quarta-feira, 5 de outubro de 2011

E, PARA O CASO DE EU TER ESQUECIDO DE DIZER ALGUMA COISA...

Como não pensar no direito inalienável de aquelas pessoas ordinárias serem felizes? Como? Vendo “Pacific” (2009, de Marcelo Pedroso), uma miríade de idéias e perspectivas discursivas explodem e implodem na mente do espectador: o filme clama por uma discussão pública, por um embate de impressões. Para mim, que me vi diante do mistério no que tange à adivinhação dos intentos discursivos do diretor, montador e “roteirista”, trocentas interrogações se enumeram: o que está sendo pretendido neste registro crítico sobre a classe média, composto a partir de imagens captadas acriticamente pela mesma classe média retratada? Esfacelar a noção de autoria é suficiente? Haverá um juízo de valor aqui? Ou vários juízos de valores, que se misturam, se negam, se somam e constituem o paradoxo atroz que é apelidado de contemporaneidade por quem desistiu de tentar entender o desentendimento basilar da mesma? É difícil posicionar-se unidimensionalmente diante de um filme como estes e diante deste filme em particular. Tenho que rever “Pacific” assim que possível – e, se for ainda mais possível, acompanhado!

Para quem não sabe do que se trata, “Pacific” é um filme pernambucano sobre um cruzeiro luxuoso realizado entre a cidade de Recife e as praias de Fernando de Noronha. Neste trajeto, os turistas registraram eventualmente o que lhes pungia (sendo eventualidades relacionadas ao consumo abusivo de cerveja e os pareceres sobre festas os assuntos preferidos dos videografistas amadores), de maneira que, findo o cruzeiro, a equipe do filme abordou os participantes e solicitou que estes cedessem as imagens captadas para o documentário em si, agora constituído como a montagem “direcionada” de um material extremamente aleatório e múltiplo. Parecendo uma versão anárquica de “Babilônia 2000” (2001, de Eduardo Coutinho), o ‘réveillon’ captado pelas lentes deste filme assume as vezes de uma radiografia extremada do que é a classe média brasileira hoje em dia e, para além dos desafetos que esta classe média nos causa, não há como não ficar admirado (e agradecido) pela coragem surpreendente de entrega e exposição a que os personagens/indivíduos se submeteram aqui. Estou impressionado não apenas com o filme (no sentido mais genericamente conteudístico-formal do termo), mas com os sentimentos concorrentes de apreciação moral que ele me fez depositar sobre aquelas pessoas e o direito de serem felizes de uma maneira que me envergonha pessoalmente. Nalguns momentos, os viajantes são mostrados aprendendo ridículas coreografias de ‘axé music’; noutros, participando de brincadeiras bizarras à beira da piscina. Perto do final do filme, crianças são captadas em toda a sua inocência e potencial crueldade, ora desfazendo os desenhos de areia dos irmãos na praia, ora segurando indebitamente pequenas tartarugas que tentavam correr para o mar. Faz sentido imaginar que aquilo era felicidade? Talvez eu seja “infeliz” e sub-classista demais para responder...

Wesley PC>

Nenhum comentário: