sábado, 24 de setembro de 2011

É POSSÍVEL LAVAR OS PRATOS ENQUANTO SE ESCREVE UMA RESENHA PARA O NOVO DISCO DA BJÖRK?

Se depender de mim, sim, visto que, no exato momento em que escrevo estas palavras, encontro-me num intervalo da atividade doméstica de lavar os pratos, para a qual voltarei depois que redigir algumas impressões sobre as cinco primeiras faixas de “Biophilia” (2011), disco mais recente desta genial e etérea cantora islandesa, a ser lançado oficialmente no dia 10 de outubro do corrente ano. Em verdade, não é um disco tão genial quanto eu esperava, posto que lembra muito “Vespertine” (2001) e, no plano das inovações com brinquedinhos ruidosos, é similar a “Música de Brinquedo” (2010), do Pato Fu. Mas a voz da Björk é a voz da Björk! E isto é bem mais do que a tautologia evidente deixa transparecer...

Eis as primeiras cinco faixas do disco:

• 01 – “Moon”: lentinha, graciosa e particularmente muito singular para quem a ouve através de fones de ouvidos. É como se a canção da esquerda fosse uma versão da canção da direita, tão diferentes e complementares ao mesmo tempo. Uma aula de comunhão. Maravilhosa! ;

• 02 – “Thunderbolt”: mais lenta ainda, mas com um diferencial positivo e particularmente conquistador em relação a mim, a repetição insistente dos versos “craving miracles”. Ah, como isso funciona comigo, Björk... ;

• 03 – “Crystalline”: primeira canção deste disco a ser divulgada, é a obra-prima do mesmo. Dançante, barulhenta, multi-rítmica, com uma letra geologicamente transcendental... Impossível não repetir pelo menos três vezes seguidas!;

• 04 – “Cosmogony”: quiçá a segunda melhor canção do disco até agora. A letra fala que “o Universo era preto que nem carvão até que o Deus interior explodiu tudo”. Uhuuuuu! Tudo o que eu precisava ouvir. Repeti várias vezes também!;

• 05 – “Dark Matter”: a menor canção do álbum em duração, é lenta e demasiado discreta, num sentido relativamente obsoleto para o termo, mas é bonita sim. E ser bonita conta muito na voz da Björk. Quem a conhece, sabe!;

INTERRUPÇÃO: vou lavar o restante dos pratos. Volto já com os comentários sobre as cinco faixas restantes...

Antes de voltar, ouvi “Dark Matter” mais uma vez e gostei muito, me fez pensar nos gemidos de “Medúlla” (2004) e me demonstrou que, quanto mais eu ouvir este álbum, mais ficarei apaixonado por ele. Mas minha intenção era comentar o disco faixa por faixa. Continuo, portanto:

• 06 – “Hollow”: muito mais interessante no papel do que na audição, este compêndio de acordes ‘in crescendo’ encanta muito mais a partir das segundas audições, fazendo-me pensar também no clima dominante em “Medúlla”;

• 07 – “Virus”: a música mais literal do disco, a melhor letra do álbum, aquela que melhor faz jus ao seu título, esta é a canção que nos seduz pela percussividade emocional. Como resistir a estes versos: “Like a virus needs a body/ As soft tissue feeds on blood/ Some day I'll find you, one day I'm there/ Ooo-ooo-ooo-oooh”? Como?!;

• 08 – “Sacrifice”: de início, achei a canção mais “contratual” do álbum, a mais óbvia talvez, mas devasta-nos positivamente do meio para o final, com sua brusca e bem-vinda aceleração rítmica;

• 09 – “Mutual Core”: ainda mais geológica que “Crystalline”, esta canção dialoga diretamente com “Jóga”, um dos diversos picos românticos de “Homogenic” (2000), quiçá o meu disco favorito da cantora. Noutros momentos, ela parece uma faixa adicional de “Volta” (2007), um de seus discos menos compreendidos. Já descobri que esta é a canção preferida de alguns amigos virtuais, mas ainda preciso de novas audições para me perceber afligido por suas erupções. Mas elas virão, tenho certeza;

• E, por fim, 10 – “Solstice”, com um toque fortemente oriental, vagarosa, calma, pausada, com uma mensagem pungente no verso final: “lembre-se que tu és um portador de luz que recebe a radiação de outrem”. Foi a canção que menos gostei no disco como um todo, mas é fofa mesmo assim, vale o investimento.

