sábado, 24 de setembro de 2011

É POSSÍVEL LAVAR OS PRATOS ENQUANTO SE ESCREVE UMA RESENHA PARA O NOVO DISCO DA BJÖRK?

Se depender de mim, sim, visto que, no exato momento em que escrevo estas palavras, encontro-me num intervalo da atividade doméstica de lavar os pratos, para a qual voltarei depois que redigir algumas impressões sobre as cinco primeiras faixas de “Biophilia” (2011), disco mais recente desta genial e etérea cantora islandesa, a ser lançado oficialmente no dia 10 de outubro do corrente ano. Em verdade, não é um disco tão genial quanto eu esperava, posto que lembra muito “Vespertine” (2001) e, no plano das inovações com brinquedinhos ruidosos, é similar a “Música de Brinquedo” (2010), do Pato Fu. Mas a voz da Björk é a voz da Björk! E isto é bem mais do que a tautologia evidente deixa transparecer...

Eis as primeiras cinco faixas do disco:

• 01 – “Moon”: lentinha, graciosa e particularmente muito singular para quem a ouve através de fones de ouvidos. É como se a canção da esquerda fosse uma versão da canção da direita, tão diferentes e complementares ao mesmo tempo. Uma aula de comunhão. Maravilhosa! ;

• 02 – “Thunderbolt”: mais lenta ainda, mas com um diferencial positivo e particularmente conquistador em relação a mim, a repetição insistente dos versos “craving miracles”. Ah, como isso funciona comigo, Björk... ;

• 03 – “Crystalline”: primeira canção deste disco a ser divulgada, é a obra-prima do mesmo. Dançante, barulhenta, multi-rítmica, com uma letra geologicamente transcendental... Impossível não repetir pelo menos três vezes seguidas!;

• 04 – “Cosmogony”: quiçá a segunda melhor canção do disco até agora. A letra fala que “o Universo era preto que nem carvão até que o Deus interior explodiu tudo”. Uhuuuuu! Tudo o que eu precisava ouvir. Repeti várias vezes também!;

• 05 – “Dark Matter”: a menor canção do álbum em duração, é lenta e demasiado discreta, num sentido relativamente obsoleto para o termo, mas é bonita sim. E ser bonita conta muito na voz da Björk. Quem a conhece, sabe!;

INTERRUPÇÃO: vou lavar o restante dos pratos. Volto já com os comentários sobre as cinco faixas restantes...

Antes de voltar, ouvi “Dark Matter” mais uma vez e gostei muito, me fez pensar nos gemidos de “Medúlla” (2004) e me demonstrou que, quanto mais eu ouvir este álbum, mais ficarei apaixonado por ele. Mas minha intenção era comentar o disco faixa por faixa. Continuo, portanto:

• 06 – “Hollow”: muito mais interessante no papel do que na audição, este compêndio de acordes ‘in crescendo’ encanta muito mais a partir das segundas audições, fazendo-me pensar também no clima dominante em “Medúlla”;

• 07 – “Virus”: a música mais literal do disco, a melhor letra do álbum, aquela que melhor faz jus ao seu título, esta é a canção que nos seduz pela percussividade emocional. Como resistir a estes versos: “Like a virus needs a body/ As soft tissue feeds on blood/ Some day I'll find you, one day I'm there/ Ooo-ooo-ooo-oooh”? Como?!;

• 08 – “Sacrifice”: de início, achei a canção mais “contratual” do álbum, a mais óbvia talvez, mas devasta-nos positivamente do meio para o final, com sua brusca e bem-vinda aceleração rítmica;

• 09 – “Mutual Core”: ainda mais geológica que “Crystalline”, esta canção dialoga diretamente com “Jóga”, um dos diversos picos românticos de “Homogenic” (2000), quiçá o meu disco favorito da cantora. Noutros momentos, ela parece uma faixa adicional de “Volta” (2007), um de seus discos menos compreendidos. Já descobri que esta é a canção preferida de alguns amigos virtuais, mas ainda preciso de novas audições para me perceber afligido por suas erupções. Mas elas virão, tenho certeza;

• E, por fim, 10 – “Solstice”, com um toque fortemente oriental, vagarosa, calma, pausada, com uma mensagem pungente no verso final: “lembre-se que tu és um portador de luz que recebe a radiação de outrem”. Foi a canção que menos gostei no disco como um todo, mas é fofa mesmo assim, vale o investimento.

Por ora, é isso: muito construtiva essa atividade de lavar pratos enquanto se pensa na escritura da resenha sobre o novo disco da Björk!

Wesley PC>

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