sábado, 9 de julho de 2011

“NÃO EXISTE HUMANIDADE SEM MUNDO, NEM MUNDO SEM HUMANIDADE”!

A quem interessar possa, um dos filmes mais justificadamente avacalhados de toda a História do Cinema encontra-se integralmente disponível aqui. Trata-se de “O Homem que Salvou o Mundo/ Star Wars Turco” (1982, de Çetin Inanç), filme que surrupia descaradamente elementos do clássico-mor de George Lucas, numa trama em que o planeta Terra fora destruído por um malévolo imperador galáctico, de maneira que os humanos sobreviventes construíram um escudo feito a partir moléculas cerebrais para protegê-los de mais destruição. Dois pilotos terrestres caem num planeta desconhecido e lutam contra o vilão, não antes de encontrarem vestígios humanos que demonstram que o Alcorão é o livro sagrado e que os seres só estarão salvos quando admitirem que há apenas um Deus. Hã?!

Não esperem que o filme seja mais compreensível depois de visto (risos). “O Homem que Salvou o Mundo/ Star Wars Turco” é tão absurdo que eu juro que pensei que a cópia a que tive acesso estava adulterada. Cenas de outros filmes estadunidenses e trechos de trilhas sonoras de John Williams e Miklós Rózsa são toscamente inseridos entre as ridículas cenas desta produção, cujos diálogos contêm barbaridades como menções a um assobio capaz de atrair mulheres (mas que, na verdade, atraem esqueletos mortíferos que cavalgam), a suposição de que o planeta desconhecido e ermo seria dominado justamente por fêmeas interessadas em testar a coragem dos machos, e referências bizarras a Jesus Cristo e às civilizações maia e asteca. Apesar de ser um filme obviamente péssimo, admito que gostei muito da mixórdia entre religiosidade muçulmana e filme de ação de quinta categoria. Só por isso, o filme quase merece duas estrelas. Deixo-o aqui disponível para o escárnio público e aguardo comentários: será que esta anti-obra-prima merece um debate estético? (risos) Pelo sim, pelo não, eu me disponho a tal: como diz o povo, isto aqui é uma ‘pélora’!

Wesley PC>

TANTA DOR AOS 5 ANOS DE IDADE...


“ – Mas não é isso que eu quero saber. Eu quero saber se você acredita mesmo que uma rosa possa fazer mágica assim?
- De fato, é mesmo esquisito.
- Esse pessoal vai contando as coisas e pensa que criança acredita em tudo.
- Lá isso é.
Ouvimos um barulho e Luís vinha se aproximando. Cada vez meu irmãozinho ficava mais lindo. Não era chorão, nem briguento. Mesmo quando eu era obrigado a tomar conta dele, quase sempre eu o fazia de boa vontade.
Comentei para Minguinho:
- Vamos mudar de assunto porque vou contar essa história para ele e ele vai achar linda. A gente não deve tirar as ilusões de uma criança.”

(“O Morcego”, capítulo primeiro da segunda parte: “Foi quando apareceu o Menino Deus em toda a sua tristeza”)

