quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

E, COMO ME PERGUNTARAM NA MANHÃ DE HOJE, “ALGUÉM QUE ESCOLHE SUA PRÓPRIA ESCRAVIDÃO É AINDA UM ESCRAVO?”

Num minuto, eu estava assistindo à conclusão de um filme iugoslavo em que uma mulher grita aos quatro ventos que “comunismo sem amor livre é como um velório no cemitério. Num minuto posterior, eu estava assistindo a um episódio antigo do seriado animado “She-Ra, a Princesa do Poder”, ao lado de minha mãe. O filme em pauta chama-se “W. R. – Mistérios do Organismo” (1971), dirigido por Dusan Makavejev. O seriado animado, por sua vez, não era revisto por mim desde que eu era uma criança.

Produzido entre os anos de 1985 e 1986, “She-Ra, a Princesa do Poder” era uma variação feminina do similar e contíguo “He-Man e os Mestres do Universo” (1983-1985). No episódio em que vi hoje, uma bruxa de nome Madame Riso narra as aventuras da personagem-título para salvar o Castelo de Cristal, local mágico sagrado que só voltaria a ser percebido pelas crianças quando a liberdade voltasse a reinar em Etérea, cenário fictício de ambas as séries animadas. Ao final, uma espécie de duende surge para explicar que “ser diferente é bom” e, de chofre, eu me (ou)vi cantarolando a versão dos pernambucanos do Textículos de Mary para “Todinha Sua (She-Ra)”, em que as vantagens de ser bicha são exaltadas. Gostei do seriado. Sempre que possível, vou rever um ou outro episódio, visto que ele está sendo exibido pelo canal fechado ToonCast, recentemente acrescentado ao meu pacote de TV por assinatura...

Mas não é sobre isso que eu quero falar: o filme makavejeviano me deixou um tanto atônito em sua defesa insistente da liberação sexual como ato político contínuo. Valendo-se das polêmicas teorias de Wilhelm Reich (1896-1957), que passou a fase final de sua vida numa penitenciária estadunidense, o filme parte do pressuposto de que “um ser humano sadio deve ter no mínimo 4.000 orgasmos em vida” para defender a integração orgânica entre militância política e gozo básico. Receio concordar com este pressuposto argumentativo, tanto que me vi discursivamente excitado em mais de uma seqüência. Numa delas, quiçá a minha preferida, uma artista plástica pede que um amigo se dispa, alisa o seu pênis repetidas vezes, pedindo que ele se imagine tendo uma experiência sexual legítima, e, depois que atinge o paroxismo de sua ereção, utiliza o órgão genital como molde para um dildo. Me identifiquei: queria estar ali, fazendo a mesma coisa (risos). Numa seqüência anterior, uma pintora narra as diferenças entre as matrizes de seus quadros de homens e mulheres que se masturbam: no primeiro caso, o constrangimento esteve momentamente atrelado a uma confusão essencial entre o onanismo enquanto ato íntimo ou experiência pública compartilhada; no segundo, ela se espanta diante da estória da mulher que era dependente de um parceiro sexual externo para gozar. Muito bom o filme: pode não ser uma obra-prima, mas que instiga, ah, instiga muito...

Wesley PC>

Nenhum comentário: