sábado, 5 de fevereiro de 2011

BISONHO OUVINDO MÚSICA ‘POP’


“Hoje eu me senti tão triste.
Mas suave é a vida, quando você faz papel de irmão.
Hoje eu perdi o sentido.
Já não penso em mais nada, além de anestesiar a minha solidão
Na neblina vi o seu sorriso tímido, dizendo assim: ‘tá tudo bem’
Vi o seu casaco, abrindo os braços, me acenando
Como se não existisse mais ninguém...
Tudo pode parecer um caos
Pois quando eu ando sem destino, só você me traz de volta,
Segurando a minha mão”
(“Pés no Chão” – Luxúria)

Hoje eu acordei querendo ouvir o disco homônimo da banda paulista Luxúria, lançado em 2006 e alavancado às paradas de sucesso por causa da contagiante faixa de abertura “Ódio”. Porém, as demais canções são também muito boas. “Frankenstein de Subúrbio” é a cara de um monte de gente que conheço, “Suja e Só” é uma pérola revoltosa, “Lama” é triste e adocicada e “Artifício Mágico”, lá no final, restitui o tom bem-sucedido da abertura iracunda e sensacionalista do álbum. É bom, sim, por mais ‘pop’ que tenha parecido, em especial depois que algumas de suas canções passaram a tocar no execrável arremedo de telenovela adolescente “Malhação”. Hoje, a banda tem outro nome (o da vocalista Megh Stock) e quem é fã do personagem da Disney mostrado na foto desde a infância (o burrico macambúzio Bisonho, amigo do Ursinho Pooh/Puff, Leitão e companhia), sentir-se-á tocado a cantarolar uma ou duas frases de alguma canção do Luxúria algum dia (risos):

“Pessoas têm o direito de falar
E de escolherem a direção por onde andar
Sei que tenho o direito de me calar
E de escolher de quem eu gosto ou não
A cidade é suja e só, mas isso eu não preciso mais ser
Se já não tenho nada pra falar
É sinal de que chegou a hora de fazer”


Wesley PC>

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

É MELHOR FICAR SOZINHO DO QUE AO LADO DE ALGUÉM QUE NÃO SE CONTROLA?

Respondo com uma interjeição duvidosa: oh!

Por onde começar: acabo de ver “Namorados Para Sempre” (2010), de um tal de Derek Cianfrance, filme sobre um casal que jura que se ama, mas que briga, briga e briga. Numa cena, ela chora porque encontrou a cachorrinha de sua filha morta. Ele apenas reclama: “eu não te disse várias vezes para fechar o portão?”. Mais tarde, quando ele vai enterrar o corpo do canídeo, é a vez dele chorar. Ela diz que sente muito. Ele: não sinta”!

Antes: no trabalho, dois homens com idade mais avançada conversavam sobre um professore recém-falecido, que calhava de ser homossexual. “Deus que conserve a alma dele num bom lugar”, disse um dos homens, “mas eu senti muita raiva dele quando, numa fila de banco, ele reclamava que os letreiros expostos em locais periféricos eram repletos de erros de português”. O outro:antes de ele se atrever a corrigir alguém, ele devia corrigir a si mesmo. Por que, ao invés de ser um homossexual, ele não era um homem normal como os outros?!”. O primeiro: “a questão não é nem esta. A sexualidade dele é uma coisa íntima”... E eu quedava-me calado, enquanto vasculhava o histórico de navegação de um computador, em busca de “indícios” alheios...

No filme, o casamento do casal está decaindo. Ele é Ryan Gosling, zelador, estouvado, macho. Ela é Michelle Williams, enfermeira, impecável em sua interpretação, de mulher que desistiu de tudo para ficar ao lado de um homem, depois de ter mais de duas dezenas de parceiros sexuais. Numa cena, ela desiste de um aborto. Noutra, ela reencontra um antigo namorado na seção de bebidas de um supermercado. Ajuda dizer que ela achou que ele estava mais gordo? “Ele é um fracassado, querido”, tenta se justificar para seu marido irritado. É melhor ficar sozinha num caso como este?

E eu quedava-me calado... O filme nem é tão bom, mas, climaticamente falando, arrasa corações, faz pensar, faz pensar que é difícil escolher... E se fosse eu, o que faria ou diria? No original, o título do filme é “Blue Valentine”. Devia ter previsto que seria triste. A minha não queria ter um casamento infeliz e cheio de rancor como o dos seus pais. E eu lembrei de um amigo meu...

