sábado, 4 de junho de 2011

"QUEM ME DERA AGORA, EU TIVESSE A VIOLA PRÁ CANTAR"...

Antes de iniciar a sessão de "Uma Noite em 67" (2010, de Renato Terra & Ricardo Calil), no Canal Brasil, o crítico e apresentador Amir Labaki comentou que "o riquíssimo material de arquivo e os depoimentos coletados são os tijolos audiovisuais do filme". Eu digo mais: são também a argamassa, os alicerces e o telhado do filme! Se não fosse a recuperação daquele lendário programa da TV Record, o que seria deste filme? Sei que parece um paradoxo nulo, mas a distinção faz muitíssimo sentido: enquanto filme, "Uma Noite em 67" é apenas mediano, mas, no que tange à empolgação documental, ele nos faz pular da cadeira! Eu e minha mãe estivemos juntos na sala, enquanto o filme estava sendo exibido, e, puxa: muito bom!

A maioria das estórias e polêmicas que cercaram o evento/festival já eram conhecidas, mas o modo (linear) como foram alinhavadas no filme é digno de nota: puxa, como o Gilberto Gil parece cada vez mais digno nos documentários! Caramba, como os repórteres de antigamente eram simplistas! Nossa, como o Chico Buarque envelheceu (em mais de um sentido)! Impossível ficar calado ou livre das exclamações diante do filme: pode não ser tão bom enquanto tal, mas que é inevitável sair da sessão querendo baixar "Ponteio", do Edu Lobo e Capinan, para ver se o prêmio realmente foi merecido, ah, isso é!

Por falar em prêmio, cabe destacar aqui o meu espanto e desamparo competitivo diante de uma amostra musical em que Caetano Veloso, Gilberto Gil, Roberto Carlos, Chico Buarque, Sérgio Ricardo e muitos outros eram concorrentes! Repito: concorrentes! Como é que pode?! Hoje, o mais parecido que se vê na televisão são as atrocidades de programas como "Ídolos". Difícil não sentir uma invejinha sessentista neste instante... E, se fosse para eu escolher apenas uma daquelas canções, de fato, "Domingo no Parque" levava meu voto: aquela apresentação multi-rítmica é soberba! Dá-lhe Os Mutantes!

Mas, como não poderia deixar de ser, tenho que falar de minha adesão de carne e osso ao gesto de indignação do genial Sérgio Ricardo, que atirou sua viola contra o público, quando este impede que ele interprete sua canção, destroçada em meio a uma cruel saraivada de vaias: "vocês são inteligentes, eu presumo. Quando estão vaiando a mim, estão vaiando também a si mesmos!", diz o compositor, antes de seu ato impetuoso de cólera reativa, do qual, felizmente, ele não se arrepende hoje em dia... Ah, se fosse eu, quem me dera ter coragem de fazer o mesmo!

Frisando a distinção inicial, portanto: o filme pode não ser lá essas coisas todas, mas o material de arquivo ali apresentado é um verdadeiro tesouro histórico nacional. E, nesse sentido, quero aproveitar a deixa para agradecer a uma passional indicação do referido filme no Twitter: Thiago Deus, esta postagem laudatória e imediatista é para ti, visse?

Wesley PC>

FABIAN GUGGISBERG VALE O ESFORÇO!

Na manhã de ontem, eu assisti a uma reunião entre professores de meu curso, administrores da Universidade em que estudo e alguns alunos que protestavam contra o descaso que os segundos tratavam os primeiros e, por extensão, os terceiros e todos os outros. A reunião terminou aos berros: "se feijão com arroz todo dia enjoa, imagine promessa requentada!". Os professores saíram correndo do auditório, pelo visto, não querendo se envolver com o vigor protestante dos alunos, que, há alguns dias, ocupam algumas salas da Reitoria da UFS. E, nesse entretempo, eu luto com a empresa Oi Fixo para ter o direito de falar novamente ao telefone: desde o dia 25 de maio que meu telefone não funciona e eu ligo diariamente para reclamar. Recebo prazos de 24 horas que se acabam e ninguém faz nada. Até maltratado pelas telefonistas eu já fui... Um absurdo!

Na reunião supracitada, os professores defenderam a necessidade de liberação do acesso às redes sociais virtuais nos laboratórios de Comunicação Social, visto que estudamo-nas em algumas disciplinas e necessitamos das mesmas como ferramenta profissionalizante. Eu concordei com a reivinidicação, à distância, enquanto me preparava para ligar pela enésima vez para a Oi Fixo. Já estou esgotado de tanto me estressar com funcionários mentirosos, que lidam como se estivessem a me conceder um brinde, no que tange à anotação de minhas reclamações sobre a urgência no conserto de meu telefone. Por sorte, esta semana meu telefone celular está a funcionar direito (risos)...

Chateado que estou por causa deste problema, tive pouco tempo para pensar no que escrever aqui. Até que me empolguei diante de um festival de curtas-metragens no canal fechado Eurochannel. Para meu desgosto, a maioria dos filmes eram medianos, mas o último, o suíço "Rabiscos & Cócegas" (2009, de Amaury Berger), em que uma funcionária de papelaria apaixona-se pelo belo fazedor de crepes interpretado por Fabian Guggisberg. Mas o desencontro lancinante de suas atividades telefônicas dificulta o romance - e, mais uma vez, eu me identifiquei: preciso falar!

Wesley PC>

sexta-feira, 3 de junho de 2011

ANTES A NUDEZ GRATUITA QUE NENHUMA! (KKKK)

Quando o ‘thriller’ cru e independente “Henry – Retrato de um Assassino” foi lançado em 1986, o nome do diretor John McNaughton logo despontou como uma promessa alternativa mui vigorosa. À medida que ele foi avançando em sua carreira, porém, tal promessa esfriou e ele foi relegado a uma categoria hollywoodiana menor. Um de seus filmes que mais conseguiram sucesso de público foi o hiperestimado “Garotas Selvagens” (1998), famoso por um intenso beijo lésbico entre Denise Richards e Neve Campbell, mas que me chamou a atenção pelas reviravoltas tramáticas surpreendentes que aconteceram durante os créditos finais e por uma cena gratuita de nudez do personagem coadjuvante de Kevin Bacon.

O que eu quero dizer com “cena gratuita de nudez”? Que a cena pouco acrescenta ao desenrolar dos acontecimentos policiais do filme, apesar de sua ostensividade demorada. Se eu acho que isso seja um problema? De jeito nenhum, mas, no caso do filme em pauta, não deixa de ser surpreendente. Digo mais: depois desta cena (repetida N vezes quando o vi em vídeo pela primeira vez – risos), percebi que o ator Kevin Bacon costuma aparecer nu nos filmes em que aparece, o que, insisto, não é nenhum problema, muito pelo contrário, aliás. Ontem à noite, eu assisti a um de seus filmes antigos [“Ela Vai Ter Um Bebê” (1988, de John Hughes)] e, até mesmo aqui, que é um filme leve e pós-adolescente, ele aparece em várias cenas, de cuequinha apertada, tanto é que, no enredo do filme, o uso reiterado destas cuecas faz com que ele fique estéril. Se eu acho isso um problema? Ah, meu bem, se eu pudesse engravidar alguém, a oportunidade ideal seria esta! (risos)

Wesley PC>

UM GRITO REAL, UMA ANGÚSTIA REAL, UMA DÍVIDA REAL!

"Eu já comi muito cu de homem aqui em Aracaju. Pegava o homem e ia para a cama e, em vez de o homem me comer, quem comia era eu. Chegava num lugar assim, e ele me perguntava se eu tinha periquita. Eu dizia: 'pega pra ver!'. Quando ele pegava, o caete levantava. Aí ele dizia: "vamos ali prum lugar'. Ia pros matos e lavava o rabo na Ponte do Imperador... Hoje em dia, eu tô livre, bela e loira... (...) Eu faço cunete (prática sexual que consiste em lamber o ânus), faço de tudo com o homem. Nunca peguei AIDS na vida. E nunca usei camisinha. Já fiz exame, mas nunca peguei AIDS não. E não tenho medo também não!”

No final do ano passado, um amigo que está se licenciando em História entrevistou Magnólia, um conhecido homossexual sergipano. Achei tão brilhante o depoimento sincero e naturalista deste personagem real que, a fim de executar adequadamente uma atividade prática de aprendizado de Jornalismo, pedi autorização ao responsável pela captação do referido depoimento para utilizá-lo e transcrevê-lo sob minha responsabilidade. Ele permitiu. Entretanto, no momento de executar os meus intentos de publicação, esbarrei nas limitações e na censura institucional do veículo que me serve de laboratório textual: segundo minha professora - muitíssimo competente, aliás - a Universidade não veria de bom grado um texto em que pululassem termos como 'pica', 'foder' ou simplesmente 'cu'. Por mais que eu tenha suprimido alguns vocábulos considerados chulos na transcrição da entrevista, tenho certeza de que, ainda assim, não verei publicados alguns trechos essenciais da entrevista, como o que serve de epígrafe a esta postagem e a contagiante declaração nostálgica que a encerra. Pena. Mas que fique aqui registrado em voz alta que estou muitíssimo agradecido a Fábio Rogério, por ter me cedido as imagens de Magnólia, e à própria Magnólia, por ter existido. Digo mais: enquanto realizava a minha diligência acadêmica, descobri que Magnólia já tachara a minha mãe de 'bruaca', quando a segunda foi obrigada a negar atenção à primeira, quando esta insistia para adentrar as dependências do Hospital São Lucas, onde minha mãe trabalhou durante a década de 1980. Que honra!

“Mulher tem vagina, mas viado tem é cu e pica demais no cu inflama no outro dia. Quando eu era mais nova, tinha uma tara da peste por homem. Dava um montão de vezes por noite e só trepava sem camisinha"...

Grande Magnólia!

Wesley PC>

quinta-feira, 2 de junho de 2011

CURA PARA MINHA DOR NA COLUNA (SÓ QUE NO LUGAR ERRADO):

Quem quiser dançar comigo por estes dias, terá que se entrosar com o maravilhoso disco que corresponde à trilha sonora do documentário sobre música cigana "Latcho Drom" (1993), dirigido pelo expansivo Tony Gatlif, que pretendo assistir no dia 18 de julho, em comemoração ao aniversário de um grandessíssimo amigo. Enquanto a data não chega, utilizei estra trilha sonora para esquivar-me de uma esquisita dor de coluna (ou de alguma área circunvizinha à mesma) que me aflige desde anteontem, uma dor que possui píncaros de influência que até parecem agulhadas de vodu. Será que tem alguém tramando contra meu bem-estar? Pelo sim, pelo não, ouvir esta maravilha de disco nômade faz bem! Por mais doloroso que etsive meu corpo, é impossível não reagir à percussividade somática dele advinda e não rebolar pelas ruas... Lindo demais, recomendadíssimo! E, em breve, espero estar aqui falando do filme, visse?

Wesley PC>

quarta-feira, 1 de junho de 2011

SE A CHAVELA VARGAS FOSSE HOMEM E MORASSE NA AUSTRÁLIA...

A palavra "fossa", reinterpretada pelo senso comum, diz respeito àquele tipo de dor de cotovelo cujo portador acha que pode curar com a ingestão excessiva de bebidas alcoólicas. Não sei se funciona ou não (visto que, entre outras coisas, eu não bebo), mas ouço música de quem bebe. E, desde o meu horário de almoço, "En El Último Trago", na voz da diva hispânica Chavela Vargas, é o meu hino: "nada me ensinaram os anos/ Sempre caio nos mesmos erros/ Outra vez, a brindar com estranhos/ E a chorar pelas mesmas dores"... Em português, a rima se perde, mas não o sentimento!

Ainda no mesmo embalo etílico de cotovelo, assisti a um média-metragem australiano que me surpreendeu ao cabo da exibição: "Jewboy" (2005, de Tony Krawitz), sobre um rapaz cujo pai rabino acaba de falecer e, como tal, a comunidade de judeus ortodoxos em que vive insiste para que ele substitua o pai na função religiosa de liderança que o mesmo assumia. Ele, porém, não se sente preparado para tal. Chega mesmo a questionar se há um Deus nos céus e se Este ouve os seus clamores... Pior: na sua congregação, os homens são proibidos de tocar em mulheres! Triste e no auge de sua crise de identidade, ele abandona a sinagoga e vai trabalhar como taxista. Num ímpeto de desespero existencial, resolver visitar um estabelcimento onde se realizam 'strip-teases'. O final é dilacerador: recomendo!

Wesley PC>

segunda-feira, 30 de maio de 2011

NÃO ACREDITE EM DEMÔNIOS MENORES!

