sexta-feira, 11 de maio de 2012

CRISE FEYERABENDIANA, 10 DE MAIO DE 2012:

Na manhã de ontem, contra a vontade de meu orientador, li o décimo sétimo capítulo de minha bíblia epistemológica de cabeceira, “Contra o Método”, do Paul Feyerabend. Entre as páginas 386 e 387 da edição da Francisco Alves que eu possuía em mãos, lê-se: “nos capítulos precedentes, (...) veio à tona o fato de que a ciência está cheia de lacunas e de contradições, que a ignorância, a teimosia, a aceitação de preconceitos, a mentira, longe de impedirem a marcha do conhecimento, são seus pressupostos essenciais e que as tradicionais virtudes da precisão, da coerência, da ‘honestidade’, do respeito pelos fatos, do conhecimento máximo, se praticadas com determinação, levarão, em certas circunstâncias, a ciência à estagnação”. Não me contive: li e reli esta passagem e, em seguida, enviei como mensagem de celular a alguns de meus melhores amigos e professores. Era algo que me afligia naquele exato momento!

 Como é sabido, sou crente. Apesar de não aceitar a idéia de um Deus interveniente para o futuro, acredito bastante que há um Deus organizando aquilo que chamam de passado. Liguei a TV após o término do capítulo e me deparei com um filme do genial Domingos Oliveira no Canal Brasil: “Vida Vida” (1977), um filme desconhecidíssimo, que ele fizera para a TV. Na trama, Antonio Fagundes e Lenita Plonczynzki interpretam marido e mulher cuja relação conjugal é progressivamente destruída pelas injustiças empregatícias a que ele está submetido. Ele trabalha como contador e anseia por um aumento, por mais que sua esposa indague que já o viu nu diversas vezes e nunca encontrou isso escrito em nenhuma parte do seu corpo. Após muita discussão, ele aceita a sugestão dela de largar a vida urbana e aceitar um emprego como caseiro no interior. Lá descobrem um novo ideal de felicidade dialogística. Na melhor cena do filme, o marido tenta consertar uma barragem, quando é interpelado por um velhinho: "não sei como você, que tem instrução, veio parar num fim de mundo como este!". Ele retruca, abrupto: "fim de mundo não!".  No início e no final do média-metragem, o diretor, roteirista e músico Domingos Oliveira apregoa: a vida – ela mesma, a vida    depende só de você”. O conselho estava lançado. Eu aceito!

 Wesley PC>

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