domingo, 28 de agosto de 2011

TEMPO PARA A ADOLESCÊNCIA: QUAL AINDA?

Por mais que eu pareça crescer (por dentro e/ou por fora) com o passar dos anos, filmes sobre nostalgia adolescente insistem em me cativar. Por mais que eu saiba de antemão que eles sejam ruins, eu os vejo assim mesmo, tentando entender o que havia comigo num cotejo com a época representada nas telas. Teria eu sido um adolescente infeliz? Faz sentido perguntar isso agora? Em que esta suposta infelicidade adolescente interferiu/interfere em meu “estar no mundo” hodierno? Seria tudo isso a busca de um pretexto para tentar disfarçar (ou culpar outrem) pela minha submissão hebefílica aos desígnios comerciais de Hollywood? Seja como for, na manhã de hoje, eu vi “Adolescência Americana” (2008, de Nanette Burstein) e achei o filme tão tolo quanto gracioso e provisoriamente hipnótico.

Apesar de o nome da diretora Nanette Burstein me parecer deveras familiar, detectei que não vi nenhum de seus documentários alternativos prévios ao filme que vi hoje pela manhã e tampouco o filme de ficção cômico-romântica [“Amor à Distância” (2010)] que ela realizou em seguida. “Adolescência Americana” foi, portanto, o meu contato efetivamente espectatorial com ela e, de cara, já pude perceber o quanto este filme é significativo de uma transição estilística em sua carreira: estavam ali todos os germes ficcionais estereotípicos e funcionais de que ela se serviria em seguida. Mas, mesmo assim, ouso dizer que gostei do filme. Ele deixou uma interrogação mnemo-analítica pairando sobre minha cabeça.

Em termos bem gerais, “Adolescência Americana” traça um panorama sobre a categoria predita em seu título a partir do acompanhamento de quatro personagens taxonomicamente recorrentes no cinema hollywoodiano típico por alguns meses, concernentes ao último semestre de uma arquetípica escola colegial de uma cidadela do interior estadunidense: a artista rebelde, o popular jogador de basquete, a patricinha que estudará Medicina, e o ‘nerd’ com o rosto cheio de espinhas que toca na banda e, supostamente, não faz sucesso com as garotas. Tentador enquanto proposta documental, não é?

Pena que, à medida que o filme avance, os artifícios ficcionais do mesmo se tornam tão ostensivos quanto pretensamente escamoteados: nalguns momentos, é absolutamente contraproducente imaginar que aqueles personagens reagiram do modo como reagiram diante de uma câmera – e, pior, sem manifestarem-se diretamente para a tal câmera. Ainda assim, o filme cativa.

Com exceção do ‘nerd’ Jacob (que, apesar de parecer um pólo inicial de identificação, é o mais negativo e pessoalmente repugnante dos quatro personagens principais), cada um dos adolescentes desnudados neste filme foi digno de minha simpatia: a ricaça vingativa Megan, pressionada tanto pelo suicídio de uma irmã com dificuldades de aprendizagem como pelo sucesso incandescente de seu pai médico; o simpático Colin, questionado sobre seus métodos esportivos e pressionado pela declaração de seu pai, imitador de Elvis Presley em festas para senhoras, de que não pode pagar uma faculdade para o filho; e a carismática Hannah, que não se sente adaptada àquele “por ser diferente e gostar de música, de filmes, de pinturas e de arte em geral”, maculada por um término inesperado de relacionamento amoroso e pela bipolaridade psicológica de sua mãe... Cada um desses personagens mereceu os meus rogos esperançosos de que, na vida real, eles encontrassem algo que os consolasse, que os fizesse se sentir contentes, após a tão previsível cerimônia de formatura colegial. Segundo o que eles próprios declararam durante os créditos finais do filme, estão tentando. Isso me deixou contente na sala.

Aí eu volto o foco pós-adolescente para mim mesmo: recentemente eu assisti a algumas cerimônias de formatura, no afã por admirar alguns efebos bonitos, e não pude deixar de me sentir um tanto borocoxô por imaginar que aqueles sorrisos e comemorações ruidosas logo se converteriam no desemprego ou na frustração profissional requerida pelos anseios de consumo fomentados pelo Capitalismo. Lembrei que, há alguns anos, eu próprio fui um formando e, se sorri e comemorei, foi por saber que minha mãe estava contente em crer que eu cheguei em “algum lugar”, por mais malfazejas que fossem as condições econômicas ao nosso redor, desde a minha infância. Hoje em dia, eu sou um mero assalariado, mas gosto de meu trabalho, tenho amigos, e, dentro do que as grades do sistema permitem, faço aquilo que me apetece. Por isso, acho que suprimir todo o sofrimento acumulado na adolescência. Foi bacana me sentir forte em relação a este aspecto diante do filme. Era como se eu tivesse amadurecido e, de uma forma mui particular, sentisse orgulho por estar ao lado de minha mãe numa fotografia colocada à vista, numa estante providencial da sala de minha casa. Sinto orgulho por isso. Ponto.

Wesley PC>

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