Mas não só nele... Pensei em minha mãe também. Minha mãe que, desde que me entendo por gente, esteve só, sem um namorado, marido, paquera, ‘peguete’, ou algo do tipo... Minha mãe... Dizem que eu pareço com ela. Pareço com ela...

Wesley PC>

ALGUNS TÉDIOS SÃO BEM-VINDOS (VERSÃO ESTENDIDA)...

Se eu já caminho rápido em dias normais, ontem eu praticamente corria para chegar em casa, depois que saí do trabalho. Estava mais do que ansioso para assistir ao mais recente filme da Sofia Coppola, ainda que o comentário reticente de uma amiga minha me tivesse deixado preocupado. Vi o filme ontem à noite, literalmente gemendo de tanta satisfação, e, admitindo que minha amiga tem razão em vários aspectos de seu comentário, comigo a apreciação foi inversa: achei o filme muitíssimo mais genial do começo para o meio – e ótimo no cômputo geral!

Não sei se preciso sintetizar aqui os temas-chaves da ainda curta (porém magnífica) carreira da Sofia Coppola, mas o faço por voluntário diletantismo: se o magistral “As Virgens Suicidas” (1999) não me fisgou de imediato, e se o exuberante e psicológico “Maria Antonieta” (2006) é lancinado por contradições temáticas, “Encontros e Desencontros” (2003) é uma obra-prima do começo ao fim, impressão que só se confirma a cada vez que o revejo. E, como alguém criticou nalgum lugar, o fato de a segunda metade do filme servir-se dos recursos típicos do deslocamento em país estrangeiro indica uma autoconfiança superlativa da diretora em seu próprio material, que, venhamos e convenhamos, tem tudo a ver comigo e com as pessoas que me cercam: “Em Qualquer Lugar” é onipresentemente encantador!

Os primeiros contatos que tive com o enredo do filme não me permitiram antever o quanto eu gostaria dele: um famoso astro de filmes de ação (Stephen Dorff) lida com as inconveniências de sua vida atribulada de astro hollywoodiano com desdém e enfado até que passa um tempo com sua filha de 11 anos (Elle Fanning). Basicamente isso. Não me parecia de todo interessante. Até que, logo no começo, duas ‘strippers’ penduram-se repetidas vezes numa barra portátil ao som de “My Hero”, dos Foo Fighters, enquanto o protagonista adormece de tédio. E aí eu tive certeza plena de que o filme era tão genial quantos os anteriores. Absolutamente maravilhoso!

Não serei minucioso na descrição das surpreendentes seqüências quase autônomas do filme (em sua crítica/elogio às reflexões sobre “o que é ser uma pessoa”) a fim de não estragar o espanto de quem ainda vai ver esta preciosidade fílmica, mas preciso gritar aqui que Sofia Coppola é uma cineasta que não somente respeita o tempo (como fizeram gênios como Yasujiro Ozu, Carl Theodor Dreyer ou Andrei Tarkovsky) antes dela, mas adapta este respeito ao tempo das inebriantes canções que ela utiliza na trilha sonora: cada minuto nos proporciona uma surpresa diferente!

Dentre as cenas favoritas de um filme favorito nato, destacam-se a competição de guitarras virtuais entre pai e filha, a participação do cineasta italiano Maurizio Nichetti numa cena-chave divertidíssima, as acrobacias de balé no gelo e um molde facial de látex que espanta o protagonista (e o espectador) após 40 minutos de espera. E eu juro que ainda não disse nada. O filme é magnífico! E, depois, podia faltar energia à vontade, que o filme me deixou contente e protegido contra o tédio por horas!

Wesley PC>

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

PESADELO ERÓTICO, DE NOVO!

Havia uma portinhola fechada. Era uma piscina. Tinha um menino seminu, de cabelos cacheados. E uma menina seminua, de cabelos lisos. E era uma piscina. Como era uma piscina, eles bem que poderiam ficar nus. E ficaram. Mas não era um sonho, e sim um pesadelo. Por este motivo, acordei apavorado. Tão apavorado que fui dormir na cama de minha mãe. Conclusão: assistir a “Nip/Tuck” tomando sopa é gostoso, mas pode ter efeitos colaterais!

Wesley PC>

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

“AOS POUCOS, O SEXO VAI SE ESPALHANDO POR TODA A CASA. O RESULTADO É UM SÓ: REBELIÃO”

A frase-título desta postagem encerra a sinopse mais comumente divulgada sobre o filme grego “Dente Canino” (2009, de Yorgos Lanthimos), cuja primeira imagem conscientemente visualizada por mim foi esta que acompanha a mesma postagem. Nela, um rapaz bonito queda-se paralisado diante de um muro coberto de vida vegetal, muro este que claramente o oprime. Bastou esta imagem para ter certeza de que eu amaria (e, de certo modo, me identificaria com) o filme, mas quando eu finalmente o vi, o choque foi absurdamente inesperado: o filme é, literalmente, uma surra de VHS na cara!

É-me proibido destacar aqui em pormenores as cenas deste filme extraordinário e absolutamente genial, sob pena de estragar o prazer de quem ainda não o assistiu, mas preciso confessar que estou escandalizado em saber que uma obra tão perversa quanto esta conseguiu ser indicado a uma categoria do conservador prêmio Oscar. Digo mais: o filme é genial e dilacerante da primeira á última cena!

Tentando ser o mais sucinto e discreto possível em relação a sua trama, o filme versa sobre uma família que vive confinada numa riquíssima residência, cercada por muros altos e esverdeados como este que se vê na foto. Com exceção do pai industrial, mãe e três filhos são rigorosamente proibidos de saírem da casa, onde são submetidos a uma educação extremamente subvertida, em que palavras mudam de significação, a fim de que os filhos não se deparem que a violência que os rodeia. Assim sendo, por exemplo, a palavra zumbi é definida como sendo “uma pequena flor amarela”. Até que...

Não posso falar mais: por favor, vejam este filme. É simplesmente genial!

Wesley PC>

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

COMO SE EU ESTIVESSE NUM CABARÉ ‘GAY’, AQUI MESMO NO BRASIL...

Não que “Berlim, Texas” (2010), do paulistano Thiago Pethit, seja uma maravilha imediata, mas a sonoridade afetada da canção de abertura “Não Se Vá”, acompanhada por um dedilhado entristecido e intermitente de piano, encanta na primeira audição, o que também se confirma na versão em inglês da mesma canção, que fecha o disco.

Uma letra demasiado simples: uma confissão, um pedido, uma promessa... A frase-chave sendo repetida em pontos determinantes da canção: “não se vá”. Apenas isso e bastaria.

Ouvi o disco na íntegra apenas uma vez e, sinceramente, não fui minuciosamente tocado pelas outras canções, com títulos demasiado sugestivos como “Mapa-Múndi”, “Voix de Ville” e “Outra Canção Tristonha”, mas o clima de cabaré ‘gay’ germânico da década de 1930 que o disco como um todo emula, aliado à beleza simples e quase sussurrada da canção de abertura, é algo que me faz recomendar este disco para quem está olhando para os lados, com vontade de falar o que todo mundo já sabe, com vontade de choramingar um pouquinho, bem de leve, para não borrar a maquiagem ou incomodar quem está ao lado. Uma fofura!

“É triste sim, eu sei
Duas pessoas em silêncio sempre dão tanto o que falar
Então me espere na terça
Ou depois de amanhã, quem sabe?
Na quinta ou sexta, no mais tardar,
Eu direi: não se vá


Wesley PC>

AQUELA LAGOSTA É INFELIZ OU FAZ LIMONADA COM OS LIMÕES QUE A VIDA LHE ATIRA?

Uma agonia estranha me tomou de assalto na manhã de hoje. Uma perturbação, uma tontura, uma fome (atrelada a uma falta de disposição em comer), um ensaio de dor que eu não consegui distinguir direito se era física e psicológica... Preocupada que minha mãe estava, ela me preparou um prato imenso de arroz com grão-de-bico e suco de maracujá. E eu sequer conseguir a assistir a algum filme pendente em minha manhã de folga. Ao invés disso, eu vi dois episódios de um seriado de TV recente chamado “The Big C”, sobre uma rica dona-de-casa recém-divorciada, que descobre que está com câncer e resolve conquistar o filho mimado com quem nunca se deu bem. Estava agoniado!

Num dos episódios que vi hoje, a protagonista (vivida com graça pequeno-burguesa por Laura Linney) rouba uma das lagostas que estavam trancafiadas no aquário de vidro de um restaurante, prontas para serem devoradas. Minutos depois, a personagem solta a lagosta na piscina de água salgada da riquíssima mansão que seu oncologista pretendia comprar. A música fica triste, a cena é embebida de uma dramaticidade forçada. Mas eu fiquei pensando se aquilo realmente funcionava, se aquilo me tocou de alguma forma. Aí um grupo de cancerosos amigáveis persegue a protagonista e diz que ela deve ser mais forte que a sua doença, que ela deve sorrir, que ela deve fazer limonadas com os limões que a vida atira. E eu gosto muito de limonada, mas esta agonia está me incomodando...

Tenho que pôr créditos em minha carteirinha de passe escolar, para emprestá-la ao meu irmão, talvez tenha que comprar um novo aparelho de telefonia celular, pois o visor do meu acaba de queimar, tenho que arrumar algo para fazer, algo para me ocupar, visto que aquele estranho impedimento metafísico em sair de casa bateu novamente às minhas portas neste último fim de semana. Será que é isso que está me incomodando? Eu juro que não sei ainda, mas algo na imagem triste e excessivamente publicizada (no sentido mais vendável do termo) me incomodou e me encantou, ao mesmo tempo. E, por ser vegetariano, jamais comerei uma lagosta. Menos mal...

Wesley PC>

É COMUM EXTERNAR QUE SE QUER “UMA VIDA LAZER” DEPOIS DO FILME!

A cena de “Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo” (2009, de Karim Aïnouz & Marcelo Gomes) que talvez mais seja requisitada pelo público após a sessão é aquela em que o protagonista entrevista uma prostituta de beira de estrada e pede que ela explique com o que sonha, o que deseja, confessando que é triste a gente amar quem não quer saber da gente, né?”, concluindo que, “tudo o que eu quero é uma vida lazer”, frase esta que o próprio protagonista repete várias vezes, num momento posterior, em que parece estar embriagado de desejo, álcool e saudades. Nesta hora, todos nós repetimos com ele, ao lado dele, junto com ele, e solitários, cada qual à nossa maneira!

Revi este filme magnífico ontem à noite, num contexto que me surpreendeu pelo inusitado do conflito: convidei dois filhos de caminhoneiro para verem comigo, com o pretexto de que o universo emulado pelo roteiro é bem similar àqueles que eles vivenciam desde crianças, sempre que acompanham o pai nalguma de suas viagens. Dito e feio: enquanto o filme se desenrolava, eles se ocupavam em reconheceram as marcas de caminhão que apareciam na tela, empolgavam-se ao relembrar postos de gasolina que serviram de cenário onde eles já estacionaram, reconheceram os traços fortes daqueles sofridos personagens reais com quem o protagonista se deparava na viagem... E, aos poucos, intuí que eles se emocionavam com a trama também, bifurcada em dois ideais discursivos dominantes: a crítica aos interesses esquivos por detrás do projeto de transposição das águas do Rio São Francisco e o elogio à dor de um amor verdadeiro. Só não soube responder qual desses dois ideais era o mais importante, quando eles assim me questionaram!

Oficialmente, eles ficaram chateados com a radicalidade rítmica do filme (“‘filmes de arte’ me incomodam um pouco, Wesley!”, disse-me um deles, em certa cena), mas quando se entregaram ao que se desenrolava diante da tela, ao completo desnudamento da alma de um ser vivo apaixonado, não deu outra: eles estiverem como eu, ao imanarem-se mergulhando nas águas pedregosas de Acapulco. Mais do que um filme genial (como eu insistia em definir) ou radical (como um deles destacou), “Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo” é um filme sobre saudades, ainda que as paradas ocasionais em motéis de beira de estrada, ao lado de prostitutas com olhares tristes, possam perturbar os delírios idílicos de um ou outro espectador mais convictamente monogâmico. Lembro até que um dos rapazes me confessou que perdera sua virgindade num destes motéis de beira de estrada, ao lado de uma prostituta arranjada por seu pai. E ele me confessou com tanta vergonha no dia. Revi o filme ao lado do público-alvo ideal, tenho certeza disto agora (se bem que diria a mesma coisa ao lado de qualquer pessoa. Afinal de contas, quem não quer “uma vida lazer”?)!

Wesley PC>

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

“AQUI ESTÁ A FRUTA PARA OS CORVOS ARRANCAREM”...


Basta um homem morrer para que ele se torne notícia? Acordei na manhã de hoje com uma notícia telejornalística sobre um rapaz que teria sido estrangulado por garotos de programa em razão de não ter pagado o serviço efetuado por eles. Independente de ser verdade ou não o que foi noticiado, lembrei que eu particularmente já me deparei com o falecido várias vezes em meu ambiente de trabalho, quando entrávamos em conflito por diversos motivos, sendo o mais lembrado a alegação de que ele não havia ainda recebido o diploma, quando eu lembrava que sim, já o havia entregado. E, de repente, descubro que ele morreu e comunico aos interessados que a maioria dos diálogos que travamos foi em tom de bravata. Basta que um homem morra para que seus erros sejam mais divulgados que seus acertos? Fico a imaginar o que dirão de mim caso eu seja o tema central deste tipo de notícias. Antes que comecem a questionar minha índole, antecipo: sim, meu bem, já ofereci dinheiro em troca do que parecia ser sexo!

Wesley PC>

A PARTIR DE ONTEM, EU SOU UM HOMEM SEM CABRITA?

Por motivos vários (entre eles, a compulsão por chifrar a porta de nosso quintal e o relacionamento mal-sucedido com um bode muito mais jovem do que ela), a nossa cabrita Sganzerla – que minha mãe e meu irmão mais velho insistiam em chamar de Ninguém – foi levada de nossa casa na tarde de ontem e agora vai viver numa fazenda improvisada, localizada no município de Barra dos Coqueiros. Temo que, em seu novo lar, ela não seja tão bem-tratada quanto foi enquanto viveu entre a família Castro, mas todo este processo de transferência de caprino me fez lembrar o doce filme brasileiro “A Oitava Cor do Arco-Íris” (2004, de Amauri Tangará), em que um garotinho perambula pelas ruas de uma cidade que não conhece, a fim de tentar vender sua cabrita de estimação e conseguir dinheiro para comprar um remédio para sua avó doente.

Infelizmente, este filme mato-grossense foi pouquíssimo visto, apesar de já ter sido exibido na TV aberta, mas é de simpatia e carisma deveras elogiáveis e, como tal, merecia melhor sucesso tanto comercial quanto de público. Na cena em pauta – uma de minhas favoritas e mais tocantes do filme – o garotinho, maravilhosamente vivido pelo novato Diego Borges, arrepende-se de ter vendido sua cabrita Mocinha e invade a casa de um moço rico para recuperá-la, deixando a devida soma em dinheiro que recebera no local em que o animal estava amarrado. O desfecho do filme é onírico e emocionante. Tomara que minha cabrita esteja bem...

Wesley PC>

Plastiscines

Conheci esta banda francesa formada só por garotas em meados de 2007 quando escutei e vi o clip da canção 'Loser', que por sinal é contagiante. Apesar do título em inglês a letra é cantada em francês. Elas cantam em francês e inglês, aliás o inglês vem com um sotaque bunilindo mon amour, hehe.

A música faz parte do primeiro CD da banda: LP1. Que é uma graça.


download aqui:http://www.filestube.com/fa67eae1619911f603e9,g/Plastiscines-LP1.html

O segundo CD: 'About love', de 2009, só foi escutado por mim no fim de 2010, e fez com que elas me conquistassem de vez, muito bom, música para se divertir, hehe. Bitch, Barcelona, I could rob you, Camera, são canções grudes das boas! A duas primeiras possuem clips divertidos no youtube!



download esperto: http://www.mediafire.com/?w3ueiltz0wn

As canções são legais e divertidas, toquem em suas festas! hehe


ps.: Interessante sempre ver esta troca cultural entre França e Inglaterra, em que cantor@s de ambas nacionaliddes se revezam cantando em ambos idiomas! Vide Marianne Faithfull, britânica, que canta uma de minha músicas favoritas: Hier ou demain- parte da trilha sonora do filme Anna (1967) http://filmow.com/filme/13706/anna/. Sem falar na Jane Birkin!



Américo!

domingo, 30 de janeiro de 2011

NA DÚVIDA SE É GUARANÁ LEGÍTIMO OU REMÉDIO PARA ABORTAR, TALVEZ O MAIS PRUDENTE SEJA JOGAR TUDO FORA!

Dentre as famosas “memórias inventadas” (ou seja, aquele tipo de lembrança infantil que é tão recôndita que até parece que inventamos) de minha vida, lembro quando minha mãe admoestava-me a respeito de um lugar apelidado de Serra Pelada, perto de minha casa, onde eu e meu irmão mais novo catávamos esterco de vaca para fertilizar as plantas de minha mãe, mas temíamos deparar-nos com os fetos lá jogados pela administradora de uma clínica clandestina de abortos amadores. Mais de 20 anos depois, uma das descendentes desta administradora, já falecida, entregou um saquinho com um pó amarronzado a minha mãe, dizendo que era legítimo guaraná da Amazônia. Empolgada, minha mãe derramou um pouco neste pó numa jarra de suco de maracujá, mas o gosto do suco ficou tão ruim que ela jogou fora, com medo de ser um abortivo qualquer...

Eu, porém, fui o escolhido para experimentar o tal suco amargoso, o que talvez pouco influencie, visto que eu temo que meus espermatozóides já são inférteis. Pelo sim, pelo não, as aventuras que eu elenquei na tal Serra Pelada, hoje território solene de traficantes periféricos de drogas, são deveras numerosas e, tendo visto o levemente decepcionante “Quadrilha de Sádicos” (1977, de Wes Craven), algumas memórias temerosas deste tempo voltaram à tona.

Em verdade, quando digo que o filme me foi “levemente decepcionante”, a culpa não foi de seu genial diretor e roteirista, mas sim de minha sujeição a uma publicidade genérica prejudicial sobre o referido filme, que destacou as suas impressionantes cenas de horror em detrimento da sagaz mistura de gêneros efetivada pelo cineasta que, além de tudo, é deveras autoral em sua tese de que a violência faz com que algozes e vítimas confundam-se enquanto lados opostos de uma dicotomia. Dizendo de outra forma: apesar de haver uma aparentemente clara distinção entre vilões e mocinhos neste filme, quando nos vemos torcendo para que um outrora pacato marido esfaqueie repetidamente um canibal fatalmente envenenado por causa de uma mordida de cascavel no pescoço, percebemos que há algo de errado conosco, e que isto tem muito a ver com uma sociedade tolhida pela cultura da violência supostamente justificada, equívoco este que regressaria em diversos outros filmes clássicos deste genial autor de cinema.

Posso não ter gostado suficientemente deste elogiadíssimo filme numa primeira sujeição espectatorial, mas, enquanto tese sociológica, fiquei espantado com a sua proficiência. Muitíssimo impressionante! Com todos os problemas detectados, mais do que recomendo. E olha que eu ainda sinto o gosto ruim daquele pozinho amarronzado em minha boca...

Wesley PC>

UM ANO DEPOIS, NÃO É BEM ASSIM QUE EU QUERIA ME LEMBRAR DE TI OU AS DECLARAÇÕES SOLITÁRIAS DE AMOR PELOS CANTOS E A QUEDA DO VIADO:

Às vezes, flagro a mim mesmo repetindo um nome de ser humano, enquanto me apóio nas paredes do banheiro, enquanto meu irmão ouve o que parece ser uma prece do seu quarto e pergunta o que há de errado comigo, que pessoa é aquela cujo nome é evocado com tamanho fervor nos horários mais inconvenientes, com uma altura que parece denunciar bem mais do que uma simples devoção amorosa (ou algo que se preze)...

Faz um ano que eu o conheço e choveu anteontem. Ontem eu pensei que fosse chover também, mas não choveu. Pelo menos, não do céu em direção à terra onde eu punha meus pés num intervalo de 24 horas. Uma mesma canção anglofílica era executada, tema de filme, que eu havia escutado pela primeira vez na noite anterior, enquanto enviava uma mensagem em inglês para um moçoilo interiorano. “Enough English!”, disse o meu interlocutor, enquanto um montículo carnal se formava no vão das pernas de um vizinho que dormia. Ou quase dormia. E nem mesmo assim estavam protegidas as palavras devotas de serem mal-interpretadas por familiares que despertaram incomodados com o barulho do telefone celular!

Um filme em episódios sobre pessoas que se apaixonam numa grande metrópole e um pós-aniversariante que gosta de futebol. Na tarde de hoje, um bode e uma cabra saíram amarrados de minha casa. “Um ano se passou desde que te conheci”, insisti, enquanto lembrava do que eu não queria lembrar, de apetrechos comerciais que me pareceram propositalmente de mau tom. Mas nem mesmo assim...

Capítulo XVII: “Grande é o poder do tempo. O próprio braço da dor, quando não consegue esmagar a sua vítima, por fim de contas esmorece fatigado, e o seu estilete, por mais buído que seja, acaba de embotar-se” (“O Seminarista” – 1872 – Bernardo Guimarães). Mas ainda faltam páginas e capítulos e lembranças e imitações de sensações e tentativas e anseios e desejos e dilemas... Minha mãe pergunta se eu não sairei mais de casa. Eu pergunto a um terceiro a que horas ele sairá de casa. Posso ir contigo?”. Ano retrasado, era ele!

Fosse ontem, era dia de festa: meu irmão mais novo completou 28 anos de idade. Já houve dias em que eu dormi em seu quarto. Ele viajava. Sua cama fica num local mais escuro. Agora, tem até um aparelho de TV, mas ele não gosta de ver “Big Brother Brasil 11”. Melhor para ele, ao contrário do meu vizinho do montículo de carne genital, que sorriu deveras quando um homossexual pernambucano escorregou ao abraçar alguém. Quando um não está longe, é o outro. Quando não, são os outros. Às vezes, há dias em que todos estão longe ao mesmo tempo. E não era bem assim que eu queria me lembrar dele(s), Mas me apóio na parede para pronunciar o seu nome...

Wesley PC>

NÃO É A MESMA COISA DEPOIS DE MUITO TEMPO, MAS SERÁ SEMPRE A MESMA COISA, POIS ESTA COISA FOI A COISA MESMA UM DIA...

As crianças de minha geração gastaram horas e mais horas de suas vidas diante da tela da extinta TV Manchete vendo o seriado japonês “Esquadrão Relâmpago Changeman”, produzido entre os anos de 1985 e 1986. Lembro que eu particularmente amava este seriado. Graças a um recém-graduado em Rádio/TV da UFS que soube de meu interesse compreensivelmente nostálgico pelo seriado, fui presenteado com um DVD contendo vários episódios do mesmo e, ao reassistir a dois destes episódios ao lado de um vizinho, como achei chato o que vi. O encanto das historietas se perdeu depois de mais de 20 anos e toneladas de fórmulas congêneres enfiadas diante de meus olhos, mas a graça dos personagens (principalmente, dos vilões) não! Como esquecer do tétrico Gyodai, da amargurada Shima, do paspalhão Gata? Revendo os episódios, torcia o tempo inteiro para que os vilões reaparecessem...

Para além da dicotomia planetária entre o esquadrão paramilitar do título e seus inimigos intergalácticos, os dramas pessoais dos personagens, apresentados timidamente em meio às pancadarias repetitivas dos episódios, é que me chamavam à atenção na infância e que me deixaram levemente encantados ainda hoje. Tanto Gyodai quanto Shima, bem como os demais tripulantes malévolos da Nave Gôzma, são meros fantoches chantageados pelo supremo vilão Bazoo. Seus planetas-natais foram destruídos e, como tal, eles são obrigados a servirem ao inimigo se quiserem sobreviver, mas, se me lembro bem, tanto Shima quanto Gyodai reabilitam-se moralmente ao final do seriado.

Se Gyodai, por um lado, era atormentado por sua aparência repulsiva, pela obrigação de ressuscitar monstros abatidos pelos Changemen e pelas dores que sente quando realiza este último feito, Shima era vitimada por um feitiço que a fazia falar com uma estrondosa voz masculina. Ainda sem entender direito os primórdios sexualistas que me atormentavam às vésperas de meus 10 anos de idade, era nela que eu depositava minhas esperanças de compreensão e identificação pré-homoerótica. Revendo-a hoje, não foi diferente: mesmo admitindo que o seriado é ruim visto hoje em dia, emocionar-me-ei deveras ao consumir novamente os 55 episódios desta preciosidade nostálgica de minha infância, de uma época em que sequer tive tempo para ser inocente...

Wesley PC>