segunda-feira, 2 de abril de 2012

QUASE QUARENTA ANOS DEPOIS, EU ME EMBANANO TODO AO PENSAR NUMA TRANSFERÊNCIA FALACIOSA DA EUGENIA DO INSUMO AFETIVO...

Apesar de ter sido publicado em 1974, somente ontem pude ter acesso primário ao conjunto de artigos do economista Celso Furtado organizados sob o título “O Mito do Desenvolvimento Econômico”. Neste livro, o autor faz considerações sobre a economia brasileira, com ênfase nas contradições propositais do termo ‘subdesenvolvimento’, que, ainda hoje, estão longe de serem discursivamente superadas. Segundo o autor, “a mesma quantidade de dinheiro, quando consumida por pessoas ricas, contribui mais para uma aceleração da taxa do crescimento do PIB, do que quando consumida por pessoas pobres”, o que torna patente a divergência conseqüencial relacionada ao ato de um intelectual privar-se momentaneamente de um gole de vinho e à situação forçosa em que um assalariado-mínimo abdica de um pão para doá-lo a algum membro mais necessitado de sua família. Parece um simples truísmo, mas há muito mais embutes contidos neste simples cotejo de privações fisiológicas do que suporia a nossa vã filosofia...

Oficialmente, tive acesso ao referido livro do Celso Furtado por causa de uma exigência explícita do meu orientador de Mestrado: sem ler este autor, eu não entenderia nada da linha de pesquisa à qual agora me filio. Não sei se me devo confessar surpreso ou não, mas me vi rapidamente apaixonado pelo livro em pauta e pelo autor em questão. As classificações minuciosas que Celso Furtado faz acerca dos engodos governamentais multi/internacionais que justificam o fosso entre a minoria desenvolvida e a maioria dita subdesenvolvida encheram-me, inclusive, de encanto particular, no sentido de que, como é comum em minhas atividades de leitura, transferi o enfoque científico do livro para alguns problemas recorrentes de minha vida neurótica. E, nesse sentido, me vi imaginando como correlacionaria a noção de insumo às minhas frustrações passionais...

Antes mesmo que eu pudesse organizar os meus primeiros pensamentos associativos, fui surpreendido por algo que me apavorou: alguém roubou duas camisas de meu irmão caçula que estavam estendidas num varal em frente à área de minha casa! Por causa disso, não consegui dormir direito na madrugada de ontem para hoje: qualquer barulhinho me fazia crer que o ladrão estava de volta. Quando finalmente adormecia, sonhei que eu era uma senhora de mais de 60 anos competindo num desfile de mulheres nuas. O detalhe intranqüilo acerca deste sonho é que eu não me sentia confortável com o estado físico de minha vagina idosa: completamente rugosa e não-lubrificada, a minha vagina onírica causava-me constrangimento por causa de sua aparente inusabilidade. Ainda assim, ao despertar, sentia-me sexualmente excitado, visto que eu reconheci de imediato o substrato subconsciente que engendrou este sonho. Fiz questão de baixar um disco do músico pernambucano Otto que faz menção aos tais sonhos intranqüilos e li as páginas derradeiras do maravilhoso livro do Celso Furtado, que me fez destruir um pré-conceito disseminado contra as obras mais incisivas do pensamento econômico histórico. E, se me perguntassem para definir uma situação de evocação passional idílica nesta manhã, eu faria apenas o que faço agora: olharia repetidas vezes para esta foto como se estivesse experimentando novamente um ideal de sublimidade que, no atual contexto, talvez fosse o máximo de que eu poderia dispor. Sendo assim, eu agradeço: amor mínimo pode ser também o maior amor do mundo!

Wesley PC>

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