sábado, 16 de abril de 2011

ENQUANTO CHOVIA, OS TAPURUS CAÍAM DO TELHADO E OS JUDEUS ERAM NOVAMENTE MORTOS DIANTE DE MIM...

Eram 17h40’ da tarde de sábado quando “A Film Unfinished” (2010, de Yael Hersonski) começou a ser exibido num canal fechado. Chovia. Espermatozóides de duas pessoas nadavam em minha garganta e larvas esquizóforas começaram a cair do telhado. “Talvez haja um rato morto lá em cima”, disse eu a minha mãe. Por causa da chuva, o sinal da TV por assinatura saiu do ar mais de uma vez. Estava achando o documentário chato, enfadonho, forçoso em suas perspectivas histórico-narrativo-dramáticas: quatro rolos de filme foram encontrados nos arquivos nazistas, contendo imagens de um filme mudo e inacabado sobre o cotidiano forjado de judeus confinados no gueto de Varsóvia. Alguns dias depois, todos eles iriam morrer!

Como eu vi o filme por acaso, depois de escolhê-lo ao zapear por vários canais, enquanto aquelas imagens atrozes de corpos sendo empilhados eram exibidas na TV, eu comia pipoca. As luzes de minha casa estavam apagadas e talvez algum tapuru possa ter caído na tigela. Tomara que eu não tenha ingerido alguma destas larvas por acidente... O gosto de sêmen ainda repercutia em minhas papilas gustativas: sêmen meu, sêmen alheio, sêmen de sábado pela tarde... Um sêmen inusual, mas bem-vindo. Fazia tempo que eu não gemia alto enquanto lambia uma genitália!

Apesar de admitir que o filme possui momentos efetivamente funcionais no plano do resgate mnemônico (dói assistir àquelas imagens cadavéricas de pessoas vivas e extremamente subnutridas sendo inclementemente espancadas por soldados alemães!), “A Film Unfinished” me pareceu bem mais oportunista do que sincero. Ao ver fotos da bela, jovem e sorridente diretora em sessões exibitórias do documentário, só confirmei a minha impressão: houve um desgaste sobressalente no que tange ao impacto cruel das imagens. O horror criticado enquanto ferramenta de propaganda, mas utilizado da mesma forma propagandística que se visava criticar. E aquele gosto bom de esperma me confundindo enquanto minha mãe varria o sofá e os tapurus insistiam em cair... Tive dó das larvas, por um momento: elas morrerão em breve, distante que estarão da carne morta que lhes serviria de alimento. Os espermatozóides em meu estomago também perecerão, mas serão convertidos num mais do que necessário humo anímico. Judeus sobreviventes assistiam às imagens e choravam, pois hoje são capazes disso: a vida se renova. E, “como não se sabem para que serviriam aquelas imagens se fossem editadas, podemos apenas especular”, diz a narração do filme. E é isto o que faço o tempo inteiro: especulo!

Wesley PC>

AS BARBARIDADES QUE COMETEMOS EM NOME DO CIÚME E DO CABOTINISMO, MAS QUE DIZEMOS QUE É EM NOME DA PAIXÃO...

De início, uma frase de efeito: acabo de ver o melhor filme búlgaro de minha vida! Levando-se em consideração que só me lembro de ter visto dois filmes búlgaros, sendo os dois do mesmo diretor, a frase de efeito acima talvez não seja tão publicitariamente favorável ao filme “Ivan e Alexandra” (1989, de Ivan Nichev), recém-visto no Eurochannel. Ainda assim, o filme me espantou deveras: e se fosse eu? E se fosse comigo?

No filme, um garotinho de nome Ivan (Kliment Corbadziev) tenta, em vão, conquistar o afeto de sua colega Aleksandra (Monika Budjonova). Estamos em 1952, véspera da morte do ditador Josef Stalin e ápice da paranóia socialista na Bulgária. As crianças são doutrinadas dia após dia para vigiarem a todos ao seu redor. Ivan é elogiado por seu poder de imaginação e ganha dinheiro para escrever peças elogiosas aos heróicos feitos dos cidadãos de Sofia. Um dia, no afã para atingir sua amada e esnobe Aleksandra, Ivan imagina-se desfilando num tanque de guerra pelas ruas de sua cidade e inventa uma estória sobre artigos bélicos encontrados numa caverna. O pai de Aleksandra é acusado de ser traidor da nação, de querer macular as glórias nacionais com a venalidade ao imperialismo internacional. Ele é, então, enviado a campos de trabalho forçado e Aleksandra é considerada pária por seus professores e colegas. Somente Ivan terá oportunidade e disposição para ficar ao lado dela e defendê-la de uma situação de vergonha que ele mesmo construiu e que, pela imagem final do filme, jamais irá reparar... E eu fiquei com um nó na garganta: e se fosse eu? E se fosse comigo?

