sábado, 10 de setembro de 2011

AS PIADAS HOMOFÓBICAS FINLANDESAS SÃO MAIS ENGRAÇADAS (E/OU MENOS OFENSIVAS) QUE AS OUTRAS?

Não é bem isso o que acontece em “Machos com Tempo Livre” (2009, de Mika Ronkainen), inesperadamente divertido documentário finlandês que eu assisti há pouco. Com um título destes e sendo centrado no cotidiano de alguns jogadores de ‘rugby’ que têm como principal passatempo promoverem festas em saunas, nas quais ficam nus a maior parte do tempo, não obstante o clima do País em que eles vivem ser bastante frio, não tinha como não torcer para que algumas piadinhas homofóbicas e/ou simplesmente machistas se manifestassem no roteiro. E, do jeito como elas surgiram, quase foi engraçado mesmo!

No filme, acompanhamos o time da cidadezinha de Oulu, um dos piores da Europa. Um dos jogadores é homossexual, mas outro não sabia de sua opção sexual, de maneira que ele faz troça dos ‘gays’ o tempo inteiro, batendo nas bundas de seus companheiros, comentando sobre masturbação mútua, insinuando felação numa boneca inflável, etc.. Numa seqüência (real) inesperada, uma mulher é convidada a integrar a equipe – e joga melhor que os homens! – mas é impedida de participar dos torneios oficiais por causa de uma regra organizacional tola. Por mais enfadonho que pareça o ‘rugby’, aliás, o diretor Mika Ronkainen dignificou muito bem os dramas comuns daqueles homens cor-de-rosa, alguns dele bastante bonitinhos. Confesso que, apesar de curtinho, este filme me encantou e me surpreendeu. Talvez eu goste de passear pela Finlândia, num futuro hipotético. Aquelas brincadeiras másculas nos banheiros me pareceram demasiado tentadoras (risos). Simpaticíssimo este filme!

Wesley PC>

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

“ANDE DE SKATE E DESTRUA”!

“Vou explodir minha rebeldia
Através da anarquia
A rua inteira vai parar
Quando eu começar a andar
A burguesia se trancando
E eu na calçada apavorando
Pisando nessa podridão
Vou agir de skate na mão”


Se existe uma atividade para-desportiva que eu gostaria de praticar em minha adolescência, o skatismo chega bem pertinho da natação no ‘ranking’ de meus anseios não-concretizados. Como eu achava (e ainda acho) bonito aquele visual meio largado, aquelas calças folgadas, aquele pessoa com cara de ‘punk’, cabeça aparentemente aberta, sede de protesto nas mãos, camaradagem sempre em evidência. Gosto mesmo! De vez em quando, até arrisco contemplar os praticantes do ‘skateboard’ nas pistas locais, mas, por receio de parecer um hebefílico convencional, há um momento em que eu preciso ir embora. Mas, quem me conhece, sabe o quanto eu gosto de skatistas. Taí o Gus Van Sant que não me deixa mentir...

No último feriado, visitei um amigo de adolescência e, para minha boa surpresa, descobri que ele tinha um arquivo com o disco “Ande de Skate e Destrua” (2000), da banda paulistana Gritando HC, salvo em seu computador. Não pensei duas vezes, gravei-o para mim e, hoje, fui e voltei do trabalho ao som deste ótimo e nostálgico disco: quantas e quantas lembranças fizeram festa em minha mente!

A poderosa faixa-título de abertura é um tanto adolescente em sua revolta, mas, puxa, como é bacana e direta. A faixa seguinte, “È Hora de Almoçar” é pertinente e mui denuncista. A faixa 03, “Severino”, é um petardo genial contra o preconceito sofrido pelos nordestinos no Sudeste. As faixas seguintes são todas interessantíssimas, mas é a faixa 08, a extraordinária “Pequeno Guerreiro”, quem conseguiu a fácil proeza de ser repetida diversas vezes por mim. Que canção maravilhosa, tanto em forma quanto em conteúdo. Que vozes bonitas e harmonizadas, que refrão perfeito (“...e o homem branco verá/ aaaaaaah!/ que o dinheiro não pode ser comido”), que coerência sensacional em relação ao restante do disco e ao público-alvo que, há alguns anos, me apresentou a esta banda. Recomendo de pé: muito bom!

Wesley PC>

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

SE ME PERGUNTAREM POR ALGO MIRÍFICO, EU JURO QUE APONTO!

Ou, noutras palavras, o que eu preciso apenas é de um pretexto para citar uma magnífica citação do livro “Crônica da Casa Assassinada” (1959), do mineiro Lúcio Cardoso. Na página 302 da edição lançada em 2009 pela Civilização Brasileira, a insossa e mal-amada Ana Menezes me atinge em cheio com estas palavras:

Não era uma medalha, nem um escapulário, o que batia ali contra meu peito – era apenas a chave do quarto onde Deus me havia tão cruelmente ferido. Decerto o problema supremo é este, Deus e o homem, mas, por mais que faça, não posso imaginar Deus afastado do amor, de qualquer amor que seja, mesmo o mais pecaminoso, porque não posso imaginar o homem sem o amor, e nem o homem sem Deus”.

