sábado, 18 de junho de 2011

NÃO É APENAS NA CIDADE-LUZ QUE TUDO PODE ACONTECER [RELATO DE UM DIA (IN)COMUM SEM WOODY ALLEN]:

Quando eu saí de casa na manhã de hoje, tinha que resolver trocentos problemas, sendo um deles secreto (se der certo) até o dia 31 de dezembro de 2011. Efetivado o primeiro conjunto de táticas resolutivas, marquei com alguns amigos para assistir a um filme do Todd Phillips no cinema. Na fila, solto um grito quando descubro que o novo filme de Woody Allen estreou em Sergipe: “caralho, ‘Meia-Noite em Paris’ (2011) já veio para Sergipe?! Tenho que vê-lo agora!”. Liguei para os meus amigos e avisei-lhes que nossos planos haviam acabado de mudar: alguns Reais a mais, sessão das 17h10’. Compramos pão de alho com iogurte sabor salada de frutas e, enquanto aguardávamos impacientemente o começo da sessão, notamos que havia um rapaz muito bonito na sessão. “Caramba, lindo desse jeito e fã de Woody Allen, não se precisa mais nada!”. De repente, o gerente do cinema adentra a sala: “houve um problema no projetor e o filme não será mais exibido agora”. Lastimamos: pena, pena... De quarta-feira que vem não passa: temos que ver este filme o quanto antes!

Enquanto passeávamos pelo ‘shopping center’, a fim de consolamo-nos pela sessão protelada, percebemos que havia um belíssimo vendedor desfilando numa loja de roupas. Uma dupla de gêmeos apontou-nos para o pai: acho que estávamos fazendo muito estardalhaço risório em público, chamando a atenção de muita gente (risos). Mas, num dado momento, tivemos que nos separar: um de nós tinha que viajar para a cidade de Laranjeiras, onde enfrentaria seu pai alcoólatra; um segundo pegou um ônibus em direção a uma comemoração na Orla de Atalaia; e um terceiro, eu, teve que participar de uma festa de aniversário infantil no Rosa Elze. Dentre os convidados, um rapazola afetado da cidade de Simão Dias, que estuda Comunicação Social – Habilitação Audiovisual na UFS. Puxei assunto com ele, deu em cima descaradamente, mas o rapazola era tímido, inassumido. Disse que gostava do cinema almodovariano, mas não me pareceu muito convincente, visto que, segundos depois, ele disse que era fã da cantora baiana Daniela Mercury, que era “da massa”, que eu não me empolgasse muito com ele não. Tá certo: como se fosse assim fácil (risos). Mas nada como um dia depois do outro dia depois do outro dia e antes da quarta-feira...

Wesley PC>

DEFINITIVAMENTE, “I WANNA DO BAD THINGS WITH YOU”!

“When you came in the air went out.
And every shadow filled up with the doubt.
I don't know who you think you are,
But before the night is through,
I wanna do bad things with you”


Por um interessante e conveniente acaso, nos últimos três dias, eu assisti a alguns episódios da segunda temporada do seriado norte-americano “True Blood”, muitíssimo mais novelesco que os mais famosos exemplares bem-sucedidos deste gênero cultural televisivo. Se eu já era fã do misto de sensualidade e distorções políticas que fez com que eu consumisse com fervor a primeira temporada, nesta segunda as tramas paralelas e pungentemente dramáticas se multiplicam em ainda mais personagens, todos eles prenhes de mistério e fascínio, a ponto de deixar minha mãe perplexa diante da TV. A orgia sexual demoníaca que se estabelece no final do episódio 6, por exemplo, é impactante, inclusive dúbia em relação ao argumento central da série, em que a sexualidade é defendida como recurso de valorização instintiva: se algumas dezenas de pessoas estejam hipnotizadas por uma sacerdotisa satânica e fodam mecanicamente numa clareira, que discurso eroticamente defensivo pode ser extraído a partir daí? Resposta possível: a ode aos desígnios da liberdade de arbítrio, muitíssimo bem contextualizados através da brilhante montagem paralela de Louise Innes, que inclui também o regresso de uma vampira malévola ao convívio forçado do protagonista vampiresco, agora apaixonado (e redimido) por uma humana, e um iminente confronto na seita dos fanáticos que formam o Instituto Luz do Dia, onde o sensual personagem de Ryan Kwanten é seduzido por uma evangélica casada e sua irmã telepata é aprisionada pelo reverendo local, acusada de ser uma consumidora voraz de V, droga alucinógena e tonificante que é fabricada a partir do sangue de vampiros. Uau!

“I'm the kind to sit up in his room.
Heart sick an' eyes filled up with blue.
I don't know what you've done to me,
But I know this much is true:
I wanna do bad things with you”


Por mais que eu tentasse disfarçar a minha empolgação diante das inúmeras reviravoltas enredísticas deste ótimo seriado criado por Alan Ball, sempre que minha mãe me interrogava acerca do caráter de um determinado personagem, ao descrevê-lo, eu reconstatava o quanto o roteiro é genial, o quanto os personagens são rico em nuanças e variações (i/a)morais. Além dos chamarizes sobrenaturais evidentes do seriado (vampiros, humanos que se transformam em animais, invocadoras de demônios, etc.) e do erotismo reinante em cada episódio, os subtextos pulsantes em cada diálogo é que me chamam a atenção: o estranho dilema em que se encontra o personagem homossexual Lafayette (Nelsan Ellis), obrigado por uma vampira a traficar novamente V, justamente depois de ser aprisionado e quase torturado até a morte por esta vampira, justamente por vender V; os ciúmes que uma garçonete acostumada a se transformar em porco desperta em seus colegas de trabalho; as variações humorísticas sempre imprevisíveis da excitante Tara (Rutina Wesley); o inusitado romance entre uma vampira recém-criada, virgem e proto-violenta e um rapaz dominado pela mãe idosa e conservadora; as razões ocultas do líder vampiresco Eric (Alexander Skarsgård), que, aos poucos, revela seu passado ‘viking’... Tudo no impressionantemente bem-alinhavado enredo deste seriado tende a nos impressionar. E, de coração, eu admito: esta segunda temporada possui clímaxes ainda mais assustadores e dramáticos que a primeira!

“When you came in the air went out.
And all those shadows there are filled up with doubt.
I don't know who you think you are,
But before the night is through,
I wanna do bad things with you.
I wanna do real bad things with you.
Ow, ooh”


Entremeando a escritura desta postagem, incluí a letra da canção “Bad Things”, composta e interpretada pelo músico estadunidense Jace Everett, que embeleza ainda mais a extraordinária abertura do seriado, à qual, não me canso de reassistir. Para quem ainda não a viu (e sabe que está perdendo uma preciosidade audiovisual), eis o ‘link’ do YouTube com a mesma: confira se vale ou não a pena conferir audiência a este brilhante (ops, sombrio) seriado depois disso... E, digo mais: ter visto este seriado, com tudo o que ele implica, nos últimos dias, foi muito mais do que providencial: foi intracardíaca e genitalmente balsâmico!

Wesley PC>

sexta-feira, 17 de junho de 2011

FIQUEI IMAGINANDO SE ELA CAÍSSE... LÓGICO QUE EU A AJUDARIA!

Mais cedo, eu estava conversando algo com uma miga de trabalho, quando uma mulher extremamente peituda passa por diante do vidro espelhado que separa os funcionários do meu setor do universo ensolarado lá fora. Não era uma mulher jovem nem muito menos preocupada com sua aparência física (parecia muito cansada, aliás), mas somente seus dois seios poderiam alimentar uma família de antropófagos por pelo menos 3 dias. Imaginei-a tropeçando e caindo, de maneira que a vastidão de seus seios impediria que seu corpo tocasse o chão, formando um ângulo agudo de pelo menos 45º. Achei engraçado imaginar isso, ao tempo em que me prontifiquei imediatamente a ajudá-la, se ela efetivamente caísse. devemos sempre ajudar ao próximo!”, pensei de mim para mim. É verdade: o que eu mais preciso hoje em dia é ajudar ao próximo...

Ajudar ao próximo... Estou lendo agora um livro marcante por estimular seus leitores (ao menos, os estadunidenses) ao suicídio e, eventualmente, ao homicídio. Li apenas três capítulos, mas já intuí que o estímulo mortífero é premente, ainda que eu não tenha me identificado com o protagonista. Não direi ainda o título do livro, visto que tenho certeza de que voltarei a falar sobre ele aqui, mas, nos intervalos entre um e outro capítulo, fui confrontado por uma tristeza intensa. Enviei algumas mensagens de celular para amigos e estes me responderam prontamente. Da forma deles, eles ajudaram ao próximo (que sou eu) também. Mas um dos meus receptores de mensagem não quis saber do que eu falava. Quedou-se em silêncio, ferindo-me com uma das mais poderosas e cortantes armas humanas: a indiferença. Dei de ombros (ou fingi) e dormi cedo, sem ter visto filme nenhum. Acordei com uma dor leve na coluna...

