domingo, 6 de novembro de 2011

POÇO REDONDO: E UM POUCO MAIS DO QUE EU VI E SENTI POR LÁ, DOIS ANOS DEPOIS!

Em 2009, eu relatei aqui algumas observações sobre o que despontava enquanto situação pública do ensino em Sergipe. Dois anos e alguns dias depois, tive a oportunidade de voltar ao mesmo lugar, num contexto deveras similar, com intenções observacionais ainda mais explícitas e sabendo que seria ainda mais afetado pelo contexto observado, visto que estava sozinho desta segunda vez. Entretanto, eu preferi abdicar de quaisquer pré- ou pós-conceitos sobre o lugar e suas pessoas. Fiz bem?

Fosse como fosse, eu estava muito mais disposto a ouvir as pessoas desta vez. E, tendo eu chegado cedo ao local, fui cercado por meninas de um povoado próximo, que estavam difamando a escola em que estávamos por causa da imundície, das más condições de conservação, dos banheiros precários, do desperdício de água nos bebedouros quebrados, etc.. Como eu era um forasteiro ali, limitei-me a assentir com a cabeça diante do que era óbvio e muito perceptível. E, por volta das 16h30’, eu voltava para casa mais uma vez, depois de ter testemunhado, novamente, um grupo de meninos esperançosos sentirem-se impotentes diante de uma prova cuja dificuldade não era esperada...

No trajeto de ida, havia uma menininha vomitando em sacolas plásticas no ônibus. No caminho de volta, havia um casal abraçado na escuridão do veículo, conversando sobre o dia em que a mulher flagrou o padrasto com uma tia na cama da mãe. Onde quer que as pessoas estejam, elas têm estórias para contar, estórias simples, estórias reais, exemplos de vida. E, após mais de 14 horas de dedicação a esta atividade estudantil observacional (saí de casa às 6h da manhã e só voltei após as 20h!), eu pensava que estivesse cansado e que tivesse muito a narrar aqui sobre o que aprendi, mas mudei de idéia, me vi assaltado por uma impotência recém-instaurada, uma impotência que, afinal, quase que parece moralmente positiva, tendo eu encontrado eco numa maravilhosa passagem do romance sergipano “Os Corumbas” (1933), de Amando Fontes, o qual tencionava ler durante a viagem. O fiz durante o regresso:

O Dr. Barros era um velho advogado, que saíra de Sergipe muito jovem e fizera fortuna rapidamente. Gênio um tanto esquisito, amigo da solidão e dos seus livros, fugira sempre ao casamento. E tinha ainda cinqüenta anos quando, com surpresa de toda sua roda, abandonou a profissão e vendeu o magnífico palacete da Avenida Paulista, e voltou para o Norte, com a intenção deliberada, que ele manifestava rindo para os íntimos, ‘de ir morar numa casa de taipa em S. Antônio’. Não era uma grande inteligência, mas estudara muito. Conseguira, mesmo, formar uma cultura sólida e variada. Tinha a prosa fluente e colorida. Não tardou para que sua morada, bem próxima à Capela, no alto da colina, passasse a viver cheia, desde a manhã até a noite. Gente de todos os credos, de todas as condições sociais, o procurava. Ele, que era, no fundo, uma alma simples, não pôs dúvida em receber a uns e a outros, renunciando à calma e ao silêncio que pretendera desfrutar em sua terra”. (p.31)

E, diante desta brilhante composição/apresentação de personagem, eu me senti contemplado, desprovido dos preconceitos que levei comigo na ida, quando anunciava o local em que estaria como um dos menos desprovidos de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) aqui em Sergipe. Quem era eu para repetir indebitamente esta estatística espúria? Havia lá muito desenvolvimento humano, sim, senhor! Pois, como bem disse um amigo de trabalho (sensual porque taurino – risos –e, não por acaso, o responsável pela indicação do livro que ora leio e cito): o essencial [da vida] é barato, pena que buscamos muitas vezes o supérfluo, e este custa muito caro. Ele é dos meus: ele sabe das coisas. Ele sente!

Wesley PC>

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