Apesar dos inúmeros elogios de público e crítica, “[Rec]” (2007, de Jaume Balagueró & Paco Plaza) não me convenceu enquanto filme de terror. Pareceu-me o desgaste de uma fórmula, que, se ainda parecia/parece bem-sucedida, é porque sabe servir-se muito bem do subtexto político naturalmente associado à proliferação de zumbis. Pois bem, assisti a “[Rec]2 – Possuídos” (2009) continuação do referido filme na noite de hoje, dirigido pela mesma dupla de cineastas espanhóis, e gostei menos ainda: se o desgaste formulaico de outrora ainda chamava um mínimo de atenção por causa da tensão despejada sobre o espectador, o filme mais recente pareceu-me uma concatenação mal-sucedida de gritos e supressão de luz. Definitivamente não me convenceu!

Há, entre um e outro filme, um diferencial pitoresco: apesar de o roteiro da nova película acentuar o que parece uma contigüidade temporal entre ambas as tramas, o enfoque pseudo-religioso é mais acentuado no último filme, que é mais uma perseguição por exorcismo do que uma fuga de mortos-vivos. E, nalgum momento da estória, eu me vi comparando o que era exibido na tela com uma experiência pessoal recém-ocorrida. Caminhava de cabeça baixa pela rua quando ouvi alguém me chamar: “ei, eu quero falar contigo, é assunto da UFS!”. Não sei por que esperei, mais algo no apelo daquele jovem descamisado me pareceu justificadamente atraente. Diante de mim, com o peito nu à mostra, ele disse que estudava Engenharia de Pesca, que morava em Neópolis e que tencionava transferir seu curso para uma faculdade alagoana. E eu limitei a responder apenas ao que ele perguntava, cumprindo rigorosamente uma ética profissional, mesmo fora – tanto espacial quanto cronologicamente – de meus limites diretamente empregatícios. Afinal, eu despedi-me dele, que insistia em gritar algo para mim, à distancia. Era apenas um rapaz interiorano gentil, sem más intenções, enquanto eu caminhava, ainda de cabeça baixa, remoendo o que faria se tivesse 1% do elã luxurioso que muitos crêem que eu, de fato, possuo... Ah, se eu pego aquele guri! (risos)

Wesley PC>

PEVEDUTISMO:


“ – Motorista, este ônibus vai pra praia?
- Depende. Se tu conseguires por um biquíni nele”...


O diálogo foi real, e fez com que uma colega de trabalho chegasse às gargalhadas no setor em que trabalho, na tarde de hoje. Meu irmão me telefona: esperei-o debaixo de uma árvore. Findei com R$ 40,00 nas mãos: precisava lhe devolver R$ 4,00. Comentei com um rapazola que queria ser lixeiro quando criança. Ele ignorou completamente o meu depoimento. Olhou-me nos olhos e foi como se dissesse: “estou pouco me lixando!”. Saí... 2/3 da Universidade estavam interditos por causa da implantação de um Peveduto, que, pelo que entendi, é uma marca conceituada na implantação de “um duto de polietileno de alta densidade para cabeamento subterrâneo em obras de infra-estrutura”. Quando tivesse acesso a esta informação, ainda não sabia do que se tratava. Agora sei. Por que eu não me sinto melhor?!

Wesley PC>

ROBERT MAPPLETHORPE É QUEM ME ENTENDE!

A foto acima chama-se “Derrick Cross and Friends” e data de 1982. Foi captada por um de meus fotógrafos favoritos, o norte-americano Robert Mapplethorpe (1946-1989) e tem tudo a ver com um evento pitoresco da manhã de hoje: um amigo de trabalho disse que acha um absurdo que eu já esteja no limiar dos meus 30 anos de idade e nunca tenha namorado, de maneira eu compromissou-se a me arranjar um pretendente, a fim de que eu não mais fique “de casinhos por aí”. Segundo ele, “um namorado é quem entende a gente”, pretensão esta que eu distancio de mim mesmo cada vez mais. Pelo sim, pelo não, se ele quiser me arranjar um talzinho, eu deixo. Afinal, quem sabe o saldo geral não me interesse? Digo mais: enquanto conversávamos, apareceu um galeguinho aqui no trabalho que se escandalizou quando eu disse que não aperto a mão de desconhecidos. Ficou rindo comigo, perguntando qual era a minha religião. Quase que eu digo para ele: Robert Mapplethorpe é quem me entende!

Wesley PC>

UM POUCO DE MÚSICA DE VIADO ANTES DE DORMIR...