Wesley PC>

quinta-feira, 16 de junho de 2011

VEREDICTO: UMA GRANDE DECEPÇÃO!

Como é que um filme tão sinopticamente inspirado como “A Árvore dos Sexos” (1977) pode dar tão errado?! Dirigido preguiçosamente por Silvio de Abreu e roteirizado, entre outros, pelo afetado crítico de cinema Rubens Ewald Filho, este filme tem um ponto de partida interessantíssimo: depois que é baleado em seus testículos, um barão mulherengo sangra sobre uma árvore que, anos depois, fará brotar frutos com formato de pênis (infelizmente, pouco explorados pelas câmeras do filme). Apesar do cheiro obsedante de esperma, estes frutos são devorados com fervor pelas mulheres da cidadela em que a árvore nasceu, com exceção de uma professora moralista e fervorosa, que prefere ser inaugurada sexualmente por um servente que estudou apenas até a quarta série (interpretado eroticamente pelo jovem Kadu Moliterno). Ao devorarem os tais frutos, as mulheres engravidam e, numa das poucas cenas brilhantes de todo o filme, várias adolescentes grávidas são expulsas de casa, ao som de uma ária operística, sob a acusação de terem se desviado, de estarem “perdidas”. Migram para um bordel campestre, até que, na segunda cena brilhante do filme, um surpreendente desfecho para todas aquelas gravidezes é posto em cena: ao cabo de 9 meses, as barrigas murcham como se fossem bexigas vazando! Não pude me conter e ri alto em plena madrugada! Entretanto, salvo por estas duas cenas destacadas e pelo charme cafajeste do tesudo Ney Sant’Anna, filho do cineasta Nelson Pereira dos Santos, o filme é muito ruim, popularesco, contraditório em seus juízos de valor e mal-conduzido à exaustão. Juro que me senti tentado a desligar a TV em mais de um momento, mas, afinal, os poucos bons momentos do filme compensaram tudo o que ele tem de ruim: pelo menos é curto (risos)! Não excita nem diverte efetivamente, mas merece ser investigado enquanto produto típico da Cinedistri, com tudo o que esta produtora tem de canhestra no que tange à disseminação de pornochanchadas, estas sim, dignas dos julgamentos demeritórios que o termo costuma receber nalgumas avaliações preconceituosas do egrégio e urgente cinema brasileiro...

Wesley PC>

quarta-feira, 15 de junho de 2011

DESTA FLOR, EU COMERIA TAMBÉM! (RISOS)

Mesmo quem nunca teve uma tara pelo ator e cantor Fábio Jr. deve ter fantasiado com as seqüências da telenovela “Pedra Sobre Pedra”, exibida entre janeiro e julho de 1992 e reexibida alguns anos depois, em horário vespertino, em que o seu personagem, Jorge Tadeu, já falecido, reaparecia durante as noites e transava com as mulheres que se alimentavam da flor de antúrio que brotava de uma estranha árvore nascida no meio da principal parca da cidade fictícia de Resplendor, no nordeste do Brasil. Eu tinha 11 anos quando a novela foi exibida e achava engraçadas as situações eróticas envolvendo o referido personagem e o apetrecho botânico que o ressuscitava para fins demasiado oportunos. Assim sendo, tomado de nostalgia, aguardo ansiosamente pela chegada das 0h15’, quando o filme brasileiro “A Árvore dos Sexos” (1977, de Sílvio de Abreu) será exibido num canal fechado, contando uma estória prévia e deveras semelhante, em que diversas mulheres engravidam depois que ingerem uma flor convenientemente fálica. Ê vontade...

Wesley PC>

A ARTE ‘POP’, A PSICOLOGIA, O CINEMA, O CAPITALISMO: TUDO SE MISTURA!

Brian De Palma não é inocente nem tampouco ingênuo. Quando ele optou pela feitura do documentário em curta-metragem “O Olhar Compreensivo” (1965), sobre uma exposição pioneira de ‘Op art’ ('arte perceptiva') no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), sob a curadoria de William Seitz e os auspícios empolgados do teórico da percepção visual Rudolf Arnheim, ele sabia que esta exposição (metonimizada na imagem acima) desencadearia na publicidade (metonimizada na imagem abaixo). Para olhos incautos e ainda não treinados pelas reflexões longevas sobre o olhar, que marcariam a obra posterior do genial Brian De Palma, “O Olhar Compreensivo” documenta apenas a tal exposição, como se fosse um daqueles programas de variedades e celebridades que hoje abundam na TV. Entretanto, os cortes abruptos durante o crédito inicial, o modo como as entrevistas são conduzidas (em que até mesmo a opinião de um adolescente janota é ouvida), as explicações minuciosas do curador, do psicólogo, de um oftalmologista e dos próprios artistas sobre os efeitos visuais e ópticos causados pelas obras e o congelamento da imagem final, sobressalente a alguns ruidosos depoimentos sobre a exposição deixam claro que a pretensa (e/ou falaciosa) objetividade da ideologia mais cara ao Jornalismo não é a tônica adotada no documentário: Brian De Palma faz arte enquanto mostra a arte, dotando-a de uma argüição política que talvez não se manifestasse originalmente, em que o deslumbramento diante das obras levou alguns visitantes da exposição ao cumulo de irem vestidos como se fossem uma escultura ambulante de ‘op art’ (ou 'pop art', que seja). Mas isto sou eu falando: quem quiser conferir o curta-metragem por si mesmo e refutar as minhas impressões (ou as do cineasta, ou as do curador da exposição, ou as do psicólogo, ou as dos próprios artistas, ou as dos visitantes), assistam ao filme e, depois, enriqueça-me com um comentário...

Wesley PC>

EU SERIA FELIZ SE ESTIVESSE EM COMA? ACHO QUE NÃO...

Felicidade no plano da inconsciência talvez seja algo que faça sentido hoje em dia, quando é cada vez mais doloroso e desconfortável insistir em se pensar, mas eu prefiro assim: a consciência que arde, acima de tudo!

Pensei nisto porque hoje dormi mais do que estou acostumado: capotei de sono às 19h de ontem e só vim despertar de fato às 6h de hoje, com alguns intervalos de atividade neste período. Como sói acontecer em períodos de hipersonia, acordei com a coluna doendo (desta vez, a coluna mesmo!), o que talvez seja a causa (ou a conseqüência) dos estranhos sonhos que eu tive: num deles, uma mulher enfia o dedo em meu cu, lá no trabalho; noutro, eu era paraplégico. Quando abri definitivamente os olhos, na manhã de hoje, minha cadela Sembene estava me lambendo. Olhei para minha região genital e, por causa do longo tempo sem urinar, estava com uma ereção. Olhei novamente para a tal ereção e fiquei encantado comigo mesmo, no que tange à exposição de uma “almofadinha genital” tão tentadora...

Apesar de já ter declarado, em diversas ocasiões, que me apaixonaria por mim mesmo se tivesse a chance de eu não ser eu, não me acho falicamente bem-dotado com a “sociedade do espetáculo” exige. Por mais que o meu pênis, do jeito que está, possa ser devia e proveitosamente apreciado, talvez eu não fizesse muito sucesso enquanto potencial astro pornográfico (risos). Digo mais: dia desses, ao conversar com um amigo gomorrense, expliquei-lhe novamente que excito-me muito mais com fotos em que o pênis do modelo esteja flácido do que aquelas triviais exalações pornográficas em que homens quase explodem suas ferramentas penianas numa artificialidade rígida, o que só fica pior quando eles besuntam o restante do seu corpo com óleo. Erca!

Voltando para o parágrafo inicial: o que faz com que eu aceite de bom grado a necessidade natural de dormir e descansar é que meu organismo sempre me propicia sonhos interessantíssimos e pesadelos providentes, que muito me agradam e perturbam ao despertar. Hoje foi um destes casos: além dos dois sonhos mencionados, houve também um longo ‘flashback’ atualizado de meus objetos eróticos de infância e uma perseguição em que eu assistia a um carroceiro armado ser morto pela polícia diante do supermercado em que eu desejava comprar alguns artefatos de cozinha. Tudo fará sentido hermenêutico nalgum instante, mas, por ora, o que mais me seduz e obseda é a beleza da formatação têxtil da ereção que vislumbrei pela manhã, algo que me fez ter certeza de que não somente eu me apaixonaria por mim mesmo, como eu também me foderia graciosamente se assim tivesse a oportunidade! (risos) Quem me diz que não?

