quarta-feira, 21 de setembro de 2011

“TOMA LÁ, TOCA AQUELA CANÇÃO QUE VOCÊ DIZ QUE É DO OUTRO MUNDO”...

Hoje eu revi “Ganga Bruta” (1933, de Humberto Mauro) mais uma vez. Se existe um filme que fica melhor a cada vez que é revisto é esse, posto que, além de as cópias disponíveis do filme serem geralmente de má qualidade, algumas sutilezas enredísticas e estilísticas do filme são melhor compreendidas quando se supera de antemão algumas dificuldades técnicas inevitáveis a que o filme foi submetido diante das condições produtivas de sua época. Mas é inegável que ele causa espanto: como é genial este filme!

Reassisti a “Ganga Bruta” numa sessão entupida de alunos do curso de Audiovisual. A grande maioria deles estava ali por obrigação acadêmica, para não reprovarem numa dada disciplina. Exclamaram “aleluia!” quando o filme acabou, depois de terem incomodado os espectadores que realmente estavam apreciando o filme com gracejos e/ou comentários deveras inoportunos. Felizmente, a mediadora da sessão manifestou seu desagrado em relação ao desdém de quem desrespeitava a grandiosidade da obra. E, de alguma forma, eu me senti contemplado com a fala dela...

Ao final da sessão, parei para conversar um pouco com um motoqueiro de 22 anos que fumava num parapeito. Comentei com ele o quanto lamento que a geração etária seguinte à minha está inserida numa desproporção lancinante entre a disponibilidade midiática e apreciação qualitativa dalguns títulos. Quanto mais fáceis ficam os filmes clássicos e/ou experimentais de serem adquiridos, mais ignorados ou espectatorialmente vilipendiados eles são! E eu fiquei contente por esta conversa não ter sido um mero flerte desesperançoso, mas, de fato, um desabafo mútuo: procurando bem, ainda há quem valha a pena ser apreciado no panorama audiovisual sergipano!

Aí eu sou convidado a falar novamente sobre o filme: confesso-me encantado pelas soluções visuais mui inventivas e poéticas do cineasta, pela expressividade propositalmente tipificada dos integrantes do elenco, pela sensualidade explosiva de algumas seqüências (vide o famoso e antológico jogo erótico num jardim, em que o vestido da protagonista Déa Selva é providencialmente rasgado na altura de suas coxas), mas não sinto que minhas declamações passionais tenham sido devidamente compreendidas. Durante aquela sessão, eu pulsei, indiferente às reações negativas de eventuais ignorantes. “Ganga Bruta” é um filme que mexe comigo, que me (re)apaixona sempre que revisto. Eis o que me serve de consolo, neste exato momento!

Wesley PC>

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