segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

“... E O QUE VOCÊ FEZ?”


Quando eu tinha por volta de 14 anos, assisti a um telefilme, na TV Bandeirantes, que me impressionou deveras: “Dahmer, o Canibal de Milwaukee” (1993, de Carl Crew). Não obstante ser um filme que, visto hoje, seria tachado como ruim, a sensualidade perversa da obra me excitou e me fez ter consciência de que eu era “diferente”.

Ostensivamente misantropo à época em que vi o filme, projetei-me na biografia do perturbado Jeffrey Dahmer (1960-1994), homossexual em crise perpetua consigo mesmo que, sem conseguir distinguir adequadamente o que sentia pelos homens que encontrava pelo caminho, os drogava, os matava e os dilacerava, cumulando cadáveres em sua casa, de modo que o mau-cheiro dos mesmos o fez ser descoberto, preso, condenado a centenas de anos na prisão e, após dois anos de cumprimento dos mesmos, foi morto por um companheiro de cela, aos 34 anos de idade. Não é este destino que eu quero para mim, aliás!

Hoje, às vésperas de completar 32 anos de idade, resolvi conferir um filme desconhecido que estava jogado em minha casa faz tempo: “Dahmer – Mente Assassina” (2002, de David Jacobson), sobre o mesmo personagem real. O DVD havia sido um presente de meu antigo chefe empregatício, que notou similaridades entre o protagonista do mesmo e minha personalidade recôndita. Achei engraçado que ele tivesse percebido isso (risos)...

Ao contrário do telefilme mais antigo, “Dahmer – Mente Assassina” é muito pudico e justificativo no que tange à reconstituição dos assassinatos perpetrados pelo jovem Jeffrey Dahmer. Aqui, ele surge como um funcionário de fábrica de chocolates que é bastante tímido na abordagem erótica dos rapazes por quem se interessa e, enquanto conversa com um rapazola negro e afetado por quem talvez tenha se interessado, relembra as primeiras vezes em que cometeu assassínios, ainda em sua tenra juventude. O problema é que o roteiro do filme, escrito pelo próprio diretor, não avança em nenhuma direção precisa, acumulando e misturando memórias apenas para “defender” Jeffrey como um rapaz atormentado pelo divórcio dos pais, pela vigilância de seu progenitor e pelos cuidados exagerados da avó com quem vive. Ao final, tudo é muito superficial, não convence, não nos leva a tomar partido, não chega a qualquer resultado prático: não me identifiquei tanto, felizmente!

A razão para o meu distanciamento insuspeito em relação ao personagem não tem a ver apenas com a má qualidade do filme: desta vez, estou muito mais cônscio de minhas limitações e perversões, de modo que nem mesmo as aflições típicas de festividades como o réveillon que se aproxima me parecem tão contundentes. Sinto-me, sinto-me feliz!

Enquanto me banhava, há pouco, tive um pensamento oculto que resolvi compartilhar como se estivesse apenas reverberando a minha consciência: em 2012, não beijei ninguém na boca! Não sei até que ponto sinto falta disso (já que costumo dizer que beijos na boca me incomodam), mas não me senti lamentoso por tal recorde negativo: não sei beijar só por beijar! Como não me apaixonei efetivamente por ninguém que tenha se disposto a oferecer seus lábios para o meu deleite mútuo, consolei-me sobremaneira com minhas masturbações e felações consentidas (algumas delas, a fórceps – risos). Não sou um homem insatisfeito no campo sexual, ao contrário do que minha estranha categorização virginal faça pensar – e, insisto: neste exato momento, sinto-me feliz (e amado)!

Wesley PC> 

PALAVRA-CHAVE: CONTINUAÇÃO (OU CONTINUIDADE, SE MELHOR PREFERIREM)

31 de dezembro de 2012: este é mais um daqueles momentos em que confessar pela enésima vez que "eu sou um fetichista" talvez não mude muita coisa em relação à apreensão do que vou escrever em seguida, mas, à guisa de retrospectiva íntima, preciso dizer que, se houver algo de diferente em relação ao conjunto dos 365 dias que hoje se encerra, tive um 2012 excelente, soberbo, e, principalmente divino (em mais de um sentido literal e/ou dialético)...

 Se, por um lado, coisas ruins obviamente sucederam, por outro, todas estas foram ressignificadas ou compensadas por outras deveras melhores: 

 - Percebi que uma das criaturas que se dispunham a andar sem reservas entre o meu círculo aberto de amigos era uma víbora detestável, uma criatura traiçoeira, egoísta e burra (na acepção mais autodestrutiva do termo, visto que não gosto de utilizar esta palavra, aqui infelizmente necessária), mas aproximei-me ainda mais de seres que já eram infinitamente encantadores para mim; 

 - Fui assaltado com violência e hipertrofiei as minhas cautelas urbanofóbicas, mas diverti-me bastante ao percebi que sobrevivi sem danos físicos, que meus óculos deixaram de ser obrigatórios e que não faltaram amigos dispostos a me ajudar no que eu precisasse (inclusive, policiais críticos que insistiram comigo, quando souberam que eu estudava Jornalismo: "fale mal da polícia, mas não dos policiais" - risos);

 - Ingressei tardiamente (porém, no tempo exato) num Mestrado, onde percebi-me envolvido em conflitos intelectuais intensos com meu orientador, mas a convivência com meus nove colegas apaixonados pelo que estudam e a disponibilidade temporal para o incremento de meu arcabouço temático (a Boca de Lixo paulistana na década de 1980) fizeram com que a minha vida teórica tivesse muito mais sentido prático no futuro que se anuncia...;

 - Desvencilhei-me de uma função ocupacional que já me servia como antonomásia (chamavam-me de "DAA" nas ruas e sou gravado assim nas listas telefônicas de vários amigos), mas continuo guardando excelentes lembranças e ensinamentos daquele local, sem contar que as amizades que lá erigi são para sempre, como bem demonstram os reencontros freqüentes e cheios de afeto; 

 - e, principalmente, percebi-me vítima de diversas lamúrias, mas encontrei no CECINE/UFS, agora ressuscitado em sua terceira geração, a vontade de estender a minha voluntária inserção durkheiminiana dentre os "Aparelhos Ideológicos de Estado" que Louis Althusser tão bem descreveu num contexto em que sentimentos e ações andam juntos com a necessidade de transformar e melhorar um contexto terrestre que, se não se extinguiu no dia propagandeado pela mídia [e no qual tive acesso ao filme cujo fotograma emoldura esta postagem: O FIM DO MUNDO (1916, de August Blom), devidamente comentado aqui], pode soçobrar a qualquer momento, de tão chafurdado por ideologias malévola transmitidas e assimiladas através dos meios de comunicação de massa. 

 Enfim, resistiremos: possuo amigos, colegas, familiares, vizinhos, cúmplices, irmãos, seres vivos que me legam a cada instante o dom de amar e ser amado em retorno. A todos estes (que são tão infinitos quanto é o amor do Deus em que insisto em acreditar), eu deixo o meu eterno OBRIGADO, a ser reproduzido nos dias que se seguirão: muito obrigado mesmo! E que venha 2013... E todos os anos seguintes a ele, com a certeza de que não estou só - ou melhor, não estamos sós! 

 O texto acima talvez seja claro e auto-suficiente em seu direcionamento coletivo de agradecimentos, por mais que um ou outro ponto exija maiores explicações. Transferirei as mesmas para o desfecho do citado filme mudo dinamarquês, em sua bela seqüência final, mostra homem e mulher desolados num mundo destruído simultaneamente por fogo e água. Um predicante religioso permite o reencontro de ambos e a perspectiva moral do roteiro deixa clara a intenção de depositar no casal o intento da recolonização do mundo, aqui associado à continuidade de seus valores afetuosos, bastante divergentes da cobiça que impera nos demais contextos personalísticos. Isso fala por mim agora: estou feliz, confiante e agradecido, ainda que chateado por uma traição que não consegui contornar. Mas o mal é menor diante do bem supremo: estou feliz, não estou sozinho e há um Deus! 

 Wesley PC>

domingo, 30 de dezembro de 2012

“AÍ FOI QUE O BARRACO DESABOU, NESSA QUE O MEU BARCO SE PERDEU...”!

Hoje eu passei a madrugada em claro: tanto porque eu estava contente (em estado de “êxtase” seria mais preciso), tanto porque eu estava a ver alguns filmes meia-boca mas divertidos porque entre amigos, tanto porque eu flutuava pensamentalmente... Dormi algumas horas, suei bastante e, ao voltar para casa, reassisti ao filme “Setembro” (1987, de Woody Allen) enquanto saciava a minha fome. No filme – emocionalmente devastador, mas, ainda assim, um dos menores do diretor – Mia Farrow, Dianne Wiest e Elaine Stritch são mulheres que experimentam emoções diferentes porém complementares: a última personagem, mãe da primeira, é uma atriz famosa e aposentada, que passa os dias a relembrar os amores lúbricos da juventude e, ao se olhar no espelho, pensa: “é horrível envelhecer quando, por dentro, se sente como se ainda tivesse 21 anos de idade... Ao olhar para isso, parece que me falta algo: é o futuro!”; a segunda gosta de música e se apaixona pelo interesse romântico da primeira, mas reluta em ceder às investidas dele para não machucar a frágil senhorita; e a primeira é uma mulher atormentada e absurdamente triste, que “se veste como uma refugiada polonesa” e se sente feia e desinteressante, apesar de não fazer jus a estes adjetivos depreciativos. Não gostei do filme como um todo, mas, no momento mostrado na foto, quando a primeira flagra a segunda beijando o homem que ambas amam, o estado de espírito de todos os personagens declina de vez: daí para o final, o filme é pura melancolia e desencanto!