Por ora, é isso: muito construtiva essa atividade de lavar pratos enquanto se pensa na escritura da resenha sobre o novo disco da Björk!

Wesley PC>

SOBRE A RUPTURA DESEJADA DE UM CICLO...

A madrugada do dia 05 de abril de 2009 foi marcada por três eventos distintos e, posteriormente, inter-relacionados: a minha primeira ida ao bar ‘gay’ Alquimia; a primeira vez que vi o clássico “Blow Job” (1963, de Andy Warhol); e a morte de meu amado cãozinho Almodóvar de Castro.

Na tarde de ontem, três eventos possivelmente inter-relacionados se anunciaram: fui convidado por alguns colegas de trabalho a festejarmos a liberação homossexual de um deles numa boate ‘gay’; discuti sobre as qualidades artísticas do filme supramencionado de Andy Warhol com um colega de trabalho 20 anos mais velho que eu e desapreciador de filmes em preto-e-branco; e recebi um telefonema triste de minha mãe, que chorava copiosamente ao anunciar que minha cadela Sembene fora atropelada.

No dia de hoje, domingo, anseio por inter-relacionar três novos eventos cíclicos: avisei aos meus amigos que não tenho interesse em ir para esta tal boate; alimentei a minha cadela acidentada com purê de batata; e assisti a “Kiss” (1963, de Andy Warhol), filme com 55 minutos de duração, em que diversas seqüências de beijos são alinhavadas, sem um único som por detrás delas. Não gosto muito de beijos (ou melhor, penso não gostar), como muitos já sabem, e me incomodei negativamente com a maior parte do filme, mas, ao final da sessão, me senti compelido a designá-lo como genial. Desejo com isso, portanto, interromper o ciclo supersticioso que ensaiei no primeiro parágrafo desse texto...

São agora pouco mais de 16 horas. Não sei ainda o que farei à noite, visto que o casal de amigos que pretendia visitar tem outros problemas depressivos para resolver e o rapaz que costuma me salvar com suas ofertas de boquete está com seu pênis há exatos 16 dias afastado de minha boca ávida de satisfação anímica. Quem sabe eu não consiga a bênção de interromper o ciclo supersticioso e mortífero com a abertura de outro, erotógeno e vitalício? Quem sabe... Por ora, eu quero é que minha cadela viva!

E, pelo sim, pelo não, sou fã do Andy Warhol, humpf! Até mesmo quando ele erra, que nem no enfadonho “Eat” (1963). Digo mais: em “Kiss”, os beijos interraciais e homossexuais me comoveram, além daquele que surge aos 40 minutos de projeção, quando o beijoqueiro da direita mantém-se afastado de sua parceira por vários instantes. Aquilo quis me dizer alguma coisa e, enquanto não me sinto apto para entender por completo, eu aprecio, ah, aprecio... Vou comer uma pipoquinha agora!

Wesley PC>

‘HABEMUS TESTÍCULOS!’ (ou “O CONHECIMENTO NASCE DA DOR”)

Recentemente, eu e uma amiga conversávamos sobre o seriado de TV “Os Bórgia”, produzido por Neil Jordan, mas que me desagradou, por seu tom de crítica forçada e mui chavonada à tal da Igreja Católica. Esta amiga explicou-me o sentido de uma cena do primeiro episódio do seriado que eu não havia entendido aprioristicamente: quando os representantes clericais enfiam a mão por debaixo da manta do papa eleito e fazem menção sobre a existência de testículos em seu corpo. Segundo esta amiga, tal prática diz respeito à precaução em identificar se o novo papa é, de fato, um homem, pois, segundo ela, houve uma época em que, disfarçada de homem, uma mulher conseguiu atingir este altíssimo posto clerical. Na manhã de hoje, averiguo a programação televisiva e descubro que o canal fechado Telecine Touch exibiria um filme de nome “A Papisa Joana” (2009, de Sönke Wortmann). Faltei à minha aula matinal de sábado, convoquei minha mãe para me acompanhar na sessão e não pensei duas vezes em sentar-me diante da TV para ver o filme. Para além de seu convencionalismo narrativo, não é que eu gostei muito do mesmo?

