quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

EU, INTERAGINDO COM UM FILME BASEADO EM CONTO DE NIKOLAI GOGOL – PARTE II: “VIY, O ESPÍRITO DO MAL” (1967, de GEORGI KROPACHYOV & KONSTANTIN YERSHOV)

Apesar do ponto de partida um tanto cômico (eu preferiria dizer satírico), este filme aqui é barra-pesada: três seminaristas são liberados para as férias e, em busca de um lugar para passar a noite, deparam-se com uma anciã feiíssima que usa um deles como se fosse uma vassoura de bruxa. Depois de voar sobre ele por um longo percurso, ela é espancada quando aterrissam. Antes de morrer, ela pede piedade. Não é mais a anciã, mas sim uma formosa jovem. Assustado, o seminarista foge. Algum tempo depois, ele é obrigado a encontrar um rico fazendeiro, que diz que sua filha recém-falecida invocou o seu nome antes de morrer, dizendo que necessita que ele vele por ela três noites. Coagido a aceitar, o seminarista é tentado por espíritos malignos, de maneira que, nas primeiras duas noites de provação, o efeito colateral mais visível é a coloração esbranquiçada de seus cabelos. Na terceira noite, porém, a falecida possuída pelo mal invocará o demônio do título, que vem acompanhado por criaturas malignas e assustadoras de todas as espécies. E assim eu fui apresentado ao primeiro filme de horror comunista da História!

Para ser sincero, a cópia deste filme que eu dispunha estava com diversos problemas, sendo que os 15 minutos finais estavam literalmente sem som! Nada que interferisse no meu espanto diante desta obra inusitada e genial de arte e ímpeto crítico. Numa das cenas iniciais, por exemplo, os seminaristas põem um bode para lamber a Bíblia Sagrada. Noutra cena, o seminarista coagido a exorcizar a falecida endemoniada desenha um círculo no chão, a fim de se manter esquivado dos ataques dela. Quando o maligno Vij entra em cena, ele ordena que seus asseclas elevem suas pálpebras, visto que ele se encontrava impedido de enxergar e hipnotizar o seu desafeto clerical. E, ao final, o esforço dele talvez não tenha sido em vão... Filmaço!

Terminada a sessão prejudicada do filme (nem um pingo prejudicado na constatação de sua genialidade, por sua vez), precisei resolver um problema bancário para minha mãe. Diante de quatro máquinas de autoatendimento em que somente uma funcionava e tentando me situar nas inúmeras ramificações de filas barulhentas que se formavam naquele comprimido espaço institucional capitalista, eu relembrava o filme com uma nostalgia histórica profunda: os demônios de hoje em dia são muito mais poderosos, onipresentes e malévolos. Deus que me livre!

Wesley PC>

Nenhum comentário: