quarta-feira, 10 de agosto de 2011

A PALAVRA-CHAVE É SIMONIA!

“ – Meus parabéns, tu ganhaste a eleição...
- Ganhei e perdi, ao mesmo tempo.
- Como assim, perdeste?
- Terei que abdicar do amor carnal, pois um papa não precisa apenas ser casto. Ele precisa parecer casto!”


Produzido, escrito e dirigido pelo cineasta irlandês Neil Jordan, “O Cálice Envenenado”, episódio-piloto do seriado televisivo “Os Bórgias” (2011), que vi mais cedo, não é bom como se pretendia. Para além das deturpações sensacionalistas de uma trama previsivelmente recheada de sexo e sangue e do incômodo ferrenho em se ver personagens europeus do século XV comunicando-se em inglês, o que mais me perturbou na trama deste episódio foi o tom caricatural com que os malévolos personagens interagem entre si. Tudo me pareceu tão ostensivamente anticatólico, num viés que fuça aquém dos fatos históricos incriminados por si sós. Por mais que minha mãe tenha ficado um tanto escandalizada com as absurdas tramóias levadas a cabo pelo protagonista vivido por Jeremy Irons, eu desgostei das interpretações perversamente forçadas, do roteiro hipercodificadamente espalhafatoso e da produção requintada e insossa, ao mesmo tempo. Acho o traiçoeiro seriado “Os Tudors” (2007-2010), com o qual a série foi muito comparada, muito superior em seu tom de revisionismo anacrônico. Mas... Que venha o segundo capítulo. Com certeza, minha mãe vai querer que eu acompanhe o seriado ao seu lado (risos): mesmo escandalizada, ela gostou muito!

Para quem se interessou pelo seriado mesmo assim, ele está sendo exibido no Brasil pelo canal fechado TCM, o que é injusto, dado que a série é contemporânea e o canal tem sua programação reservada para clássicos televisivos e cinematográficos produzidos até a década de 1990. Seja como for, a trama tem início no ano de 1492, quando o Papa Inocêncio VIII morre e abre espaço para a intensa guerra de poder entre os cardeais que cobiçam o seu cargo. Rodrigo Borgia (Jeremy Irons) manipula a gula dos cardeais votantes e, após a sua coroação papal, confessa sentir a solidão do poder, sendo quase envenenado por um rival iracundo, que grita a plenos pulmões que ele é corrupto. Os personagens secundários da família do título aparecem pouco, com exceção do lascivo e vilanesco Cesare Borgia (vivido artificialmente por François Arnaud). Depois que se torna papa, Rodrigo Borgia passa a ser chamado Alexandre VI. E o resto deveria ser História, mas, pelo andar espetaculoso da carruagem televisiva, talvez nem seja... Em mais de um sentido, portanto, Neil Jordan me decepcionou: o que será que ele quer nos dizer com este seriado “vendido”?!

Wesley PC>

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