Como era de se esperar nalgo do gênero, a direção é acadêmica, o roteiro é convencional em sua higienização biográfica e as interpretações são muito boas, mas sem arroubos. Ainda assim, a trama é convincente e a história da tal Joana Anglicus, seja verdadeira ou não, é tocante, emocionou tanto a mim quanto à minha mãe. Para quem se interessar pelo filme, bastante recomendável, afinal de contas, a trama se passa no século XIX d.C., quando um dado narrador descobre que a vida da tal Joana é considerada apócrifa. Acompanhamos, em seguida, o nascimento da personagem, filha de um padre muito rígido e cruel na difusão de suas mentiras religiosas. Ela cresce motivada por uma sede inata de conhecimento e, quando seu irmão mais velho morre de pneumonia, ela clama para ser enviada a uma escola de padres, negada para meninas. Seu pai nega terminantemente, mas ela foge, se apaixona por um Conde casado, escapa de um massacre promovido por invasores escandinavos, disfarça-se de homem e, após uma série de percalços (e de uma bem-humorada participação do veterano John Goodman com um papa bonachão que sofre de gôta), ela torna-se, finalmente papa (não papisa, mas papa mesmo, na flexão masculina do vocábulo), até que... Bom, o resto deve ser visto no filme!

Após a sessão, tive plena ciência de que fui manipulado enquanto espectador, de que o modo como a estória (real?) é contada exagera na edulcoração personalística dos biografados ou nas oposições maniqueístas de poder e autoridade com que a protagonista se depara em mais de uma situação. Seja como for, me senti questionadamente religioso durante a sessão, o que foi deveras positivo para a apreciação benévola do filme. Minha mãe, obviamente, ficou assaz emocionada com o filme, posto que ambos estamos emocionalmente frágeis, em decorrência do sofrimento enfrentado por nossa cachorrinha, que jazia na sala onde víamos o filme. Num dado momento da sessão, a cadelinha fez xixi, o que foi esperançoso e empolgante, já que isso indica que talvez seus órgãos internos ainda estejam funcionando, não tendo sido completamente destroçado pela violência do atropelamento por ela sofrido. Apesar de nossas veementes críticas e insatisfações contra a Igreja, eu e minha mãe somos teístas e temos fé, de maneira que foi interessante questionarmos os fundamentos ideológicos de tal fé durante a sessão do filme. Digo mais: ele é tão hollywoodiano em forma e conteúdo que estranhei demasiado que ele não seja mais conhecido pelo público em geral. No que depender de mim...

Wesley PC>

LADO B: A SUSPENSÃO DO ESPETÁCULO DA TRAGÉDIA ALHEIA

Minha cadela Sembene de Castro foi atropelada ontem. Não morreu ainda e, crente que eu sou, acredito na possibilidade de que ela sobreviva, não obstante ela gemer de dor algumas vezes por dia, de tão forte que deve ter sido a pancada. Não apresenta nem fraturas nem hemorragias externas, mas está em estado de choque, não quer se mover. Abana o rabinho e arreganha as pernas sempre que vê alguém que ama, mas está com os dentes trincados, não tem forças para comer. Estou ao lado dela, mas ainda não consegui chorar. E, por querer que ela sobreviva – ou se não for possível, que parta deste mundo sem muita dor – respeitarei a sua agonia e não a fotografarei sentindo dor. Mostrarei ela contente, me lambendo, como ela adora fazer. Amo minha cadelinha Sembene, que fique registrado aqui, de antemão!

Wesley PC>

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

‘TEASER’ DOCUMENTAL:

“Portanto, a informação visual (e a menor intensidade da informação televisional – comparada à cinematográfica – é, no fundo, compensada por sua maior insistência e continuidade) reduz a vigilância do espectador, constrange-o a uma participação, indu-lo a uma compreensão intuitiva que também pode não desenvolver-se verbalmente; conseqüentemente, essa comunicação visual provoca na massa dos fruidores mutações psicológicas que não podem deixar de ter o equivalente no campo sociológico, e criam uma nova forma de civilização, uma radical modificação das relações entre os homens e o mundo que os circunda, os seus semelhantes, o universo da cultura.” (‘O Universo da Iconosfera’ IN: “Apontamentos Sobre a Televisão” ‘apud’ APOCALÍPTICOS E INTEGRADOS – Umberto Eco - 1964).

Ou: se quiserem saber até que ponto citação literária e imagem fílmica se conectam, aguardem a minha postagem fotologística de amanhã, sexta-feira, dia em que trabalharei algumas horas a mais por causa de um evento de matrícula, quando terei pouco tempo para ler, mas não desperdiçarei em nenhum momento os anseios intelectivos que me regem e me tornam humano, mesmo quando, eventualmente, eu precise fazer algumas coisas tontas para demonstrar isso, que nem o Werner Herzog, ops!

Wesley PC>

QUANDO EU SEI QUE TIPO DE JORNALISMO EU NÃO QUERO NEM VOU FAZER!

Na manhã de hoje, comi meu desjejum diante da TV. Estava vendo um telejornal na TV Bandeirantes e estava sendo noticiado um acidente ocorrido em São Paulo, quando um ônibus começou a incendiar e sete passageiros pularam do veículo em movimento. O âncora do telejornal pediu que uma repórter entrevistasse transeuntes e perguntasse aos mesmos se estes se sentiam seguros quando andavam no sistema público de transportes paulistano. De repente, o âncora entrevista bruscamente a entrevistada e passa a seguir, com a câmera, um homem de bigode: “este é o motorista do ônibus. Vai atrás dele, equipe! Eu não estou dizendo que ele é culpado, longe de mim, mas este é o motorista, segue ele, vê o que ele vai nos dizer!”... Eu juro que não acreditava no que estava vendo e ouvindo. Juro! E o âncora ainda fez questão de repetir diversas vezes, no ar, que estava orgulhoso de seus repórteres. Senti vergonha de estar assistindo a este programa. Não é isso o que eu acho que seja Jornalismo. Não é isso que eu quero para mim nem para ninguém. Absurdo!

Wesley PC>

SÓ EU QUE NÃO TENHO SORTE?


Não, Wesley, tu és apenas mais um... Por isso, não vou perder muito tempo com minha ladainha habitual não. Vi o gracioso curta-metragem “Achilles” (1995, de Barry Purves) na noite de ontem e fantasiei diante de tantos pênis inocentes, utilizados sexualmente como antídotos à guerra, que é o que eles são... E o meu “fornecedor” dormiu cedo de novo... Trabalho novo extenua. E eu que me contente em saber que um amigo casado lavou o tênis em pleno início de madrugada. Sou apenas mais um, nesse quesito!

Wesley PC>

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

“TOMA LÁ, TOCA AQUELA CANÇÃO QUE VOCÊ DIZ QUE É DO OUTRO MUNDO”...

Hoje eu revi “Ganga Bruta” (1933, de Humberto Mauro) mais uma vez. Se existe um filme que fica melhor a cada vez que é revisto é esse, posto que, além de as cópias disponíveis do filme serem geralmente de má qualidade, algumas sutilezas enredísticas e estilísticas do filme são melhor compreendidas quando se supera de antemão algumas dificuldades técnicas inevitáveis a que o filme foi submetido diante das condições produtivas de sua época. Mas é inegável que ele causa espanto: como é genial este filme!

Reassisti a “Ganga Bruta” numa sessão entupida de alunos do curso de Audiovisual. A grande maioria deles estava ali por obrigação acadêmica, para não reprovarem numa dada disciplina. Exclamaram “aleluia!” quando o filme acabou, depois de terem incomodado os espectadores que realmente estavam apreciando o filme com gracejos e/ou comentários deveras inoportunos. Felizmente, a mediadora da sessão manifestou seu desagrado em relação ao desdém de quem desrespeitava a grandiosidade da obra. E, de alguma forma, eu me senti contemplado com a fala dela...

Ao final da sessão, parei para conversar um pouco com um motoqueiro de 22 anos que fumava num parapeito. Comentei com ele o quanto lamento que a geração etária seguinte à minha está inserida numa desproporção lancinante entre a disponibilidade midiática e apreciação qualitativa dalguns títulos. Quanto mais fáceis ficam os filmes clássicos e/ou experimentais de serem adquiridos, mais ignorados ou espectatorialmente vilipendiados eles são! E eu fiquei contente por esta conversa não ter sido um mero flerte desesperançoso, mas, de fato, um desabafo mútuo: procurando bem, ainda há quem valha a pena ser apreciado no panorama audiovisual sergipano!