Por mais resistente que eu me imagine, em momentos de bazófia, ao tal do ciúme, sei que minha resistência é equivocada: diz respeito unicamente à acepção fisiológica do ciúme, ao seu aspecto carnal mais externo, mas não me exime da acepção mais essencialista do ciúme, enquanto um sentimento malévolo, que confunde os demais sentimentos, que nos faz perpetrar atos injustos em prol da necessidade de saciação de um desejo prepotente... E, como tal, infelizmente, eu sou obrigado a confessar que sou ciumento sim. E não gosto disso! E, como tal, identifiquei-me e entristeci-me diante deste belo filme, não só porque poderia ser eu ou porque poderia ser comigo, mas porque poderia... E este verbo condicional é o que me apavora!

Wesley PC>

MAIS UMA NOTÍCIA DE POLÍCIA (POR DENTRO)

Eu suportava digna e tranquilamente mais um dia de trabalho como recepcionista, na manhã de ontem, quando uma colega dum setor vizinho chegou esbaforida em sua sala: ela informara-me que algumas de suas amigas, que estagiavam em colégios do bairro em que moro, foram aconselhadas pela polícia do Estado a saírem de seus trabalhos, em razão da suspeita de que gangues de traficantes ameaçavam entrar em confronto. As três principais escolas públicas do conjunto residencial em que habito foram evacuadas e, hoje, li um comentário de um assessor de comunicação, dizendo que tudo não passara de um trote. Telefonei para minha casa, ontem, e minha mãe dormia: estava com uma dor de garganta tão forte quem nem se preocupou com as sirenes ligadas dos camburões que atravessavam as ruas de nossa vizinhança. Quando cheguei em casa, depois de caminhar um tanto apreensivo pelos lugares de onde supostamente provinham os traficantes, soube que houve um tiroteio a apenas cinco ruas distantes de onde fica meu lar. Meus vizinhos estavam assustados, com as portas trancadas, segundo suposta recomendação policial. E eu não sabia o que pensar: aqueles efeitos da criminalidade alvoroçada e ascendente que não são devidamente percebidos por quem está imerso em zonas de tráfico e consumo de ‘crack’ – tão bem comentado por escritores como Paulo Lins – manifestam-se ao meu redor e eu temo ficar insensível ao problema. Ficar perenemente amedrontado também não me é uma solução válida. O que fazer, então? O que fazer?!

Wesley PC>

... “AND I THINK TO MYSELF: WHAT A WONDERFUL WORLD!”

Não sei que contingência me levou a este assunto, mas, em dado momento da tarde de ontem, um amigo de trabalho estava a me confessar que, quando estava prestes a realizar um espermograma, não conseguiu ejacular, pois havia muito barulho na sala destinada á masturbação clínica. Coincidentemente, na manhã de hoje, assisti a uma destas pretensas comédias românticas abobalhadas que são lançadas aos borbotões por Hollywood, ano após ano: tratava-se de “Plano B” (2010, de Alan Poul), protagonizado por Jennifer Lopez, atriz/cantora por quem nutro uma antipatia destacável, mas que me pareceu simpática neste filme em razão de algo inusitado no roteiro do mesmo. Inusitado, aliás, é que eu tenha achado inusitado justamente o fato de que, hoje em dia, até mesmo as comédias românticas mais abobalhadas fazem uso de ‘leitmotivs’ antes reservados às produções independentes. Afinal de contas, quando, em minha adolescência, eu cria que assistiria a um filme de grande orçamento, sobre encontros e desencontros proto-maritais, que tinha na inseminação artificial da protagonista o seu ponto de partida? A resposta vem na própria inseminação seminal a que Jennifer Lopez se submete: em 106 minutos de projeção, não há uma só linha dialogística em “Plano B” que mencione a palavra masturbação!

Para além de suas obviedades ideológicas em prol de um conceito nuclear de família capitalista, “Plano B” não somente conseguiu arrancar sorrisos de minha mãe, em cujo colo eu estava deitado e que quase aceitou responder às perguntas que eu lhe fazia sobre a ocasião de meu nascimento: “onde tu estavas quando a bolsa estourou?”, “meus irmãos mais velho tiveram ciúme de mim quando tu engravidaste à beira dos 40 anos de idade?”, etc., etc.. Como sempre, ela conseguiu se esquivar de perguntas inconvenientes que poderiam descambar em algo como “quem é meu pai?”. E, venhamos e convenhamos, uma sub-trama do filme, envolvendo um velhinho de 93 anos que aguarda 22 anos para casar-se com a mulher que ama me enterneceu, em especial, quando uma senhora idosa aparece cantando o sucesso musical cujo refrão intitula esta postagem. Pensando bem, se o filme falasse sobre masturbação, seria eu quem estaria a me desvencilhar das perguntas de minha mãe (risos)...

Wesley PC>

sexta-feira, 15 de abril de 2011

EU JÁ VI O HOMEM POR DETRÁS DO BOZO BOZOCA NARIZ DE PIPOCA SEM ROUPA!

Preâmbulo: “Após uma vida de alegria falsa feita com maquiagens e muitas drogas, durante um banho onde o excesso de purpurina escoava pelo ralo, houve a queda! Arlindo Barreto é levado às pressas ao hospital e fica internado na U.T.I. Durante uma de suas visitas, sua produtora Elisabeth (hoje esposa) leva consigo um pastor da igreja Batista. Um sono pesado cai sobre o palhaço, que após o coma, percebe algo diferente, Deus lhe havia feito um transplante de coração. Enfim, saiu do hospital. Começou a freqüentar a igreja. Oportunidades e convites surgem para o seu regresso à T.V, ao sucesso! Desta vez, Arlindo tinha sido transformado, um novo coração batia em seu peito em ritmo de louvor. Ele toma posse de seu chamado ministerial e começa uma nova vida com Cristo, a alegria perfeita!” (ver texto integral aqui)

O texto acima foi extraído de um endereço eletrônico apologético às conversões evangélicas. Recentemente, o tema foi discutido na cozinha de minha casa, visto que fiquei muito contente em saber que a evangélica Darlene Glória não se arrepende de ter ficado nua em seu filme mais famoso, “Toda Nudez Será Castigada” (1973, de Arnaldo Jabor). Disse ela: se eu não tivesse interpretado a Geni, hoje eu seria uma mulher muito frustrada!”. Descobri que a diva da pornochanchada Matilde Mastrangi também se converteu a uma destas igrejas em que o passado passa a ser motivo de vergonha. Será que ela renega os maravilhosos filmes que fez ao lado do David Cardoso? Ontem, eu assisti a dois terços de um destes filmes e, puxa, como a Matilde Mastrangi era imperiosa...!

Não me lembro de ter prestado atenção ao Arlindo Barreto quando ele interpretava o Bozo – até porque, desde que me entendo por gente, o espevitado Luís Ricardo é quem estava por debaixo desta pesada maquiagem – mas confesso que achei melodramaticamente aprazível a nudez do ator no episódio dirigido pelo inventivo John Doo em “A Noite das Taras” (1980). E que isso me sirva de aviso! Talvez eu esteja um tantinho frustrado por dentro... Aguardo conversão?

Wesley PC>

quinta-feira, 14 de abril de 2011

“NÃO SEI O QUE É MELHOR PARA VOCÊS: NÃO SABER NADA OU SABER O SUFICIENTE PARA SEREM ENGANADOS PELOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO”...

Extrair erotismo de uma câmara de tortura durante a ditadura militar brasileira é uma tarefa árdua e complicada. Quando o principal objeto humano do qual se extrairá este erotismo é uma freire fiel não somente aos princípios religiosos que jurou obediência mas também a um doutrinamento socialista de resistência, a tarefa fica ainda mais complicada: qualquer desleixo e a tarefa descambaria para a nocividade apolítica e/ou reacionária, mas Ozualdo Candeias merece aplausos pelo verdadeiro ‘tour de force’ ideológico-sensorial que adota em “A Freira e a Tortura” (1983), filme absolutamente genial que acabo de ver no glorioso Canal Brasil. Estranho, aparentemente incoeso, dúbio em alguns aspectos, mas genial acima de tudo!

