Apesar de ter sido publicado em 1974, somente ontem pude ter acesso primário ao conjunto de artigos do economista Celso Furtado organizados sob o título “O Mito do Desenvolvimento Econômico”. Neste livro, o autor faz considerações sobre a economia brasileira, com ênfase nas contradições propositais do termo ‘subdesenvolvimento’, que, ainda hoje, estão longe de serem discursivamente superadas. Segundo o autor, “a mesma quantidade de dinheiro, quando consumida por pessoas ricas, contribui mais para uma aceleração da taxa do crescimento do PIB, do que quando consumida por pessoas pobres”, o que torna patente a divergência conseqüencial relacionada ao ato de um intelectual privar-se momentaneamente de um gole de vinho e à situação forçosa em que um assalariado-mínimo abdica de um pão para doá-lo a algum membro mais necessitado de sua família. Parece um simples truísmo, mas há muito mais embutes contidos neste simples cotejo de privações fisiológicas do que suporia a nossa vã filosofia...
Oficialmente, tive acesso ao referido livro do Celso Furtado por causa de uma exigência explícita do meu orientador de Mestrado: sem ler este autor, eu não entenderia nada da linha de pesquisa à qual agora me filio. Não sei se me devo confessar surpreso ou não, mas me vi rapidamente apaixonado pelo livro em pauta e pelo autor em questão. As classificações minuciosas que Celso Furtado faz acerca dos engodos governamentais multi/internacionais que justificam o fosso entre a minoria desenvolvida e a maioria dita subdesenvolvida encheram-me, inclusive, de encanto particular, no sentido de que, como é comum em minhas atividades de leitura, transferi o enfoque científico do livro para alguns problemas recorrentes de minha vida neurótica. E, nesse sentido, me vi imaginando como correlacionaria a noção de insumo às minhas frustrações passionais...
Antes mesmo que eu pudesse organizar os meus primeiros pensamentos associativos, fui surpreendido por algo que me apavorou: alguém roubou duas camisas de meu irmão caçula que estavam estendidas num varal em frente à área de minha casa! Por causa disso, não consegui dormir direito na madrugada de ontem para hoje: qualquer barulhinho me fazia crer que o ladrão estava de volta. Quando finalmente adormecia, sonhei que eu era uma senhora de mais de 60 anos competindo num desfile de mulheres nuas. O detalhe intranqüilo acerca deste sonho é que eu não me sentia confortável com o estado físico de minha vagina idosa: completamente rugosa e não-lubrificada, a minha vagina onírica causava-me constrangimento por causa de sua aparente inusabilidade. Ainda assim, ao despertar, sentia-me sexualmente excitado, visto que eu reconheci de imediato o substrato subconsciente que engendrou este sonho. Fiz questão de baixar um disco do músico pernambucano Otto que faz menção aos tais sonhos intranqüilos e li as páginas derradeiras do maravilhoso livro do Celso Furtado, que me fez destruir um pré-conceito disseminado contra as obras mais incisivas do pensamento econômico histórico. E, se me perguntassem para definir uma situação de evocação passional idílica nesta manhã, eu faria apenas o que faço agora: olharia repetidas vezes para esta foto como se estivesse experimentando novamente um ideal de sublimidade que, no atual contexto, talvez fosse o máximo de que eu poderia dispor. Sendo assim, eu agradeço: amor mínimo pode ser também o maior amor do mundo!
Wesley PC>
segunda-feira, 2 de abril de 2012
QUASE QUARENTA ANOS DEPOIS, EU ME EMBANANO TODO AO PENSAR NUMA TRANSFERÊNCIA FALACIOSA DA EUGENIA DO INSUMO AFETIVO...
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