Aí eu sou convidado a falar novamente sobre o filme: confesso-me encantado pelas soluções visuais mui inventivas e poéticas do cineasta, pela expressividade propositalmente tipificada dos integrantes do elenco, pela sensualidade explosiva de algumas seqüências (vide o famoso e antológico jogo erótico num jardim, em que o vestido da protagonista Déa Selva é providencialmente rasgado na altura de suas coxas), mas não sinto que minhas declamações passionais tenham sido devidamente compreendidas. Durante aquela sessão, eu pulsei, indiferente às reações negativas de eventuais ignorantes. “Ganga Bruta” é um filme que mexe comigo, que me (re)apaixona sempre que revisto. Eis o que me serve de consolo, neste exato momento!

Wesley PC>

POIS OS FATOS SE ACAVALAM...

Quando eu entrei em casa na noite de ontem, depois de ver naufragado o meu plano de ver tremer órgãos humanos de um rapaz que não mais estava desperto, deparo-me com minha mãe chorando na cozinha, chorando muito... Havia cuscuz derramado no chão e eu pensei que nossa instável cadela Zhang-Ke a havia mordido. Ela disse que não, mas não parava de chorar. Perguntei o que era, insisti, e ela chorava mais e mais e mais...

Se eu já estava me sentido mui decepcionado por dentro, fiquei ainda mais. Meu irmão dormia e eu me sentia um tanto sonolento, cansado. Quando acordei, vi um filme e, logo em seguida, senti fome. Antes de me banhar para o trabalho, assisti a um curta-metragem fubenga do soviético Aleksandr Sokurov. E, por mais que eu fizesse força para entender o que ele queria me dizer, só pensava na possibilidade de minha mãe permitir que meu sobrinho adolescente depressivo neo-alagoano passe uma semana aqui em casa, enquanto terapia para os afãs ciumentos que o acometem neste exato, segundo depoimento de minha irmã, de 46 anos, ao telefone. Eu tento, mas nem tudo depende (só) de mim...

Wesley PC>

“KIT ME DISSE PARA CONTEMPLAR A PAISAGEM – E EU O FIZ!”

Apesar de estar um tanto impaciente, aceitei rever “Terra de Ninguém” (1973), filme de estréia do arredio Terrence Malick na manhã de hoje. Fiquei impressionado com a quantidade de pretensas obviedades taxonômicas exaladas durante a sessão: era como se soubéssemos de antemão que aquele romance estouvado estava fadado ao término, como se percebêssemos de imediato que o diretor é um cineasta amante da Natureza, como se três diretores de fotografia fossem poucos para captar tanta beleza, como se James Taylor, Erik Satie, Nat King Cole e Carl Orff estivessem destinados a se unirem numa mesma trilha sonora poética... Que lindo foi ser comovido por este filme novamente!

Por mais fadado ao término que o tal romance estivesse anunciado, como eu queria viver um destes: Martin Sheen, jovem e tesudo; Sissy Spacek, plácida e bela, como sempre... A música, os bichos, o céu, as armas, a violência dos homens, a virgindade rompida que (não) precisa ser cravada na memória pelo esmagamento de uma das mãos com a pedra grande que jazia inerte na paisagem... E, logo após, encasquetei de ouvir “Peixes”, obra-prima musical da banda budista Os The Darma Lovers:

“Nós vivemos como peixes:
Com a voz que em nós calamos, com essa paz que não achamos...
peixes, pássaros, pessoas
nos aquários, nas gaiolas, pelas salas e sacadas
afogados no destino
de morrer como decoração das casas
Nós morremos como peixes:
O amor que não vivemos, satisfeitos mais ou menos
Todas iscas que mordemos
Os anzóis atravessados, nossos gritos abafados”...


Eu te amo. Ponto. Eu te amo!

Wesley PC>

terça-feira, 20 de setembro de 2011

TODO MUNDO TEM PROBLEMAS SEXUAIS, SEM ASPAS!

Na semana passada, recebi uma mensagem de um amigo pantinzeiro: “’Todo Mundo Tem Problemas Sexuais’ (2008) é o pior filme do Domingos de Oliveira, até parece ‘Sai de Baixo’”. Eu nem sabia que ele tinha realizado este filme, mas o título da produção sempre me pareceu demasiado repelente. Entretanto, o título motiva-me a repensar alguns percalços íntimos hodiernos: desejo sexual incompreendido causa problemas sim!