Na trama, Vera Gimenez interpreta uma freira que é presa por estar praticando atos subversivos numa favela. Em outras palavras: ela dedica-se a alfabetizar pessoas que, no afã pela sobrevivência monetária, poderão sucumbir a uma subserviência (in)voluntária aos ditames enganosos dos meios de comunicação de massa, que, na época em que o filme foi realizado, serviam às enganações ditatoriais. Em primeiro plano, um inassumido jogo de sedução entre delegado torturador e freira temente a Deus é instituído. Em segundo plano, a lascívia selvagem dos demais prisioneiros denuncia um estado de progressiva desumanização que o encarceramento acelera. A montagem nunca facilita para o espectador: apesar do selo produtivo da Dacar, lucrativa empresa do muso da pornochanchada David Cardoso, o enfoque do filme é muitíssimo mais sério que qualquer espectador mais ávido por nudez poderia pressupor ou aguardar. Estou ainda me recuperando do impacto do filme, aliás. Forte, vigoroso, difícil (por mais “convidativo” que possa parecer, no plano da sexualidade gritante)... Uma peça magistral e subestimada de nosso Cinema Brasileiro. Com certeza, voltarei a falar sobre ele em outras oportunidades...

Wesley PC>

“EIXO DE DESENVOLVIMENTO = EIXO DE DEVASTAÇÃO E CONFLITO”

Quando o geógrafo Carlos Walter Porto-Gonçalves terminou a sua brilhante exposição verbal sobre “o papel da informação e da comunicação em tempos de neoliberalismo ambiental” na conferência de abertura do I Encontro Interdisciplinar de Comunicação Ambiental (EICA) nesta noite de quarta-feira, um membro da platéia com histórico de militância socialista em seu currículo ergueu a mão e, antes de fazer a sua pergunta, disse que, tal qual acontecera nas oportunidades anteriores em que ouvira o palestrante, estava sentindo tesão, de tão discursivamente válidas que foram as contribuições teóricas do mesmo. Sentado numa das últimas fileiras de cadeiras do Auditório da Reitoria da UFS, eu sentia o mesmo tesão: fiquei absolutamente absorto coma genialidade esquerdista do geógrafo, que abordou a temática a que se propôs a debater por um viés absolutamente surpreendente no que tange às negligências propositais de informação no trânsito meios de comunicação de massa => público. E, enquanto estudante de Comunicação Social com pretensões ambientalistas, aquela palestra foi mais do que um alento de inteligência e esperança intelectual, mas sim um verdadeiro clamor à atividade, uma declaração ferrenha de que ainda existe gente comprometida com o que é realmente relevante neste mundo. Numa expressão supra-interjetiva: Deus do céu, como senti tesão!

Perpassando todo o seu discurso pela análise das contradições, ambigüidades e discordâncias que eventualmente se manifestam na abordagem tipicamente oportunista dos temas ambientais nas transmissões midiáticas, o palestrante surpreendeu-me logo nos minutos iniciais, quando disse que não compartilhava da mesma empolgação do Vice-Reitor da UFS, professor Ângelo Antoniolli, no que diz respeito à exaltação quantitativa do incremento técnico-científico das causas ambientais. Se este último comemorava o surgimento e desenvolvimento de áreas de estudo como Engenharia Ambiental ou Contabilidade Ambiental, Carlos Walter Porto-Gonçalves apressou-se em dizer que “o tema é sério demais para a gente fazer com ele o que a gente está fazendo”... Na concepção acertada do palestrante, estamos vivenciando a aplicação irrestrita de uma nova lei de Lavoisier, em que tudo se transforma ou deve ser transformado em oportunidade de negócios, em tendência à mercantilização. Nas palavras do geógrafo, “o sistema-mundo atual é um sistema moderno-colonial. O colonialismo acabou, mas a colonialidade não!”. Não consegui me esquivar de emitir um grunhido de exaltação concordante neste momento. O cara é um gênio!

