quarta-feira, 30 de maio de 2012

DESAFIO MENSAL DOS 11 FILMES - #08: “SWEET MOVIE” (1974, de Dusan Makavejev)

Não precisava de nenhum pretexto para ver este filme. Já havia sido anteriormente apresentado a dois filmes geniais do iugoslavo Dusan Makavejev [“W.R. – Mistérios do Organismo” (1971) e “Montenegro ou Porcos e Pérolas” (1981)], mas, por mais absorto e ansioso que eu estivesse em relação a este filme, ainda assim, o estupor era pouco diante do que me aguardava nesta quase obra-prima de erotismo extremo, que põe para fora o que de mais delirante e perigoso existe em minha própria sexualidade. “O açúcar é perigoso”, diz uma militante comunista antes de assassinar o seu amante marinheiro, oriundo do encouraçado Potemkin. Nem ela terminou a frase, repetida duas vezes, e eu já estava concordando com ela: definitivamente, “o açúcar é perigoso”!

Várias tramas são paralelamente conduzidas em “Sweet Movie” (1974): como ponto de partida, um capitalista obcecado por cintos de castidade compra uma bela mulher canadense, a Miss Mundo 1984, como sua esposa, depois que ela é devidamente submetida a exames de virgindade pelo prestigiado Dr. Dedo Médio. Sobrevoando algumas cataratas, o capitalista tenta seduzir sua esposa explicando – erroneamente, claro – quem foi Karl Marx: “aquele cara que deu um tiro no meio da testa do czar da Rússia, o que fez eclodir a I Guerra Mundial”. Perfeito!

Mal estava recuperado das gargalhadas altissonantes que externei na seqüência anterior e surpreendo-me com a cena seguinte, em que o capitalista pinta o seu pênis de ouro para deflorar a esposa. Ela grita, apavorada, e, numa cena posterior, é seqüestrada por um negro muçulmano, a quem tacha de porco judeu, depois de xingá-lo de hitlerista. Hilário! Paralelamente, o personagem de Pierre Clémenti despe-se mais uma vez, diante de uma marinheira que abriga em sua embarcação uma mulher que abusa sexualmente de crianças e as mata em seguida. Em meio a esta panóplia narrativa (muito semelhante à de “Montenegro ou Porcos e Pérolas”, aliás), a Miss Mundo é “adotada” pelos habitantes de uma comuna, onde vive o actionista Otto Muehl, que vomita e urina durante os atos alimentícios. Enquanto os convidados do jantar fazem a maior baderna fisiológica à mesa, a jovem alisa o pênis de um cigano prostrado diante dela, naquela que é, sem dúvida, a minha cena favorita do filme, aquela em que projetei os mais perversos desejos eróticos. Um dia, quem sabe, eu não participe de uma orgia alimentícia daquela...

No quartel final do filme, as crianças mortas e o marinheiro assassinado são descobertos no barco comunista e a esposa do capitalista protagoniza uma campanha publicitária em que se lambuja completamente de chocolate. Recortes cinejornalísticos de cadáveres judeus sendo desenterrados e bebês germânicos sendo submetidos a massagens aeróbicas invadem a tela nalguns momentos, o que só configura a genialidade multi-referencial do diretor deste filme, formado em Psicologia, desencantado com as mazelas propagandísticas tanto da esquerda quanto da direita política. Se eu já era fã antes, agora que me vi eroticamente despido, tornei-me devoto do Dusan Makavejev!

Wesley PC>

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