 “Ontem demorei prá dormir 
Tava assim - sei lá! - meio passional por dentro... 
Se eu tivesse o dom de fugir prá qualquer lugar 
Ia feito um pé-de-vento
 Sem pensar no que aconteceu
Nada, nada é meu, nem o pensamento” 

 Este filme, pertencente à fase mais bergmaniana do diretor, não me empolgou pessoalmente (no sentido qualitativo do termo) porque é desalinhado no que tange à conjunção entre conteúdo enredístico absolutamente melancólico e quadratura formal. Mas me perturbou muito mesmo assim, por motivos deveras pessoais, inclusive. Fui adormecer mais um pouco imediatamente após a sessão, sonhei com alguns supostos amigos de infância que não me lembro de conhecer, e despertei com a execução altissonante da canção acima, numa festa improvisada na casa em frente à minha. Impressionante como esta letra – “Eu e Você Sempre”, popularizada através do grupo Exaltasamba, mas, aqui, cantada pelo Chiclete com Banana – tinha muitíssimo a ver com o que eu sentia antes de dormir. E fiquei preocupadíssimo com o anúncio vindouro contido em seu refrão: glupt!

 Wesley PC>

sábado, 29 de dezembro de 2012

NUMA FRASE: LOUVADO SEJA ALAIR GOMES!


Ponto e masturbação!

 Wesley PC>

NOTA RÁPIDA SOBRE O TRABALHO ALAIR GOMES...

No início da madrugada de hoje, revi "A Morte de Narciso" (2003, de Luiz Carlos Lacerda) e fiquei impressionado: se, da primeira vez, o estupor positivo relacionado ao impressionante 'corpus' fotográfico de Alair Gomes (1921-1992) me impressionou pelo pioneirismo no que tange à contemplação da nudez masculina, ontem nem mesmo os defeitos estruturais ambiciosos do filme me perturbaram - muito pelo contrário, me seduziram deveras: a idéia de pôr homens musculosos para recitar poemas de Lúcio Cardoso, para ficar apenas num exemplo, encanta e seduz ao mesmo tempo. Por mais que eles sejam canastrões, aquilo excita, aquilo cheira a redenção pela arte: seus corpos intumescem com poesia, seus pênis tornam-se componentes artísticos reconhecidos exaustivamente com tais...

No filme, parceiros de criação ou companheiros artísticos do fotógrafo explicavam como era o seu processo criativo: ao longe, Alair fotografava seus "alvos" (belíssimos transeuntes masculinos que se exercitavam na praia carioca do Arpoador) e, em seguida, os procurava, mostrava as fotos reveladas e os convidava para ensaios mais elaborados, desta vez, focalizados em suas genitálias, conforme a imagem acima postada serve de exemplo... Por motivos óbvios, fiquei mais uma vez encantado diante do filme: belíssimo e, mais que isso, útil!

Wesley PC>

“ – FALTA REALIDADE! – NÃO, TEM DEMAIS... ISSO TAMBÉM É ERRADO!”

Antes de dormir, assisti, quase por acaso, a um filme surpreendente da Boca do Lixo paulistana, chamado “A Noite das Fêmeas – Ensaio Geral” (1976, de Fauzi Mansur). Na trama deste filme, vendido como pasticho erótico, um grupo de personagens bastante heterogêneos ensaiava uma peça teatral em que quatro prostitutas assassinavam a facadas o gigolô que amavam e que as explorava. Após o violento ato, elas comemoravam entre si a liberdade, brindando-a com um gole de vinho. Entretanto, alguém adiciona veneno na bebida, de modo que as quatro atrizes são internadas num hospital e um excêntrico investigador de polícia entra em cena para descobrir quem é o culpado da tentativa de assassinato...

 A partir deste pressuposto enredístico, estratagemas metalingüísticos, que mencionam a estrutura dos livros de Agatha Christie, os primeiros filmes de Alain Resnais, o hermético estilo de Peter Greenaway e muitas outras referências artísticas, são despejados num ótimo roteiro, que me deixou ainda mais intrigado e espectatorialmente satisfeito por causa do estado tenso em que me encontrava durante a sessão, visto que estava preocupado com a falta de resposta de alguns amigos em relação a algumas importantes mensagens que enviei e com uma possível ameaça processual que sofri por causa de um comentário ousado acerca de um desmazelo produtivo local, induzido a partir do texto aqui publicado, bastante moderado, afinal de contas, segundo um amigo atento com o qual muito concordo. Intimidado por causa dos humores que o meu comentário possa inflamar, tenho que estar atento e, por precaução, angariar todo o apoio externo que eu puder, pois coisas estão acontecendo, não necessariamente favoráveis a mim!

 Oficialmente, anseio para que todos os maus augúrios aventados no parágrafo anterior não passem de desentendimentos provisórios, devidamente contornados com a adesão dialogística, mas, ainda assim, estive tenso durante a tensão e permaneci assim quando me deitei para dormir, tanto que, apesar de não ter sido afligido por pesadelos, antes das 7h da manhã de hoje eu já estava desperto, apesar de ter adormecido por volta das três horas da madrugada...

 Voltando ao roteiro magistralmente escrito por Marcos Rey, o que mais me surpreendeu no filme foi como as idas e vindas no tempo não tinham o intuito de elucidar especificamente o crime, mas, muito pelo contrário, mergulhar o espectador numa espiral de informações que se confundiam cada vez mais, tamanhas as pontas soltas nos comportamentos de cada um dos personagens, envolvidos emocionalmente, em maior ou menor grau, uns com os outros: paixões mal-correspondidas, um crítico que achava que tudo aquilo era um golpe publicitário, um iluminador esquizofrênico e acostumado a envenenar os seus cães, dívidas monetárias, diretores e roteiristas que divergiam até as últimas conseqüências pela versão final dos acontecimentos da peça, um investigador que parecia Orson Welles em “A Marca da Maldade” (1958), havia de absolutamente tudo no filme!

 E, num momento genial, alguém pronuncia, antes de pisar no pé do investigador, para demonstrar a sua tese: “a realidade é o aspecto mais concerto da própria realidade”. Eu exultei: incrível como este filme do genial Fauzi Mansur é incrivelmente subestimado e esquecido pelos admiradores do cinema vanguardista brasileiro. Muitíssimo bom!

 Wesley PC>

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

“VIVO NUM MUNDO DESERTO DE ALMAS NEGRAS”...

Passei álcool nas mãos, mais de uma vez, mas a impressão de que elas continuavam sujas não me abandonava: tal qual uma lady MacBeth pornográfica dos dias atuais, ainda sentia aqueles poucos resquícios de esperma alheio, misturado a espuma de sabonete e urina, enquanto tentava aprender algo mais sobre a obra de Franc Roddam, cineasta britânico cujo longa-metragem de estréia [“Quadrophenia” (1979)], baseado numa ópera-rock do grupo The Who, eu vi na tarde de hoje – e não gostei, apesar de ter apreciado deveras o quartel final do filme, em que a música externaliza o estado de espírito atormentado do insuportável protagonista, abandonado pela família, pela namorada e pelos amigos depois que comete alguns erros recorrentes, envolvendo baderna e tráfico de anfetaminas. Na noite de ontem, eu cometi um erro, ainda que não o percebesse de imediato. E, no meu caso particular, esta impercepção era o problema: eu não olhei para trás...

 Tomado por minha fobia urbana bastante conhecida, interrompi momentaneamente o círculo comunitário no qual submergi com tamanho afinco na última semana: não por coincidência, estes dois temas (a fobia e a comunidade) não param de me perseguir através das obras cinematográficas com que entro em contato, sendo estas tão distintas quanto “A Força do Mal” (1948, de Abraham Polonsky), “Fugindo do Inferno” (1963, de John Strurges) e “Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge” (2012, de Christopher Nolan)... De tudo quanto é lugar cinematográfico, meus erros e acertos recentes se mostram metonimizados diante de mim. E, tal qual ouvi por acidente há pouco: “todo mundo tem maus momentos. Por isso, não podemos deixar que estes momentos maus sobreponham-se aos momentos bons que ainda podemos viver”. Sim, é verdade: e, além do álcool esfregado nas mãos, também passei perfume Musk em meu corpo: ainda que meu parceiro parassexual favorito já tenha se masturbado durante o banho hoje, não custa nada tentar pelo menos alisar os seus cabelos crespos um pouco...

 E, sobre o título da postagem, tem a ver com uma canção composta por Erasmo Carlos e interpretada pela Elis Regina, a sétima faixa deste disco cuja capa serve de moldura [“Ela” (1971)], ao qual ouvi três vezes seguidas na manhã de hoje. E, cada vez que eu me deparava auditivamente com “Mundo Deserto”, eu pensava em mim mesmo, no que fiz de errado sem perceber, mas cuja culpa não é minha intenção negar:

 “No mundo deserto de almas negras 
Me visto de branco 
Me curo da vida sofrida, sentida 
Que deram pra mim 

No mundo deserto de almas negras 
Sorriso não nego
 Mas vejo um sol cego 
Querendo queimar o que resta de mim 

Vivo no mundo deserto de almas negras 
Vivo no mundo deserto de almas negras
 Vivo no mundo deserto de almas negras

 Na vontade de verdade
 Eu quero ficar 
E não acredito no dito maldito 
Que o amor já morreu
 Tenho fé que o meu país 
Ainda vai dar amor pro mundo 
Um amor tão profundo, tão grande
 Que vai reviver quem morrer"...

  Por essas e outras, eu peço desculpas públicas a meus amigos mais queridos: quero ter novamente o direito de reestruturar o círculo comunitário que tanto me encheu de encanto e motivação nestes dias egrégios de 2012... De coração, as minhas mais sinceras desculpas!

 Wesley PC>

JÁ COMENTEI ESTA FOTO NO FACEBOOK, MAS, POR SER SINCERO O QUE ELA ME TRANSMITE, TALVEZ NÃO SEJA DEMAIS REPETI-LA...


Texto original: "se, de um lado, eu talvez não perceba tanto problema assim em ser 'um velho que tenta se esquivar da solidão que criou para si mesmo, mas que a defende arduamente quando a percebe ameaçada', desde que compreendido por meus amigos sinceros, do outro, aquela voz temerária não se calava: 'não existe vida sexual na dor!'.
E agora?"

Ainda não sei bem se entendi o que o meu indubitavelmente melhor amigo Jadson Teles quis transmitir quando se sentiu "preocupado" ao final da sessão egrégia de "Violência e Paixão" (1974. de Luchino Visconti) no cinema, mas eu experimentava algo que, por falta de definição melhor, assemelhava-se ao que as crianças apelidam de "medo do desconhecido". Mas não era ruim, não parecia algo ruim, e sim bom. Mas era medo, e medo que é medo traz à tona a necessidade dalguma vigilância, à qual o mesmo Jadson prontamente associou uma necessidade de punição antecipada. E eu pensava: "será que estamos a perceber ou sentir as mesmas coisas?". Pelo sim, pelo não, rever este filme (em grupo)  mudou as nossas vidas!

Wesley PC> 

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

CULPA MINHA, QUE, ATÉ HOJE, AINDA NÃO LI “O LEVIATÔ, DE THOMAS HOBBES?

Esta é a pergunta que eu mais repetia para mim mesmo durante a sessão do execrável filme “Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge” (2012, de Christopher Nolan), que vi na tarde de hoje. Apesar de não estar com muita vontade de ver o filme – tanto que o desdenhei quando este esteve nos cinemas, por mais elogios rasgados de pessoas confiáveis que ouvi sobre ele – esperava que fosse achá-lo ao menos mediano, mas o diretor e co-roteirista não quis o meu afeto: os 165 minutos de duração irregular, as tramas paralelas desinteressantes, as composições previsíveis e/ou forçadas dos personagens (que parecem terem regredido no tempo, em sua insistência em protelar as mortes desejadas de seus inimigos), quase tudo no filme me pareceu insuportável, mas o que me chateou mais, sem dúvida, foi a consideração do povo de Gotham City como uma entidade una e incapaz de discordar de qualquer decisão hipodérmica que a envolve. Diziam ao povo: “faça!”, e as pessoas assim faziam. Diziam: “desobedeça”, e as pessoas desobedeciam nas condições pré-estabelecidas (destruir uma prisão e assassinar policiais, por exemplo). Sinceramente, senti como se o período de estudos sobre teorias democráticas no Mestrado tivesse valido muito a pensa, visto que Christopher Nolan subestimou deveras a minha capacidade de interpretação ideológica. Péssimo filme! E talvez eu volte a falar sobre ele, por conta de um cotejo erótico que o envolve...

Conforme escrevi para um rapaz cujo delicioso esperma já foi sorvido por mim centenas de vezes, “no começo do filme, alguém pronuncia: ‘em tempos de paz, não se precisa de heróis’. O problema é que Hollywood não se interessa pela paz. Irritado ainda: odiei o filme!”. A pura verdade: mais do que tê-lo odiado enquanto tedioso espetáculo cinematográfico, fiquei emputecido com o mesmo enquanto manifestação ostensivamente ideológica , em que a mentira, mais uma vez, é requerida como estratagema pseudo-conciliatório. Se não fossem as ótimas presenças de Anne Hathaway e Joseph Gordon-Levitt, odiaria o filme ainda mais: a vilã interpretada por Marion Cotillard é absurdamente inconvincente! Por que será que gostam tanto deste filme, hein? Tenho que ler o livro do Thomas Hobbes o quanto antes!

Wesley PC> 

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

29 MINUTOS PARA O DIA 25 DE DEZEMBRO – E CONTANDO...

Na tarde de hoje, eu adormeci e acordei com o barulho de um caminhão de lixo, triturando o conteúdo recolhido em frente à minha casa, os meus cachorros latindo, os funcionários da empresa coletora gritando algo que não consegui discernir. Lembrei que, até alguns anos, era comum oferecer esmolas aos lixeiros, como dádiva natalina. Nos dias de hoje, até mesmo este gesto demagógico, eventualmente dotado de verdadeira filantropia casuísta, foi substituído pela vacuidade festiva e massificada: na rua em que moro, às 23h33’ da véspera de um dia que os meios de comunicação de massa propagandeiam como o do nascimento do filho de Deus, meus vizinhos ouvem músicas de péssimo calão em altíssimo som, enquanto minha mãe assiste à Missa do Galo, transmitida diretamente do Vaticano pela TV Cultura...

Por eu não ser efetivamente cristão – no máximo, sou um “cristista”, fiel seguidor dos ensinamentos sociopolíticos de Jesus Cristo, costumo alegar que detesto o dia de Natal. Inclusive, na tarde deste mesmo dia, recebi uma mensagem de celular de uma grande amiga, amargurada com o falecimento de um conhecido, anunciando suas projeções acerca do que deveria ser a referida data. Não obstante ter me emocionado/preocupado com o que ela quis me dizer, fiquei chateado com o conteúdo da mensagem: achei-a inoportuna, entreguista, visto que, em minha opinião militante, ignorar qualquer ambição natalina é a melhor forma de conter as mazelas impostas em nome deste feriado que costumava me deprimir, mas que, hoje em particular, finalmente converteu-se em uma data fingida, que não mais me afeta tão negativamente, ufa!

No exato momento em que escrevo estas linhas, sinto-me feliz, simplesmente contente por estar vivo, por estar com minha mãe comunicativa e audiente detrás da cadeira em que estou sentado, enquanto meu irmão mais novo e meus cachorros jazem num quarto. Há pouco, um amigo/vizinho do caçula Rômulo de Castro o telefonou de uma penitenciária: apesar de não gostar dele, minha mãe sentiu compaixão por seu estado, pois ele chorava enquanto conversava com ela. Rômulo estava dormindo e não pôde consolá-lo. De minha parte, estou ansioso para ver o filme mais recente do Ang Lee no cinema, amanhã pela tarde, ao lado de meus melhores amigos. Amanhã é Natal, inclusive, mas os cinemas estarão funcionando. O capitalismo muda tudo, dessacraliza o religioso em prol do monetário. “Nem mesmo o dia de Finados é respeitado!”, reclama minha mãe volta e meia. E eu contente...

Wesley PC> (23h41’)

A (IM)POSSIBILIDADE DE REDENÇÃO [UMA RESENHA APAIXONADA E NATALINA]:


“Um católico é mais capaz de mal que um outro qualquer. É possível que, por acreditarmos Nele, estejamos em contato mas íntimo com o Diabo do que as outras pessoas. Mas devemos esperar – acrescentou maquinalmente – esperar e rezar.” (página 283)

Consumi o romance “A Inocência e o Pecado” [“Brighton Rock” (1938)], de Graham Greene, com incrível velocidade: já havia lido três obras do autor e não conhecia nada sobre este livro em particular, mas estava sem sono numa terça-feira e precisei acalmar o meu espírito. Sendo fã deste autor intuía que, nesta trama desconhecida, encontraria ali o que uma crítica condensou como suas marcas registradas: “o domínio do tempo e da narrativa e a profundidade psicológica das personagens e do sentido religioso, remetendo aos romances de [Fiódor] Dostoiévski” (Ana Maria Kessler Rocha em “100 Autores que Você Precisa Ler” – página 105). Graham Greene me consola!

Por motivos mais do que óbvios, intuía que a trama com a qual entraria em contato me faria pensar num rapaz que amo, católico e conservador, supostamente decidido acerca das rédeas de sua vida mas concomitantemente absorto nas dúvidas e rasteiras que a vida nos apresenta cotidianamente – e, por causa disso, encontrei com contato com ele durante quase toda a leitura, como se ele nunca tivesse se afastado (fisicamente) de mim...

Na primeira página do livro, uma morte está prestes a ocorre: um homem chamado simplesmente de Hale, mas prenominado Fred (ou melhor, Charlie) recebera um golpe de arma branca nas costas, mas os jornais e laudos médicos lhe concederão um óbito por causas naturais, visto que ele sofria de trombose e diversas outras falências de saúde. O tal Hale era um agente de apostas, pelo que entendi, e dois personagens têm suas vidas descortinadas em decorrência do que acomete o infeliz Hale: a obstinada Ida Arnold, que estivera com ele pouco antes de sua morte e tem certeza de que ele recebera um golpe fatal por parte de alguém; e o Rapaz, um jovem gângster apelidado Pinkie, efetivamente responsável pelo assassínio. A primeira interroga várias pessoas em busca de pistas que conduzam ao desvelamento do crime. O segundo elimina quem possa se constituir como testemunha, assassinando a maioria destas pessoas e casando-se forçosamente com uma rapariga de 16 anos, chamada Rosa, que se apaixona perdidamente por ele, por mais que lhe digam – e ele próprio insista em provar-lhe – que Pinkie é mau e ardiloso. Ela o ama, ao passo em que ele sente repugnância de qualquer mulher, por ter nojo absoluto do ato sexual, traumatizado que ficara de quando, nas noites de sábado de sua infância, viu seu pai deitar-se furiosamente sobre sua mãe subserviente, que gozava e sofria em iguais medidas. O Rapaz odeia o pecado mortal do sexo, portanto, e esta repulsa se converterá no tema central do romance, para além de suas aparências e conduções policialescas.

À medida que a trama evolui, a proximidade referente ao desfecho das verdadeiras intenções do crime que vitimara fatalmente o doente Hale, a narrativa expõe os interesses, pensamentos e temores ocultos dos personagens, alternando-se entre os contextos que cercam os dois personagens-pólos citados no parágrafo anterior, eventualmente entrecruzados em seus destinos desviantes (Ida persegue, o Rapaz foge)... Porém, o que mais me encantou no livro foi, sem dúvida, a abnegação romântica da jovem e deslumbrada Rosa, que ama Pinkie mais que a sua vida miserável, entregando-se a ele de forma voluntariamente iludida, por mais que perceba, em momentos derradeiros, que ele tem a intenção de deformá-la com vitríolo ou conduzi-la a um oportuno suicídio. “Preferia matar-se a dar à língua (...), porém, sabia que não teria essa coragem” é um vaticínio que, na página 95, abrange os desígnios desejosos de mais de um personagem.

Surpreendentemente, o asco nutrido pelo Rapaz em relação ao sexo faz não apenas que ele se conserve virgem até as vésperas de sua maturidade como tema fervorosamente que precise penetrar a luxúria de qualquer fêmea, seja a rapariga carente com quem se casa ilegalmente, seja a amante de um capanga recém-falecido que flerta com ele numa festa. Detalhe adicional: o Rapaz também não bebe álcool. Conclusão: identifiquei-me plenamente com ele, ao passo em que também empurrava esta identificação para o moço que amo, igualmente abstêmio de álcool e sexo. E, sem que eu percebesse, via-me plenamente absorto nas agruras religiosas, conscienciosas e muitíssimo bem-redigidas deste romance inesperado e magistral, definida como “o primeiro ‘romance sério’ do autor” por alguns exegetas. Se eu estava apaixonado antes e deixei fingir que este sentimento estava adormecido, durante a leitura, tudo veio à tona: não sei se me atrevo a classificar “A Inocência e o Pecado” como uma obra-prima, mas a descrição do passeio pela beira-mar em que o Rapaz tenta conquistar definitivamente o carinho de Rosa, enquanto disfarça o asco em relação a seus carinhos, e percebe que a sua virgindade intumesce em si mesmo como o sexo, tornou-se rapidamente uma das imagens literárias imortais e definitivas de minha vida. Recomendo este pé com a alma trêmula (tal qual Ida, quanto visita um necromante) e langorosa (tal qual Rosa, em todas as passagens que protagoniza), mas, ao mesmo tempo, firme na manutenção de meus anseios e temores (tal qual Pinkie, do surgimento criminoso ao sumiço que lhe captura no desfecho). Um livro magistral, como tudo aquilo que o egrégio Henry Graham Greene (1904-1991) pariu em vida!

Wesley PC> 

domingo, 23 de dezembro de 2012

FELICIDADE EXTREMA: EIS O QUE ESTOU SENTINDO AGORA!

Um sorvete de mamão, uma bundinha pequena que mal cabe na calça 'jeans', um encontro precioso entre amigos que se dispõem a estudar cinema e um filme belíssimo, em que um menino e uma menina se apaixonam tão pungentemente que ela permite que ele fure as suas orelhas e enganche nela anzóis contendo besouros mortos, como se fossem brincos...

"Moonrise Kingdom" (2012, de Wes Anderson) é um filme belíssimo, ao qual associarei para sempre tudo de bom que experimentei ao lado de alguns de meus melhores amigos no dia 22 de dezembro de 2012, sábado em o CECINE/UFS, grupo de estudos do qual orgulhosamente participo, atingiu o seu brilho máximo. Que venham mais momentos egrégios como este: estou encantado, emocionado, em estado de graça, pura e simplesmente: obrigado, meu Deus! 

Wesley PC>

sábado, 22 de dezembro de 2012

UM BOLO VISTOSO, UM FERIADO TENEBROSO, UMA FELICIDADE TRÊMULA, O AMOR GENERALIZADO... UM BRINDE!


Peço desculpas a quem espera por atualizações diárias neste ‘blog’, mas a intercalação entre os sorrisos do dia-a-dia e os pavores atrelados àquilo que um rapaz por quem sou apaixonado descreveu como “feriado com um nome” me surrupia às confissões necessárias à catarse de minhas agruras individuais e coletivas a um só tempo: atualmente, o tema ao qual mais dedico minhas atenções é a edificação de uma coletividade em que eu possa estar inserido. Os trabalhos pendentes no Mestrado, a audiência a um seriado televisivo inusitadamente elogiado por estas bandas virtuais, a leitura de um livro pungente, tudo me deixa num estado consistente de que sou capaz de enfrentar as dificuldades imediatas e visar a um futuro (leia-se presente) interativo atrelado às paixões mais intensas de minha vida. Sou um religioso, sou um amante do cinema e das pessoas que me cercam: sou humano!

“Começa uma nova era, marcada pelo engajamento político, a fragmentação dos públicos e dos gêneros, assim como a dominação,em breve monopolizadora, da televisão: a partir daí são cinéfilos – plurais, minoritários e contestadores – que manterão o amor ao cinema para além do choque do caso Langlois depois de maio de 1968. Para alguns, a cinefilia clássica permanece dentro de um refúgio, mas agora ela será vivida de forma nostálgica, ou melancólica – ‘a morte do cinema’” [Antoine de Baecque – “Cinefilia: Invenção de um Olhar, História de uma Cultura (1944-1968)”, página 409].

Por que reclamar da vida, apenas por reclamar, quando podemos converter este dito fervor reclamante num conjunto de ações ativas e conscientes, que visam não somente à auto-satisfação como ao bem-estar comum? Esta é a pergunta-base. Os meus comportamentos conseguintes são uma tentativa prática de resposta!

Wesley PC> (emocionado e precisando estar confiante)

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

“PLACA DO CARRO: RS 2570”!


A cada novo filme de Francisco Cavalcanti que vejo, fico impressionado pelo modo como ele conjuga elementos extremamente pornográficos a um moralismo canhestro e genericamente associado a filmes B norte-americanos sobre homens pacatos que se tornam justiceiros depois que suas esposas são assassinadas e/ou estupradas por facínoras. Diante de “Horas Fatais – Cabeças Trocadas” (1987, co-dirigido por Clery Cunha), o elã positivo que eu percebera nas obras anteriormente comentadas fora substituído por uma indefinição de perspectiva associada às dificuldades de produção cinematográfica na Boca do Lixo quando o filem foi realizado: com a invasão da pornografia estrangeira após a abertura democrática do Brasil, no final da década de 1980, o erotismo criativo de outrora passou a ser atravessado por uma angústia exibitória ostensiva que tornou negativo o amadorismo empolgado e benfazejo que marca as obras de Francisco Cavalcanti...

Para além da péssima dublagem do filme, que tornou ainda mais estereotipada a interpretada de José Mojica Marins, amigo do diretor, como o principal vilão, a seqüência que mais me perturbou psicologicamente neste filme está logo no início: ao passear de bicicleta pelos cômodos de sua residência, um garotinho (vivido pelo próprio filho do diretor, Fabrício Cavalcanti) é repreendido por sua mãe, que limpava a casa. Chateado, ele a deixa reclamando sozinha e vai para a praia, brincar com uma rapariga mais velha. Enquanto isso, sua mãe e sua cunhada eram estupradas por uma dupla de homens violentos, que adentra o local segurando armas. Como o filme era obrigado a ter cenas de sexo – neste caso, explícita – por causa das imposições de seus produtores oportunistas, vemos em ‘close-up’ a penetração anal de um dos estupros, isolada como se fosse sensual, como se estivesse ali para excitar o espectador, não obstante os gritos de dor da mulher estuprada. De repente, uma hemorragia perturbadora começa a sujar de sangue o pênis do perpetrador do crime hediondo, que só pára de foder quando percebe que a mulher está morta. Ambas as mulheres morrem, alias, de modo que, quando saem correndo da casa, os estupradores esbarram no garotinho que voltava da praia, que, intrigado, resolve decorar a placa do carro dos dois homens ignorantes. Até que ele encontra sua mãe nua e assassinada no chão. E chora altissonantemente, aguardando que seu pai volte para casa e o ampare...

Através deste momento descrito de angústia conflitiva com os clichês erotógenos da época em que foi produzido, percebemos que as ambições narrativas e moralizantes do diretor esbarram em convenções subgenéricas que lhe obrigam a fetichizar aquilo que mais lhe indigna. Conclusão: era muito difícil que o filme fosse bom (nos sentidos mais completos do termo). Depois que o protagonista (como sempre, vivido pelo próprio Francisco Cavalcanti) é torturado por um delegado corrupto, que se irritou quando ele confessou as suas agruras num programa sensacionalista de TV, a necessidade de se vingar é erigida e defendida como honrosa, mas as condições internas e dificultosas da trama não permitem que a situação seja convertida em prol das angústias familiares do personagem principal, que, após flagrar seu filho sendo espancado, consola-se em fugir, depois que um policial aposentado e traficante de armas assassina um de seus agressores imediatos. Ao contrário do que fora tentado em filmes anteriores, aqui não houve a possibilidade de um final feliz. Nem mesmo de um final, aliás: o filme termina da forma mais estruturalmente arreganhada possível, o que, infelizmente, não o salva do fracasso, mas permite que ele seja defendido analiticamente. “Horas Fatais – Cabeças Trocadas” é um sintoma gritante da situação problemática de democratização que eu anseio por desvelar em minha dissertação de Mestrado. Prestarei muita atenção às suas contradições elementares, portanto, ao passo em que insisto em me declarar fã do diretor, ainda que eu não consiga me desvencilhar da confissão de que este filme é péssimo. É péssimo, mas diz muita coisa, tanto implícita quando explicitamente!

Wesley PC> 

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

UMA LACUNA (OU MASTURBAÇÃO SEM MÚSICA É MAIS GOSTOSO?)



Na manhã de hoje, vi um filme italiano autodeslumbrado chamado “O Aniversário” (2009, de Marco Filiberti), sobre um terapeuta em crise que, em férias, se deslumbra pelo filho de um colega (interpretado pelo belo modelo brasileiro Thyago Alves), que acaba de chegar de Nova Iorque e está ansioso para se enturmar com a família. Assim pensam os seus pais hiperprotetores, ao menos: a mãe zela por sua liberdade; o pai estranha que ele trate as meninas deslumbradas por ele com desdém. Enquanto isso, o tio, lancinado pelo suposto suicídio de sua esposa depressiva, se lamuria pelos cantos. E, num contexto em que a ópera “Tristão e Isolda”, do Richard Wagner, é rechaçada por ser “demasiado schopenhaueriana”, a tragédia se instaurará num contexto pequeno-burguês de sexualidade reprimida e desinteressante. Quando se masturba, o jovem David dança. E eu senti enfado, ao passo em que não consegui um mínimo de excitação programada. O filme é ruim – e eu estava sem tempo para pensar nisso, por enquanto. Faz sentido esta afirmação?

Wesley PC>

domingo, 16 de dezembro de 2012

“AFINAL DE CONTAS, ESTA É UMA ESTÓRIA EDIFICANTE... OU NÃO É?”


Assim o narrador de “Alegrias a Granel” (1949, de Alexander Mackendrick) se refere ao desfecho do filme, em que os habitantes de uma pequena ilha tornam-se “infelizes para sempre” por causa do aumento exorbitante no preço do uísque, exceto por um casal apaixonado, que não consumia a referida bebida (risos). Na verdade, tudo isso era um brilhante jogo de inversão moral, cunhado para justificar o senso de humor apurado da trama de Compton Mackenzie que serviu de inspiração para o roteiro, co-adaptado por este mesmo escritor...

No filme, sua instância narrativa adianta que os habitantes da ilha de Todday dedicam a maior parte de seu tempo aos prazeres simples, de modo que dezenas de crianças correm felizes pelas ruelas... De repente, um fato instaura a tensão: acaba o uísque local! Coincidentemente, um navio bélico que transportava toneladas de caixas desta bebida naufraga perto da ilha. Os habitantes esforçar-se-ão para obter o precioso líquido, mas, para isso, precisarão esperar o jejum sabático, deveras respeitado pelos ilhéus. Tudo isso sendo pretexto para que o diretor desvele os simples prazeres mencionados no início, concernentes ao ato de beber entre amigos, de pedir em casamento quem se ama, de se aventurar na persecução daquilo que se deseja enquanto afã comunitário...

Se, de um lado da tela, recebia mensagens calorosas (apesar de seu pressuposto lamentoso) de meu melhor amigo, do outro, os técnicos do filme apressaram-se em justificar os atos sociais bem-intencionados (ainda que tendenciosamente delituosos) dos personagens, que se embebedavam mas eram sinceros nas demonstrações de afeto de uns em relação aos outros. Meu moralismo abstêmio se calou diante da genialidade das reviravoltas do roteiro – ou melhor, sorriu altissonantemente: foi um dia contente, em suma!

Wesley PC> 

sábado, 15 de dezembro de 2012

NOTA RÁPIDA SOBRE UMA ACUSAÇÃO (DESEJOSA) AINDA ELÍPTICA:

"Cachoeira" (2010, de Sérgio Andrade) é um filme que começa muito bem, mas, ao final de seus quatorze minutos de duração, deixa a impressão de que poderia ser mais incisivo em seu tema, que é a implantação de vícios etílicos numa população indígena amazonense, cujos adolescentes suicidam-se num ritual regado a 'heavy metal', rituais em cemitérios e entregas corporais diante da beleza da Natureza.

O protagonista do filme, um tal de Begê Muniz, deixou eu e os meus companheiros de sessão em estado de hipnose encantatória: não apenas precisamos conferir o longa-metragem que este ator realizou ao lado do mesmo diretor ["A Floresta de Jonathas" (2012)] como a denúncia presa na respiração ofegante de seu personagem ainda ecoa em minha mente. "Cachoeira" é um filme curto e equivocado, mas, ainda assim, diz bastante - e sim, estou sendo propositalmente evasivo nesta breve nota suprimida pelo sigilo sarcástico!

Wesley PC>

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

“T.F.P.” OU A PRETENSA LIBERDADE SEXUAL ENQUANTO DOGMA?


Depois de receber um bem-vindo convite, por parte de uma simpaticíssima professora, para apresentar alguns aspectos da pornochanchada brasileira numa aula do curso de Audiovisual, em janeiro próximo, ansiei para chegar em casa e ver “Eva, O Princípio do Sexo” (1981, de José Carlos Barbosa), exibido pela primeira vez na TV brasileira, através do Canal Brasil.

No início, o filme pareceu que não me agradaria: uma animação chistosa, a apresentação caricatural de uma família de classe média, em que o filho adulto ainda é virgem e a sua irmã uma desbocada incestuosa... Suspeitei de fosse uma pornochanchada pouco inspirada. Algo no discurso da protagonista, entretanto, me deixava com suspeitas discursivas: a insistência em farpas contra a família, por parte da protagonista (vivida pela bela Lia Furlin – mostrada numa foto pessoal, pois simplesmente não encontrei nenhuma imagem do filme na Internet!), aliada a elogios irrestritos à libertinagem, fazia pensar que o filme iria além da gratuidade erotógena. Talvez tenha ido, talvez não (ainda estou pensando sobre o que o filme me causou), mas, ao final, o filme me desagradou, de fato. Mas não é completamente ruim: há o que ser aproveitado ali!

Depois que seduz o abestalhado virgem prometido em casamento para uma noiva rica, Eva instaura o questionamento dos valores pequeno-burgueses na família protagonista – até que um padre surja e tente reimplantar o poderio eclesiástico, pelo menos! Assim sendo, ela permite que a filha devassa descortine a razão de sua rebeldia (flagrou o seu namorado fodendo uma desconhecida ao ar livre) e descobre que o extremo moralismo do pai advém de um trauma infantil, quando flagrou a mãe traindo o seu pai ausente. Diversas seqüências de sexo explícito (uma delas, bastante demorada e com inusitados ‘close-ups’ penianos de ereção e felação, proibidíssimos na época em que o filme foi lançado!) são requeridas, mas, ainda assim, o filme é falho em seu endosso freudiano da necessidade de libertar-se sexualmente: tudo parece muito impositivo, forçadamente cínico, inconvincente. Não sei até que ponto o filme me excitou (os atores são feios, as cenas de sexo são invasivas), mas tenho certeza de que precisarei me deter bastante sobre este filme quando estiver redigindo a minha dissertação de Mestrado: não apenas não conhecia este diretor como há algo de muito estranho em sua descoberta tardia...

Pedi para que um vizinho também assistisse ao filme, para que eu tivesse com quem comentar as esquisitices que vi na tela (o sobejo de cenas aproximadas de masturbação feminina me pareceu bem-vindo? Pensando nisso ainda...). Não consegui conversar com ele ainda, mas dormi estafado: o filme extenua em sua imposição libertina: faça sexo irrestritamente, sob pena de ser confundido com um reacionário – eis o que apregoa a obra. Não concordo com este maniqueísmo barato, mas, tendo sido realizado no ano em que nasci, este filme merece crédito pela ousadia contestatória, ainda que muito equivocada. Ter tentado, neste caso, equivale a (quase) ter conseguido. Com todas as restrições advindas de minha má apreciação do filme, tenho que dizer: parabéns pela ousadia desengonçada, José Carlos Barbosa!

Wesley PC> 

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

SOBRETUDO, DEIXAR-SE SURPREENDER...


Ou de como um pai reservado, um filho invasivo, maquiagem e a canção "Odara", do Caetano Veloso, contribuem para formatar um curta-metragem tão divertido quanto apaixonante em suas possibilidades de identificação: "Uma, Duas Semanas" (2012, de Fernanda Teixeira) é muito, muito bom!

Wesley PC>

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

“É MELHOR ESTAR LONGE E SE SENTIR PRÓXIMO QUE ESTAR PERTO E SE SENTIR DISTANTE...”

Pouparei os eventuais leitores deste ‘blog’ de mais uma crise elogiosa acerca do seriado televisivo “Glee”: acabo de assistir ao quinto episódio da quarta temporada do mesmo – “The Role You Were Born to Play” [“O Papel que Tu Nasceste para Representar”] – e me impressionei com a sua qualidade emocional e com o bom gosto na seleção das canções. Gostei muito do que vi e ouvi, não posso mentir!

 Para além de deslizes recorrentes envolvendo a sanha competitiva – metonimizada na rixa entre uma líder de torcida cristã e um meio-negro abobalhado versus uma rapariga pobre mas formosa e um cara desengonçado porém lindo e talentoso – este episódio me encantou não apenas pela pungente interpretação de “Hopelessly Devoted to You” (canção originalmente interpretada por Olivia Newton-John) por um ‘gay’ que traíra o seu namorado durante um instante de carência sexual, mas principalmente pela surpreendente tomada de partido em defesa de um travesti negro adolescente, chamado Unique (vivido corajosamente por Alex Newell), que se sente deslocado no colégio por não se sentir bem em roupas masculinas e, ao mesmo tempo, ser impedido de se vestir como menina. Quem diria? Definitivamente, a TV norte-americana abraçou a causa ‘gay’ mais extensiva, o que é absolutamente compreensível dada a amplitude consumista relacionada ao fato.

 A inevitabilidade contestatória do parágrafo anterior, entretanto, não faz soçobrar a minha empolgação: mais uma vez, amei este episódio. Muito bom! “Glee” voltou a ser o ótimo seriado evasivo que me conquistou, que tão bem funcionou em sua (nem tão) clicherosa defesa de que “sonhos não são de graça”. Sem contar que Cory Monteith está ainda mais lindo como o Finn Hudson recém-formado de cabelo cortado e, agora, assumindo a direção do coral da escola: estou apaixonado, sou um idiota e não tenho vergonha nem da primeira nem da segunda confissão!

 Wesley PC>

UMA CHAGA QUE ME RASGA POR DENTRO, UMA MESMA CANÇÃO ‘POP’ REPETIDA N VEZES, O CANSAÇO FÍSICO, A TRAIÇÃO, O SOMATÓRIO DE TODOS ESTES RECEIOS, O ESCARAVELHO EM MINHA CAMA... A FORÇA QUE PROVÉM DE MEUS AMIGOS FIÉIS, EM SUMA!


Nunca tive pretensões de fingir que desgosto da cantora estadunidense Lana Del Rey: para além de suas obsessões videoclipescas pelo imaginário da bandeira norte-americana e pelas acusações confirmadas de que ela é uma invenção fonográfica com prazo de validade definido, aprecio sua voz lamuriosa, os temas mórbidos e/ou lúbricos de suas canções. Em “Paradise”, EP lançado na segunda metade de 2012 [ano em que ela também nos legou o belíssimo “Born to Die” (2012)], Lana Del Rey apresenta nove canções, sendo que pelo menos metade deste repertório é encantador para mim...

Desde a abertura do disco, ao som de “Ride”, canção que não me apetecia muito no início, mas que hoje me fisga pungentemente, ao término providencial com “Burning Desire”, encontramos faixas inusitadas como “Cola” (a terceira do álbum, em que ela compara o sabor de sua vagina ao do refrigerante Pepsi) e a regravação de “Blue Velvet” [quinta faixa, uma canção antiga que foi redescoberta pelas novas gerações depois que se tronou tema homônimo da obra-prima de David Lynch, “Veludo Azul” (1986)]. Porém, a canção que mais me faz sentir apaixonado – e um tanto entristecido, admito – é a segunda, justamente nomeada com o repugnante título – em seu coerente sentido ideológico – “American”. Na noite de ontem, inclusive, tendo chegado cansado de uma aventura cinefílica solitária e entremeada por pavores reais e imaginados, ouvi esta mesma faixa diversas vezes:

“You make me crazy, you make me wild
Just like a baby, spin me round like a child
Your skin so gold and brown…
Be young, be dope, be proud
Like an american”


Como estes versos (obviamente deslocados de seu contexto original) me fizeram sentido nesta noite de temor e cansaço! Mais do que temer o escaravelho que pode novamente se esconder em minha cama, sentia na alma a chaga desagradável de um arremedo de traição. Quem mais fere é quem fingiu estar próximo! Vou tentar dormir agora... Depois de ouvir mais um pouco de Lana Del Rey, é claro, sem medo de ser (in)feliz: amo os meus amigos, amo, amo, amo – os verdadeiros, diga-se de passagem!


Wesley PC> 

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

NUMA PALAVRA: FELIZ!


Eu tenho os melhores amigos do mundo! Ponto.

Como esquecer o que experimentei nesta segunda-feira, 10 de dezembro de 2012, quando uma sessão de "A Felicidade Não Se Compra" (1946, de Frank Capra) desencadeou algumas das lágrimas mais belas e felizes com que já tive contato em minha existência? Como? Estou felicíssimo: viver é algo absolutamente maravilhoso

Wesley PC>

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

“O MUNDO INTEIRO É UM CARRO VELHO ONDE A GENTE PULA, DEITA E ROLA”...


Quanto mais se mergulha no cinema brasileiro, mais se descobre que ainda se tem muito a descobrir: na tarde de hoje, por mero acaso, fui apresentado a um trio de comediantes [formado por Mário Alimari (Feneguetti), Sandrini (Mexilin) e Rony Cócegas (Maionese)] que, no final da década de 1970, estrelou um programa cômico na TV Tupi que imitava descaradamente Os Três Patetas estadunidenses.

Sem que eu sequer tivesse ouvido falar deles até o dia de hoje, conheci um filme pretensamente infantil chamado “Os Pankekas e o Calhambeque de Ouro” (1979, de António Moura Mattos), deveras assemelhado ao estilo nonsense d’Os Trapalhões, no qual o trio troca uma galinha por um calhambeque velho, que calha de ser o veículo do título, feito de ouro por um assaltante de banco que, assim, tencionava ultrapassar as fronteiras do Estado de São Paulo e fugir tanto da Polícia quanto de seu mafioso contratador, que era justamente o presidente do banco onde estavam as barras de ouro que serviram para a confecção do calhambeque. O roteiro de Emanoel Rodrigues, entretanto, evita se prender à sinopse apresentada na ficha técnica do filme e desperdiça as possibilidades de graça a partir da personificação do veículo, que pisca os olhos/faróis e anda sozinho quando lhe convém. O início do filme é muito divertido, mas, do meio para o final, apesar de sua curta duração (apenas 81 minutos), os resultados são desinteressantíssimos, principalmente por causa do excesso de perseguições bobocas e aceleradas (uma delas, numa boate com dançarinas e sheiks árabes; outra, num parque de diversões que se beneficia de vantagens publicitárias) e do alavancamento de personagens policialescos secundários, mas, não vou mentir: achei engraçada a insistência do personagem Maionese em repetir o seu jargão “na manteiga!”.

Para além (ou aquém) dos muitos defeitos estruturais do filme, conhecer o cinema brasileiro é sempre muito recompensante. Por isso, tenho a plena certeza de que, antes de chegar ao final de meu Mestrado, Paulo Emílio Salles Gomes e Jean-Claude Bernardet tornar-me-ão um homem mais intelectualmente feliz do que eu sou agora...

Wesley PC> 

"MÃE, EU NÃO TIVE FÉ!"...

A vida é bela, súbita, estranha e maravilhosa, e coisas estranhas e valorativas acontecem o tempo inteiro: na tarde de ontem, assisti por acaso a um interessantíssimo curta-metragem baiano chamado "Olho de Boi" (2011, de Daniel Lisboa), no qual um garotinho oprimido por seus vizinhos violentos e tendentes ao narcotráfico recorre a um "preto velho" para imbuir-se de forças para enfrentar os seus agressores. Na hora H, ele titubeia, cede e chora. Não posso dar muitos detalhes acerca do que aconteceu, a fim de não atrapalhar o prazer de quem ainda verá o filme, mas me impressionou positivamente...

Quando vi o filme, eu estava tendo um ataque de fobia urbana dominical. Corri para um ponto de ônibus, encontrei alguns amigos de trabalho, sorri, comi e, ao chegar em casa, não consegui dormir a contento: uma vizinha grávida e largada pelo namorado brigava com o pai, o ofendia, o agredia com palavras ofensivas, em razão de ele estar sempre bêbado. Na manhã de hoje, a mesma vizinha lamentava a morte do mesmo: ele falecera, engasgado no próprio vômito etílico. E eu senti compaixão por ela, mas... O que fazer? Como bem disse minha mãe, quando três ambulâncias pararam diante de nosso portão, "a vida é bela, mas, a qualquer momento... puft!". 

É isso mesmo: por isso, mais tarde, eu e meus melhores amigos estaremos juntos. Vida é bela quanto se estar junto de quem se ama. A vida é bela quando se tem fé!

Wesley PC>

sábado, 8 de dezembro de 2012

OFICIALMENTE, PREFERI O FILME, MAS PRECISO (E ME DISPONHO A) REVÊ-LO O QUANTO ANTES!


Assim que vi “Onde Andará Dulce Veiga?” (2007, de Guilherme de Almeida Prado), fiquei tão entusiasmado com a sua beleza defeituosa que escrevi um texto bastante entusiástico acerca do filme (vide aqui), deixando claro que não sou muito fã do escritor do romance original, Caio Fernando Abreu. Tiago Oliveira, um dos amigos mais graciosos que possuo, ao qual dediquei o que senti durante o filme, apaixonou-se perdidamente pelo livro, assim que o tocou, escrevendo, por sua vez, uma belíssima resenha do mesmo, publicada aqui. Graças a ele, corri para ler o livro, para consumir as suas belezas, para me identificar também... Eu me encantei com o filme. Tiago amou o livro e detestou a versão cinematográfica. Ao ler o livro, o achei apenas mediano, não obstante momentos grandiosos, que senti muito bem transmutados em película. Como explicar tamanha divergência de apreciação? Sentindo a arte no coração, apenas assim!

Na opinião de Tiago, o que mais lhe irritou no que tange à adaptação do livro para o cinema foram as eliminações e/ou transmutações de alguns personagens, criminosas segundo ele. De fato, a substituição do amante comunista Saul pelo afetado Raudério, a supressão do amante homossexual Pedro e a eliminação do sedutor cristão Filemon e do travesti adolescente Jacyr foram evidentes, mas, de resto, não apenas considerei a adaptação muitíssimo fiel (juro!) como superior em diversos aspectos. Coerente com o que o escritor e o diretor conversam numa correspondência anexa à reedição atual do livro, aliás.

Eu já comentei que não sou muito fã do Caio Fernando Abreu? Pois bem, incomodo-me com o que, para mim, parece uma forçação de barra homossexual em suas obras e que, neste livro em particular, perde na comparação com o filme, por causa da diferença de apreciação entre narrador literário e cinematográfico: no primeiro caso, a identificação é obrigatória, conforme assinalou Tiaguinho; no segundo, a identificação primária com a câmera permite-nos outras escolhas. Assim sendo, as lamúrias entediadas do protagonista-narrador, animicamente moribundo, foram involuntariamente compensadas pela atuação preguiçosa de Eriberto Leão, que, por um lado, é incapaz de transmutar a dor de existir que persegue o repórter de pelo menos quarenta anos que se desnuda diante de nós o tempo inteiro, por outro, força-nos a avaliar como os defeitos estruturais de uma obra de arte obrigam-nos a compensá-los estruturalmente com a opção hermenêutica dos “atos falhos”, essenciais para a fruição da estética minuciosamente elaborada dos filmes do genial Guilherme de Almeida Prado. A troca da canção de Orlando Silva (”Nada Além”) pela emocionante “Nó” que é entoada no filme também foi positiva em minha opinião [na verdade, ao rever o filme, descobri que o nome da canção é "Meditação", co-escrita por Antônio Carlos Jobim. "Nó" é o nome do disco de Márcia Felácio & as Vaginas Dentatas, que, no livro, se chama "Armagedon"] . Mas, se o desfecho do filme soou incomodamente artificial em seu abraço heterossexual compensatório e elíptico, a grandiloqüência onisciente do desfecho do livro é inequivocamente superior: “se contar tudo, não se esqueça de dizer que eu sou feliz aqui. Longe de tudo, perto do meu canto”, solicita a Dulce Veiga descrita no papel. Por ela, sou obrigado a fazer côro com Tiago, senti muito mais vontade de cantar em primeira pessoa que através do desfecho do filme. E Clarice Lispector dá o tom derradeiro no romance: “Ah Força do que Existe, ajudai-me, vós que chamam de o Deus”. E eu amo, amo, amo... Amo muitíssimo o meu amigo Tiago, inclusive – além de um outro Thiago a quem aproveito para dedicar esta postagem apaixonada e comparativa!

Wesley PC> 

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

TANER CEYLAN VOLTARÁ MUITAS VEZES A ESTE 'BLOG', TENHO CERTEZA!

Até o início da tarde de ontem, eu nunca havia ouvido sequer falar na artista turca Taner Ceylan, nascida em 1967 e especializada em pinturas hiperrealistas homoeróticas. Mas, desde já, não apenas admito que me tornei fã de seu estilo, ao qual fui apresentado por um policial com quem estudei há mais de dez anos, como tenho certeza de que ela voltará a este 'blog' mais e mais vezes: linda pintura esta que anexei a esta postagem, inclusive! Bem que estava a precisar de um baque (artístico) destes...

Wesley PC>

E EU NÃO SABIA... NÃO SABIA!

Cheguei da universidade me sentindo muito cansado hoje. Ao invés de jantar, visitei um vizinho de que gosto bastante e, ao lado dele e de sua apaixonada namorada (ou algo parecido com isso), vimos dois episódios "mornos" mas interessantes da série televisiva "The Walking Dead", atualmente no meio de sua terceira temporada, que volta apenas em fevereiro de 2013. Ao entrar em minha casa, adormeci. Capotei na cama de minha mãe, que me despertou algumas horas depois, pouco antes da meia-noite. Havia recebido a ótima notícia, via SMS, que a gata de uma grande amiga havia parido e ela estava feliz. Pedi que minha mãe pusesse um pouco de macarrão com queijo torrado num prato e comi, ingerindo suco de tamarindo, que talvez me ajudasse a dormir novamente logo em seguida, por mais que eu acredite que o extrato desta fruta é afrodisíaco (risos).

Zapeando pelos canais de TV, me deparei com cenas eróticas (quase pornográficas) de um filme chamado "Sexo a Domicílio" (1984, de Eliseu Fernandes e/ou Norberto Ramalho), que me angustiou por não conseguir saber se eu já o tinha visto ou não. As cenas de coito eram tão semelhantes, a sinopse sobre um vendedor de lingüiças que transa com as suas clientes e as libertam da frigidez era tão trivial que, sinceramente, não soube dizer de imediato se já tinha tido acesso a este filme, com certeza, útil enquanto contra-exemplo valorativo de minha pesquisa de Mestrado.

Como a exibição do filme já estava muito avançada, tive que protelar sua audiência. Ainda que, de imediato, deu para perceber que o filme é bastante enfadonho em sua conjunção repetitiva de seqüências de sexo - algumas imputadas de filmes pornográficos típicos e alheios - faço questão de vê-lo. Na espera, portanto: preciso me livrar desta angústia!

Wesley PC>

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

A LÓGICA DO PONTO FRACO (“NINGUÉM DISSE QUE SERIA FÁCIL)...