Destacando fatos históricos importantíssimos – desde um resumo dos efeitos dos principais efeitos que promoveram a gradativa institucionalização da problemática ambiental até depoimentos pessoais acerca dos motivos que o levaram a desfiliar-se do Partido dos Trabalhadores (PT) ou conversas objetivas com o líder ambiental, assassinado em 1988, Chico Mendes – Carlos Walter Porto-Gonçalves fazia questão de frisar que é radicalmente contrário à lógica espúria do discurso esquizofrênico ambientalista contemporâneo, que prega verdadeiros oximoros como “o mundo está acabando, vamos plantar mais árvores” ou instaura uma pseudo-cisão entre as lutas trabalhistas com base no argumento de que, ao engendrarem pela militância ambiental, genérica, étnica ou racial, os proletários estariam a se dividir em subclasses que só dificultam a investida sempre premente contra o Capital. E a cada novo fato gritante – e, não raro, obliterado pela mídia dominante e até mesmo por alguns focos alternativos de resistência política – que o palestrante apresentava, eu quedava-me mais e mais impressionado com o seu domínio de conteúdo, com as suas firmes convicções ideológicas, com a sua sagacidade humorístico-protestante em constituir verdadeiros jargões de genialidade iridescente (o adjetivo é proposital e vai fazer muito sentido para quem esteve comigo na platéia da mesma conferência!) como, por exemplo, este que se segue: “nenhum latifúndio merece ser chamado de improdutivo, pois eles sempre produzem fome, pobreza, miséria e iniqüidade”... Tem como não se tornar fã irrestrito deste verdadeiro mentor supra-universitário?

Em verdade, tive acesso ao pensamento de Carlos Walter Porto-Gonçalves antes desta palavra, graças ao seu livro mais famoso “A Globalização da Natureza e a Natureza da Globalização” (já citado tangencialmente aqui e aqui), que me foi apresentado por uma de minhas professoras favoritas, Sônia Aguiar, não por acaso, a coordenadora-geral deste importantíssimo evento. Por mais que eu não tenha entendido bem o que o conferencista quis dizer quando alegou que todos os líderes indígenas sul-americanos que ele conheceu ficaram fascinados pelo filme “Avatar” (2009, de James Cameron – que eu odeio, vide o porquê) ou por mais que eu tenha discordado levemente de seu argumento defensivo para que, “quem sabe um dia, a gente não possa ter um político que peça um voto de nosso inconsciente” (argumento este embasado numa supostamente reminiscência de nosso senso crítico inconsciente atrelado ao fato de sentirmo-nos mal-humorados nas segundas-feiras e contentes nos finais de semana, com exceção do domingo, em razão de nossa insatisfação com empregos que só fazem explorar nossa força de trabalho para retroalimentar o capitalismo), saí da palestra deste geógrafo me sentindo muito mais consciente de meu papel enquanto comunicólogo, enquanto vegetariano, enquanto consumidor midiático e enquanto ser social. E, tão entusiasta do tipo de “revolução de longa duração” quanto o palestrante, quando elogiou quando associou a expressão ao sociólogo italiano Antonio Gramsci, eu agradeço vivamente a minha amiga e colega de curso Isabelle Marques por ter enviado esta fotografia do evento, com certeza, um dos mais relevantes, emocionantes e impactantes de toda a minha vida. Muito obrigado mesmo!

Na saída do auditório, fui interpelado por alguns colegas de curso, que desejavam entrevistar-me, a fim de que eu dissesse o que tinha achado do evento em geral. De coração, acho que eles não poderão aproveitar muita coisa de minha fala, de tão rápido e empolgado que eu me manifestei. Eu não havia apenas sentido tesão durante a palestra. Eu literalmente gozei!

Wesley PC>

quarta-feira, 13 de abril de 2011

DE QUE ME SERVE UM ‘BLOG’?!

Hoje pela manhã, eu participei de uma reunião de trabalho, que tinha por intento preparar os funcionários do setor em que trabalho a utilizarem um novo portal cibernético, em vias de instalação. Achei a tal reunião demasiado monótona, visto que muito do que me estava sendo ensinado correspondia justamente ao tipo de manipulação textual que eu executo diariamente nos diversos ‘blogs’ de que participo. Mas, afinal, de que me serve escrever tão compulsivamente para ‘blogs’?!