Acabei de terminar o final da leitura de “O Meu Pé de Laranja Lima” e ainda estou pungentemente emocionado. Nunca que eu imaginasse que José Mauro de Vasconcelos fosse tão inteligente quanto se demonstrou com este livro. A coragem para colocar o diálogo acima nas bocas de um menino de 5 anos e de uma árvore e de, ao final, confessar que o narrador e a criança narrada eram ele mesmo emocionou-me deveras. Emocionou-me de chorar mesmo. Emocionou-me de a tristeza não parar de se manifestar diante do menino. Emocionou-me de saber tão doloroso que uma criança tão pequena e tão precoce se revelasse um avatar sartreano lamentando estar “condenado a viver, a viver”, quando queria era ir pro céu, para deixar de ser “afilhado do Diabo” e deixar de falar “nádegas da bunda” e outras coisas más que levavam as pessoas de sua família a baterem-no tanto e tanto, que ele ficava até com vergonha de ficar nu para que não percebessem as suas cicatrizes e hematomas e marcas por todo o corpo. “Duas surras memoráveis”, capítulo 4 da segunda parte, ficará cravado em minha memória para sempre, mas não somente ele: os assassinatos reais e imaginários, cometidos “sem culpa” pelo trem Mangaratiba; o orgulho da ascendência indígena dos filhos ruços da família Pinagé de Vasconcelos ; a confissão de que chamar alguém de Xururuca revela uma ternura crescente e infindável pelo mesmo; a definição do que é matar de verdade (“matar não quer dizer a gente pegar o revólver de Buck Jones e fazer bum! Não é isso. A gente mata no coração. Vai deixando de querer bem. E um dia a pessoa morreu”); o relacionamento terno com a irmã Glória/Godóia , com o ‘Portuga’ Manuel Valadares, com o irmão oportunista mais velho Totoca e com o reizinho fraternal Luís, ainda mais novo que o protagonista Zezé; as ilustrações de Jayme Cortez, que tanto medo meteu em meu amigo-irmão Américo, que me emprestou o livro... Tudo aqui beira a perfeição literária, uma perfeição surpreendente, tanto mais porque se serve de palavrões para demonstrar o quanto Zezé era inocente: ele chama a irmã Jandira de puta e o pai de “filho da puta” quando está com raiva, ele aprende uma canção com o menestrel Ariovaldo e repete, bem alto, sob os tapas violentos e inclementes do pai: “eu quero uma mulher bem nua/ bem nua eu a quero ter.../ De noite, no clarão da lua/ Eu quero o corpo da mulher”... Sabe o que é um livro perfeito, daqueles que fazem chorar alto, mesmo quando, no cantinho do olho, está reservada uma sincera risadinha? Pois este é “O Meu Pé de Laranja Lima”. Recomendo-o de pé e aos prantos, ao mesmo tempo: por favor, amigos, (re)leiam esta obra-prima!

Wesley PC>

sexta-feira, 8 de julho de 2011

E VIVA O DIA 8 DE JULHO!



Além de minha amiga de trabalho, Suzanmelila Matos, três mulheres fortes e muito influentes em minha vida fazem aniversário hoje: minha professora Sônia Aguiar; a excelente atriz Anjelica Huston (foto); e, principalmente, minha adorável mãe Rosane de Castro. Parabéns extremados a cada uma delas!

Wesley PC>

“EU FIZ COMO TU ME DISSESTE E OUVI O MEU CORAÇÃO, MAS ELE ME DESAPONTOU...” (REFLEXÕES SOBRE O SOBEJO DE CLÍMAXES E SOBRENATURALIDADE EM 'TRUE BLOOD')

Assim lamenta Sookie Stackhouse (Anna Paquin), diante do túmulo de sua avó assassinada, no desfecho da terceira temporada de “True Blood”, à qual acabo de ver, ao lado de minha mãe. Desgostei de muitos aspectos desta nova temporada por causa principalmente do exagero de personagens sobrenaturais que entraram em cena: eu não agüentava mais tantos vampiros, lobisomens, bruxos, fadas, metamorfos, e tantos outros seres e entidades que apareceram! Onde estão os seres humanos? Quantas horas Sookie dormia por dia (visto que, pelas manhãs, ela trabalhava e, às noites, estava com os vampiros)? Para que tantos clímaxes, meu Deus?!

Dentre as novidades que mais me chamaram a atenção (positiva ou negativamente) nesta terceira temporada estão: a breve participação da atriz recorrente de Spike Lee, Alfre Woodard, como a mãe esquizofrênica de Lafayette (Nelsan Ellis); a sub-aproveitada chegada do enfermeiro Jesus (Kevin Alejandro), que passa a chamar Lafayette de “Lalá” entre as doses de alucinógenos consumidos durante os atos sexuais; a boa tensão romântica envolvendo Jessica (Deborah Ann Woll) e Hoyt (Jim Parrack), casal por quem eu estou completamente apaixonado e torcendo para que eles dêem muito certo; o desgaste de confiança concedido à garçonete Arlene (Carrie Preston); e, principalmente, as variações de humor e caráter que tomaram de assalto o xerife vampiro Eric Northman (Alexander Skarsgård), que, conforme previam alguns amigos apreciadores da série, finalmente conseguiu me seduzir: estou encantado por ele também! Tanto é que, em mais de um sentido, a cena que mais me impressionou nesta terceira temporada foi esta metonimizada na fotografia, quando ele elabora um requintado plano – com base no sangue de fada de Sookie, que permite que vampiros possam andar durante o dia por algum tempo, após a sua ingestão – para eliminar o maquiavélico Russell Edington (Denis O’Hare). O que também me hipnotizou nesta cena foi o requinte do diretor de fotografia Matthew Jensen em focalizar as pichações vampirofóbicas no bar de Eric, Fangtasia, pichações estas que foram motivadas pelo ato anti-político de Russell, que retirou a coluna cervical de um âncora de telejornal ao vivo, durante a notícia de um avanço nas leis de inclusão social dos vampiros entre o universo dos humanos. Dentre estas leis, a possível aprovação de um casamento inter-espécies, que possibilitará a união definitiva entre Jessica e Hoyt. Caramba, mesmo quando erra, este seriado é genial: suas sub-tramas são encantadoras!

Se eu fiquei com vontade de assistir à quarta temporada, que passará a ser transmitida pela HBO a partir do próximo domingo, dia 10 de julho? Pode ter certeza de que sim, mas agora torço pelo incremento passional entre Eric e Sookie, desgosto cada vez mais de Bill, acho Tara(Rutina Wesley) e Lafayette cada vez mais dramáticos e sinto pena da angustia premente de Sookie, coitada! Sem contar que, vez por outra, ainda confirmo que o abobalhado Jason (Ryan Kwanten) é o tipo masculino pelo qual eu costumo ficar completamente atraído (risos). Que venha a quarta temporada, portanto. Minha mãe também está ansiosa!

Wesley PC>

“EU SOU CATÓLICO, PÔRRA! NÃO DÁ PARA SER DE OUTRA RELIGIÃO NÃO...”

Quando eu comecei a ver “O Chamado de Deus” (2000, de José Joffily), a minha curiosidade espectatorial era deveras pessoal. Muito mais conteudístico-moral do que necessariamente cinematográfica. E o filme em si pouco fez para que eu me interessasse mais por ele, a princípio. O diretor apenas entrevistava garotos e garotas que explicavam para a câmera o porquê de se tornarem seminaristas. O tema geral do documentário era a influência da Renovação Carismática Católica no Brasil hodierno. E, como tal, o padre Marcelo Rossi era uma pessoa que deveria ser obrigatoriamente entrevistada. OK. Mas, enquanto filme, ainda achava o filme pouco abaixo de mediano.

De repente, instaura-se um sutil debate ideológico-religioso valiosíssimo para a (minha) apreciação do filme como um todo: de um lado, partícipes de um movimento católico similar aos padres socialistas da Teologia da Libertação diziam que os seguidores do padre Marcelo Rossi e os carismáticos em geral promulgavam uma espécie de “regressão intelectual” no plano religioso; do outro, os carismáticos acusavam os religiosos para-socialistas de serem bitolados e numericamente inferiores. Entre uma e outra situação, o próprio Marcelo Rossi é entrevistado e comenta que não fala "como padre, mas sim como professor de Educação Física: o corpo fala!”. Ou seja, ele defendia assim as manifestações e estímulos de júbilo no tipo de liturgia que proclama, em que até mesmo o Hino Nacional Brasileiro é dotado de significação católica. Os para-socialistas tachavam-no de “marqueteiro”. E eu lembrava positivamente do irmão carismático de alguém por quem me interessei romanticamente há alguns meses, de maneira que destinei a ele (e a alguns amigos íntimos) uma frase que muito me marcou no filme: não me leve a mal, mas a depressão é a falta de Deus”. E a presença de Deus é o amor. E amor é algo que eu encontro bastante entre meus amigos!

Numa das cenas mais interessantes do filme, depois que acompanha as visitas dos seminaristas às suas famílias, a equipe técnica do filme entrevista alguns fiéis que se acotovelavam num espetáculo-monstro no estádio do Maracanã. Uma menina grita que Jesus a deixa muito feliz, enquanto um rapaz bonito e com o cabelo modernoso profere a frase que intitula esta postagem. Minha mãe senta a meu lado no final da projeção, enquanto eu revia internamente a minha relação paradoxal de atração e repulsa que nutro pelo Catolicismo, bem mais atração do que repulsa, aliás. Ao final, gostei bem mais do filme do que eu próprio esperava. Quero que ele seja visto por mais pessoas, a fim de estimular o debate. Deus clama por isso!

Wesley PC>

PARA MINHA AMIGA NINALCIRA, POIS ELA TAMBÉM TEM/TEVE UM PASSARINHO PRESO NA GAIOLA DO PEITO...

Há alguns meses, eu vi “Meu Pé de Laranja-Lima” (1970, de Aurélio Teixeira) na TV. Não cria que, de fato, fosse um bom filme, visto que cria que o livro que lhe deu origem, escrito por José Mauro de Vasconcelos em 1968, fosse um mero ‘best-seller’ oportunamente infantil. A pedido de uma carinhosa amiga mais velha de trabalho, rendi-me ao filme. Não bastaram 15 minutos para que eu percebesse que estava diante de uma ótima pérola do cinema brasileiro. No dia seguinte, encontrei a minha amiga Ninalcira e supliquei que ela também visse este filme, pois tinha muito a ver com ela. Ao mesmo tempo, meu amigo-irmão Américo disse que tinha um exemplar do livro disponível em sua casa. Minha amiga, obviamente, amou o filme, enquanto eu, somente ontem, pude começar a ler o livro, dividido em duas partes. Cheguei há pouco na metade do livro e já posso gritar: é uma obra-prima!

Muitos são os argumentos que defendem com louvor o meu grito: a Primeira Parte do livro chama-se ousadamente “No Natal, às vezes nasce o Menino Diabo”. O último capítulo desta primeira parte, recém-lido, chama-se justamente “Último Capítulo da Primeira Parte: ‘Numa cadeia, eu hei de ver-te morrer’. Numa das dedicatórias iniciais, o autor do livro diz a alguém que “nem tristeza nem saudade matam”, enquanto o livro é definido na folha de rosto como sendo a “história de um meninozinho que um dia descobriu a dor...”. Tem como duvidar de que ele seja ótimo, e não somente para crianças?

Intuo que, em breve, eu esteja lacrimejando diante do que vou encontrar neste primor literário nacional, francamente subestimado. Minha amiga Ninalcira, com certeza, o incluirá entre seus favoritos. E, por mais que eu subscreva com louvor a justificativa da Editora Melhoramentos para relançar este livro, fiquei contentíssimo ao saber que o autor não faz concessões literárias que subestimem a inteligência de seu público-alvo. Assim sendo, o protagonista Zezé chama seus desafetos de “filho-da-puta”, conforme ouvira seu pai dizer algumas vezes. Mais do que isso, a trama é taco singela, inteligente e, sobretudo, triste, que não tem como não aplaudir de pé o talento insigne do autor José Mauro de Vasconcelos, que eu não conheceria se não fosse este empurrão bem-vindo de minha amiga mais velha de trabalho, a quem chamo carinhosamente de “mãe de cabelo”...

Sobre a trama do livro: a infância. A infância triste e, ainda assim e por isso mesmo, cheia de descobertas de um menino pobre, que escolhe um pé de laranja-lima como sue confidente. A história de um menininho de 5 anos que aprende a ler muito cedo, que é esperto, mas que tem “o diabo como padrinho”, de tanto que lhe repetem que esta é a causa de sua sede infindável por travessuras. Numa das muitas passagens geniais do livro, ele lamenta que sua mãe e seu pai precisem trabalhar numa fábrica que “devora pessoas pela manhã e, depois, as vomita cansadas no final da tarde”. De coração, eu digo: “O Meu Pé de Laranja Lima”, o livro, é uma obra-prima, ainda mais do que o filme, o qual planejo rever entre meus amigos muito em breve. E intuo que Américo demorará um bocado antes de ter este precioso livro de volta... Ela vai pousar nas mãos de todos que amo: isto é uma obrigação moral das mais elevadas, a qual eu mais do que assumo a partir de agora!

Wesley PC>

quinta-feira, 7 de julho de 2011

PARECE QUE, DE FATO, ESQUECERAM ALGO DENTRO DE MIM...


Explico melhor aqui, mas o refrão da canção que não me sai da cabeça neste instante talvez ajude a entender o problema:

"No need for comfort
No need for light
I am hunting for secrets tonight
Eat the sorrow lick the spark
Uh, oh, my blood beats dark"

"Bloodbeat" (Patrick Wolf)

Será que fui eu mesmo quem esqueceu isto lá dentro?

Wesley PC>

“ITE, MISSA EST” (VULGO: SOU DE OUTRO PEQUENO MUNDO)

Acabei de ver “Meu Amor de Verão” (2004, de Pawel Pawlikowski), conforme indiciado na postagem anterior. Porém, ao contrário do que eu imaginava e me recomendaram, desgostei crassamente do filme! Achei inconvincente o conflito de “pequenos mundos” entre a interiorana deslocada que se apaixona pela rica mimada e mentirosa que veio da cidade... Mas não vou mentir dizendo que não torci pelo romance delas duas. Sim, eu torci: a canção recorrente do Goldfrapp (“Lovely Head”) que tematiza a paixão de ambas é tão bonita...

Ainda durante a sessão emocionalmente malfadada do filme, lembrei que havia feito uma promessa a um amigo de trabalho: disse-lhe que, em breve, escreveria uma resenha do segundo disco solo da cantora finlandesa Tarja Turunen, “My Winter Storm” (2007), que descobri recentemente – por indicação de um dos visitantes deste ‘blog’ – e que me encantou bastante. Porém, não sou aficionado pelo ‘heavy metal’ (no caso, em sua variação sinfônica) e, como tal, temo que não disponha de um arcabouço válido para julgar o álbum. Gosto dele, ele me encanta, mas receio não compreender a contento o quer a artista quis transmitir a seu público: é tudo tão gélido...

A abertura bachiana do álbum me encanta: logo no começo, é sugerido que a missa é finita. Segue-se “I Walk Alone”, uma das diversas canções melancólicas do álbum. Na letra, a esperança está esfacelada, ninguém pode salvar quem sente o amargor da vida... Por que será que o eu-lírico do disco parece tão triste? Segui ouvindo, o disco me encantou de imediato. Faixa 03: “Lost Nothern Star/Buried in sorrow/ I'll guard your mind/ Let demons howl outside”. Mais tristeza!