E houve o tempo em que eu dissesse que a masturbação é uma prece. Não nego minhas palavras neste instante. Definitivamente, não as nego. As pratico, as ponho em xeque, as compartilho, as somo com palavras de outrem. Este livro me fere – e meu corpo arde, minh’alma arde, minha vontade!

“Era criança, mas eu fiz dele um homem. Marquei-o, para que nunca mais se esquecesse de mim. Ah, os que imaginam o amor à distância, com um fruto sem experiência. Estão longe de saber o que é a delícia deste sofrimento, porque é sofrimento, terrível e doce ao mesmo tempo. Como pode falar em amor, você, que durante toda a sua vida só conheceu um homem repugnante? Como ousa encarar-me e cobrar os juros de um pecado que não sabe um preço? Ah, como ele chorava em meus joelhos, como implorava um beijo meu, uma carícia, e eu fingia negar-lhe tudo para entregar-me depois inteiramente” (Nina Menezes, na “Terceira Confissão de Ana”, página 291 do mesmo livro).

A ficção, a realidade, eu, e um pouquinho mais de eu (e dos outros) em seguida.

Wesley PC>

EM BUSCA DAS MISTERIOSAS RAZÕES QUE ME FIZERAM ESCOLHER ESTE FILME EM DETRIMENTO DE OUTROS DOIS...

“Ouvistes o que foi dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus; Porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos. Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim? Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus.” (Mateus, 5: 43-48)

Um filme do George Cukor estava para ser exibido num dado canal e eu tinha agendado comigo mesmo ver um filme menos conhecido do Martin Scorsese hoje à tarde. Não sei que estranhos mecanismos me levaram a desistir das tentadoras opções anteriores e optar pelo desconhecido filme italiano “Em Minha Memória” (2007, de Saverio Costanzo), mas torno justificado este mistério. Afinal de contas, pelo que prediz o hermético enredo do filme, é muito mais o mistério que o amor que alguns padres buscam. Por mais que o próprio amor em si seja um mistério premente, o “mistério de um Deus fraco” é aquilo que move o filme, aquilo que eu ainda não entendo... Conclusão exordial: não entendi e nem gostei muito do filme, mas ele me causou fortes impressões mnemônicas sobre minhas crenças cotidianas na aplicação do suposto entendimento da Bíblia...

Na noite de ontem, um ex-amigo (não porque desgostemo-nos hoje, mas porque não nos vemos mais) visitou-me no trabalho, pedindo que eu o ajudasse a firmar a decisão de abandonar o curso universitário que lhe desagrada e no qual matricula-se sem vontade há alguns anos. Fiz o que ele me pediu e, quando ele partiu, a garota que presenciou nossa conversa perguntou sobre um rapaz que mencionamos, o qual foi identificado por mim como “um dos 5 arquiinimigos de minha vida”. Disse-lhe eu que não sentia raiva dele, mas, pelo contrário, ele que se recusa a me perdoar pelo quer que eu tenha feito. Fiquei um tanto taciturno ao lembrar que existem ainda cinco pessoas importantes com as quais não consigo fazer as pazes. Eu tento, mas elas recusam a minha atenção, o meu afeto para-cristão, os meus gestos de perdão e de humilhação que conduzem à humildade. E, por emular este diálogo e esta pendência religiosa, o filme fez sentido para mim. Mesmo que eu não tenha entendido o que ele quis me passar...

Wesley PC>

E, A CADA SEGUNDO REMEMORADO, A POLARIZAÇÃO BARROCA ENTRE A IMPRESSÃO DE FELICIDADE E O TESÃO (IN)CONTIDO CRESCE...

Ontem à noite, uma mulher disse que estava sem calcinha por minha causa. No mesmo instante, emprestou-me alguns DVDs com filmes europeus raros gravados. Nestes DVDs, tive acesso a “Malícia” (1973), filme dirigido por um cineasta italiano que eu não conhecia, Salvatore Samperi. Não obstante ele ter sido prolífico em vida (morreu em 2009), o único filme deste cineasta que eu vi até então foi este mesmo, ao qual me aproximei por causa da paixão confessa pelo pós-adolescente Alessandro Momo, já destacada aqui neste ‘blog’ por ocasião dos tapas anímicos que experimentei durante a sessão de “Perfume de Mulher” (1974, de Dino Risi), último dos poucos filmes protagonizados pelo gracioso e tímido rapaz.

Tinha redigido alguns comentários sobre o filme, mas uma breve queda de energia fez com que minhas palavras se perdessem. O impacto do filme sobre mim, entretanto, ainda está lá, firme e perene: acompanhei as desventuras eróticas do protagonista Nino (Alessandro Momo) como se estivesse rememorando as minhas próprias, clemente e insistente aos pés de um companheiro para-sexual recorrente, que, não raro, permite que eu gaste minutos a fio cheirando e/ou lambendo quase todo o seu corpo, mas impede que eu toque diretamente em seu pênis (quiçá, por ter se masturbado demais, ou algo do gênero). No filme, não há dúvidas que Nino apaixonou-se pela governante que calhará de ser sua madrasta, mas é na vagina dela que ele insiste em pôr a mão quase todo o tempo... Enciumado pela possibilidade certeira e vindoura de que seu pai fará sexo com ela, ele a atormenta, a oprime, obriga-a a ficar nua diante de si. Ela capitula e beija-o em sua cerimônia de casamento. Eu sabia o que era aquilo, eu sei agora, aliás!

E, se a dicotomia moral entre tesão e felicidade insista em me oprimir enquanto criatura barroca e temente a Deus, não consigo deixar de demonstrar um tantinho de chateação por causa da metade final do filme, que pareceu um tanto oportunista em seu erotismo mutuamente sadomasoquista. Mas não posso esquivar-me de agradecer à rapariga de vagina nua por ter me apresentado a este belo recorte de meus anseios desejosos mais íntimos. Eu, que amo tanto, mas que, ao mesmo tempo, possuo tantos tabus separatistas no que tange ao sexo. Acho mais fácil apaixonar-me por quem eu faço sexo do que fazer sexo com as pessoas por quem eu me apaixonei. É um dilema que eu devo suportar por mais algum tempo, mas, de alguma forma, o bom filme do Salvatore Samperi me consolou. E que cena graciosa esta em que a governanta assopra a coxa ferida do rapaz nu que se ferira num jogo de futebol... Ai, ai!

Wesley PC>

terça-feira, 6 de setembro de 2011

TU MASTIGARIAS UMA CEBOLA VERDE SE ISTO FOSSE O PRÉ-REQUISITO PARA VOLTAR A ANDAR?

Antes que eu acordasse, na manhã de hoje, com esta pergunta na cabeça, a paraibana Cátia De França tinha a resposta numa canção sublime:

“Moinhos não movem ventos, partidas não são só lenços
Saudades não são soluços, nem solução pra espera
Nem salvação dos pecados, tristezas não lavam pratos
Resguardam restos desejos, flores e frutos do mal

Por isso, muito cuidado, queime de febre e não dobre
Não quebre nunca, não morra, não corra atrás do passado
Nem tente o ponto final
Agüente firme a picada da abelha,
Daquela velha melada melancolia
Segure a barra, requente o caldo da sopa fria
Vá cultivando a semente até que um dia arrebente o saco cheio de sol”


Com isso, eu me dou por satisfeito. Sinto-me mais do que contemplado por “Ensacado”, oitava faixa do belo disco “20 Palavras ao Redor do Sol” (1979). Lindo!

Wesley PC>

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

“O QUE EU DAREI DE COMER PARA MINHA MULHER? E PARA O MEU CAVALO?!”

Na página do IMDb reservada ao curta-metragem “O Carroceiro” (1962, de Ousmane Sembene), o participante do elenco Albourah é creditado como “o cavalo”. Não se trata de um ator propriamente dito, mas sim do eqüino que aparece em quase todas as cenas deste lancinante filme, acompanhando o protagonista-título em seu percurso de miséria, injustiça e desolação. Numa das cenas mais socialmente indignantes do filme, um senhor bem-vestido convence o carroceiro a se dirigir a um local desautorizado por lei. A carroça é apreendida e o passageiro foge, deixando o protagonista sem pagamento e sem ter comida para levar para sua casa. A cena final do filme aparentemente resolve o filme, mas, Deus do céu, a que preço!

Vi este filme na tarde de ontem e pensava tê-lo apreendido durante a própria sessão. Quase 24 horas se passaram e o filme continua a me destruir e a me reconstruir por dentro. Tanta dor, tanta miséria, tanta fome... E eu aqui, bem-arrumado, com meu sapatinho novo e minha tigela de azeitonas reclamando da vida. São contextos diferentes, eu sei, mas é nessas situações que eu entendo o quanto eu sou provido de um papel social determinante. Na manhã de hoje, inclusive, um amigo me convidou para passar o feriado vindouro em sua casa. Expliquei-lhe que tenho que ajudar uma pessoa em dificuldades, em minha própria família, bastando, para isso, ficar apenas a seu lado, disposto a conversar. O mesmo não pôde ser feito em relação ao cavalo do filme...

Wesley PC>

domingo, 4 de setembro de 2011

POIS MEDIANIA APLICADA NA VIDA É EMOÇÃO!


Esperava pouco de “Miao Miao” (2008, de Cheng Hsiao-Tse) quando comecei a vê-lo. Um filme comercial taiwanense, sobre lesbianismo adolescente e música ‘pop’, mas, aos poucos, os elos iam se juntando, as lembranças aparecendo, as metáforas com um mal de Alzheimer apelidado de Capitalismo, um menino que gosta de outro menino e que não lida bem com isso a princípio, até que um deles morre e... Puxa, ao final da projeção, eu me sentia emocionado, mesmo sendo um filmezinho mais ou menos, mais MAIS do que menos, gracioso, doce, com meninas e meninos que amam e um pai que espera pela filha e uma avó que relembra o eterno primeiro amor... Oh! E tenho tanto a dizer sobre o contexto que antecedeu a audiência a este filme...

Wesley PC>