domingo, 11 de setembro de 2011

NO CORPO DO TEXTO, EU CITAREI O FINAL DE UM FILME DO JOHN FORD...

A foto acima foi tirada antes da sessão de “Interiores” (1978, de Woody Allen). A foto abaixo foi tirada duas horas depois, num patamar emocional absolutamente distinto do inicial. Distinto, porém deveras coeso: eram as mesmas pessoas, elas sabiam o que estavam acontecendo com elas e sob que aspectos específicos o filme as afetou... Eram (e são) pessoas que, acima de tudo, vivem!

Já comentei sobre o intenso impacto dramático deste filme aqui e, como tal, não é difícil entender o quanto ele nos afetou profundamente (a cada um de nós, inclusive). Tanto que, após a sessão, precisávamos sair. Precisávamos confrontar os nossos interiores amargurados com exteriores que, entre outras coisas, também nos proporcionava amargura. Minutos após a segunda foto, portanto, estávamos na Orla de Atalaia, conversando, interagindo, sendo vivos e humanos. E, cada qual a seu modo, percebi o quanto tenho a ver com as pessoas que estavam comigo. Eles me complementam, eles me permitiram experimentar um sentimento de bem-estar muito parecido com a felicidade, aquela que não se perde no egoísmo do gozo, mas está intimamente associada à necessidade de disseminar amor no mundo. E, quando eu cheguei em casa, pro volta das 2h da madrugada, disse a cada um deles, através de mensagens de celular, que estava muitíssimo agradecido por eles terem me tornado um homem melhor, nesta que foi uma das melhores e mais importantes noites de minha vida recente. Não conseguiria dormir do jeito que estava, por extensão. Liguei a TV, como se atendesse a um chamado urgente do acaso.

Eram 2h25’ quando “O Delator” (1935) passou a ser exibido na TV. Apesar de ser um filme bastante premiado do famoso cineasta John Ford, eu nunca havia visto este filme. Mais: eu havia comentado com a única mulher vista nesta foto, horas antes do início da sessão, que, graças a uma surpreendente maratona que engendrei com os filmes fordianos disponíveis, eu finalmente apaixonei-me por este cineasta, constatando que ele muito mais genial do que meus preconceitos ideológicos me permitiam perceber à época. Vendo dezenas de seus filmes em seqüência, pude constatar que, dentre outras antonomásias (“o mestre do faroeste” à frente), a que melhor definia este artista irlandês era “o cineasta da comunidade”, visto que, cada um de seus filmes analisava o modo como as ações individuais interferia nas constituições morais e/ou legislativas das sociedades em que os indivíduos se encontram inseridos. Nem que eu quisesse, obras-primas como “No Tempo das Diligências” (1939), “Como Era Verde o Meu Vale” (1940), “As Vinhas da Ira” (1941), “Rastros de ódio” (1956) e “O Homem que Matou o Facínora” (1962), para ficar apenas em cinco título, me deixariam mentir: John Ford é um dos cineastas que melhor compreendem o conceito de comunidade em toda a História do Cinema e, no filme que eu começava a ver naquela madrugada, este conceito de comunidade era adotado de forma tão primeva quanto impressionante, em sua incisão dramática violenta: na trama de “O Delator”, um homem atormenta-se por ter denunciado o paradeiro de seu outrora melhor amigo à polícia, que o procurava por ele ser um rebelde irlandês. Um tema difícil, um tema árduo, um tema angustiante, que John Ford contorna de forma pessoal, culminando o périplo sofrido do protagonista com uma cena em que, baleado no interior de uma igreja, o alcagüete suplica o perdão da mãe de seu melhor amigo denunciado, agora falecido. A resposta dela e, principalmente, a reação dele me deixaram insone. Estava feliz: amo os meus amigos, eles me fazem ser quem eu sou e (re)instauram-me como um membro ativo da comunidade!

Wesley PC>

Um comentário:

Americo disse...

O filme foi lindo, fiquei chocado com o Woody! Ele poderia ser mais assim, não? hehe. Mas eu o entendo. Agradeço também a vocês!


Américo