Wesley PC>

terça-feira, 14 de junho de 2011

TONY GATLIF NA VEIA, MAIS UMA VEZ!

“Demasiado tiempo
Nos hemos quedado solos sin saber nada
Y hemos olvidado el olor al jasmin de tus jardines
Y poco a poço
Hemos olvidado tu idioma
Aquel de nuestra madre”


Estes são os versos da canção homônima que abre o álbum musical “Exils” (2004), que contem a magnífica trilha sonora do filme de Tony Gatlif que me atingiu em cheio há alguns meses: enquanto eu ouvia o disco, tudo o que o filme me causou veio novamente à tona, inclusive no que diz respeito a uma crise discursiva de avaliação de valores que se manifesta costumeiramente hoje em dia, quando nos deparamos com uma canção estrangeira de boa qualidade e uma canção nacional com estrutura chula e supra-mercadológica. Por que temos que escolher quando retiram-nos um dos mais básicos arsenais comparativos? Sei que, assim de supetão, minha reclamação interrogativa parece desprovida de sentido, mas... Veja(m) o filme e depois me procure(m). Aí, sim, o diálogo será instrumentalmente equitativo! Quem sabe depois, perguntaremos juntos, quando e se chegar o momento: "viva a anulação coletiva"?

Para cantarte nuestro dolor
Para raferte y protegerte
De aquellos que se quedan cerca de mi


Wesley PC>

UM FOTOGRAMA FÍLMICO, UMA FRASE, UM INCENTIVO E A CONFIANÇA EM SI MESMO, ACIMA DE TUDO!


“É difícil ser homem. É difícil ser mulher. Mas, acima de tudo, é difícil ser aquilo que se é por dentro”, conclui o protagonista de “Beautiful Boxer” (2003, de Ekachai Uekrongtham), numa cena emocionante. E, no mesmo dia em que vi o filme, recitei a um rapaz de nome Maico um trecho bíblico do evangelho de Lucas, capítulo 24, versículo 11: e as suas palavras lhes pareciam como desvario, e não as creram”. Mais evidente do que isso, agora, acho difícil...

Wesley PC>

segunda-feira, 13 de junho de 2011

EM MIM, ARDE!

Ainda há pouco, tomei um dos sustos mais positivos e culturalmente políticos de toda a minha vida: saí do trabalho cedo, mas fiquei conversando com amigos até tarde. Por uma coleção de casualidades típicas do Capitalismo, esqueci que hoje se comemorava o dia de Santo Antônio e, como tal, fiquei mui temeroso quando, ao adentrar o bairro em que moro – ultimamente noticiado por causa do incremento nas estatísticas de violência – percebi vários focos de incêndio nas esquinas. Pensei que o Rosa Elze estivesse definitivamente sitiado! (risos) Porém, tratavam-se de fogueiras comemorativas ao dia do santo casamenteiro, mas não havia crianças brincando em volta deles, não haviam fogos, não havia forró... As casas estavam fechadas e as ruas desertas, mesmo sendo ainda bastante cedo, 21h30’ no máximo! O que aconteceu com os festejos juninos?!

Depois que eu finalmente relacionei os píncaros ígneos à data comemorativa em pauta, lamentei que um costume tão fundamental na rememoração dalguns momentos de minha infância esteja a se perder gradualmente, a ser largamente esquecido... Fiquei triste mesmo, inclusive, porque eu estava conversando mais ou menos sobre isso com meus amigos: necessidade de manutenção da cultura local, dos hábitos protestantes em forma de arte. Lembrei que o filme menor do cineasta cigano Tony Gatlif que vi ontem à tarde [“Transylvania” (2006)] também bebe desta fonte defensiva e nostalgicamente melancólica. No filme em pauta, a personagem de Asia Argento é uma mulher grávida de 2 meses que viaja para a Romênia, a fim de encontrar o músico por quem está perdidamente apaixonada. Quando ela finalmente o encontra, ele a evita, a expulsa... E, a ela, resta chorar, enlouquecer, dançar até a exaustão, quebrar pratos, desenhar um símbolo místico na palma da sua mão como indício protetoral... Afinal, funciona? Se sobrevivermos, sentiremos na pele!

