entre fevereiro e maio de 1970, pouco aparece na tela. Este pouco que aparece emociona assim mesmo, mas ficou aquela impressão de faltou algo, de que o tema poderia ser explorado ainda mais intimamente, visto que a equipe técnica é quase integralmente filiada a alguns dos dois diretores da produtora. Mas, conforme disse antes, o pouco que aparece emociona: e, quando a personagem de helena Ignez cospe sangue diante de nós em “A Família do Barulho” (1970, de Julio Bressane), uau, que coisa linda!

Ainda não vi “Cuidado, Madame” (1970) nem “Barão Olavo, o Horrível” (1970), ambos de Julio Bressane, nem o perdido “Carnaval na Lama” (1970), de Rogério Sganzerla, do qual são mostrados apenas fragmentos recuperados. Da mesma forma, ninguém viu o inacabado “A Miss e o Dinossauro” (1970 - cujos fragmentos foram reaproveitados num curta-metragem homônimo, dirigido por Helena Ignez, em 2005), dirigido por ambos os cineastas. Mas vi com gosto “Copacabana, Mon Amour” (1970) e “Sem Essa, Aranha” (1970), clássicos do Rogério Sganzerla cujas cenas-chave foram muitíssimo bem-exploradas pelo filme “Belair”. Minha mãe estava na sala e riu deveras com o frenesi político da serelepe e nada ingênua Helena Ignez. Numa das brilhantes cenas finais do documentário, o ator Grande Otelo aparece conversando com o jovem diretor destes filmes, dizendo que não entende nada das “loucuras” que ele faz, ao passo que ele logo se apressa em explicar que “no futuro, elas será compreendidas. Ah, serão!”. Será mesmo?

Pelo sim, pelo não, valem alguns acréscimos à minha apreciação: gosto muito mais do velho Julio Bressane que do jovem, da mesma forma que o jovem Rogério Sganzerla é mais genial que o velho. E, graças ao mesmo Canal Brasil em que este documentário foi exibido, daqui a alguns minutos, estarei vendo um clássico recente do Julio Bressane: “O Mandarim” (1995), com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque de Hollanda, Renata Sorrah, Gal Costa, Costinha e muitos outros artistas de que sou fã no elenco. Estou, desde já, mais do que ansioso: por mim, este cinema experimental brasileiro de primeira categoria está mais do que anistiado!

Wesley PC>

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