Às vezes, eu me vejo fazendo este tipo de pergunta tola, irrespondível em essência, questionando o extremo poder catártico deste canal de expressão e comunicação midiática, que se tornou mais indispensável para mim do que terapia psiquiátrica para outros, mas desisto logo de insistir nos vãos questionamentos. Hoje eu re-percebi que, até mesmo no âmbito mais limitadamente profissional, os ‘blogs’ me são úteis...

Por falar em terapia psiquiátrica, fiquei a imaginar o que a protagonista de “Solitária” (2004, de Thomas Durchschlag), filme alemão que vi antes de dormir, escreveria se possuísse um ‘blog’: atormentada pelo distúrbio de personalidade ‘borderline’, elas conscientemente “estraga tudo ao seu redor”, não consegue lidar positivamente com o fato de estar amando alguém, não se controla no que tange à administração de sexo e drogas em sua vida... Tantos amigos meus desfilaram diante da tela através de projeções comparativas... Em mais de uma cena, eu me vi no papel dela, negando precipitadamente o convite de uma amiga para comer pãezinhos por estar lavando o banheiro, o mesmo banheiro em que ela se corta com freqüência...

Em verdade, “Solitária” não é um filme impressionante: pelo contrário, é muito tolo, óbvio, quase esquecível... Mas o percentual de identificação que percebi entre a personagem principal e algumas pessoas queridas que me cercam fez com que eu dedicasse uma atenção redobrada ao roteiro: sentir-se triste é muito perigoso para a saúde!

Wesley PC>

terça-feira, 12 de abril de 2011

“O MAIOR DESAFIO DA ESCOLA HOJE É ESTIMULAR A IGUALDADE SEM ESCONDER AS DIFERENÇAS” OU POR FAVOR, NÃO COMA O MEU PORQUINHO!

A frase entre aspas que intitula a primeira parte desta postagem foi a conclusão que ouvi numa matéria telejornalística, assim que cheguei em casa nesta noite de terça-feira, justamente quando eu organizava as minhas idéias para um artigo sobre desafios modernos da educação que eu precisava redigir. Mera coincidência? Obviamente, penso que não. Tomo a aquisição mui pertinente desta frase como um sinal, como um aviso, como uma advertência.

A segunda parte do título da postagem, por sua vez, é uma corruptela de um mote dramático do filme “O Homem do Ano” (2003, de José Henrique Fonseca), visto por mim no domingo, em que um casamento aparentemente bem-sucedido desanda quando a esposa assa, com a melhor das intenções, o leitão de estimação de seu marido na festa de seu aniversário. Ele irrita-se com o assassinato do animalzinho e, deste dia em diante, manifestará apenas desprezo e cólera por sua esposa, que é, afinal, assassinada por ele. O leitão havia sido um presente de um morador da comunidade em que o protagonista morava, em agradecimento por ele ter atirado num marginal local que o havia chamado de “viado” quando ele tingiu o seu cabelo de loiro. O fato lhe dá tanta visibilidade que até mesmo a polícia o respeita e agradece pelo “favor”. Mas nada poderá trazer seu porquinho de volta à vida...

Acabo de ler uma matéria policial em que o nome de meu cunhado mais velho constava como preso. Repito: por suspeitas referentes a um assassinato, o marido de minha irmã está, neste exato momento, dormindo numa prisão. Tenteio falar com ela e com uma de minhas sobrinhas, mas os telefones celulares de ambas estão desligados. Elas são muito orgulhosas e não querem nos dar explicações. Por dentro, entretanto, estou muito preocupado com elas. Gosto de minha irmã e sinto uma profunda comiseração pelo modo como ela conduz a sua vida. Ela, porém, não corresponde de todo a este afeto que por ela demonstro: por causa de minhas práticas eventualmente (homo-)sexuais, ela me considera tomado pela Pomba-Gira, amaldiçoado, indigno de respeito familiar. E tudo o que eu queria era entender e explicar que, para além destas diferenças, somos iguais, temos (literalmente) o mesmo sangue. Mas este é o desafio: se as escolas ainda lutam para pô-lo em prática, o que poderei eu fazer? Eu luto, por ora, luto bastante...

Wesley PC>

“RAPADURA FAZ TANTO MAL ASSIM, É?”