Wesley PC>

“A CACHOEIRA CANTANDO/É A CANÇÃO NATURAL/SEMPRE LEMBRANDO PRA GENTE/QUE AMAR NUNCA FAZ MAL”

Assim diz a canção do Raimundo Fagner que tive o prazer de descobrir mais cedo... De descobrir como se já conhecesse, aliás, tão intimamente que, enquanto eu repetia a canção, sentia-me um co-compositor: “Teu amor é cebola cortada, meu bem, que logo me faz chorar/ Teu amor é espinho de mandacaru que gosta de me arranhar/ Teu olhar é cacimba barrenta, meu bem, que eu gosto de espiar”... Ai, ai!

Antes de dormir, vi uma paródia nacional do clássico “Psicose” (1960, de Alfred Hitchcock), mais um filme que leva muitíssimo a sério as obsessões freudianas, relacionadas a amor doentio pela mãe e fraqueza ativa no ato de se lidar com os traumas amorosos cotidianos: e, sendo hoje o dia que é, os traumas recebem o apelido de “lembranças”, aquelas que fincam-se nos poros venosos das partes mais obscuras do corpo que nem sempre sentimos como tal... E, num momento sacro, alguém diz a uma pessoa apaixonada: “eu só farei sexo depois que queimar o meu charuto na tua bundinha”... E eu ri: amo demais. O problema é este! A vantagem é esta! E Alfred Hitchcock reina!

Wesley PC>

domingo, 12 de junho de 2011

PUNK DE CABELOS AZUIS ROUBA CÃES EM FILME INFANTIL: É COM ISSO QUE ME DEPARO APÓS UMA MADRUGADA DE LESBIANISMO E CANDIDÍASE!

Para quem não associou o nome da doença ao preconceito, candidíase é também o nosso popular “sapinho”. Em sua forma vaginal, acomete obviamente as mulheres, mas, pelo que pude averiguar na madruga de ontem para hoje, também atinge os homens, causando inchaço e vermelhidão na glande. Um amigo mostrou-me seu pênis nesta madrugada, alegando estar padecendo de tal infecção, segundo ele transmitida após ter feito sexo anal sem camisinha com alguém com a bunda cheia de merda. Verdade ou não, a infecção incomoda e, ao despertar após ter chegado em casa, assisti a um filme infantil boboca [“A Pulseira Mágica” (2007, de Casey Kelly)], que me fez pensar no assunto por vias indiretas: no filme, o adolescente Shane Kelly interpreta um ‘punk’ de cabelos azuis que rouba os cachorros de uma cidadela, a fim de vendê-los a altos preços e pagar uma dívida com cruéis mafiosos locais. Em verdade, apesar de ser muito bobo, o filme não me incomodou deveras – até que divertiu-me um pouquinho! – mas o modo como preconceitos tradicionalmente impostos aos ‘punks’ são disseminados. Se os mesmos fossem portadores de sapinho, o problema seria ainda pior!

Gostaria de aproveitar este espaço, aliás, para acrescentar o quanto me foi positivo ter passado a madrugada de ontem entre amigos: foi lindo ter meu irmãozinho Américo como cúmplice na observação dos comportamentos devassamente hodiernos da juventude sergipana, em que os jargões e afetações homoeróticas são desgastados no limiar burguês mais irritante (vide o menino que perguntou-nos se aceitaríamos receber uma multa de trânsito em seu nome!) e a cocaína é um substitutivo para o tédio necessário cada vez mais comunal, a ponto de interferir negativamente sobre os julgamentos avaliativos dos quocientes de diversão noturna. Puxa, foi tão legal para nós, eu e meu amigo Américo, passearmos por aqueles ambientes impregnados das versões contemporâneas (e malfazejas) de “sexo, drogas & rock’n’roll” aplainados, ainda que as pessoas com quem nos deparamos comumente reclamassem de decadência relacional e brigassem por ciúmes, paranóias, desentendimentos etílicos ou coisas do gênero. Urge sermos mais fortes que as imposições coletivistas da referida decadência! O que está acontecendo com o mundo ao nosso redor?! Até quando roçar vaginas no interior de uma barraca praiana ou cantarolar músicas antigas de Jon Bon Jovi num bar ainda nos manterá resistentes diante do contexto descrito? Até quando...

Wesley PC>