segunda-feira, 25 de julho de 2011

“QUANDO EU COMPLETEI 30 ANOS DE IDADE, MINHA MÃE OLHOU PARA MIM E PERGUNTOU: ‘FILHO, POR QUE TU NÃO TE CASAS COM ALGUÉM?’”

A resposta que Lothar Berfelde (1928-2002) entrega a sua mãe intitula o ótimo filme que o militante homossexual alemão Rosa Von Praunheim dirigiu em 1993: “Eu Sou Minha Própria Mulher”!

Assisti a este filme por acaso e sem muitas expectativas de gostar tanto dele. O tino burguês e monárquico do personagem biografado, aliás, me pareceu pouco suportável a princípio, mas logo me vi fisgado por sua importante luta particular: vilipendiado pelo pai nazista, aprisionado e internado numa clínica psiquiátrica depois que assassina este, Lothar logo se converteu em Charlotte von Mahlsdorf, o travesti mais famoso e atuante da Alemanha, ideologicamente obcecado pelo médico Magnus Hirschfeld, que defendia entusiasticamente a instauração médica dum “Terceiro Sexo”. Perseguida pela repressão comunista que era vigente na Alemanha Oriental até 1989, Charlotte von Mahlsdorf foi atacada por vários ‘skinheads’ neonazistas quando quis celebrar a abertura política de seu País. Mas ela não se abalou: e, em 1992, recebeu uma láurea importante do então presidente alemão. E o filme pede que esperemos 10 segundos para saber disso... Ah, como valeu a pena!

Realizado como um misto de documentário e filme ficcional metalingüístico [nos moldes formais de “Pai Patrão” (1977), dos irmãos Paolo & Vittorio Taviani], “Eu Sou Minha Própria Mulher” conta com três atores interpretando a personagem principal, sendo uma ela própria, que, não raro, intromete-se nas seqüências, visando demonstrar, com mais fidelidade, como eram aplicadas, de fato, tapinhas eróticos em sua bunda, por exemplo. De coração: tanto eu quanto meu amigo Jadson Teles, companheiro de sessão, ficamos impressionados com a rasteira que o filme nos deu: de potencial filme enfadonho a obra militante individualista e coletiva ao mesmo tempo, “Eu Sou Minha Própria Mulher” é um daqueles filmes que gritam, berram, esperneiam para serem melhor conhecidos. E merece, visse? Merece muito!

Wesley PC>

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