quinta-feira, 20 de outubro de 2011

SE AINDA ME RESTAR ALGUM TRAÇO BREVE DE INOCÊNCIA... – EXEMPLO II: DÉCADA DE 2000

“Em que tempos nós vivemos?!”: eis uma pergunta que eu faço a mim mesmo vez por outra. Durante a quase totalidade do dia de ontem, me senti incomodado por causa de um pesadelo, em que eu perpetrava o ensaio de violência sexual contra outrem. Demorei muito para entender o quão moralmente hediondo é um estupro e, como tal, desgostei veemente de me imaginar associado a esta prática tão vil. Seguindo a recomendação de um amigo, assisti a este filme, crente de que me expurgaria diante das perversões supostamente abordadas em seu roteiro. Como eu me decepcionei... Que farsa, meu Deus, que farsa!

Oficialmente, “Subconscious Cruelty” (2000, de Karim Hussain) é um filme que visa chocar. Possui imagens e temas fortes desde o início, mas, comigo em particular, falhou vergonhosamente por ser cinematograficamente pífio, montado, dirigido e roteirizado de uma forma nulamente provocativa, em que derreter um crucifixo metálico e, em seguida, injetar o conteúdo nas veias soa como manifesto anticlerical. Só a descrição desta cena demonstra bem o quanto o filme é equivocado em seus ataques, soando para mim extremante incômodo e enfadonho (nos planos moral e fílmico) durante os seus 40 minutos de abertura, em que um rapaz idiotizado confessa-se apaixonado por sua irmã grávida e, após contemplar o seu próprio sêmen, ejaculado após renitentes masturbações, decide parodiar o processo de criação humana e assassinar o seu sobrinho no ato mesmo do nascimento. Mal o garoto atravessa a vagina de sua mãe e é atravessado por um estilete, sangrando sobre a mulher, que morre com o trauma e tem o seu corpo conservado no leito em que o protagonista do episódio dorme. O que isso quer dizer enquanto análise ou reprodução pervertida? Em minha opinião, que o diretor não deve ter chegado perto de cineastas especialistas no assunto, como Jörg Buttgereit, Ruggero Deodato ou, num plano mais intelectual e canônico, Pier Paolo Pasolini. Senti nojo deste filme – e, definitivamente, não por causa do que ele mostra ou incita, mas por causa do que ele é. Ou melhor, do que ele não conseguiu ser!

Para não dizer que eu achei o filme totalmente nulo, houve uma cena que me impactou: em dado momento, diversos homens nus enfiam seus pênis na terra, escavam o chão e se deparam com sangue que brota como água. Um deles ajoelha-se diante de uma bela rapariga nua e reproduz um ato de felação, como se ela empunhasse algum instrumento fálico sobre sua vagina. Quando a câmera mostra o objeto, tremi por alguns segundos: o homem estava chupando a lâmina de uma faca, que, obviamente, destroçava o céu de sua boca. Glupt! Esta cena, sou obrigado a admitir, possui um mínimo de relevância pervertida funcional.

Infelizmente, porém, o filme logo volta aos seus maneirismos pretensamente psicodélicos e apresenta-nos a um executivo que esfola o seu pênis de tanto se masturbar e a um personagem que é empalado analmente por alguns objetivos clericais. Se a câmera se mantivesse estática, talvez este desfile de horrores me causasse algum efeito, mas, do modo frenético como o filme foi montado, pensando que isto agilizaria o desconforto do espectador, mas, no meu caso em particular, identificado por extensão inversa, me senti cobrado (num sentido negativo do termo) e, por causa disso, entediado, envergonhado, desanimado, preocupado: tristes tempos nós vivemos!

Wesley PC>

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