Cheguei ao trabalho me sentindo taciturno hoje. Estava preocupado com minha suposta inaptidão profissional na cobertura de um evento ambiental que ocorrerá aqui mesmo na universidade. Entrei em meu setor sem “fazer festa”, como disseram minhas colegas. Perguntaram se eu me sentia mal. Preferi não responder. Minha cabeça estava confusa. Minha chefa, que é diabética, estava almoçando. Lamentou que não houvesse uma rapadura ou um refrigerante ao lado dela. Outra colega de trabalho não sabia que era diabética e, por isso, me fez a pergunta acima. Minha cabeça está confusa ainda. Antes de vir para cá, aliás, estava lendo as derradeiras páginas do romance francês que estava lendo há algumas semanas. Um romance triste, em primeira pessoa. Interpelaram-me duas vezes durante a leitura: um menino que queria saber as horas e outro que queria saber se o restaurante estava funcionando. Senti-me anti-social ao responder laconicamente a ambas as perguntas. Minha cabeça está confusa, estou taciturno e calado. Bem que me seria de bom grado uma rapadura agora...

Wesley PC>

segunda-feira, 11 de abril de 2011

...E, DEFINITIVAMENTE, ELA NÃO MORREU EM VÃO!

Oficialmente, qualquer assunto pode ser convertido em pretexto erótico: na noite de ontem, enquanto eu angariava ereções de alguém que jazia confortavelmente em sua própria cama, conversava sobre as divergências legislativas entre países cristãos e países islâmicos. Portanto, fui abatido por uma ótima surpresa, na manhã de hoje, quando, ao ligar a TV para ver um programa aleatório qualquer enquanto coma algo antes de ir para o trabalho. Deparei-me com um documentário produzido pela HBO, chamado “Para Neda” (2010), em que a atriz Shohreh Aghdashloo narra a história real de Neda Agha-Soltan, estudante iraniana que foi assassinada durante protestos contra supostas manipulações eleitorais no Irã, em 20 de junho de 2009, aos 26 anos de idade. Ela era contrária ao regime ditatorial do atual presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, e planejava emigrar para a Turquia, onde podia vestir-se como queria. Levou um tiro na aorta e sua morte foi registrada através dos telefones celulares de ouros manifestantes. Em minha opinião, definitivamente, sua morte não foi em vão!


Assistindo ao documentário, obviamente focado em sua biografia e em depoimentos de sua família, fiquei chocado em descobri que a maioria penal das meninas em algumas regiões fundamentalistas do Irã é 8 anos. Ou seja, a partir desta idade, as garotas já podem ser condenadas à morte, e aguardar até completarem 18 anos para serem executadas! Sei que é complicado emitir pareceres sobre costumes e leis de civilizações alheias, mas não pude me esquivar de ficar em choque diante de revelações como esta. O documentário me emocionou, apesar de eu concordar com os depoimentos de alguns detratores, que alegam que o sobejo propagandístico despejado sobre as reações ao assassinato da jovem Neda Agha-Sultan é perpassado por um grau de orientação ideológica tão intenso quanto aquele que é intencionalmente condenado pelos produtores do filme. Em outras palavras: os detratores do filme alegam que a personagem real "era apenas humana" e que, portanto, isso não justifica que sua biografia assemelhe-se a uma hagiografia. Existem petições populares pedindo para que o local em que ela foi morta seja rebatizado com seu nome. Acho isto lícito, aliás. É mais uma compensação fetichista do que um arremedo de solução para o tipo de problema reivindicativo que abunda naquele país, mas talvez seja um começo. Visibilidade é algo cada vez mais importante nos processos hodiernos de participação e transformação políticas!

Wesley PC>

domingo, 10 de abril de 2011

NÃO É SÓ A BRIGITTE BARDOT QUE ESTÁ FICANDO VELHA...