“Reclined amongst these packs of reasons
For to smoke the days away into the evenings
All these poses of classical torture
Ruined my mind like a snake in the orchard”


“Abaixe!”, ordenou minha mãe. Será que ela sabia do que se tratava ou era somente por que o som estava alto, às 23h55’? O fato é que eu precisava ouvir “Poses” (2001) antes de dormir: fazia tanto tempo que eu não ouvia este disco na íntegra, de um dos primeiros artistas eminente e insistentemente homossexuais que conheci... Tão bom, tão sincero, tão triste: ideal para meu hodierno estado de espírito! Dá vontade de gastar páginas e páginas falando sobre como cada faixa do CD me afeta pessoalmente. Fica a promessa:

“'Cause I'm a one man guy in the morning
Same in the afternoon
One man guy when the sun goes down
I whistle me a one man tune
One man guy a one man guy
Only kind of guy to be
I'm a one man guy


Wesley PC>

domingo, 29 de maio de 2011

DEFINITIVAMENTE, A BELEZA DELA NÃO ESTAVA APENAS NA SUPERFÍCIE!

“ – Se nós ficarmos nesta fazenda, seremos tão ricos quanto os homem que acham ouro?
- Não, mas seremos mais ricos do que aqueles que não acham”...


Este diálogo é travado no início de “O Rio das Almas Perdidas” (1954, de Otto Preminger), em que Robert Mitchum interpreta um ex-presidiário que decide conhecer seu filho de 9 anos, depois que este fica órfão de mãe. Ele, porém, se perde na cidade, logo que chega, e fica amigo da cantora interpretada por Marilyn Monroe. Num momento mais avançado do filme, menino e cantora dialogam:

“ – Por que é que tu queres te casar?
- Porque eu me apaixonei.
- E o que é 'estar apaixonado'?
- É quando tu não comes, não dormes...
- Ah, é como uma dor de barriga?!
- Exatamente, só que no coração!”


Num acesso de ganância e desespero, porém, o namorado da cantora ameaça o ex-presidiário – agora, um pacato fazendeiro que só quer se defender dos índios – com um rifle. E os rumos do filme farão com que, numa cena conclusiva, a canora sussurre um “never” prenhe de paixão e melancolia na canção-título do filme, “River of No Return”, mais precisamente, quando ela cantarola o verso he’ll never return to me”. Infeliz de quem concorde com a impressão inicial do fazendeiro de que “ela é bonita apenas na superfície”. Mas não é mesmo: ela é bonita por completo! E o diretor Otto Preminger sabia tão bem disso que tudo no filme é pretexto para que a cantora exale sensualidade entremeada de tristeza: num momento, ela é enxugada – completamente nua, enrolada num cobertor – pelo fazendeiro, e a câmera focaliza sua expressão de gozo enquanto sua pele macia é massageada; noutro momento, num embate físico direto com ele – que, obviamente, terminará num beijo – a câmera gruda em seu generoso decote do corpete. Tudo neste filme contribui para que gemamos ao lado da loura mais famosa e trágica do cinema – e, definitivamente, a beleza dela não está apenas na superfície!

Wesley PC>

SOBRE TALVEZ EU NÃO TER A NECESSIDADE DE FALAR NADA – PARTE 2

Mais (ou menos) do que um vômito anímico, esta postagem tem também a função implícita de homenagear um ser surpreeNNdente que passou a trabalhar comigo há alguns meses e que, numa festa de trabalho, foi o alvo predominante de meus olhares analíticos numa festa de trabalho para a qual fui convidado ontem. Na festa em pauta, havia carne sendo torrada e sendo servida, carne emitindo um odor pavoroso de anuência criminosa que, como tal, devia ser mais julgada enquanto causa do que enquanto sujeição de entes queridos ao tal crime. Como respeitar o direito inalienável de alguém que gostamos deveras fazer, diante de nós, algo que repudiamos com todas as nossas forças? Como ser evangélico e permitir que um marido em potência acenda uma vela para Satanás diante de nossos olhos? Estas são duas perguntas, gêmeas em essência, que me tomam de assalto desde que pus meus pés no local escolhido para a tal festa, na tarde de ontem...

