sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

O CONCEITO DE AMIZADE, QUANDO PERMEADO PELO CINEMA, ENQUANTO EXEMPLO PRÁTICO:

Antes de começar a sessão de “Godard, Truffaut e a Nouvelle Vague” (2010, de Emamnuel Laurent), eu já preparava os adjetivos demeritórios para o documentário, que eu imaginava que seria desviado em sua abordagem bilateral para um fenômeno muitíssimo geral como é a Nouvelle Vague. Inebriado pelas imagens de arquivo raras e singularíssimas que compõem o filme, logo fui percebendo que o tema do mesmo não era a Nouvelle Vague em si, mas sim os meandros da amizade entre os cineastas François Truffaut e Jean-Luc Godard, que romperam definitivamente após maio de 1968 por causa de fortes diferenças ideológicas no que tange ao uso político do cinema: o primeiro abordava a política de forma tangencial e/ou sentimental, enquanto o segundo defendia a sua utilização radical, em que o próprio ato de filmar fosse uma arma reivindicativa. Não são opiniões completamente excludentes, aliás, só para que conste dos autos para qual dos lados do embate eu pendo mais...

Calando particularmente a minha boca no que tange à exploração do tema da amizade suplantada pela política entre estes dois geniais artísticas, está o consenso antonomásico do ator Jean-Pierre Léaud como “filho da Nouvelle Vague”, visto que ele trabalhava em igual medida para ambos os cineastas, lidando com estilos de filmagem absolutamente distintos, mas mantendo um ‘modus operandi’ interpretativo mui particular, que chamou positivamente a atenção de vários outros cineastas autorais franceses. Não foi à toa, portanto, que as imagens que encerram o filme são protagonizadas justamente por este egrégio ator. Antes dos créditos de encerramento, vemos o plano final de “Os Incompreendidos” (1959, de François Truffaut), em que o menino fugitivo de um reformatório tem a sua expressão de espanto diante do mar finalmente descoberto congelada enquanto encara a câmera. Durante os créditos de encerramento, assistimos ao teste para este papel, o que demonstra de imediato o sobejo de carisma deste ator, ainda adolescente, adotado como alter-ego actancial do cineasta que o revelou. Conclusão: para além dos problemas “localistas” do documentário, saí da sessão extremamente emocionado: amizade tem este poder sobre mim!

Wesley PC>

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