O dono desta bunda foi tão relevante no processo de aplicação dos conhecimentos que se seguem à descoberta pré-adolescente da masturbação: ai, ai, quando eu me lembro... A cena em pauta pertence ao filme “Soldado Universal” (1992, de Roland Emmerich), visto por mim quando eu tinha mais ou menos uns 15 anos de idade. Na época, o protagonista do filme, o belga Jean-Claude Van Damme tinha 32 anos de idade e era saudável. Sentia uma atração justificada por ele, o que só era favorecido pelo fato de seus filmes de ação possuírem boas tramas, o que me levava a gostar dos mesmos por razões semelhante às dos fãs de pancadaria. Hoje, ele está velho. Nem tanto, na verdade (apenas 50 anos de idade!), mas sua saúde e reputação estão debilitadas por causa do vício em drogas e esteróides. E, se por um lado, ele serviu-se muito bem dos detalhes de sua conturbada biografia no surpreendente filme “JCVD” (2008, de Mabrouk El Mechri – já elogiado aqui), ele desperdiçou muito de seu potencial em filmes recente de baixo orçamento e publicidade quase nula. Ontem, vi um destes filmes pouco conhecidos de sua carreira decadente, “Até a Morte” (2007, de Simon Fellows), em que ele interpreta um policial anti-narcóticos viciado em heroína, que luta para reconquistar a sua esposa grávida de outro homem. Um filme que exala decadência do começo ao fim, em que o astro, na época das filmagens, beirando os 46 anos de idade, estava feio, fraco, visivelmente combalido por dentro e por fora. Deu pena. No plano da auto-manipulação genital, este lutador já me causou tantos gozos...

Wesley PC>

“DEUS ME ACORDOU CEDO HOJE, E ME MANDOU CALAR A BOCA”!

A frase-título faz parte de um poema de ‘hip hop’ que é discutido em sala de aula por alguns dos personagens de “Os Inquilinos” (2009), considerado um “filme em tom menor” de Sérgio Bianchi por ser mais ficcional do que provocador, mas, em minha modesta e subjetiva opinião, os resultados aqui obtidos são cinematograficamente mais interessantes do que aqueles que chamam atenção e polemizam em “Cronicamente Inviável” (2000) ou “Quanto Vale ou é Por Quilo?” (2005). Gostei muito do que vi no filme, apesar de amigos confiáveis terem efusivamente desgostado dele!

Na trama, que trabalha muito bem as induções progressivas do suspense hitchcockiano para as áreas fronteiriças das favelas brasileiras, uma família composta por mãe, pai e dois filhos incomoda-se bastante com os três novos vizinhos da casa ao lado, locatários da ex-esposa de um velhinho, suspeitos de serem traficantes e seqüestradores, baderneiros inveterados. Apesar de os comportamentos dos inquilinos serem reprováveis no plano da boa convivência societal, o filme reluta em culpá-los efetivamente de algum dos atrozes atos de violência a que a família protagonista é acostumada a ver na TV. Intimados com esta suspeita que não se resolve, os membros mais velhos desta família (e os espectadores, por procuração de perspectiva de câmera) gastam minutos preciosos espionando as atividades dos vizinhos através das frestas de janelas, persianas, cobogós, num tipo de atitude que assemelha-se bastante ao que eu costumo fazer em relação aos meus vizinhos sensuais de outrora. Numa cena, a mãe de família explica para as amigas como um dos jovens suspeitos de serem bandidos urina. Noutra, genial, um zumbido insuportável invade a banda sonora do filme enquanto a esposa reclama com seu marido da barulheira que os vizinhos estão fazendo, altas horas da madrugada. Numa terceira cena, genial e ainda mais hitchockiana, o marido se vê observado pela própria mulher quando vistoria a residência dos vizinhos, em busca de algo que os incriminassem. Tudo isso em meio às clássicas reclamações esquerdistas do diretor: crianças são vistas ensaiando coreografias eróticas no meio da rua; o pai de família tenta convencer, sem sucesso, seu patrão a assinar a sua carteira de trabalho; crises de ciúme misturam-se aos temores de violência urbana suscitados pela presença incomoda dos novos vizinhos; alunos de um curso noturno entram em atrito verbal com a diretora do colégio quando esta declara que não suspenderá as faltas justificadas pelo medo de um “toque de recolher” perpetrado por traficantes de drogas... Em mais de uma situação, fui tentado a crer que este “filme em tom menor” do diretor é mais efetivo e qualitativo que seus dois filmes mais famosos...

Curioso foi o fato de eu ter acesso a este filme justamente quando os vizinhos de minha rua passaram a demonstrar pavor por causa dos novos moradores da esquina: o antigo casal morador divorciou-se e eles locaram a casa a homens suspeitos (ou melhor, comprovados) de estarem vendendo e consumindo ‘crack’ durante quase toda a extensão do dia. Os vizinhos – incluindo, minha mãe – estão apavorados. E eu disponho, assim, de mais um argumento pessoal em defesa deste ótimo filme. Ótimo mesmo!

Wesley PC>