domingo, 21 de agosto de 2011

TERAPIA DE CHOQUE (E ÁGUA): TINHA DE SER ISTO!

Eu precisava ver algo do Andrei Tarkovsky neste final de semana: eis algo que eu repetia para mim mesmo desde antes da sexta-feira. Depois de experimentar uma das madrugadas realistas mais para-sobrenaturais de minha vida, “O Espelho” (1974) é o filme que me atingiu em cheio. Um filme sobre um homem divorciado, que só consegue lembrar de sua mãe quando projeta nela o rosto de sua ex-esposa. E, numa das cenas mais fortes do filme – justamente por ser uma cena trivial – uma mulher degola um frango e, em seguida, nos encara em ‘close-up’. Glupt!

No filme, como é praxe nestas obras européias existenciais, há rupturas entre tempo real e tempo imaginário, presente e passado e dicotomias do gênero. Mas o que mais me surpreendeu foi a (in)distinção entre o campo bucólico e o espaço urbano burocrático. Numa cena, uma mulher explica a seu ex-marido que o filho deles quer passar uns dias com o pai pois a casa deles está em reforma. Numa cena posterior, ela passeia por um bosque, como se fosse uma camponesa ancestral. O estilo tarkovskiano é caracterizado pela escultura minuciosa do tempo. Era justamente do que eu necessitava hoje: o tempo se esculpindo em mim!

Conforme anunciado, mas ainda não explicado, no raiar da manhã de hoje eu me vi tentado a aceitar o convite suspeito de um belo prostituto juvenil que deixava patente a sua filiação a um subgênero artístico e pagão que me assusta. Mas, ao mesmo tempo, ele me seduzia deveras. Eu sentia-me pressionado a aproximar-me de seu corpo, mesmo que precisasse pagar por isso e, ao mesmo tempo, tinha certeza de que não precisava pagar por isso, visto que eu experimentava uma verdadeira impressão epifânica por causa do conjunto de fortes sensações emocionais que me atingiam desde a noite do sábado, quando estava entre amigos que sabiam o que sentiam, pois “só sabe quem sente”. Andrei Tarkovsky é o cineasta ideal para estes amigos. E o mínimo que eu posso fazer é compartilhar algo deste filme: “O Espelho” é lindo demais, meu Deus. Tão lindo que dá medo. Mais ou menos que nem aquele prostituto...

Wesley PC>

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