terça-feira, 17 de abril de 2012

“SEMPRE UM FIGURANTE DE SUA PRÓPRIA VIDA... NUNCA O ASTRO!”

Antes de investigar a minha relação pessoal com o filme “Terapia de Doidos” (1979), obra desengonçada do genial Brian De Palma, preciso interrogar se o diálogo imaginário abaixo elucida alguma coisa:

- Já estás com fome?
- Eu sou fã do Brian De Palma.
- Isto é um SIM ou um Não?
- Isso é uma declaração de que sou um escopofílico!
- Escopofílicos não sentem fome?
- Muito pelo contrário: sentem fome o tempo inteiro!
- E qual é o problema?
- Eu estou com fome!
- Tu queres que eu ponha a tua comida?
- Eu estou com fome!
- E o que tem isso de errado?
- Mesmo que eu coma, continuarei com fome!
- Então, tu comes mais depois. Isso se resolve!
- Mas minha fome não é só de comida...
- Diga-me o que tu queres, que eu te consigo.
- O que eu quero, tu não podes dar...
- Como assim?
- Eu não posso dizer!
- Por quê?
- Eu sou um escopofílico!
- E daí? Eu te amo como tu és, quero te ajudar!
- Mas o que eu quero, tu não podes dar...
- Diga-me onde eu posso arranjar que eu te consigo...
- Chuif! (onomatopéias lacrimais)
- Pare de chorar e me diga como posso te ajudar. Por favor!
- Eu sou um escopofílico!


Elucida? Pois bem, é mais ou menos assim que eu me sentia após a sessão do filme em pauta, agoniado comigo mesmo, excitado, impressionado com o desperdício efetivo das teorias foucaultianas sobre a inversão expansiva do panóptico de Jeremy Bentham no filme, que, apesar do argumento original (nos dois sentidos do termo) de Brian De Palma, foi roteirizado por seis pessoas! Seis! E ficou tudo tão confuso, mal-feito, desengonçado, mas, ainda assim, potencialmente genial. Fez com que o bloqueio criativo tangencial que ora me afeta viesse à tona: identifiquei-me o tantinho com o personagem do belo e jovem Keith Gordon, deslocado numa família tendenciosamente pragmática, mas fracassada em seus intentos básicos de saciação desejosa. É um filme que talvez eu não tenha entendido. Não somente eu, quase ninguém!

No que se pode chamar de trama bifurcada, o referido personagem de Keith Gordon é um adolescente apaixonado pela noiva prostituta de seu irmão, tresloucadamente obcecado com a implantação de uma nova doutrina espartana e misógina entre os seus seguidores universitários. Sua mãe tentara se suicidar, ingerindo uma larga porção de comprimidos, depois que se descobriu que seu pai, um médico mulherengo, estava traindo-a com uma enfermeira esquimó. E, em meio a tudo isso, o personagem de Kirk Douglas tomava as rédeas do filme, em mais de um momento, e fazia as vezes de alter-ego de-palmaniano, gritando “ação!” e cortando internamente as cenas do filme à revelia. Filme e vida real se confundem, segundo os parâmetros discursivos do personagem de Kirk Douglas, o Maestro, um personagem que apregoava com vigor a doutrina de que problemas psicológicos poderiam ser tratados a partida da filmagem em película de seus dilemas pessoais. Um ponto de partida genial, mas que, no filme, se perde nos exageros pretensamente cômicos do enredo e na saturação (proposital) da trilha sonora de Pino Donaggio. Mas admito que ri nas cenas de dupla personalidade envolvendo um fantoche erótico de coelho.

Terminada a sessão, a minha subsunção hodierna à necessidade interrogativa dalguns segredos sobrevivenciais voltou à tona: é lícito que, apesar de ser um blogueiro compulsivo, eu esconda provisoriamente algumas decisões fundamentais de minha vida íntima? O fato de envolver outras pessoas talvez me conduza a uma resposta afirmativa. Sou fã do Brian De Palma, até mesmo quando ele se equivoca!

Wesley PC>

3 comentários:

Ronan disse...

Adorei o artigo e a maneira como você se expressou nele, e em todos os artigos que publica. Descobri seu blog por acaso e desde então venho lendo vários posts por dia. Você está de parabéns! O difícil é apenas encontrar onde comprar ou o link dos filmes que você cita nos artigos...

Jadson Teles disse...

Nem preciso falar que sou fã também né? quero ver esse e o outro que viu recentemente, na caça! xerinho afetado!
J.

Gomorra disse...

(risos)

Então, a maioria dos filmes que comento aqui eu vejo na TV fechada ou no YouTube e no 'site' do UBU. Fico lisonjeado com o comentário (risos)

E, Jadson, apesar de este ser um filme muitíssimo menor do gênio foucaultiano, possui momentos inspiradíssimos. Recomendo mesmo assim! (WPC>)