No exato momento em que eu escrevo isto, três amigos de trabalho discutem suas divergências eróticas, seus problemas relacionais, suas crises eróticas e suas preferências homossexuais, principalmente. Por dentro, algo me perturba no que tange ao assunto: pessoas que eu amo estão enfrentando problemas sexuais que não conseguem contornar naturalmente. E, infelizmente, não cabe a mim o direito de interceder. Eu tento, eu quero que eles estejam felizes, mas... Vida pessoal é pessoal demais para ser coletivizado assim: cada um sabe até onde vai a extensão do seu problema!

Quem leu esta postagem até este ponto já percebeu muito bem que, sim, eu quero falar de mim, que os tais problemas sexuais em voga talvez seja meus, mais no plano da indefinição apriorística do que no comunal e já positivamente clicheroso lamento sobre as perseguições da assimetria do desejo. Mas, por eu ter ciência de que posso envolver pessoas queridas em minhas tramóias mal-sucedidas de necessidade mútua de afeto inalcançável, eu adianto apenas que revi “Anatomia do Inferno” (2004, de Catherine Breillat), ao lado de um casal de amigos, na noite de ontem e, puxa, como eu me senti intimamente contemplado pelos dilemas sexuais postos em xeque pela ótima diretora, de quem sou um fã ardoroso. Numa cena-chave do filme, o homossexual (Rocco Siffredi) pago por uma suicida (Amira Casar) enfastiada para contemplá-la nua por quatro noites inteiras dispõe-se a sorver o seu absorvente recém-extraído na vagina, imbuído de sangue menstrual, depois que ela o dissolve num copo com água. Só achei a situação nojenta por causa da água: tara por lamber menstruação é algo que me acompanha desde tenra idade...

E, por falar em problemas sexuais, há quase duas semanas que eu não pratico sexo oral. Com o disse um amigo casado no início da madrugada de hoje, “já estou subindo pelas paredes!”. Mas, para o meu consolo (ou não), tenho problemas ainda mais urgentes para me preocupar agora: ai, ai! Estou com segredinhos de mim mesmo, quem diria?

Wesley PC>

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

“SE TEU PESADELO TEVE A VER COM MASTURBAÇÃO, TU ESTÁS MAIS LIGADO A MIM DO QUE IMAGINAS!”

Eu já tencionava escrever sobre este disco (literalmente) seminal na manhã de hoje, por conta de um pesadelo apocalíptico e erótico que tive, mas o recebimento de uma mensagem de celular com a frase acima me desorientou (positivamente): um elemento está minuciosamente atrelado ao outro, ninguém há de duvidar, mas, haja o que houver, hoje é dia de gritar ao som desse disco, hoje é dia de “The Velvet Underground & Nico” (1967), muito mais do que estabelecer conexões obviamente conectivas ou algo do gênero: hoje é dia de esperar pelo meu homem, pela ‘femme fatale’, pela Vênus em peles, pela heroína, no sentido mais geral do termo, e, principalmente, pelas festas do amanhã, para ficar apenas em alguns títulos...

Hoje é dia de gritar ao som deste disco e de compartilhá-lo com o rapaz que me direcionou a mensagem acima, posto que ele foi coadjuvante no meu (bom) pesadelo e posto que, por mais que eu tenha ficado tão apavorado inicialmente com o mesmo que não me sinta ainda apto a comentá-lo, explicá-lo ou mencioná-lo mais depuradamente, Música é algo que a gente compartilha, que nem alguns tipos de masturbação (ou quase todos, a depender de quem esteja lendo este texto, neste exato momento)...

E, como eu gosto mesmo é de ser literal, segue a letra da faixa 02 desta obra-prima produzida pelo afetado e genial Andy Warhol:

“Hey, white boy, what you doin' uptown?
Hey, white boy, you chasin' our women around?
Oh pardon me sir, it's the furthest from my mind
I'm just lookin' for a dear, dear friend of mine
I'm waiting for my man

Here he comes, he's all dressed in black
PR shoes and a big straw hat
He's never early, he's always late
First thing you learn is you always gotta wait
I'm waiting for my man”


É isso mesmo, diretamente isso!

Wesley PC>

domingo, 18 de setembro de 2011

ACHO QUE O SILÊNCIO...


Terminada a sessão, luzes acessas e uma linda mulher chorando... No outro dia, trabalho latejante. EXÍLIOS, no plural, era a palavra-chave. Pouco sono, muita vida para ser gritada e dançada ainda... E, nesta hora (ou nestas horas), um pouco, bem pouco de silêncio é providencial!

Ninalcira, eu te amo!

Wesley PC>