quarta-feira, 31 de agosto de 2011

O ESPIRRO DE UMA CADELA, A MADRUGADA RUIDOSA DE TANTO SILÊNCIO, UMA MASTURBAÇÃO TARDIA (COMO SE ISTO PARECESSE UMA REMOTA CURA ESPONTÂNEA):


“A única coisa que peço é que o senhor compreenda o que ia na minha alma. Bem sei que aquilo significava uma cumplicidade tácita, que podia estar comprometendo minha alma no estúpido silêncio daquele jogo. Podia intervir, é certo, podia impedir que ele, tão cedo ainda, desaparecesse aniquilado num ato de extremo desespero. Mas, para que eu fizesse isto, era necessário que nada perturbasse meu espírito, que meu coração se achasse em repouso, que eu me sentisse de bem com os homens e as coisas deste mundo. Era a primeira das razões que justificava o meu silêncio. (...) Repito, repito enquanto as lágrimas me escorrem dos olhos: era o meu amor, era o meu desespero que o abandonavam à sua morte.” (pp.: 174-175)

A imagem pertence ao filme “Mediterranée” (1963, de Jean-Daniel Pollet & Volker Schlöndorff), o texto ao livro “Crônica da Casa Assassinada” (1959, de Lúcio Cardoso). Ambas as obras de arte me acompanham, em espírito e matéria, nesta madrugada. Vi o filme mais cedo, acabei de ler o capítulo do livro em que o trecho acima era citado. Tenho culpa se homens tesudos ficam de mau-humor quando estão perto de mim? Queria ajudar, queria poder demonstrar que sou bom, queria dar mais do que recebo e não esperar alguma compensação fugidia em troca, mas sinto dor por perceber que ainda nutrem rancor em relação a mim. Mas fotos molhadas, sem camisa e com beiços salientes mexem com partes de meu corpo diferentes daquelas que ousariam lacrimejar durante a leitura ao livro. E “torcer pelo touro”, como dizem por aí, pouco ajuda na impressão póstuma de morte anunciada...

Wesley PC>

Nenhum comentário: