sábado, 5 de março de 2011

MINHA IMAGEM PREFERIDA DO FILME “BRUNA SURFISTINHA” (2010, de Marcus Baldini), ANTES DO JULIANO CAZARRÉ APARECER...


Fiquei tão indignado com a má qualidade moral deste filme, inferior ao livro de puta no qual se baseou (já comentado aqui) que esqueci de mencionar em minha crítica que achei bonita a cena da foto, quando o cliente chocho interpretado por Cássio Gabus Mendes paga não para fazer sexo com a prostituta do título (Deborah Secco, esforçada, ao menos), mas para vê-la fumar à beira da janela. É uma cena rápida, tão curta, tão bem fotografada por Marcelo Corpanni, que indica que o filme poderia ser bom se alguém quisesse... Pelo jeito, venceu quem não quis! Pena...

Wesley PC>

A “SOLUÇÃO DE ERNEST HEMINGWAY”, NA PRÁTICA!

No belo filme francês e ginecofílico que comentei ontem, há uma cena em que dois mulherengos conversam sobre a vida. Um deles pergunta ao outro se ele lidaria bem com a velhice e com a impotência sexual, ao que este responde com um sorriso e com uma onomatopéia: “qualquer coisa, eu utilizo em mim mesmo a ‘solução Hemingway’ e, puf!”, disse ele, fazendo um gesto com o dedo apontado para a têmpora, como se fosse um revólver. Ele fazia menção ao derradeiro ato do escritor norte-americano Ernest Hemingway, que se suicidara aos 61 anos de idade.

Na manhã de hoje, assisti a uma palestra católica muitíssimo bem-sucedida sobre a necessidade de se fazer o bem ao próximo através da metáfora da lâmpada. “Quando nos iluminamos, iluminamos também a outrem”: dizia mais ou menos o palestrante do evento, que calha de ser justamente o irmão de um rapaz por quem nutro uma afeição cujo paroxismo pode até ser bem-intencionado, mas definitivamente não é católico. Enquanto ele falava, emocionado e crente, eu olhava ao redor, tentando interpretar como a sua platéia juvenil estava a receber as suas palavras de fé. Ele continuava: “não tenha medo se zombarem de vocês por serem católicos ou se te tacharem de loucos... Repitam consigo mesmos: ‘Jesus, eu quero ser luz!’”. E, nesta hora, eu pensava comigo mesmo: “hoje em dia, para ser religioso de verdade, a loucura e o suicídio surgem como alternativas sustentaculares”. Talvez fosse besteira, muita besteira (visto que o suicídio é um pecado grave e a loucura é uma doença não necessariamente voluntária), mas havia um resquício de coerência no que eu dizia a mim mesmo: é difícil ser religioso! É algo que requer a coragem de ser ridicularizado por aqueles que não entendem o que desejamos!

No caminho de volta para casa, tive o orgulho de conseguir conversar um pouco com o irmão do pregador e contei a ele algo que me chocou recentemente: o cineasta italiano Mario Monicelli, já elogiado aqui no ‘blog’ pelo modo bem-humorado com que enfrentava os problemas inevitáveis da vida, suicidou-se no dia 29 de novembro do ano passado, aos 95 anos de idade! Pulou da janela do quarto andar do hospital em que estava internado para cuidar de um câncer terminal de próstata. Quem assistiu a qualquer filme prazenteiro deste genial cineasta, sabe o quanto esta última atitude (quase absurda) é prenhe de sentido e coerência discursiva, mas não há como não se espantar com o exagero tragicômico do gesto: acabar com a própria vida depois de ter sobrevivido a mais de 34.675 dias! Juro que sou pessoalmente contra o suicídio, mas pensando no que Ernest Hemingway e Mario Monicelli fizeram e na infeliz impossibilidade de pôr em prática, em escala sociológica mais ampla, as nobres sugestões religiosas que recebi hoje, resta-me esperar que a loucura não me aflija ainda, que eu ainda goze de um pouquinho de lucidez antes que ela me seja inevitável. Ou até que a eutanásia seja legalizada...

Wesley PC>

sexta-feira, 4 de março de 2011

QUE CONSTE DOS AUTOS QUE EU FUI ATÉ O BANHEIRO LAVAR UMA GOIABA!


O pior é que eu não tenho certeza sobre o valor do salário mínimo. Quanto é que eu recebo? Minha mãe precisa pagar os perfumes que comprou... Dia 04, hoje. Dia 5 é amanhã. Feriado de carnaval. Cinco dias de folga. Nosso acordo, meu e dela. “Separe o dinheiro do gás, visse?”. Tem gente que não se acalma. “Vai funcionar até as 20h, hoje?”, pergunta-me uma colega. Não sei, mas vim preparado. O menino novo também se chama Augusto. Digo “também” porque ontem eu encontrei um Augusto com fone nos ouvidos, quando eu acabara de encontrar um fone de ouvido abandonado no trabalho. Era justamente o que eu estava precisando! “Faz mal?”, perguntei. Ele respondeu: o que é que não faz mal hoje em dia?”. A resposta era uma nova pergunta. E que conste dos autos que eu fui até o banheiro lavar uma goiaba... Em outras palavras: ainda falta o muso!

Wesley PC>

FRANÇOIS TRUFFAUT GOSTAVA DE SEIOS (E NÃO SÓ ELE)!

Ainda na cena dos créditos, já vemos o belo par de seios de Jeanne Moreau em “A Noiva Estava de Preto” (1967, de François Truffaut). O suficiente para antevermos o quão rico será o filme no plano da fúria feminina advinda da tristeza e da perda: a protagonista vê o homem que ama desde a infância ser assassinado diante dela, em frente à igreja em que acabara de se casar. Ela, obviamente, tenta o suicídio, mas, depois, resolve consolar a si mesma de outra forma: “minha vida acabou quando meu marido morreu”!

Na manhã de hoje, uma mulher conversava sobre os problemas hormonais de sua filha, que menstruara somente aos 15 anos de idade, enquanto um colega reclamava de uma moça que trabalha conosco e que ignorou as pessoas que aguardavam por atendimento numa fila para ficar escolhendo qual bolsa comprar com o seu salário deste mês. Sendo o meu colega homossexual, ele aproveitou a oportunidade para lançar um chiste jocoso: “só podia ser mulher mesmo!”. Eu gracejei discretamente, mas, por dentro, discordei de seu tom discriminatório: mulheres fazem bem à saúde, conforme demonstra cada nova pérola truffautiana a que tenho acesso!


Wesley PC>

quinta-feira, 3 de março de 2011

SOBRE AQUILO QUE A PERSONAGEM DE SUSAN SARANDO TEM MEDO...

Hoje à tarde eu me senti tomado por um estranho sentimento de vazio. Não aquela tristeza (justificada?) que costuma me perseguir, mas uma sensação estranha de não-preenchimento, em muito similar àquela que assola a personagem de Susan Sarando em “As Bruxas de Eastwick” (1987, de George Miller), quando ousa desafiar o demônio que invocara a fim de atenuar a sua solidão andromaníaca. Uma sensação de desconforto que eu associei a alguma reminiscência subconsciente do pesadelo discreto nas postagens anteriores, mas que uma colega de trabalho disse, chistosamente, que tinha a ver com a camiseta feia que escolhi para trabalhar, num tom cáqui desinteressante. Ela, por sua vez, vestia um colete ‘jeans’ que a deixava com a impressão de ter uma menor estatura. Comentei isto com outro colega e ele brincou: “ela está murchando!”. E era esta a palavra que me faltava: senti-me hoje como se estivesse murchando. Não sei se era fome, estresse, carência, sono, insatisfação progressiva, mas senti medo. Por sorte, agora, estou um pouquinho mais aliviado: está na hora de voltar para casa e minha mãe cozeu pastéis de queijo. Em holandês: "é a vida curta"...

Wesley PC>

COR-DE-ROSA ME DÁ NOS NERVOS! (COMPLEMENTANDO A POSTAGEM ANTERIOR):

Ainda atormentado pelo pesadelo de ontem, sentei-me no sofá com o intento de escolher um filme leve para assistir. Optei pelo longa-metragem animado germânico “Princesa Lillifee” (2009, de Ansgar Niebuhr, Alan Simpson & Xu Zhi-Jian), sobre uma fadinha cuja maior diversão e alegria é colorir tudo de cor-de-rosa por onde passa, ao lado de seu porquinho voador Pupsi. Até o leite que ela toma é cor-de-rosa! E eu, que nunca gostei muito desta cor, me vi gradualmente convencido pelo otimismo da película, cujo enredo tem a ver com a necessidade de cooperação entre as diversas espécies que compartilham um mesmo reino. Ou seja, por detrás de toda aquela felicidade desejada e conquistada, a amargura cara ao ótimo cinema alemão de outrora perpassava a fita. E isto me fez recordar uma fantástica passagem do árduo livro de Johann Wolfgang Goethe que leio no momento: “Pois, se a esmeralda com sua cor magnífica faz bem à vista e até exerce um poder curativo neste precioso sentido, a beleza humana, por sua vez, atua com intensidade bem maior sobre nossos sentidos externo e interno. Quem a contempla não é tocado por nenhum mal: sente-se em harmonia consigo mesmo e com o mundo” (“As Afinidades Eletivas” – 1809 – Primeira Parte, capítulo 6). E, oh, meu Deus, como eu sinto que concordo com esta passagem!

Wesley PC>

“LOOK OUT, KID: IT'S SOMETHIN' YOU DID! GOD KNOWS WHEN, BUT YOU'RE DOIN' IT AGAIN”

Antes de dormir, eu finalmente vi “Don’t Look Back” (1967), clássico do cineasta D. A. Pennebaker que registra a polêmica passagem de Bob Dylan pela Inglaterra em 1965, exibido na TV Cultura, no início da madrugada de hoje. Num dado momento, perguntam ao artista o que ele acha que seus ouvintes juvenis pensam sobre as suas canções tão complicadas. Ele responde apenas que estes vêm vê-lo porque, antes de tudo, ele lhes proporciona entretenimento. Bob Dylan era um pessimista?

Dormi empolgado por causa do filme, afinal muito complicado e proveitoso. Sonhei que houve um acidente perto de onde eu trabalho: uma motocicleta havia colidido com um automóvel. Havia cinco irmãos sobre a motocicleta – e os cinco morreram! Havia um casal no automóvel – ele sai ferido, ela ilesa. Não sei por que razão, mas havia um forno crematório no local onde eu trabalhava e pediram que eu e meus colegas cremássemos os cinco corpos. A mãe dos cinco irmãos berrava de tristeza em frente ao nosso setor, enquanto as pessoas na fila reclamavam que ela estava querendo passar na frente deles, quando tudo o que ela queria era que eu depositasse as cinzas de seus filhos num crânio que ela trazia nas mãos. Era meio-dia, eu estava com fome, mas ainda havia muitas pessoas aguardando a vez para ser atendidas. Acordei apavorado.

Fazendo valer uma superstição típica de nossa família, que prediz que, ao sermos atormentados por pesadelos, devemos contá-los imediatamente para as paredes, fiz questão de descrever o referido sonho para minha mãe e meu irmão, que ficaram relativamente preocupados com o meu estado de espírito perturbado matinal. Aí eu esperei uma oportunidade e pus Bob Dylan para tocar no rádio:

“Come writers and critics
Who prophesize with your pen
And keep your eyes wide
The chance won't come again
And don't speak too soon
For the wheel's still in spin
And there's no tellin' who
That it's namin'.
For the loser now
Will be later to win
For the times they are a-changin'”…


Wesley PC>

quarta-feira, 2 de março de 2011

“AMIGOS SÃO APENAS UM OBSTÁCULO ENTRE VOCÊ E O SUCESSO” OU UMA LEMBRANÇA ATIVA DA NOITE EM QUE EU MIJEI NA MÃO DE FERREIRINHA:


A cada novo filme do Todd Phillips que eu vejo, eu constato que ele é, de fato, muito inteligente. Seja nas contradições midiáticas apresentadas em seu potente documentário de estréia [“Hated: GG Allin and the Murder Junkies” (1994), comentado aqui], seja no seu maior sucesso comercial até hoje [“Se Beber, Não Case” (2009), comentado pessoal e entusiasticamente aqui]. Acabo de ver outro de seus filmes [“Escola de Idiotas” (2006)], do qual extraí a frase aspeada que intitula metade desta postagem, com a qual obviamente mantenho uma relação de veemente discordância, mas que, dentro do contexto fílmico de que faz parte – um elogio romântico e invertido à competição entre machos – leva-nos à reflexão mais detida acerca dos papéis sociais a que nos vinculamos quando servimo-nos de estratagemas clicherosos para conquistar alguém por quem nos sentimos afeiçoados. Ou para tentar conquistar alguém por quem nos sentimos afeiçoados, no meu caso.

No meu caso, conta a tentativa. E hoje, fui de camiseta cor-de-rosa para o trabalho. Me achei bonito – e não fui o único. Recebi elogios de homens e mulheres. Um ex-aluno chegou a sugerir que eu procriasse com urgência, a fim de que enchesse o mundo com pessoais tão supostamente legais quanto eu. E teve um aluno bonito e pós-adolescente de Engenharia Agrícola que sorriu de meus gracejos burocráticos. Em mais de um sentido, portanto, me identifiquei com o personagem de Jon Heder no filme recém-visto. Ele é inseguro, ele é/era virgem. Ele gosta de uma vizinha bonita, que até retribui um pouco da atenção que ele lhe concede, mas ele desmaia quando se emociona demais perto dela. E, um dia, ele se embebeda. E eu me lembrei daquele dia em que eu mijei na mão de Ferreirinha, como parte de uma punição chistosa numa brincadeira de ‘Verdade ou Conseqüência?’: eu e meus amigos rimos tanto neste dia... E nos beijamos e nos abraçamos e fomos amigos, em mais de um sentido do termo. Mas, hoje em dia, é difícil encontrar quem mantenha os pêlos púbicos quase maiores do que a extensão do pênis em si. Sou um idiota mesmo!

Wesley PC>

EXISTE MESMO MÚSICA IDEAL PARA FODER?

Existem determinadas bandas que, à simples menção nomenclatural, levam os interlocutores de uma determinada conversação a concluírem que as mesmas são ideais para se ouvir enquanto se faz sexo. Portishead e Sugur Rós costumam ser mencionadas como este tipo de banda, mas, num diálogo travado com participantes de um congresso sobre diversidade sexual em Belo Horizonte, eu fiquei do lado daqueles que disseram que sexo em silêncio (ao menos, no que tange a interferências midiáticas) é mais interessante. Com isso, eu quis dizer que, se eu estiver ouvindo boa música enquanto dedilho alguém, caio no risco de prestar mais atenção à sonoridade musical que aos detalhes mutuamente encantatórios de um ser humano entregue à nossa libido. Como minhas experiências propriamente sexuais e dialógicas são exíguas, fica a hipótese...

Assistindo a um documentário [“Passage” (2010, de Brenno Castro], na noite de ontem, sobre a influência predominante da sonoridade francesa em alguns segmentos da MPB contemporânea – em especial, nalgumas canções suaves e melancólicas compostas por artistas paulistanos – entrei em contato com a elogiada banda francesa Nouvelle Vague, cuja cadência hipnótica que emula das vocalistas brasileiras costuma ser designada justamente como sendo ideal para se ouvir enquanto se faz sexo. Nunca tive a oportunidade, até então, de ouvir atenciosamente as canções desta banda tão conceituada pelos ‘pimbas’, especializada justamente em regravações melodiosas de clássicos da ‘new wave’ em língua inglesa, mas, se tudo der certo, até este final de semana, estarei ouvindo (e resenhando) a preciosa coletânea “Nouvelle Vague - Best of”, lançada no ano passado. Desde já, estou deveras ansioso, inclusive para ouvi-lo enquanto acaricio alguém... Ai, ai, quem dera!

Wesley PC>

terça-feira, 1 de março de 2011

“A NEGAÇÃO DO BRASIL” (2000, DE JOEL ZITO ARAUJO)

Quando eu vi este filme pela primeira vez, achei o seu tom persecutório um tanto prepotente: talvez por estar imbuído de preconceitos subconscientes, não percebi de imediato o quão prenhe de razão estava o narrador deste imponente documentário ao selecionar trechos impressionantes de legitimação do preconceito racial em telenovelas canônicas das emissoras Globo e Tupi. Revendo o filme na manhã de hoje, fiquei impressionado com o poder das denúncias apresentadas pelo diretor/roteirista/narrador. Em alguns casos, as situações de preconceito eram aberrantes: atores competentes reduzidos a personagens caricatos e/ou vilanescos por causa de suas características raciais (são tocantes os depoimentos de Milton Gonçalves, Zezé Motta e, principalmente, Léa Garcia, neste sentido); explicitação de situações em que ficaram visíveis a resistência do público audiente a tentativas autorais de democracia racial; e deturpações históricas de eventos enredísticos que abordam o tema da escravidão no Brasil. Assim sendo, modifiquei por completo a minha opinião sobre o filme: é corajoso e contundente. Recomendo!

Wesley PC>

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

‘GLEE’, O PALAVRÃO DE MELISSA LEO E A CULPA DO ÁLCOOL: ESBOÇO REFLEXIVO

Acabo de assistir ao 14º episódio da segunda temporada do seriado “Glee” [“Blame it on the Alcohol”, em referência a uma canção homônima de Jamie Foxx] e não sei dizer se gostei ou não, mas é muito divertido. Quando digo que não sei dizer se gostei ou não – mesmo tendo rido alto nalgumas cenas e apreciado deveras o dueto dos perosnagens Rachel e Blaine na canção “Don’t You Want Me?”, de The Human League – faço menção ao imbróglio moral do roteiro, que não consegue definir se está sendo apologético à liberdade de expressão etílica ou ao consumo do álcool por si mesmo.

Durante o episódio – em que surpreendentemente vemos os adolescentes que cantam no coral-título embebedarem-se numa festa e, posteriormente, ficarem dependentes de bebidas alcoólicas para manterem-se confiantes a fim de cantar e dançar um hino hedonista da execrável estrela ‘pop’ Ke$ha, numa apresentação que visa justamente conscientizar os adolescentes sobre os problemas causados pela embriaguez – não tive como me esquivar de questionamentos pessoais acerca dos porquês que me fazem insistir tão veementemente num comportamento abstêmio: em primeiro lugar, possuo irmãos alcoólatras e violentos; em segundo, frustro-me quando tanto conversar com amigos que não são tão legais e/ou inteligentes quando bêbados; e, em terceiro e definitivo lugar, não gosto do sabor de bebidas alcoólicas. Ponto continuando.

Uma vez, por volta de meus 14 anos de idade (ou antes), tentei me embebedar de propósito, só para saber como é que era, se aquilo faz mesmo a gente perder a consciência. Desmaiei ainda no terceiro gole de Pirassununga 51, arranhei a testa na queda, vomitei no portão de minha casa, alisei as costas do namorado de uma vizinha e fui despertado por meu irmão mais novo, já alcoólatra, comemorando que eu tivesse feito algo a que ele era acostumado. Não foi necessariamente um trauma, mas, antes mesmo desta experiência, já estava convicto de que os exageros etílicos não me eram agradáveis. De repente, me vem um seriado que mostra um bando de guris exalando sexualidade quando bêbados e o velho conflito entre fidelidade pessoal a determinados princípios e admiração erótica de pessoas que infringem os mesmos vem à tona. Interrompo, portanto, esta reflexão primária com a certeza de que foi muito engraçado ver a atriz Melissa Leo pronunciando o palavrão ‘fucking’ pela primeira vez na história da cerimônia do Oscar, quando recebeu um merecido prêmio de interpretação. Na vida pessoal, entretanto, não gosto muito de usar palavrões, visto que os considero preconceituosos (vide 'puta', 'viado', mongolóide) ou deturpações de coisas que eu aprecio (além dos já citados, 'foda', 'caralho', pôrra, etc.). Por isso, insisto: voltarei ao tema!

Wesley PC>

UMA OBSERVAÇÃO RECORRENTE SOBRE A CERIMÔNIA DO OSCAR:

Para além (ou aquém) da qualidade dos filmes concorrentes ou da justeza na entrega das láureas, o que mais me interessa na cerimônia do Oscar e faz com que, anos após ano, eu e alguns amigos de pré-adolescência reunamo-nos empolgados para assistir juntos ao evento, é que a cerimônia como um todo ainda é efetiva na celebração da Era Clássica de Hollywoodiana, quando filmes produzidos para serem prontamente consumidos pelas massas eram também prenhes de arte e reflexão, conforme se percebe nas obras-primas realizadas por Alfred Hitchcock, Vincente Minnelli e Elia Kazan, para ficar em apenas três nomes comumente reverenciados neste tipo de celebração. A cada ano que passa, porém, a cerimônia torna-se mais centrada na premiação em si e desdenha aquelas montagens com cenas de filmes maravilhosos, que fazem a alegria reverencial dos membros nostálgicos de minha geração. Na cerimônia de ontem, particularmente, foi notória e lamentável a ausência de homenagens mais demoradas a clássicos do passado, ausentes até mesmo quando um importante quarteto de figuras cinematográficas foi laureado com um honorário Oscar tardio pelo conjunto de suas obras (Jean-Luc Godard, que obviamente não compareceu à festa, entre eles!). Assim sendo, pouco importava para mim se era o filme do David Fincher ou o do Tom Hooper que levava os prêmios principais – não obstante eu preferir bem mais o primeiro que o segundo – mas a demonstração de que os estadunidenses, numericamente superiores em produção de bons filmes, têm consciência da decadência formal e estilística que avassala o seu próprio cinema. Mas eles pareceram não querer saber muito disso ontem à noite. Pena. Mas, ainda assim, eu e meus amigos divertimo-nos bastante enquanto víamos a cerimônia, conforme demonstrado na foto.

Wesley PC>

domingo, 27 de fevereiro de 2011

DE VEZ EM QUANDO, O ‘POP’ VEM E... PIMBA!

Recentemente, eu estava zapeando pelos canais televisivos de música, quando me deparei com o videoclipe da canção “Firework”, da musa adolescente Katy Perry, de quem eu particularmente não gosto. A música em pauta nem é lá grande coisa, mas possui um refrão choroso, uma letra de auto-ajuda e um videoclipe toa bonito que, não deu outra: vi-me emocionado diante desta pérola ‘pop’!

No videoclipe em pauta, diversas situações de enfrentamento emocional se descortinam enquanto a cantora fala sobre como, às vezes, nos sentimos mal: uma menina vitimada pelo câncer ousa sair de seu leito e assiste a um parto; uma garotinha gorda hesita em ficar apenas de maiô e pular numa piscina; um aprendiz de mágico é assaltado por um grupo de valentões; e um rapaz abobalhado fica em dúvida se levanta ou não para beijar o rapaz por quem está atraído. Aos poucos, a música vai ficando climática e os conflitos vão se resolvendo, graças à coragem e à determinação dos envolvidos, para os quais “ainda há uma chance”, visto que eles possuem uma faísca no interior de seus corações. Aí o refrão explode:

“Cause baby you're a firework
Come on show 'em what you're worth
Make 'em go ‘Ah, ah, ah!’
As you shoot across the sky ‘Ah, ah!’”


Isto, sim, é ‘pop’ bem-sucedido!

Wesley PC>

‘NEW BORN PORN’ (E TUDO DE BRABO A ELE RELACIONADO)

No filme que vi ontem à tarde, havia uma seqüência em que um ator pornô aposentado assistia a um filme, ao lado do seu contratador: na tela, um homem musculoso auxiliava uma mulher em trabalho de parto. Nem bem a criança é expelida de sua vagina, ele abaixa as suas calças e fode a criança ali mesmo, enfia o pênis na genitália minúscula da criança, que, obviamente, chorava de dor. Empolgado, o diretor intradiegético desta seqüência comemorava o efeito de choque que ela causou em seu companheiro de sessão (e a qualquer um que estivesse vendo o filme naquele momento): “este é o pornô recém-nascido!”, gritava ele. Eu e meu amigo Jadson quedávamos estupefatos diante do que víamos. Tratava-se do filme sérvio “Um Filme Sérvio” (2010, de Srdjan Spasojevic) e, pior do que o filme em si, é saber que há um amplo mercado consumidor para este tipo de atrocidade. Ao final da sessão, precisei de pelo menos meia-hora para voltar à realidade: em que mundo estamos, meu Deus?!

Fiquei imaginando comigo mesmo o que eu acharia do mesmo filme se ele fosse bem-realizado, se ele fosse menos disfarçadamente conservador do que se demonstra. Será que eu correria o risco de ser hipnotizado por este apelo à barbaridade? Será que minha abjeção erótica chega a este nível de concordância? Será que eu me excitaria diante de um ‘snuff movie’? Prefiro não responder obviamente com NÃO s sinceros e, ao invés disso, evitar terminantemente a retroalimentação de um mercado tão pavoroso de demandas desumanizadoras. Juro que fiquei com medo do filme, não apenas pela crueza da cena descrita (que, afinal de contas, é mais espalhafatosa do que aterradora), mas com a conjunção de fatores propagandísticos que me levaram a ver este filme ao lado de Jadson, que é bem mais impressionável e irritável do que eu em relação a filmes de má qualidade. E, definitivamente, “Um Filme Sérvio” é um mau filme em sua própria essência. Definitivamente, Srdjan Spasojevic não merece o fervor artístico de uma genialidade malévola que eu concedo a artistas reativos como Kurt Kren, Jörg Buttgereit, Pascal Laugier ou até mesmo o jovem Kim Chapiron. “Um Filme Sérvio” é decepcionante e vilanaz por dentro e por fora. Grrrrr!

Wesley PC>