quarta-feira, 9 de maio de 2012

“É TANTO MEDO DO SOFRIMENTO, QUE EU SOFRO SÓ DE PENSAR!” ‘APUD’ “EDUCAÇÃO SENTIMENTAL II”


“A vida que me ensinaram como uma vida normal 
Tinha trabalho, dinheiro, família, filhos e tal 
Era tudo tão perfeito se tudo fosse só isso
 Mas isso é menos do que tudo, é menos do que eu preciso” 

Eu costumo ser despertado por dois tipos recorrentes de pesadelos eróticos: no primeiro tipo, algo que eu nunca tive, mas que desejo deveras, manifesta-se diante de mim como algo possível, mas, na hora H, sou interrompido por alguma contingência externa e acordo insatisfeito, no plano hermenêutico da frustração elaborada; no segundo tipo, algo que eu já tive, penso ter ou talvez ainda tenha manifesta-se, diante de mim, de forma cruelmente fugidia, evidenciando que sem essa coisa (leia-se; “algo atrelado a alguém que gosto muito”) pode desaparecer definitivamente a qualquer instante – de propósito, inclusive – e me fazer sofrer. Aí eu acordo preocupado, temeroso, tendente à impotência, mas ciente de posso e devo estrebuchar. Eu pensava que o primeiro tipo de pesadelo era pior, mas o segundo é mais severo, muito mais tátil em sua implantação de temores. E hoje eu tive um pesadelo do segundo tipo. E me percebi ouvindo uma mesma canção do Kid Abelha e os Abóboras Selvagens quando despertei:

 “Agora você vai embora 
E eu não sei o que fazer 
Ninguém me explicou na escola 
Ninguém vai me responder”

 Incrível como este refrão me atingiu em cheio! Ainda não li o romance flaubertiano que inspirou o belo título desta canção, mas sinto que esta é uma tarefa literária a que eu devo me deter muito em breve. Afinal de contas, muito mais do que temores ou frustrações, o que os sonhos nos legam são advertências. E talvez eu não seja tão bobo a ponto de deixar de ouvi-las. Mesmo que eu quisesse, não conseguiria: os meus pesadelos berram! Se eles tivessem a voz macia da Paula Toller, talvez não fossem tão efetivos. Outro dia, eu falo sobre as demais canções deste disco, portanto. Por ora, eu canto a mesma faixa, a mesma faixa, a mesma faixa:

“Eu sei a hora do mundo inteiro, mas não sei quando parar
 É tanto medo de sofrimento que eu sofro só de pensar
 A quem eu devo perguntar, aonde eu vou procurar?
 Um livro onde aprender a você não me deixar”... 

Ai, ai...

 Wesley PC> 

Um comentário:

Jadson Teles disse...

eu tenho um certo probleminha com o Kid Abelha, mas admito que a música é bonita, e eu devo ser bobo pois não ligo pros senhos nem pesadelos, já basta o cotidiano me ensinando violentamente a sobreviver!
J.