terça-feira, 3 de abril de 2012

FILMES AUTORAIS NOS AJUDAM A TOMAR DECISÕES DIFÍCEIS!

Na falta de uma conclusão mais branda, foi exatamente isso o que exclamei para mim mesmo ao final da sessão do pequeno clássico “Ela Quer Tudo” (1986), longa-metragem de estréia Spike Lee, exibido nesta segunda-feira à noite, no canal fechado Telecine Cult. O ponto de partida tramático parecia banal: uma garota muito bonita (Tracy Camilla Johns) explica para a câmera por que se sente injustiçada quando é tachada de “tarada” apenas por estar concomitantemente apaixonada por três homens diferentes. Um deles é o cordial Jamie (Tommy Redmond Hicks), o segundo é o espevitado Mars (interpretado pelo próprio diretor), e o terceiro é o narcisista e musculoso Greer (John Canada Terrell). Apesar de cada um deles possuir características mui distintivas, a protagonista Nola Darling os observa como “um monstro com três cabeças, seis braços, seis pernas e três pênis”, como bem nota um dos pretendentes amorosos. Além deles três, Nola é também cobiçada por sua melhor amiga lésbica Opal (Raye Dowell), que insiste em fazer com que ela experimente uma forma de sexo em que “não haja um homem penetrando-a de forma violenta”, ao que ela sempre se perguntava: “e o que tem de mal nisso?”. Eu sorri. Para além dos atropelos enredísticos do filme, a direção é segura e inteligentíssima, em especial durante a magistral seqüência dos créditos finais, em que cada ator do filme segura a claquete e fala o seu nome, incluindo o pai do diretor, Bill Lee, também responsável pela linda trilha sonora, e sua irmã Joie Lee, que interpreta um papel menor, porém significativo. Se eu não conhecesse Spike Lee antes desse filme, com certeza me tornaria fã ardoroso dele a partir daqui!

O que me conduz ao esperado cotejo subjetivo: tal qual a rebuscada fotografia em preto-e-branco do filme é a minha tendência irrevogável a pedir desculpas o tempo quase inteiro. Em arremate imitativo com uma cena-chave do filme, que procede a um quase-estupro, decidi abster-me de me desculpar imaginariamente em relação a um amigo íntimo até o final desse mês. Tomara que eu consiga cumprir esta promessa. Afinal de contas, em minha concepção pessoal, amar é também submeter-se ao dom do perdão, conforme conversei com um dos rapazes pelo qual eu sou apaixonado na tarde de ontem. Ele hesitou em me confidenciar algum desentendimento ocorrido com alguém de seu estrito círculo de amigos e familiares, enquanto eu preocupava-me com um problema bancário que talvez me deixe ouriçado de tensão nesta manhã vindoura de terça-feira. Seja como for, este inesperado e boníssimo filme do Spike Lee me deixou preparado para eventualidades desagradáveis: é para isso que também servem as obras de arte, não é?

Wesley PC>

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