O local era bonito, as pessoas eram agradáveis, mas eu teimava em ser um disseminador intrínseco da tal “inadequação estrutural” que me assola e caracteriza, uma inadequação que talvez tenha sido descrita com melhor afinco aqui, uma inadequação que preciso lutar para que não se extinga, sobre pena de, assim, eu deixar de ser quem sou... Mas, também, uma inadaptação que preocupa quem se preocupa comigo. Ao chegar em casa, não soube o que dizer para minha mãe, quando esta reclamava: “não sei por que tu sais de casa, se é para voltar chateado do jeito que tu estás agora...”. Eu quis gritar para ela que, por dentro, eu estava bem, que me diverti, que estive entre amigo (e estive mesmo!), mas só pude sussurrar como um rapazola mimado: “por isso que eu não faço tenta questão de sair, tu bem sabes!”. Percebendo que talvez eu tivesse sido injusto, levantei-me da cadeira no exato instante em que terminei de pronunciar a tal frase sussurrada e a abracei. Mais: a beijei no ombro direito, um ombro que já me apoiou e me suportou inúmeras vezes – e que ainda não dá o menor sinal de que deixará de me apoiar ou suportar quando quer que eu precise, por mais cansado e/ou exaurido pela idade e pelos contratempos que ele esteja... Amo a minha mãe!

Liguei o computador, procurei algo para me consolar e, putz, encontro alguns ‘blogs’ um tanto merencórios justamente do rapaz com NN que me servira de foco na tarde inadaptativa anteriormente descrita. Não sei se ele achará de bom tom que eu o cite aqui, o que me leva a ser discreto em meus panegíricos subliminares, mas não me arrependo de ter saído de casa ontem à tarde. Ao menos, estive entre pessoas que se importavam comigo – apesar de perpetrarem ações que me desagradam pessoalmente – e diverti-me deveras numa piscina, ao lado de uma criança adorável, que calhava de ser neta da secretária do setor em que trabalho, com quem muito em identifico quando projeto-me com alguns anos a mais...

Na imagem que serve de moldura a esta postagem, eu deitava sozinho, afastado dos demais, numa cadeira branca. Eu meio que tentava chorar (ou desabafar, ou algo bem mais simples e intermediário entre os dois atos), mas não consegui: sentia-me por demais observado. Tanto é que, sem que o percebesse, estava sendo fotografado por uma amiga. Depois que percebi, levantei-me e fui congratular com eles. Dancei com uma amiga, mas fui aconselhado pela anfitriã da festa a ser mais discreto no modo sensual como eu dançava: “eles podem ficar olhando – e não entender”, disse-me ela, compreensiva e um tanto envergonhada. Eu a abracei e a obedeci. E, antes de partir, apertei a mão do rapaz com sovaco raspado que vem sendo citado com relativa freqüência em postagens recentes. Não foi uma concessão, mas, talvez, um “hábito”...

Wesley PC>

SOBRE TALVEZ EU NÃO TER A NECESSIDADE DE FALAR NADA – PARTE 1

Por que eu tinha de ver este filme logo na manhã de hoje? Por que os olhos azuis do Paul Newman por detrás (ou diante) de toda aquela injustiça perpetrada contra os índios? Por que logo aquela decisão triste e irreversível a ser tomada? Por que este apelo repetido que nunca se cala (como se, talvez, nunca fosse lido ou ouvido, apesar da insistência)? Por que tem que haver outros como eu (mas, às vezes, ainda não percebidos como tal)? Por que ainda se ama? Por quê?

Wesley PC>

DEPOIS DA EXIBIÇÃO DE “O HOMEM QUE SABIA JAVANÊS” (2004, de Xavier de Oliveira) NA TV...

Acabo de ver o telefilme citado anteriormente e confesso-me aqui impressionado com a qualidade da adaptação roteirística do ótimo (e injustiçado) diretor Xavier de Oliveira. Não somente ele acrescenta uma coloquialidade muitíssimo agradável ao conto como também conta com impecáveis interpretações de seu elenco insuspeito, tendo na figura do geralmente insosso Carlos Alberto Riccelli um desempenho mais do que excelente ou surpreendente, mas também comovente. Em outras palavras: o diretor e roteirista serviu-se muito bem do teor ferozmente crítico do livro e dota o protagonista de maior remorso que o mesmo personagem no livro. Há um momento em que Castelo quase chora. E, querido interlocutor, aquilo me emocionou: nunca havia sequer ouvido falar desta adaptação fílmico-televisiva para um conto magistral da Literatura Brasileira e, de repente, vejo-me diante de uma obra que fica a dever muito pouco ao tipo de adaptação que o centenário autor português de cinema Manoel de Oliveira costuma realizar sobre obras menos conhecidas de seu conterrâneo Eça de Queiroz. Assim sendo, assevero: “O Homem que Sabia Javanês” (2004) é uma ótima produção supra-literária e, como tal, merecia ser mais bem divulgado entre os brasileiros, para dizer o mínimo. Recomendo deveras!

Wesley PC>