terça-feira, 20 de março de 2012

É INJUSTO RECLAMAR DAS INJUSTIÇAS DO MUNDO?

O dia de ontem demonstrou-me, em mais de uma situação, que, no tange à escolha dos amigos, eu sou um homem feliz: por mais problemas que surgissem diante de mim, surgiam pessoas dispostas a me ajudar e a não deixar que eu desanimasse. Alguns colegas de trabalho deram força integral para que eu conseguisse obter a minha demissão legítima, a fim de conseguir ter direito a minha bolsa remunerada de Mestrado e, pela manhã, um grande amigo ofereceu uma carona, que eu tive que declinar em razão de ter acabado o gás de cozinha em minha casa. Senti-me faminto no trabalho e, de repente, outro amigo ofereceu-me a maçã que havia guardado com cuidado durante toda a tarde. Resolvi os meus primeiros problemas demissionais e, para minha surpresa, a minha primeira reunião com um orientador que todos definem como ranzinza foi aprazível. Deveria estar sorridente durante todo o resto do dia, certo?

Ao contrário do que seria óbvio em resposta ao que foi colocado no parágrafo anterior, senti-me demasiado triste durante toda esta noite de segunda-feira. Tentei puxar conversa com diversos amigos, mas todos estavam ocupados ou atribulados com seus próprios problemas, não me desamparando por completo, entretanto, ao providenciarem-me evasivas porém salvaguardadoras mensagens de celular. Foi quando tive a idéia de assistir ao curta-metragem africano “A Pequena Vendedora de Sol” (1999, de Djibril Diop Mambéty), sobre uma garotinha paraplégica e analfabeta que vende jornais nas ruas da capital senegalesa. Ela é espancada várias vezes, mas não desanima. E, de felicidade, eu quase chorei... Tenho os amigos certos, obrigado!

Assim eu pretendia publicar em minha página de Fotolog, mas percebi que a citação providencial de um diálogo do filme deve ser aqui destacada: sem querer estragar a surpresa metafórica do título, ‘Soleil’ é também o nome do jornal que a garotinha aleijada vende. Enquanto ela anuncia o seu produto, mais cara que o do concorrente, um garotinho ao lado vende o ‘Sud’. Ela pergunta: “por que as pessoas compram mais o ‘Sud’ que o ‘Soleil’?”. Ele: “porque o ‘Sud’ é um jornal popular, enquanto o ‘Soleil’ é um jornal governamental”. Ela conclui: “Ah! Mas, ainda assim, prefiro ficar com o ‘Soleil’. Assim, o povo pode ficar mais próximo do governo”. Lindo! E eu queria tanto confessar aqui o que está me incomodando, mas nem mesmo eu sei. Aliás, pressinto. É aquilo que a Mariana Aydar descreve na letra de “Solitude”: medo do mar, medo de amar, medo do amor e de alegria. Sem aspas mesmo!

Wesley PC>

3 comentários:

Jadson Teles disse...

Nossa Wesley, que filmaço, combativo, vivo, forte, inquieto, formalmente arrasador, destruidor em vários aspectos, politicamente, moralmente esteticamente. Que filme, chocado em mais de um sentido, com voce costuma falar. que menininha corajosa, que força, que linda, que lindo acerto de contas com a visão conformista e vitimizada, Des, Deus....

Gomorra disse...

Vá em busca desse tal de Djibril Diop Mambéty, Jadão. Esta obra-prima provou que ele merece muito de nossa atenção apaixonada!

WPC>

Jadson Teles disse...

já fui meu bem... Já to baixando tudo que tem dele no Makingoff!