segunda-feira, 28 de novembro de 2011

“ESTAVAS DORMINDO, FOI? ESTÁS COM UMA CARA DE ASSUSTADO!”

Sim, eu estava dormindo, mas não era bem essa a minha intenção... Ganhei folga em meu emprego, em razão de ter trabalhado 10 horas a mais na semana passada e, como tal, tencionava aproveitar esse tempo extra (e justo) de lazer para ver alguns filmes pendentes em minha coleção de DVDs recém-adquiridos. Como soube do falecimento recente do ótimo diretor inglês Ken Russell, aos 84 anos de idade, quis ver “A Prostituta” (1991), um de seus filmes menos conceituados, que estava guardado aqui em casa há um tempinho, sem que, até então, eu dispusesse da oportunidade ideal para vê-lo. Nem bem 20 minutos se passaram e eu já estava cochilando. Minha mãe percebeu que eu dormia com tamanho fervor que achou de bom tom ligar o ventilador, algo que, conscientemente, me irrita deveras. Conclusão: protelarei a minha homenagem ao Ken Russell, mas quero que fique aqui constando dos autos que eu sou fã do seu estilo gritante, elaborado, erótico, virtuoso, psicodélico, hiperativo, sensual... Sem dúvida, mais uma perda sentida no cinema de autor britânico!

Nascido no dia 03 de julho de 1947, Henry Kenneth Alfred Russell tornou-se diretor de cinema após realizar diversas outras atividades profissionais. Isto talvez explique o ecletismo de seus temas e a desenvoltura de suas incursões directivas. Infelizmente, seus filmes mais antigos – inclusive, suas biografias ousadas e iconoclastas de compositores e artistas famosos – não são facilmente disponibilizados, de maneira que o filme mais distante que eu me lembro de ter visto dele é a ópera-rock “Tommy” (1975), baseado num disco conceitual da banda The Who. Já revi este filme muitas vezes e sempre me surpreendo com a agudeza de seu discurso libertário propositalmente contraditório. Em seguida, vi o elogiado “Viagens Alucinantes” (1980), que, como bem diz o título, alucina deveras o espectador, que fica inebriado e assustado diante das possibilidades lisérgico-fisiológicas aventadas pelo enredo. “Crimes de Paixão” (1984) é um filme com o qual eu tenho uma relação muito próxima, em seu elã diagnosticador das imbricações indissociáveis entre as variações de personalidade de uma elegante mulher que, à noite, torna-se uma indomável prostituta. “Gótico” (1986) é um filme leve e bem menos pretensioso do que o título prediz, mas possui diversos bons momentos de realismo biográfico fantasioso, ao passo em que a acachapante reconstituição imagética da ópera “Nessun Dorma” no episódio dirigido por Ken Russell em “Ária” (1987), com certeza, se destaca como uma das mais inventivas do filme, bastante irregular, afinal de contas. A condensação fílmica de sua minissérie “Lady Chatterley” (1993), vista na TV Globo – ou seja, em versão ainda mais picotada – faz tempo está evanescente em minha memória, ao contrário da nudez expressiva do robusto Sean Bean, imponente e inesquecível. Digo mais: este último foi justamente o primeiro filme dele a que eu tive acesso, ainda adolescente. Tornei-me fã no ato. E, apesar de ter assistido a pouquíssimas de suas obras, os títulos aqui destacados justificam o meu afã por homenagear a passagem terrena deste brilhante cineasta. Mesmo suspeitando que “A Prostituta” seja um filme menor, estou ansioso para consumi-lo mesmo assim: confio no tato efervescente do espevitado Ken Russell!

Wesley PC>

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