Quando eu tinha por volta de 14 anos, assisti a um telefilme,
na TV Bandeirantes, que me impressionou deveras: “Dahmer, o Canibal de
Milwaukee” (1993, de Carl Crew). Não obstante ser um filme que, visto hoje,
seria tachado como ruim, a sensualidade perversa da obra me excitou e me fez
ter consciência de que eu era “diferente”.
Ostensivamente misantropo à época em que vi o filme,
projetei-me na biografia do perturbado Jeffrey Dahmer (1960-1994), homossexual
em crise perpetua consigo mesmo que, sem conseguir distinguir adequadamente o
que sentia pelos homens que encontrava pelo caminho, os drogava, os matava e os
dilacerava, cumulando cadáveres em sua casa, de modo que o mau-cheiro dos
mesmos o fez ser descoberto, preso, condenado a centenas de anos na prisão e,
após dois anos de cumprimento dos mesmos, foi morto por um companheiro de cela,
aos 34 anos de idade. Não é este destino que eu quero para mim, aliás!
Hoje, às vésperas de completar 32 anos de idade, resolvi
conferir um filme desconhecido que estava jogado em minha casa faz tempo: “Dahmer
– Mente Assassina” (2002, de David Jacobson), sobre o mesmo personagem real. O
DVD havia sido um presente de meu antigo chefe empregatício, que notou
similaridades entre o protagonista do mesmo e minha personalidade recôndita. Achei
engraçado que ele tivesse percebido isso (risos)...
Ao contrário do telefilme mais antigo, “Dahmer – Mente Assassina”
é muito pudico e justificativo no que tange à reconstituição dos assassinatos
perpetrados pelo jovem Jeffrey Dahmer. Aqui, ele surge como um funcionário de
fábrica de chocolates que é bastante tímido na abordagem erótica dos rapazes
por quem se interessa e, enquanto conversa com um rapazola negro e afetado por
quem talvez tenha se interessado, relembra as primeiras vezes em que cometeu assassínios,
ainda em sua tenra juventude. O problema é que o roteiro do filme, escrito pelo
próprio diretor, não avança em nenhuma direção precisa, acumulando e misturando
memórias apenas para “defender” Jeffrey como um rapaz atormentado pelo divórcio
dos pais, pela vigilância de seu progenitor e pelos cuidados exagerados da avó
com quem vive. Ao final, tudo é muito superficial, não convence, não nos leva a
tomar partido, não chega a qualquer resultado prático: não me identifiquei
tanto, felizmente!
A razão para o meu distanciamento insuspeito em relação ao personagem
não tem a ver apenas com a má qualidade do filme: desta vez, estou muito mais cônscio
de minhas limitações e perversões, de modo que nem mesmo as aflições típicas de
festividades como o réveillon que se aproxima me parecem tão contundentes.
Sinto-me, sinto-me feliz!
Enquanto me banhava, há pouco, tive um pensamento oculto que
resolvi compartilhar como se estivesse apenas reverberando a minha consciência:
em 2012, não beijei ninguém na boca! Não sei até que ponto sinto falta disso
(já que costumo dizer que beijos na boca me incomodam), mas não me senti
lamentoso por tal recorde negativo: não sei beijar só por beijar! Como não me
apaixonei efetivamente por ninguém que tenha se disposto a oferecer seus lábios
para o meu deleite mútuo, consolei-me sobremaneira com minhas masturbações e
felações consentidas (algumas delas, a fórceps – risos). Não sou um homem
insatisfeito no campo sexual, ao contrário do que minha estranha categorização
virginal faça pensar – e, insisto: neste exato momento, sinto-me feliz (e
amado)!
Wesley PC>