E eu seguia em frente: vieram canções sobre um reino, sobre uma pequena fênix, sobre um garoto e um fantasma, sobre um oásis (cantado na língua natal da cantora), até que eu me deparasse com a faixa 11, “Poison”, mais dançante, mais consciente da subsunção à peçonha amorosa de outrem. Não deu outra: repeti esta faixa, várias e várias vezes, na primeira madrugada em que ouvi o disco:

I wanna love you, but i better not touch (don't touch)
I wanna hold you, but my senses tell me to stop
I wanna kiss you, but i want it too much (too much)
I wanna taste you but your lips are venomous poison.
Your poison running through my veins,
Your poison...
I don't wanna break these chains”


Daí por diante, o disco poderia até ser desinteressante, que eu não ligava mais: estava satisfeito. Havia encontrado uma canção que falava diretamente a mim. Quatro faixas depois, eu me depararia com “Die Alive”, quiçá a canção mais conhecida do álbum e a preferida do meu amigo de trabalho, que canta em casamentos aos finais de semana. “Morrer Vivo”? O que será que a Tarja quis dizer com isso?! E ainda faltavam três canções para encerrar o disco: são 18 ao total, sendo que a faixa final, “Calling Grace”, é mais branda que o restante. Quase celta, mística, apaziguadora, com a permanência do amor como mote literal. E, ao som desta faixa, eu peço desculpas ao meu amigo de trabalho: não conseguirei redigir a resenha que tu me pediste. Desculpa! Mas o disco é bom, é bonito... Só não sei se compreendi o que ele quis (me) dizer!

Wesley PC>

quarta-feira, 6 de julho de 2011

UM ADENDO (ANTI-)FISICULTURISTA?


Quando eu voltava para casa, na noite de hoje, percebei que, entre 18h e 20h, as ruas do conjunto residencial em que habito ficam infestadas de rapazes desfilando em roupas que destacam suas silhuetas eróticas. Em dado momento, por exemplo, passou um menino diante de mim, vestindo um calção brilhante vermelho, que, não somente formatava minuciosamente a sua genitália, como atraiu o meu olhar como uma mariposa fisgada pela luz de uma lanterna ginecológica. O lugar em que moro está cheio de estabelecimentos que funcionam como academias de ginástica. Meninos e meninas se achando mais gostosos do que são (e, nalguns casos, convencendo-nos disso) estão na moda. E eu peso 65kg. Tanto é que, nesta noite repleta de obrigações acadêmicas, preparo-me para ver um termo romance lésbico na TV: “Meu Amor de Verão” (2004), do Pawel Pawlikowski. Conheço um monte de gente que gosta desse filme. Eu nunca tive a oportunidade de vê-lo, até então... E, talvez um dia, eu deixe de ser virgem: tudo se mistura. Ponto.

Wesley PC>

terça-feira, 5 de julho de 2011

POIS EU CONFUNDO SONO E TRISTEZA... (AO MESMO TEMPO EM QUE DIFIRO CULTURA E MERCADO!)

“Há também o que poucas mulheres devem saber e os homens não contam: o bocejo é em geral acompanhado de ereção do pênis – e, aliás, os dois são disparados simultaneamente pela mesma região do hipotálamo. Se há alguma utilidade em ter uma ereção ao bocejar ou bocejar ao ter uma ereção? Você decide...” (HERCULANO-HOUZEL, Suzana. “Esse Bocejo Irresistível...” IN: O Cérebro Nosso de Cada Dia: Descobertas da Neurociência sobre a Vida Cotidiana. 1ª edição. Rio de Janeiro: Vieira & Lent, 2002. Página 94)

Dois dias muito felizes se seguiram: fui muito feliz no sábado, fui muito feliz no domingo. Estive rodeado por amigos fiéis em ambos os dias e, no afã por relatar as benesses psicológicas destes dois dias, dormi pouco de domingo para segunda-feira. Fiquei me sentindo cansado enquanto trabalhava, de maneira que, ao chegar em casa, capotei na cama. Ao me despertar, com interesse de que eu a acompanhasse na audiência a um seriado erótico de terror que vemos juntos na TV, ela perguntou por que eu estava daquele jeito, visto que eu estava tão feliz antes. Eu respondi a ela o que eu precisava dizer a mim mesmo: fique tranqüila, eu só estou com sono. Não estou triste não!”. Entretanto, minutos antes, sentia-me como se estive deprimido... O sono deprime! (risos)