Escrevo em silêncio, completo silêncio. Geralmente, quando me disponho a utilizar este ‘blog’ como espaço confessional, ouço músicas que reiteram o que sinto. Antes de começar a digitar, ouvi as referidas canções na TV: malgrado ter (finalmente!) me decepcionado com o seriado televisivo “Glee”, deveras ambicioso e deformado em sua quarta temporada, surpreendi-me ao perceber-me emocionado com um episódio em que casais que se separaram por motivos profissionais se reencontram. Duas das canções executadas para marcar este reencontro doloroso me foram particularmente pessoais: “The Scientist” (do Coldplay), que encerra o episódio; e “Don’t Speak” (do No Doubt), através da qual já tive oportunidades de expelir muitas lágrimas. Quase o fiz na noite de hoje, mas minha mãe apareceu na hora H, quando eu me deixava perder entre versos como “eu realmente sinto que estou perdendo o meu melhor amigo” ou “não fale porque machuca”. Em momentos de propensa tristeza, tudo cabe, tudo faz sentido. E Hollywood entendeu isso muito bem!

 No quarto episódio da quarta temporada do referido seriado – nominado “The Break Up” [“O Rompimento”], um dos mais graciosos que já vi do mesmo, bastante referenciado neste ‘blog’ – os personagens seguem a tradição clássico do desenvolvimento de talentos estadunidenses: saem em busca de seus sonhos, deixando para trás aquilo que lhes prendem à cidade onde vivem. Assim sendo, uma lésbica revoltada abandona a sua namorada para ir para a faculdade; um ‘gay’ estiloso ignora os clamores por afeto de seu namorado cheio de melindres; uma rapariga histriônica não sabe como lidar com a carência derrotista de seu amado ingênuo; e o idealizador do coral que intitula o programa consegue um emprego melhor noutra cidade, antecipando a necessidade de despedir-se da mulher com problemas psicóticos por quem se apaixonou. Crescer é abandonar, apregoa a cartilha da cultura de massa juvenil. E eu pensando em subsunção do trabalho intelectual, ai, ai...

 E o silêncio continua. Mas não por muito tempo, espero. Sinto fome. Tenho alguns dos melhores amigos do mundo, além de uma mãe muito carinhosa, que sente prazer em me preparar deliciosos pastéis de queijo, e de cães hiperativos, que latem e lambem e abanam a cauda para demonstrar que estão felizes. No colo, um livro triste, aberto na página 537.

 Wesley PC>

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

“EU AMO SEUS PUNS, EU AMO SEU BAÇO, EU AMO SEU PÂNCREAS”...


Na manhã de hoje, tive aula com uma turma de alunos jovens de Jornalismo. Pelo menos três dos garotos que estavam em minha sala eram bonitos (ao menos, no que tange ao meu padrão bem peculiar de beleza juvenil masculina). Fiquei encarando um deles, mas não sei o que ele pensou de minhas investidas. Não levei nada a sério, aliás. “Beleza é algo que rima com perfídia”, repeti para mim mesmo, várias vezes ao longo do dia...

À tarde, tive aula sobre as concepções da democracia deliberativa num texto de Jürgen Habermas e, à noite, adentrei a casa de meu fornecedor habitual de sêmen um tanto desesperançado: era tarde (pouco mais de 20h) e ele já havia se banhado (logo, se masturbado) a este horário. Mas não custava nada vê-lo um pouquinho, admirá-lo, conversar com ele... Acho-o bonito: ele me faz bem, em suma!

Para minha boa surpresa, ele estava sozinho, deitado num sofá novo. Sentei-me no tal sofá, pus as pernas dele sobre minhas pernas e comecei a beijar seus pés, suas coxas, sua virilha. Quando eu tentava cheirar a sua genitália, ele punha a mão por cima. O cheiro de sabonete ainda estava fresco em suas articulações: ele se banhara recentemente. Logo, se masturbara.

Um tanto desesperançado, mas apaixonado, continuei a beijar o seu corpo. Ele não se opunha e eu o amava. Meio sem querer, pus a mão por dentro de seu calção, através de uma abertura do lado direito. Ele não ofereceu resistência. De repente, seu pênis amolecido e lindo estava em minhas mãos. No instante seguinte, endurecia em minha boca. Algum tempo depois, não apenas ele ejaculava como gozava alto: eu ouvi a sua voz reagindo ao prazer que o proporcionava: senti-me útil, senti-me feliz!

Para a minha estupefata surpresa, mesmo após ter ejaculado, ele permitiu que eu beijasse o seu pênis, o que é algo inusitado para um heterossexual que enxerga no coito oral com um homossexual um mero utilitarismo: ele permitia que eu o amasse? Emocionado, disse-lhe que ele era lindo, que eu o queria um bem enorme, que ele me faz bem, disse-lhe “obrigado”, enfim. Ele não esboçou qualquer reação. Adormeceu no sofá, deitando-se de lado. Beijei, então, uma de suas nádegas, cheirei o seu cabelo, o beijei nas bochechas e me despedi, agradecendo-o por ter me deixado feliz mais uma vez. Ele fez um gesto de concordância com as mãos. Eu o amo. E mereço, como bem disse uma amiga, ao telefone.

Passado algum tempo, vasculhei a programação de TV, em busca de algum filme que me entretivesse enquanto eu ingeria a deliciosa sopa de arroz de minha mãe. Optei por um tal de “Na Carne e na Alma” (2011, de Alberto Salvá), filme desconhecido que estava iniciando no Canal Brasil. Nunca havia sequer ouvido falar do filme, mas como o mesmo era recente e conhecia o diretor (já recomendado através de um de seus efetivos filmes, aqui neste ‘blog’), resolvi arriscar – e não me arrependi!

No filme, um rapaz mulherengo, chamado Rodrigo (interpretado por um tal de Karan Machado, muito bonito, que, para a minha sorte, aparece nu) apaixona-se perdidamente por uma rapariga instável de nome Mariana (Raquel Maia). Fazem sexo mais de uma vez, brigam, reconciliam-se, vivem juntos algum tempo, depois que ela é espancada pelo pai quando ele o flagra com um baseado, e amam-se, no sentido mais ciclotímico do termo. Oscilando entre uma trama à la “Lua de Fel” (1992, de Roman Polanski) com diversos elementos dos filmes breillatianos, o filme investia pelos rumos escatológicos da afeição: numa cena interessante, Rodrigo beija Mariana no fundo de um ônibus e tenta fodê-la ali mesmo. Ela reclama que está menstruada, mas ele não liga, e a penetra em público, sujando-a de sangue. Ela se chateia, mas ele está inebriado por ele, querendo saber inclusive como é o cocô de sua amada, que responde: “às vezes, ele é tão grande e grosso que dói quando sai”. Numa cena posterior, o rapaz futuca o vaso sanitário que ela acabou de utilizar e dissolve a merda dela em suas mãos. Na narração, ouvimos a sua voz: “se alguém me dissesse que um dia eu chegaria a fazer isso, eu não acreditaria. Podem dizer que estou louco, mas a verdade é que talvez somente agora eu esteja são”. Minutos antes, este mesmo personagem, leitor de um romance célebre de Fiodor Dostoiévski, exclamaria: “dizem que tragédia é quando parece que tu não tens mais o controle de sua vida. Não importa o que tu faças, é como se tudo já estivesse escrito. Acho que agora meu destino é ser trágico”. Não tinha como: eu me identifiquei completamente com o filme – e, para além de seus diversos defeitos, o achei quase ótimo!

Depois de pedir que ela mije em cima dele e de suspeitar que ela faz sexo com outras pessoas, Rodrigo agride Mariana. Ela viaja com outro homem para a França e eles se separam. Anos se passam, ele larga a faculdade de Ciências Econômicas, forma-se em Informática, e ela se casa. Tem uma filha pequena, largou a faculdade, foi morar em outro Estado. Depois que a reencontra, ao lado do marido, ele se sente livre. E sorri. E eu sentia que ainda amava o rapaz com quem estive algumas horas antes de ver o filme. Muito boa esta produção contemporânea, aliás: Alberto Salvá envelheceu muito bem!

Esqueci de contar um detalhe importante: antes de se apaixonar por Mariana, Rodrigo só fazia sexo com as luzes apagadas. Numa determinada noite, Mariana ousa e acende a luz, displicentemente: nós, espectadores, vemos o pênis flácido e gracioso do ator, que jazia tranqüilo e sua cama. Ele – e nós, por extensão – viu os seios graciosos dela, tão encantadores que o leva a dizer que “se Deus fosse mulher, teria seios tão perfeitos quanto estes”... Quem sou eu para desmenti-lo? Lindo filme – e eu amo! E, tal qual ele, não sei até que ponto é um problema "bater punheta até morrer" por alguém que se quer tanto bem (risos)...

[PS: somente após ter escrito este texto confessional e erótico, descobri que o ótimo diretor e roteirista falecera em 13 de outubro de 2011, aos 73 anos de idade. Deixou um belo canto de cisne juvenil como testamento, além de obras interessantíssimas como "Uma Homem Sem Importância" (1971) e "A Menina do Lado" (1987): descanse em paz, talento incompreendido e subestimado de nosso cinema!]

Wesley PC>