Terminado o episódio do seriado que vimos, visitei uma pessoa que, horas antes, também dormia, jazido no sofá. Este estava desperto e bocejava tanto quanto eu, enquanto lia o livro de auto-ajuda neurocientífica que estava em minhas mãos no instante em pauta. Não percebi se ele ou eu estávamos com ereções evidentes naquele instante, mas, minutos depois, eu estava ajoelhado diante do sofá em que ele estava, abrindo o zíper de sua bermuda ‘jeans’, soprando cada centímetro da bela extensão de seu pênis venoso, percebendo que ele ofegava enquanto eu o acariciava, feliz porque estava dando amor (ou algo que estava relacionado a ele) e recebia algo relacionado a ele em troca. Em seguida à ejaculação – que ocorrera discretamente no interior de minha garganta – nós conversamos sobre direitos ‘gays’, sobre os intentos malévolos dos produtores culturas que estimulam a regravação de filmes, seriados e telenovelas antigos e despedimo-nos com um beijo de minha parte em seu umbigo. “Durma bem”, disse-lhe eu, ao partir de volta para minha casa. Eram 23h!

Às 23h, tencionava assistir a um filme do Olivier Assayas que seria exibido num canal pago francês. Tratava-se de “Horas de Verão” (2008), um filme que me irritou a princípio, pois não parecia passar de uma apologia aos dilemas burgueses de uma rica família, que não concordava sobre o fazer com o legado artístico de uma matriarca recém-falecida. Ao invés de focar nos dramas cotidianos de cada um daqueles personagens, o filme parecia mais preocupado em explicar ao espectador os detalhes da herança. Mal sabia eu o quanto estava errado: e, ao final do filme, fui estapeado por planos-seqüências, que percorriam a extensão da casa onde falecera a matriarca, vendida a um “colecionador de arte”, em razão do valor inestimável relacionado a um pintor pós-impressionista que ali vivera. Os dois netos adolescentes da matriarca realizavam uma festa no local. Eles sorriam, bebiam, ouviam música ‘pop’, fumavam maconha, abraçavam-se, banhavam-se num rio, tudo o que jovens fazem quando estão contentes e em grupo... E era um final triste (mas feliz) para um filme que começa tão feliz (e um pouco irritante). Dormi bastante depois disso – e foi bom: estou feliz agora!

Wesley PC>

segunda-feira, 4 de julho de 2011

“CORTA!” OU QUAL FOI A DAQUELE EPÍLOGO?!

“Um Filme Para Nick” (1980, de Nicholas Ray & Wim Wenders) é o tipo de filme que ficaria cravado em minha alma em qualquer circunstância, mas, do modo como foi visto, ao lado de uma pletora de amigos emocionais, o processo foi ainda mais intenso: Nicholas Ray morria e ressuscitava, diante de nós, a cada segundo. E ele sofria, ele sentia dor, ele ansiava por ficar consciente, e, numa das punhaladas mais ferozes que já me foram destinadas a partir de um filme, Nicholas Ray, quase totalmente devorado pelo câncer, às vésperas de completar 68 anos de idade, comenta que falar a verdade pode ser tão entediante quanto excitante e, olhando-nos nos olhos, através da lente complacente e atormentada de Wim Wenders, pergunta o que deve fazer em seguida. O cineasta alemão diz que o filme é dele, que ele faz o que quiser, que ele pode cortar, não cortar, o que quiser... Aí, Nicholas Ray corta, depois não corta e, por último corta, definitivamente: ele próprio fora cortado da vivência terrena naquele instante, mas não de nossas sensibilidades, onde quedará eterno! O relâmpago sobre a água de que fala o título original do filme desconcertou quem esteve ao meu lado na sessão!

Pena que, no filme, há um epílogo absolutamente supérfluo após a estupefaciente cena metonimizada nesta postagem, que, mesmo fora de contexto, nos fere, nos atinge diretamente no cérebro e no coração: Nicholas Ray (07/08/1911 – 16/06/1979) foi um gênio marginal e sabia direitinho o que cada um de nós, presentes à sessão, poderia extrair de seus ótimos e ainda muito incompreendidos filmes. E, parafraseando em sentido dignamente inverso um famoso dizer do teórico Roland Barthes, acerca da derradeira fotografia de um belo condenado à morte que “morreu e, ao mesmo tempo, ainda vai morrer” (mostrada aqui), neste filme, Nicholas Ray está vivo e para sempre vai estar! E, se “Um Filme Para Nick” não é a obra-prima insuperável que ele poderia ser, é por causa do mencionado epílogo descartável. Mas, deixa quieto: Wim Wenders tinha os seus motivos para se auto-afirmar, ao lado de sua equipe técnica, na despedida do amigo, daquele jeito...

Wesley PC>

domingo, 3 de julho de 2011

“YOU ARE BAD ART, YOU ARE KITSCH!”

Acabo de receber um telefonema e uma mensagem de celular de duas grandes amigas. Ambas diziam a mim que estavam se sentindo felizes, enquanto eu prontifiquei-me a responder que me sentia justamente muito feliz naquele exato momento, que é ainda agora: estou feliz agora! Feliz porque a pessoa que me enviou a mensagem está feliz por ter experimentado algo novo e feliz por ter estado ao lado da pessoa que me telefonou, dado que fomos felizes juntos: vimos “Homem no Banho” (2010, de Christophe Honoré) lado a lado e, caramba, que filme que transmite júbilo! Maravilha de filme, por mais tristonho que se demonstra nalguns momentos!

No filme em pauta, o ator pornô François Sagat interpreta (a princípio, mal) o namorado de um artista que viaja para os Estados Unidos da América para estudar. Sozinho e precisando de dinheiro, seu namorado usa o corpo escultural para se manter. Visita um homossexual bem mais velho que vive num andar superior ao seu e este o destrata, dizendo que não precisa mais de seus serviços sexuais, que ele é modelado demais, mas a partir de uma fôrma ruim, básica, simplista... É nesse momento, quiçá a melhor cena do filme, que o julgamento cruel (porém verdadeiro) que intitula esta postagem é destinado ao protagonista do filme. E segue-se a execução de uma canção do Charles Aznavour: “com certeza, seu namorado gosta deste músico”, diz o senhor esnobe. Eu e minha amiga (que agora está feliz que nem eu) entreolhamo-nos: identificamo-nos, sabíamos o que estava acontecendo ali. Éramos que nem o velho e o protagonista musculoso ao mesmo tempo, apesar de não termos um pênis toa grande quanto o deste último...

Não sei se interpretei adequadamente (que é difícil e recompensador, apesar da evidente identificação), mas, ao final da sessão – depois que peguei um ônibus de volta para casa, para ser mais preciso – fiquei pensando no contexto geral da trama, no que ela tem de efetiva enquanto bálsamo para um problema seminal, tanto meu quanto de minha amiga, no que tange às nossas frustrações amorosas: definitivamente, não precisamos transformar nossos cônjuges em nós mesmos. E vice-versa!

No filme, aliás, tem outra cena tão genial quanto perfeita: o homem musculoso, chamado Emmanuel, arranja uma transa adolescente na rua. A princípio, Emmanuel recusa foder com o garoto, mas ele insiste, em suplica, ele consente que o homem que se banha escreva uma palavra em sua cueca branca, ele é estapeado na bunda, ele vai embora enquanto Emmanuel certifica-se de que, de fato, ama o namorado que partiu... Antes que o adolescente parta, entretanto, ele veste-se com uma manta pertencente ao namorado de Emmanuel e canta com empolgação uma ótima música ‘pop’, enquanto senta com tesão no colo de seu objeto de desejo. E, neste momento, não somente eu e minha amiga ficamos felizes, mas todos que estavam presentes à sessão: amar este tipo de efeito colateral também!

Wesley PC>